Mistérios?
Finalmente, eu e você
–Liese-
Depois de tudo o que se passou na noite anterior, Kyouta deixou eu e Kai juntos no mesmo quarto, ele dormia profundamente e eu estava no banheiro, cuidando do meu ferimento. No primeiro momento aquilo estava insuportável mas depois se tornou mais suave, eu estava me regenerando... talvez fosse a tranquilidade de vê-lo morto, finalmente. Eu limpei o corte e o enfaixei. Depois voltei ao dormitório e sentei numa poltrona, olhando Kai. Ele parecia estar bem, a cabeça estava melhor. Sorri. Ele não parecia uma pessoa desmaiada, agora só dormia profundamente. Adormeci também, aliviada.
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Acordei no dia seguinte na cama... junto com Kai. Como eu fui parar ali? Não fazia ideia. Será que ele estava bem? Os raios de Sol alegres me saudavam, acariciando o meu rosto, num bom dia doce.
– Bom dia, Liese. – Kai sussurrou de repente, me fazendo saltar.
– Que susto! Bom dia, Kai. Você está bem? Como... eu vim parar aqui? – perguntei confusa.
– Sim, estou ótimo. Eu te trouxe de madrugada. Você parecia desconfortável ali sentada, então te peguei no colo e te deitei aqui. E... bem... – ele desviou o olhar, corando um pouco – não queria me afastar de você.
Senti o rosto arder. Não sabia o que fazer naquele momento. Foi aí que eu percebi como estávamos: o braço de Kai estava me abraçando pela cintura enfaixada de modo protetor, nossos joelhos se tocavam, a única coisa que separava os nossos rostos era o outro braço dele com as nossas mãos entrelaçadas, inconscientemente. Muito perto. Perto demais.
– Ér... o-obrigada, Kai – gaguejei – não precisa se incomodar comigo... ainda mais depois que descobriu o que eu sou...
Fui interrompida quando ele puxou o meu rosto delicadamente e depositou em meus lábios um beijo breve. Meu coração batia descompassado, tudo estava girando. “Oh...” pensei. Ele se afastou e sorriu.
– Por nada, Liese. – disse dando uma piscadela no jeito mais Kai possível e sorrindo.
Ele começou a rir do nada com a minha expressão, os olhos arregalados e a boca entreaberta.
– O.... que... foi... isso... d-do nada? – as palavras saíram com dificuldade. Mas como assim? Ele não entende o que fiz?
– Um beijo...? – falou como se fosse a coisa mais óbvia.
– Eu percebi... mas...?
– Não sei se reparou, mas dormimos juntos. E... cá entre nós... você ronca um pouco. – disse se levantando rápido.
É... pra alguém que bateu a cabeça e ficou inconsciente ele estava bem rápido e espertinho. Talvez tivesse esquecido de tudo o que disse. Sorri com a possibilidade.
– Vamos ver se os outros já acordaram? – eu disse, tacando-lhe um travesseiro.
– Kyouta –
– Moço! Moçooo... acorda, moço. – Uma voz infantil me chamava. Abri os olhos lentamente. Era Alice.
– O-oi, bom dia, Alice. – cumprimentei a garotinha. – Sua irmã já acordou?
– É, acho que sim... quando acordei ela não estava mais na cama.
Corri os olhos pelo quarto e não vi Amelie. “De novo não.” Eu já estava sentado quando a porta abriu ela abriu a porta e entrou com alguns livros.
– Oh, já acordaram. – ela parecia cansada, estava curvada e andando com dificuldade – bom dia.
– Bom dia, Amy! – Alice correu e abraçou a irmã.
– Bom dia. Como está? Não saia por aí sozinha nesse estado! – “caramba, mas que susto! Não faça mais isso, por favor!” meu coração estava acelerado.
– Ora, estou bem... – desequilibrou e se sentou na cama. – só meio tonta ainda. Seus ferimentos?
– Estão melhores. E os de vocês?
– Também... pelo visto Alice sabe cuidar de machucados. – disse Amelie apontando para os curativos das duas e alguns meus. A garotinha abriu um sorriso tímido e corou. Sorrimos.
– Temos que dar um jeito na sua situação, transferir parte dos poderes para outro lugar... sua espada!
– M-minha espada? Melhor não...
– O quê então? – perguntei pensativo.
– Um livro. Dá para esconder melhor... eu acho. Podemos guarda-lo no nosso sótão e camufla-lo.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– É, uma boa ideia. Arrumaremos um que não chame atenção o mais rápido possível.
