Completa-me

Capítulo XIII


Por Aaron Warner

Ouvimos um gemido vindo do banheiro, mas nos perdemos em nossa conversa o suficiente para esquecê-lo.

Esse foi o nosso erro.

Discutimos estratégias e os inimigos de Juliette, quero dizer, nossos inimigos. Os Mockers eram fortes, treinados e maquinais, porém eram voláteis. Juliette explicou que houve um trabalho que saiu do controle e ela teve que lutar com um deles. Não me surpreendi. Mas a luta não foi tão fácil para ela, apesar de forte – muito forte – ele fora treinado para batalha, o que significava atacar, mas também defender. E isso complicou as coisas para ela. Ele desviava dos ataques dela como se conseguisse prevê-los. No final, Juliette conseguiu acertar um soco apenas. Só o que ela disse foi que ele desmaiou e não acordou mais.

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Eles viviam em um lugar desconhecido e, de alguma forma, conseguiam informações de dentro do Setor 45. Sempre sabiam quando um carregamento chegaria e onde interceptá-lo sem levantar suspeitas de roubo. Juliette descobriu nomes que nos eram familiares e afirmou que eles faziam parte dos Mockers.

Esses nomes eram das pessoas que faziam o transporte de alguns dos alimentos e roupas. Comunicamos Castle sobre os supostos espiões que habitavam o Setor 45. Ele rapidamente agiu e confirmou todos eles como motoristas. Decidimos não agir naquele momento, mas esperar que voltássemos, enquanto isso, resolveríamos como manter essas pessoas alimentadas e vestidas. Ao final desse assunto, Juliette resolveu nos apresentar quem deveríamos proteger. Ela voltou para dentro do quarto e trouxe de lá duas pessoas. Uma mulher e uma menina.

Maria e Kat.

Maria era baixa e magérrima, com a pele olivácea e pouco enrugada. Parecia ter cerca de 40 anos e parecia ter vivido eles com muito sofrimento. Seu rosto era assustado e desconfiado. Olheiras circulavam seus olhos escuros e marcas finas preenchiam suas bochechas caídas. Ela vestia um vestido fino, abaixo dos joelhos, e envolvia o cabelo esbranquiçado amarrado com um pano cinza escuro. Ela passava o braço fino e ossudo ao redor do ombro de uma menina linda.

Kat era tão branca que fazia o vermelho do seu vestido se destacar de forma inigualável. Ela chegou a sala de cabeça baixa e assim permaneceu, deixando-me ver apenas suas bochechas coradas e o topo de sua cabeça, que derramava longas ondas douradas. Mantinha as mãos pequenas entrelaçadas em frente seu corpo, tão encurtado que mal ocupava o abraço de Maria.

Juliette falou com Maria num espanhol fluente, obviamente dando ordens. A mulher respondeu com uma voz rouca, todavia audível. Tentei entender, mas era impossível. Elas soavam como se falassem muito rápido. Juliette se voltou para nós

– Bem, essas são Maria e sua filha Kat. Eu preciso que mantenham-nas seguras e confortáveis enquanto termino esse trabalho. Se eu achasse possível, elas permaneceriam aqui, mas não posso arriscar suas vidas. Não adianta falar com elas: elas não entenderão uma só palavra do que disserem. E se elas responderem, quem não entenderá nada serão vocês.

– Certo – concordei – mas, e se elas precisarem de alguma coisa? Como vamos nos comunicar?

– Não vão. Elas não precisam falar com vocês e vocês não precisam falar com elas. Entendido?

Ela tornou a falar com Maria e apontou para cada um de nós. Pude perceber apenas nossos nomes. Então se abaixou em frente a garotinha, conversou com ela num tom doce, como se ensinasse algo para ela e só ai Kat levantou a cabeça. O rosto redondo era salpicado de sardas douradas e sem uma mácula. Sua boca era um perfeito coração, proporcional e rosada. Olhos grandes arredondados puxados nos cantos, com cílios cor de ouro que tremeluziam a cada piscada e reluziam um verde gritante. Quando ela respondeu a Juliette, expressou uma voz soprano e aguda.

Não posso dizer que não fiquei encantado com a ingenuidade da menina.

Ouvi Kenji puxar oxigênio ruidosamente e, de relance, o vi passar a mão no rosto. Talvez eu não fosse o único a ser conquistado. Ficamos admirando a naturalidade da pequena quando um baque alto vindo do banheiro atingiu nossos ouvidos. Juliette andou em direção ao barulho, mas a porta da frente explodiu e uma saraivada de balas despontou na sala.

Juliette agarrou a mão de Maria e enfiou ela e a menina dentro do quarto novamente enquanto nos escondíamos atrás do sofá. Saquei minha arma e mirei no primeiro cara que atravessou o buraco recentemente feito no aço, mas Adam foi mais rápido. Logo, a sala estava tão cheia que não nos preocupamos com egoísmo.

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Vi um cara entrar e virar sua cabeça estranhamente para o lado. Kenji também estava lutando. E teve a ajuda de Juliette. Ela desarmava quem tentava atirar em direção ao quarto e atirava em seguida. Ela só usava seu poder quando alguém tentava segurar suas costas e eu só notei isso por que eles na mesma hora que a tocavam, caiam tremendo e desprotegidos da Glock de Juliette.

Em minutos, tudo ficou silencioso. O fim foi decretado com um último tiro dado por mim, acertando um cara enorme que abraçou Juliette por trás. Não sabia dizer se foi minha arma ou a pele de Juliette que o matou.

Ficamos alertas mais algum tempo, mas ai Juliette correu até o banheiro e abriu a porta. Ela arfou alto e cobriu a boca com a mão desocupada. Assim que ela escancarou mais a entrada do banheiro, Josh caiu aos seus pés com as mãos segurando um ferimento sangrento na barriga.

Morto.