Mistérios?

Finalmente, eu e você


–Liese-

Depois de tudo o que se passou na noite anterior, Kyouta deixou eu e Kai juntos no mesmo quarto, ele dormia profundamente e eu estava no banheiro, cuidando do meu ferimento. No primeiro momento aquilo estava insuportável mas depois se tornou mais suave, eu estava me regenerando... talvez fosse a tranquilidade de vê-lo morto, finalmente. Eu limpei o corte e o enfaixei. Depois voltei ao dormitório e sentei numa poltrona, olhando Kai. Ele parecia estar bem, a cabeça estava melhor. Sorri. Ele não parecia uma pessoa desmaiada, agora só dormia profundamente. Adormeci também, aliviada.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

...

Acordei no dia seguinte na cama... junto com Kai. Como eu fui parar ali? Não fazia ideia. Será que ele estava bem? Os raios de Sol alegres me saudavam, acariciando o meu rosto, num bom dia doce.

– Bom dia, Liese. – Kai sussurrou de repente, me fazendo saltar.

– Que susto! Bom dia, Kai. Você está bem? Como... eu vim parar aqui? – perguntei confusa.

– Sim, estou ótimo. Eu te trouxe de madrugada. Você parecia desconfortável ali sentada, então te peguei no colo e te deitei aqui. E... bem... – ele desviou o olhar, corando um pouco – não queria me afastar de você.

Senti o rosto arder. Não sabia o que fazer naquele momento. Foi aí que eu percebi como estávamos: o braço de Kai estava me abraçando pela cintura enfaixada de modo protetor, nossos joelhos se tocavam, a única coisa que separava os nossos rostos era o outro braço dele com as nossas mãos entrelaçadas, inconscientemente. Muito perto. Perto demais.

– Ér... o-obrigada, Kai – gaguejei – não precisa se incomodar comigo... ainda mais depois que descobriu o que eu sou...

Fui interrompida quando ele puxou o meu rosto delicadamente e depositou em meus lábios um beijo breve. Meu coração batia descompassado, tudo estava girando. “Oh...” pensei. Ele se afastou e sorriu.

– Por nada, Liese. – disse dando uma piscadela no jeito mais Kai possível e sorrindo.

Ele começou a rir do nada com a minha expressão, os olhos arregalados e a boca entreaberta.

– O.... que... foi... isso... d-do nada? – as palavras saíram com dificuldade. Mas como assim? Ele não entende o que fiz?

– Um beijo...? – falou como se fosse a coisa mais óbvia.

– Eu percebi... mas...?

– Não sei se reparou, mas dormimos juntos. E... cá entre nós... você ronca um pouco. – disse se levantando rápido.

É... pra alguém que bateu a cabeça e ficou inconsciente ele estava bem rápido e espertinho. Talvez tivesse esquecido de tudo o que disse. Sorri com a possibilidade.

– Vamos ver se os outros já acordaram? – eu disse, tacando-lhe um travesseiro.

– Kyouta –

– Moço! Moçooo... acorda, moço. – Uma voz infantil me chamava. Abri os olhos lentamente. Era Alice.

– O-oi, bom dia, Alice. – cumprimentei a garotinha. – Sua irmã já acordou?

– É, acho que sim... quando acordei ela não estava mais na cama.

Corri os olhos pelo quarto e não vi Amelie. “De novo não.” Eu já estava sentado quando a porta abriu ela abriu a porta e entrou com alguns livros.

– Oh, já acordaram. – ela parecia cansada, estava curvada e andando com dificuldade – bom dia.

– Bom dia, Amy! – Alice correu e abraçou a irmã.

– Bom dia. Como está? Não saia por aí sozinha nesse estado! – “caramba, mas que susto! Não faça mais isso, por favor!” meu coração estava acelerado.

– Ora, estou bem... – desequilibrou e se sentou na cama. – só meio tonta ainda. Seus ferimentos?

– Estão melhores. E os de vocês?

– Também... pelo visto Alice sabe cuidar de machucados. – disse Amelie apontando para os curativos das duas e alguns meus. A garotinha abriu um sorriso tímido e corou. Sorrimos.

– Temos que dar um jeito na sua situação, transferir parte dos poderes para outro lugar... sua espada!

