O despertar do Apocalipse

Prólogo - Devir


Magdalena estava cansada, exausta pra ser mais precisa. Suas chances eram ínfimas, risíveis até. Tão realistas quanto números imaginários, ela pensou. Magdalena sabia que seus pés ardiam como brasas vivas e que seus músculos protestavam diante de seus esforços, contorcendo-se e queimando-a de dentro pra fora. Ela sentiu as mãos tremendo e praguejou mentalmente, se amaldiçoando mais uma vez. Ela desviou por um frágil segundo de uma das flechas da bruxa e seu pé escorregou, fazendo-a cair irremediavelmente... Mas Magdalena ainda assim logrou segurar-se na beirada das ruínas do prédio, com uma força sobre-humana.

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Ela rangeu os dentes com raiva, sentindo-se derrotada. Magdalena sabia que não seria capaz de aguentar por muito tempo, pois seu peito parecia prestes a explodir e sua respiração era desesperada, apressada, incoerente. Ela fechou os olhos por um momento buscando alguma espécie de paz interior, qualquer coisa que a deixasse focada novamente. Então uma lembrança inoportuna a invadiu, rápida, como um relâmpago.

“Eu me importo com você, Lena.” A voz dele era irresistível. Ele segurava o rosto de Magdalena entre as mãos e dizia: “Lena, eu me importo tanto com você.” A voz dele era grave, rouca, sussurrada em segredo para que apenas ela ouvisse. Ele com seus olhos tempestuosos a encarava fixamente, tão perto que ela desejava mais do que tudo poder retornar para este momento agora.

A lembrança se foi tão rápido quanto chegou e antes que Magdalena pudesse se dar conta, sua mão estava quase escorregando dedo por dedo. Ela estava perdendo as forças. Magdalena poderia simplesmente se deixar ir, morrendo apegada somente a essa lembrança doce, a mais doce que ela pôde lembrar em muito tempo. Mas não. Ela respirou profundamente apoiando a outra mão na beirada do telhado e jogou para o alto todo o corpo. De alguma forma ela conseguiu reunir forças para pôr-se de pé novamente e desviar-se mais uma vez do ceifador.

Magdalena não podia desistir, ela estava fazendo isso por si mesma, por ele e por todos eles. Ela precisava continuar, mesmo que isso significasse trazer sobre si o apocalipse. Afinal, até números imaginários tem a sua utilidade, ela pensou sorrindo consigo mesma. A esperança ardente como a mais pura chama surgiu novamente no peito de Magdalena. Então ela se forçou mais uma vez pelos caminhos sinuosos e tortuosos do destino.

Ela iria fazer o que fosse preciso.