Pompeii

Annabeth não sabia por quanto tempo tinha ficado parada ali, olhando para as sombras onde Courtney sumira. Acordou quando escutou a voz de James atrás de si.

– Percy... - ele disse fracamente.

Alicia sufocou um grito. Annabeth olhou para eles, seus rostos aterrorizados. Quando olhou pra frente, sentiu novamente as lágrimas virem a seus olhos.

Correu até Percy e tocou seus cabelos. Os olhos verdes do garoto, pela primeira vez que desde que ela o conhecera, tinham lagrimas, mostrando que ele não era de ferro.

– Cabeça de Alga - ela disse com a voz embargada - Desculpa...

– Ei... - Percy disse com um fiapo de voz - A culpa não foi sua. Está tudo bem.

– Não! - ela exclamou - Não está! Meus deuses, olhe suas costas, Percy! Por favor, para de achar que só quem importa são os outros. Você está muito machucado, deixe-me te ajudar, assim como você me ajudou milhões de vezes! James!

Ela chamou pelo garoto, que se aproximou e tocou o braço do irmão.

– Você só se mete em encrencas. A diferença é que não é um ralado no joelho feito por valentões da sua escola - James disse, parecia abatido e o olhos tristes - Mamãe sempre dizia que eles faziam isso porque tinham inveja de você.

Uma lágrima desceu dos olhos de James.

– E eu perguntava: De que? Da minha magreza extrema? - Percy riu um pouco - E ela respondia: Do seu amor.

De dor, as lágrimas foram para tristeza, a saudade incondicional da mãe. Da verdadeira Courtney Jackson.

Alicia apareceu do lado de James, não muito diferente de Annabeth.

– Acho que a Doutora Alicia vai ter que ser chamada para cuidar do seu paciente mais antigo - ela disse.

Percy riu.

– Lógico - ele disse convencido - Se ela ainda quiser cuidar de mim.

– É lógico que ela quer.

oOo

James carregou Percy como se fosse um soco de batatas até uma cama improvisada que Annabeth fizera com um lençol de dentro de sua mochila e um travesseiro pequeno. James o colocou de costas para cima e Alicia se aproximou. Ela pegou os suprimentos que tinham conseguido no hospital e começou a tratar dos ferimentos nas costas de Percy.
Annabeth segurava a mão do garoto, que a apertava sempre que Alicia jogava o soro, e com a mão livre ela acariciava os cabelos do garoto.

– Pronto - Alicia disse - Agora é só descansar um pouco, vai melhorar.

– Obrigada, Lice - Percy disse, aproveitando o carinho em seus cabelos - Será que você pode procurar alguma coisa para eu comer?

– Mas James já foi - ela disse confusa.

– Então vá fazer qualquer coisa, mas me deixe sozinho para conversa com a Annie - Percy disse.

"Sempre tão sincero"
Annabeth pensou, sorrindo.

– Nossa! Tudo bem - Alicia disse indo até a fogueira.

– O que você quer conversar comigo? - Annabeth disse, olhando para ele.

– Estou orgulhoso de você - Percy disse fracamente.

– De mim? Por quê? - Annabeth disse assustada.

– Você finalmente percebeu para que está aqui, Annie - Percy sorriu - Você é mais forte do que pensa. Você fez o que eu sempre tive medo de fazer: Enfrentou minha mãe.

– Mas... mas você já não fez isso varias vezes? - ela perguntou.

– Fiz - ele respondeu - Mas a diferença é que você está disposta a mata-la, eu não. Eu ainda acredito que ela pode mudar, voltar atrás. Eu sinto falta da minha mãe e nunca teria coragem de mata-la, mesmo depois de tudo que ela fez. Parece que você é mais corajosa do que eu - ele sorriu tristemente.

– Não diga isso, Percy - Annabeth acariciou seus cabelos - Sem você eu nunca saberia nem segurar uma faca. Obrigada por ter me ajudado.

– Que isso! - Ele exclamou - Era o máximo que eu podia fazer para me desculpar.

– Pelo que? - ela perguntou confusa.

– O motivo de tudo ter piorado, é culpa minha... - Percy disse - Se eu tivesse matado ela!

– Você não teve culpa - Annabeth repreendeu - Acabou de dizer que acredita que ela pode mudar.

– É! Mas ela não pode! - Percy tentou se levantar, mas soltou um gemido de dor e se deitou novamente - Eu tentei mudar a opinião dela, mas isso só causou um estrago maior.

– A culpa não foi sua - Annabeth disse de novo.

Percy pareceu pensar por um segundo, depois disse.

– Você sabe a historia de Pompeia?

– Sei...

– Então você sabe o que aconteceu - ele afirmou - Foi assim que nosso reino ficou. Os muros desmoronaram. As nuvens passavam pela colina, trazendo a escuridão, destruindo tudo. Nossas florestas, nossas belezas. Matando a cidade que amamos. Antigos vícios nos prendando e nos fazendo ficar perdidos. Era como se não passássemos de estatuas com a mesma pose depois que a poeira se assentava. Sem forças, sem opiniões, sem escolhas, apenas tendo que ficar a disposição de uma louca.

Annabeth escutava tudo calada, pensando em como ele, como todas as pessoas daquele reino, acreditavam nela, acreditavam que tudo ia ficar melhor depois.

– Sinto muito - foi a única coisa que ela conseguiu dizer.

– Mas, sabe, se você fechar os olhos, quase parece que nada mudou a final. Não é querendo imitar Dumbledore, nem nada, mas, nos sonhos, entramos em um mundo completamente nosso.

Ela riu quando ele mencionou Dumbledore, ficou imaginando-o de barba e cabelo branco.

Ele também riu um pouco.
– Quer saber o que eu sonho?

Ela afirmou.

– Eu sonho que minha mãe não mudou, ela continua boa. E nos meus sonhos, eu conheço meu pai, ele não abandonou a gente, mas eu ainda não consigo ver o rosto dele. Vejo James e Alicia também, eles parecem um pouco mais velhos, eu também estou mais velho e tem uma criança sapeca correndo pelo quintal da nossa antiga casa, acho que é filho deles, porque tem os olhos azuis medonhos da Alicia e os cabelos bagunçados e ruivos de James, ainda não sei por que ele nasceu ruivo, meus deuses.

Annabeth riu.

"E, desde certo tempo, aparece mais uma pessoa no meu sonho. Acho que é minha noiva, porque ela usa um anel muito bonito, um que provavelmente eu compraria.

– Ah - Annabeth disse, meio pra baixo, sem querer - E... quem seria essa sua noiva? Eu a conheço?

– Ah, ai depende - Percy sorriu travesso - Vai depender se você realmente acredita que pode vencer Courtney.

– Co-como assim? - ela disse corada.

– Depois eu que sou lerdo - ele riu.

Annabeth o acompanhou ainda corada.

– EU ENCONTREI!

O grito de James cortou o ar.

– Finalmente - Percy disse - Eu já estava morrendo de fome.

– Não, seu idiota - James disse, respirando com dificuldade - Eu achei o covil da Courtney! Eu achei Rat a Tat.