– M-minha espada? Melhor não...

– O quê então? – perguntei pensativo.

– Um livro. Dá para esconder melhor... eu acho. Podemos guarda-lo no nosso sótão e camufla-lo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– É, uma boa ideia. Arrumaremos um que não chame atenção o mais rápido possível.

Ela sorriu levemente e retirou um livro de brochura de capa vermelha lisa e folhas amareladas, todo desbotado, da pilha e me estendeu.

– Eu imaginei que algo do tipo seria preciso, e se não fosse, eu daria algum de jeito de fazê-lo e readquirir o poder quando estivesse devidamente pronta.

– Oh, bom. – peguei o livro. Realmente, não chamaria atenção. Li o título num murmúrio. – Sacrifícios de uma noite sem luar... Que ironia.

Ela assentiu olhando para o chão, Alice em seu colo. De repente a porta se abriu e Liese, Kai e Francesca entraram, a mulher de meia idade estava encarando o piso sem dizer uma palavra sequer.

– Bom dia, pessoal. Amelie você foi incrível! – disse Kai

– Obrigada – respondeu ela sorrindo, fraca.

– Sim, garota, você vai saber administrar esses poderes melhor que ele, com certeza. – falou Liese

– Bem, sobre os poderes... – ela corou.

– Bom, ela não vai conseguir suportar todos eles, então terá que transferir para algum objeto, que no caso será esse livro. – disse mostrando-o.

– Er... antes, será que poderia...? – começou Liese, enrolada.

Amelie olhou para ela confusa, eu entendi o que queria dizer, os poderes roubados.

– Amelie, Liese teve os poderes tirados pelo Hyouma – como ele tinha a forma do servo, achei que ficaria melhor chama-lo assim – E queria recuperá-los. Foi um dos motivos de ela ter vindo conosco.

– Ah sim. Você é uma...

– Espírito do gelo.

– T-tá. Vamos ver o que posso fazer. – A ruiva se levantou e andou devagar até Liese e pegou suas mãos. Fechou os olhos. Canalizou tudo o que tinha, ou que conseguiu achar dela dentro de si. Em poucos segundos o quarto se iluminou e pequenos raios passaram de uma à outra. Não durou muito, quando o Hyouma morreu, o poder achou o caminho para sua dona, Amelie só adiantou o processo, afinal, percebi pela regeneração muscular.

– Obrigada. Estou livre novamente. – sorriu Liese emocionada, abraçando Amelie, que retribuiu imediatamente. Elas iam se dar bem, com certeza.

– Disponha.

Levantei e lhe entreguei o Sacrifícios de uma noite sem luar. Olhei significativamente para ela e ela retribuiu. Amelie pegou o livro e fechou novamente os olhos, transferindo o que podia para o objeto, ficando com o que suportaria. Logo depois ela ajeitou a postura e abriu os olhos enérgicos, suspirando. Estava melhor, sorri ao vê-la assim.

– Bom, acho que temos que ir. – eu declarei finalmente.

– Ah sim, com certeza, não aguento mais esse lugar. – disse Kai.

– O que acontecerá com o castelo? – perguntou Alice.

– Provável que seja tomado por outros seres, como ninfas, purificado adequadamente e tomado pela vegetação. Acho que irá se tornar um santuário ou algo do tipo. Não devemos nos preocupar.

A garotinha arquejou.

– Existem... fadas? – ela perguntou, os olhos brilhando, exatamente como os da irmã mais velha, quando ocasionalmente estava curiosa.

– Sim... algumas.

– Oh... – ela suspirou. Francesca continuava encarando o chão, muda.

Depois de algum tempo, arrumamos tudo o que tínhamos em mãos e deixamos o castelo, palco de tanta destruição. Seguimos nosso caminho de volta. De volta para casa. A floresta mudou, lembrei de não ouvir mais gritos... a liberdade os abafou completamente.

– Amy –

Seguimos por onde as criaturas me trouxeram, usamos algumas passagens, o que economizaria muito tempo, pelo o que eu soube, eles demoraram dias para me achar. Alice me ajudou, ela estava meio consciente quando a pegaram. Os garotos reconheceram um trecho rural, com uma casa solitária e alguns canteiros. A casa tinha rastros de fogo por toda ela e alguns resíduos de destruição aqui e ali, mas era um lugar lindo, realmente. A garota da neve parou de repente e ficou olhando a casa de modo peculiar.