Ela sorriu levemente e retirou um livro de brochura de capa vermelha lisa e folhas amareladas, todo desbotado, da pilha e me estendeu.
– Eu imaginei que algo do tipo seria preciso, e se não fosse, eu daria algum de jeito de fazê-lo e readquirir o poder quando estivesse devidamente pronta.
– Oh, bom. – peguei o livro. Realmente, não chamaria atenção. Li o título num murmúrio. – Sacrifícios de uma noite sem luar... Que ironia.
Ela assentiu olhando para o chão, Alice em seu colo. De repente a porta se abriu e Liese, Kai e Francesca entraram, a mulher de meia idade estava encarando o piso sem dizer uma palavra sequer.
– Bom dia, pessoal. Amelie você foi incrível! – disse Kai
– Obrigada – respondeu ela sorrindo, fraca.
– Sim, garota, você vai saber administrar esses poderes melhor que ele, com certeza. – falou Liese
– Bem, sobre os poderes... – ela corou.
– Bom, ela não vai conseguir suportar todos eles, então terá que transferir para algum objeto, que no caso será esse livro. – disse mostrando-o.
– Er... antes, será que poderia...? – começou Liese, enrolada.
Amelie olhou para ela confusa, eu entendi o que queria dizer, os poderes roubados.
– Amelie, Liese teve os poderes tirados pelo Hyouma – como ele tinha a forma do servo, achei que ficaria melhor chama-lo assim – E queria recuperá-los. Foi um dos motivos de ela ter vindo conosco.
– Ah sim. Você é uma...
– Espírito do gelo.
– T-tá. Vamos ver o que posso fazer. – A ruiva se levantou e andou devagar até Liese e pegou suas mãos. Fechou os olhos. Canalizou tudo o que tinha, ou que conseguiu achar dela dentro de si. Em poucos segundos o quarto se iluminou e pequenos raios passaram de uma à outra. Não durou muito, quando o Hyouma morreu, o poder achou o caminho para sua dona, Amelie só adiantou o processo, afinal, percebi pela regeneração muscular.
– Obrigada. Estou livre novamente. – sorriu Liese emocionada, abraçando Amelie, que retribuiu imediatamente. Elas iam se dar bem, com certeza.
– Disponha.
Levantei e lhe entreguei o Sacrifícios de uma noite sem luar. Olhei significativamente para ela e ela retribuiu. Amelie pegou o livro e fechou novamente os olhos, transferindo o que podia para o objeto, ficando com o que suportaria. Logo depois ela ajeitou a postura e abriu os olhos enérgicos, suspirando. Estava melhor, sorri ao vê-la assim.
– Bom, acho que temos que ir. – eu declarei finalmente.
– Ah sim, com certeza, não aguento mais esse lugar. – disse Kai.
– O que acontecerá com o castelo? – perguntou Alice.
– Provável que seja tomado por outros seres, como ninfas, purificado adequadamente e tomado pela vegetação. Acho que irá se tornar um santuário ou algo do tipo. Não devemos nos preocupar.
A garotinha arquejou.
– Existem... fadas? – ela perguntou, os olhos brilhando, exatamente como os da irmã mais velha, quando ocasionalmente estava curiosa.
– Sim... algumas.
– Oh... – ela suspirou. Francesca continuava encarando o chão, muda.
Depois de algum tempo, arrumamos tudo o que tínhamos em mãos e deixamos o castelo, palco de tanta destruição. Seguimos nosso caminho de volta. De volta para casa. A floresta mudou, lembrei de não ouvir mais gritos... a liberdade os abafou completamente.
– Amy –
Seguimos por onde as criaturas me trouxeram, usamos algumas passagens, o que economizaria muito tempo, pelo o que eu soube, eles demoraram dias para me achar. Alice me ajudou, ela estava meio consciente quando a pegaram. Os garotos reconheceram um trecho rural, com uma casa solitária e alguns canteiros. A casa tinha rastros de fogo por toda ela e alguns resíduos de destruição aqui e ali, mas era um lugar lindo, realmente. A garota da neve parou de repente e ficou olhando a casa de modo peculiar.
– Por que paramos? Quem mora aqui? – indaguei.
– Essa é.... minha casa. – respondeu Liese.
– Oh. Mora aqui sozinha?
– Sim, desde que fugi daquele monstro e tive meus poderes roubados.
– E sua família? – me arrependi da minha pergunta quando vi lágrimas tímidas nos olhos dela.
– Eles... eles... – sua voz vacilou – eles foram assassinados... por mim.
Fiquei chocada com o que ouvi.
– Não é verdade, Liese – veio Kai de repente – não era você, era Ele. Ele os matou.