– Por que paramos? Quem mora aqui? – indaguei.

– Essa é.... minha casa. – respondeu Liese.

– Oh. Mora aqui sozinha?

– Sim, desde que fugi daquele monstro e tive meus poderes roubados.

– E sua família? – me arrependi da minha pergunta quando vi lágrimas tímidas nos olhos dela.

– Eles... eles... – sua voz vacilou – eles foram assassinados... por mim.

Fiquei chocada com o que ouvi.

– Não é verdade, Liese – veio Kai de repente – não era você, era Ele. Ele os matou.

– Com o meu corpo. – disse entre as lágrimas.

– Não... – ele a abraçou. Ergui as sobrancelhas para a cena. Ele a confortou. – não chora.

– Eu... eu matava sem ele, foram só mais alguns... – soluçou.

– Shhh, isso é passado. Você era obrigada, as condições de sua família não eram boas...

– Hey, vamos deixá-los um pouco, eles têm que conversar. – Kyouta disse baixo para o resto do grupo. Seguimos até um lugar perto de um riachinho.

– O-o que está acontecendo? – perguntei.

– Liese, ela... trabalhava para aquele cara. Ela era a assassina contratada dele, só que ela só fazia isso porque a família dela era muito pobre e os poderes eram muito especiais. Ela era realmente obrigada a fazer tudo o que Ele pedia, ele abusava dela... – lembrei do que quase aconteceu comigo, um nó se formou na minha garganta, e de repente senti frio – e então ela matava. Um dia, quando a família dela conseguiu se estabilizar ela pensou que poderia ir embora... mas não foi como esperado. – ele fez uma pausa, eu aguardei. – ele invadiu a mente dela quando ela insistiu em partir, e matou todos. Depois que ela descobriu eles lutaram, e ela perdeu metade dos poderes e fugiu. Agora está aqui, livre, mas se condena por tudo o que aconteceu.

– Ah... bom, não foi culpa dela... pode ter errado, mas quem matou aquelas pessoas, da família dela, era a criatura. Bom... não sei como ela deve estar se sentindo. Realmente. – disse olhando para o chão. Sofrimento demais para alguém como ela, tão boa, mesmo com esse passado. Não sei se cheguei a sentir um único terço de tudo o que ela teve de suportar, e isso me fez sentir realmente mal por ter feito todos correrem perigo por mim. Por ter sido tão fraca e inútil.

–Kai-

Ela soluçava em meus braços. Suas lágrimas molhavam a minha camisa e seu corpo tremia. Mesmo tendo feito tudo o que fez, eu não a culpava. Nenhum de nós a culpava.

– Hey, para com isso. Isso é passado. – eu disse por fim.

– Para de agir assim... sou um monstro, não quero machuca-los ainda mais.

– Você não nos machucaria, eu não acredito. – passei um dos dedos abaixo de seus olhos secando suas lágrimas. Sorri. – você é bem mais que isso.

– Nos conhecemos a pouco tempo, como pode ter tanta certeza?

– Eu sou observador. Agora, vamos embora.

Ela me encarou como se não tivesse entendido a pergunta.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Ir embora?

– Sim! Ou você acha que eu vou te deixar sozinha?

– Kai... – sua voz sumiu e ela abaixou o olhar. Estava corada.

– Não sei se você percebeu, mas sou insistente e todos estão esperando. Não aceito recusas. Pegue o que precisar e vamos para a casa.

Novas lágrimas caíram e ela ergueu o rosto, sorrindo debilmente. O som que saiu de sua boca foi quase um sussurro.

– Obrigada. – e entrou na cabana.

Após alguns minutos ela saiu, peguei a pequena bagagem que ela levava e segurei sua mão. Nos juntamos aos outros e seguimos viagem.

– Kyouta-

Kai e Liese voltaram depois de uns minutos, eles estavam de mãos dadas.

– Liese vem comigo. – disse meu irmão, apertando sua mão sobre a de Liese.

– Tudo bem, vamos.

Poucas horas mais tarde estávamos na minha morada. Minha e de Amelie, se depender de mim. Não a deixaria ir novamente. Kai e Liese iriam ficar, já que estava escurecendo e a casa de meu irmão era um pouco distante. Francesca e Alice também ficariam. Entramos todos. O jardim continuava o mesmo, as flores precisavam de cuidados, assim como mais algumas plantas delicadas. Mostrei os aposentos de Francesca e Alice – ela queria dormir com a irmã, só que eu falei que precisávamos conversar, o que realmente precisava de ser feito – Mostrei o quarto de Kai e Liese – pensei que gostariam de ficar juntos – E depois fui ao meu. Tomei um longo banho e troquei de roupa. Esperei um tempo e pedi que preparassem o jantar, que ficou pronto logo. Todos comemos em silêncio. Francesca não havia dado uma palavra sequer com quem quer que seja a não ser com Alice. Todos foram logo tratar de dormir.

Saí do quarto depois de um tempo e fui ao quarto de Amelie. Bati na porta, meu coração aos pulos.

– Entre. – ela disse.

Adentrei o dormitório, ela estava sentada na cama, virada para a janela, os longos cabelos ruivos caídos nas costas. A luz da Lua iluminava seu rosto sereno.

– Kyouta, algum problema?

–Eu... eu queria me desculpar. Perdoe-me.

Ela se virou e me encarou, confusa.

– Pelo quê?

– Por... por eu ter mentido pra você no começo.

–Amy-

Meu coração parou. Eu estava ficando nervosa, e mal começamos a conversar.

– Você mentiu, estava com Ele o tempo todo?

– Sim. Mas assim que conheci você melhor, eu mudei de ideia. Me perdoe, por favor, me perdoe!

Não conseguia olhar pra ele pedindo perdão... eu o perdoaria... sempre.

– Não precisa pedir. Você se pôs em perigo para me trazer de volta. Sou eu quem deve ser perdoada, por ser... ser tão patética a ponto de não conseguir se defender... pedir perdão por fazer você se preocupar, por tomar todo o seu tempo. – nessa altura eu já estava com lágrimas nos olhos.

– A-Amy... – ele estava perto, ajoelhado no chão para poder ver meu rosto. – Amy... não chore... por favor...

Sorri de como ele me chamou – A primeira vez que me chama pelo apelido.

–Você sabe – ele continuou – eu iria até o Hades... só para te proteger. Não me deixe, nunca mais...

Nossos olhos se encontraram, ele passou a mão em meu rosto, uma lágrima desceu pela sua bochecha e eu a sequei com a ponta dos dedos.

– Nunca. – sussurrei.

Ele chegou mais perto, me empurrando delicadamente para me encostar nos travesseiros, sua mão na minha cintura, as respirações descompassadas, e nossos lábios se encontraram. Ambos esperávamos por aquilo, todo esse tempo, na minha antiga prisão e ele em sua busca, talvez. Eu sentia falta dele, mais do que tudo! O beijo que era calmo se tornava mais intenso, tudo o que guardávamos veio à tona, de uma vez. Nos separamos, as nossas testas juntas, estávamos arfando. Ele sorriu.

– Eu te amo, Amy.

– Eu também te amo.

Nos beijamos de novo, minha mão enroscada em seu cabelo e a outra o segurando para ter certeza de que nunca mais nos separaríamos. Ele segurava a minha cintura e acariciava os meus cabelos, o pescoço, fazendo eu me arrepiar, ele era tudo o que eu precisava naquele momento, éramos únicos. Suspirei. A nossa espera havia chegado ao fim.

...

De manhã, acordei e ele estava lá, dormindo como uma pedra, seu braço estava por cima de minha cintura, eu sentia a sua respiração na parte de trás do meu pescoço, nossas pernas entrelaçadas. Eu não queria acordá-lo. Fechei os olhos e apenas apreciei como era bom o seu abraço.

– Bom dia, Amy. – ele sussurrou e em seguida beijou minha nuca. Arrepiei.

– Bom dia, Kyouta. – me virei para olhar seu rosto. – dormiu bem?

– Perfeitamente. E você?

– Bem, também. – sorri para ele.