– Com o meu corpo. – disse entre as lágrimas.
– Não... – ele a abraçou. Ergui as sobrancelhas para a cena. Ele a confortou. – não chora.
– Eu... eu matava sem ele, foram só mais alguns... – soluçou.
– Shhh, isso é passado. Você era obrigada, as condições de sua família não eram boas...
– Hey, vamos deixá-los um pouco, eles têm que conversar. – Kyouta disse baixo para o resto do grupo. Seguimos até um lugar perto de um riachinho.
– O-o que está acontecendo? – perguntei.
– Liese, ela... trabalhava para aquele cara. Ela era a assassina contratada dele, só que ela só fazia isso porque a família dela era muito pobre e os poderes eram muito especiais. Ela era realmente obrigada a fazer tudo o que Ele pedia, ele abusava dela... – lembrei do que quase aconteceu comigo, um nó se formou na minha garganta, e de repente senti frio – e então ela matava. Um dia, quando a família dela conseguiu se estabilizar ela pensou que poderia ir embora... mas não foi como esperado. – ele fez uma pausa, eu aguardei. – ele invadiu a mente dela quando ela insistiu em partir, e matou todos. Depois que ela descobriu eles lutaram, e ela perdeu metade dos poderes e fugiu. Agora está aqui, livre, mas se condena por tudo o que aconteceu.
– Ah... bom, não foi culpa dela... pode ter errado, mas quem matou aquelas pessoas, da família dela, era a criatura. Bom... não sei como ela deve estar se sentindo. Realmente. – disse olhando para o chão. Sofrimento demais para alguém como ela, tão boa, mesmo com esse passado. Não sei se cheguei a sentir um único terço de tudo o que ela teve de suportar, e isso me fez sentir realmente mal por ter feito todos correrem perigo por mim. Por ter sido tão fraca e inútil.
–Kai-
Ela soluçava em meus braços. Suas lágrimas molhavam a minha camisa e seu corpo tremia. Mesmo tendo feito tudo o que fez, eu não a culpava. Nenhum de nós a culpava.
– Hey, para com isso. Isso é passado. – eu disse por fim.
– Para de agir assim... sou um monstro, não quero machuca-los ainda mais.
– Você não nos machucaria, eu não acredito. – passei um dos dedos abaixo de seus olhos secando suas lágrimas. Sorri. – você é bem mais que isso.
– Nos conhecemos a pouco tempo, como pode ter tanta certeza?
– Eu sou observador. Agora, vamos embora.
Ela me encarou como se não tivesse entendido a pergunta.
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– Sim! Ou você acha que eu vou te deixar sozinha?
– Kai... – sua voz sumiu e ela abaixou o olhar. Estava corada.
– Não sei se você percebeu, mas sou insistente e todos estão esperando. Não aceito recusas. Pegue o que precisar e vamos para a casa.
Novas lágrimas caíram e ela ergueu o rosto, sorrindo debilmente. O som que saiu de sua boca foi quase um sussurro.
– Obrigada. – e entrou na cabana.
Após alguns minutos ela saiu, peguei a pequena bagagem que ela levava e segurei sua mão. Nos juntamos aos outros e seguimos viagem.
– Kyouta-
Kai e Liese voltaram depois de uns minutos, eles estavam de mãos dadas.
– Liese vem comigo. – disse meu irmão, apertando sua mão sobre a de Liese.
– Tudo bem, vamos.
Poucas horas mais tarde estávamos na minha morada. Minha e de Amelie, se depender de mim. Não a deixaria ir novamente. Kai e Liese iriam ficar, já que estava escurecendo e a casa de meu irmão era um pouco distante. Francesca e Alice também ficariam. Entramos todos. O jardim continuava o mesmo, as flores precisavam de cuidados, assim como mais algumas plantas delicadas. Mostrei os aposentos de Francesca e Alice – ela queria dormir com a irmã, só que eu falei que precisávamos conversar, o que realmente precisava de ser feito – Mostrei o quarto de Kai e Liese – pensei que gostariam de ficar juntos – E depois fui ao meu. Tomei um longo banho e troquei de roupa. Esperei um tempo e pedi que preparassem o jantar, que ficou pronto logo. Todos comemos em silêncio. Francesca não havia dado uma palavra sequer com quem quer que seja a não ser com Alice. Todos foram logo tratar de dormir.
Saí do quarto depois de um tempo e fui ao quarto de Amelie. Bati na porta, meu coração aos pulos.
– Entre. – ela disse.