Não havíamos feito nada na noite passada, ele tinha dito que a hora chegaria. “Ainda não está pronta, Amy... mas espere e verá” - ele disse com um sorriso malicioso. Nunca o vi sorrir daquele jeito, mil borboletas voaram na minha barriga e corei. Ele riu da minha cara, que julguei ser uma careta ou uma expressão muito patética.

Nós nos levantamos da cama e arrumamos o quarto. Depois de tudo pronto, ele disse:

– Vá tomar um banho, vou pedir para que façam o café da manhã. – eu assenti – até logo, Amy.

Ele me deu um beijo, doce, e se foi. Me dirigi ao banheiro e me perdi nos meus pensamentos, nas lembranças de todos os beijos, no que ele havia dito, no seu sorriso que eu não via há muito tempo... aquilo me fez corar e sorrir, enfim estávamos juntos.

Fiz minha higiene e me vesti. Era um vestido amarelo, deixei os cabelos soltos. Eu ia sair do quarto quando me ocorreu uma coisa: o livro. Ele estava repousando na mesa, perto do relógio. Eu o peguei e saí do quarto, e corri em direção à biblioteca. Eu o coloquei no meio de uns livros antigos numa prateleira qualquer. Corri para a sala de jantar e encontrei todos. Alice veio me abraçar alegremente, ela também usava um vestido amarelo. Mamãe não disse nada, assim como ontem. Comemos, uns conversando, outros não, a maioria rindo das coisas que Alice falava e perguntava. Kai e Liese estavam se dando muito bem, ficavam bem juntos. Estava tudo indo muito bem.

Depois da refeição, Kai e Liese se prepararam para partir.

– Adeus, Amy, boa sorte. – disse Liese, me abraçando.

– Igualmente. Boa viagem aos dois. – eu disse, retribuindo o abraço.

– Obrigado. – Kai disse. – cuide do meu irmão, e... eu quero ser padrinho de casamento – ele falou rindo para nós, senti um pouco de malícia em sua risada.

– Agradeço, irmãozinho. – eles se abraçaram, se despedindo. Não havia mais aquele clima tenso entre eles, o que me deixou feliz de verdade.

– E você – Kai se dirigiu a mim – obrigado mais uma vez, por trazer meu irmão de volta.

Ele estava com os olhos levemente marejados, assim como eu ao ouvir aquilo. Meu coração aqueceu.

– Imagina, ele sempre esteve lá, nunca foi embora. Se depender de mim nunca irá... – eu sorri.

Nos abraçamos e depois de todos terem se despedido eles se foram pela estrada. Francesca também estava pronta para ir, mas Alice queria ficar mais um pouco. Havia achado o jardim lindo e tinha descoberto uma biblioteca cheia de histórias e vários esconderijos. Mamãe disse que ela poderia passar mais algum tempo conosco, assim ela poderia arrumar tudo o que precisava para as duas. Kyouta tinha dado uma quantia em dinheiro para ela se resolver.

– Administre direito esse dinheiro. – disse Kyouta – e não repita com aquela menininha os erros que cometeu com Amelie. Ela não merece. Nenhuma delas merecia.

Demorou um pouco, mas ela respondeu.

– Está bem, você tem razão. E... bem... obrigada.

– Não há de quê.

Ela ia passar por mim depois de se despedir de Alice e Kyouta. Ela parou na minha frente.

– Amelie... me desculpe. Fui injusta e estraguei sua vida. Não acho que vá me perdoar. Então, vou indo...

– Mãe, espera. – eu segurei seu braço. – Eu perdoo você. Mesmo depois de tudo o que fez para mim e para Alice. E, bem, você não estragou totalmente a minha vida... se não tivesse feito o que fez, eu não o teria conhecido, certo? – me referi a Kyouta, que estava cuidando das flores com Alice.

– É, ele é um bom rapaz. Obrigada, Amelie.

Eu a abracei, eu a perdoei. Era a minha mãe, isso bastava, mesmo com tudo isso, eu a amava. Não da forma como amava Kyouta, Alice ou os outros, mas de certa forma era amor. Eu a observei ir. Me juntei aos dois perto das roseiras. Eu poderia ficar mais tempo com Alice – principalmente durante o verão, quando ela tinha férias - e Kyouta, seria feliz, me tornaria forte. Era meu objetivo. Minha vida se acertaria, por enquanto, enquanto o livro estivesse a salvo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.