Adentrei o dormitório, ela estava sentada na cama, virada para a janela, os longos cabelos ruivos caídos nas costas. A luz da Lua iluminava seu rosto sereno.
– Kyouta, algum problema?
–Eu... eu queria me desculpar. Perdoe-me.
Ela se virou e me encarou, confusa.
– Pelo quê?
– Por... por eu ter mentido pra você no começo.
–Amy-
Meu coração parou. Eu estava ficando nervosa, e mal começamos a conversar.
– Você mentiu, estava com Ele o tempo todo?
– Sim. Mas assim que conheci você melhor, eu mudei de ideia. Me perdoe, por favor, me perdoe!
Não conseguia olhar pra ele pedindo perdão... eu o perdoaria... sempre.
– Não precisa pedir. Você se pôs em perigo para me trazer de volta. Sou eu quem deve ser perdoada, por ser... ser tão patética a ponto de não conseguir se defender... pedir perdão por fazer você se preocupar, por tomar todo o seu tempo. – nessa altura eu já estava com lágrimas nos olhos.
– A-Amy... – ele estava perto, ajoelhado no chão para poder ver meu rosto. – Amy... não chore... por favor...
Sorri de como ele me chamou – A primeira vez que me chama pelo apelido.
–Você sabe – ele continuou – eu iria até o Hades... só para te proteger. Não me deixe, nunca mais...
Nossos olhos se encontraram, ele passou a mão em meu rosto, uma lágrima desceu pela sua bochecha e eu a sequei com a ponta dos dedos.
– Nunca. – sussurrei.
Ele chegou mais perto, me empurrando delicadamente para me encostar nos travesseiros, sua mão na minha cintura, as respirações descompassadas, e nossos lábios se encontraram. Ambos esperávamos por aquilo, todo esse tempo, na minha antiga prisão e ele em sua busca, talvez. Eu sentia falta dele, mais do que tudo! O beijo que era calmo se tornava mais intenso, tudo o que guardávamos veio à tona, de uma vez. Nos separamos, as nossas testas juntas, estávamos arfando. Ele sorriu.
– Eu te amo, Amy.
– Eu também te amo.
Nos beijamos de novo, minha mão enroscada em seu cabelo e a outra o segurando para ter certeza de que nunca mais nos separaríamos. Ele segurava a minha cintura e acariciava os meus cabelos, o pescoço, fazendo eu me arrepiar, ele era tudo o que eu precisava naquele momento, éramos únicos. Suspirei. A nossa espera havia chegado ao fim.
...
De manhã, acordei e ele estava lá, dormindo como uma pedra, seu braço estava por cima de minha cintura, eu sentia a sua respiração na parte de trás do meu pescoço, nossas pernas entrelaçadas. Eu não queria acordá-lo. Fechei os olhos e apenas apreciei como era bom o seu abraço.
– Bom dia, Amy. – ele sussurrou e em seguida beijou minha nuca. Arrepiei.
– Bom dia, Kyouta. – me virei para olhar seu rosto. – dormiu bem?
– Perfeitamente. E você?
– Bem, também. – sorri para ele.
Não havíamos feito nada na noite passada, ele tinha dito que a hora chegaria. “Ainda não está pronta, Amy... mas espere e verá” - ele disse com um sorriso malicioso. Nunca o vi sorrir daquele jeito, mil borboletas voaram na minha barriga e corei. Ele riu da minha cara, que julguei ser uma careta ou uma expressão muito patética.
Nós nos levantamos da cama e arrumamos o quarto. Depois de tudo pronto, ele disse:
– Vá tomar um banho, vou pedir para que façam o café da manhã. – eu assenti – até logo, Amy.
Ele me deu um beijo, doce, e se foi. Me dirigi ao banheiro e me perdi nos meus pensamentos, nas lembranças de todos os beijos, no que ele havia dito, no seu sorriso que eu não via há muito tempo... aquilo me fez corar e sorrir, enfim estávamos juntos.
Fiz minha higiene e me vesti. Era um vestido amarelo, deixei os cabelos soltos. Eu ia sair do quarto quando me ocorreu uma coisa: o livro. Ele estava repousando na mesa, perto do relógio. Eu o peguei e saí do quarto, e corri em direção à biblioteca. Eu o coloquei no meio de uns livros antigos numa prateleira qualquer. Corri para a sala de jantar e encontrei todos. Alice veio me abraçar alegremente, ela também usava um vestido amarelo. Mamãe não disse nada, assim como ontem. Comemos, uns conversando, outros não, a maioria rindo das coisas que Alice falava e perguntava. Kai e Liese estavam se dando muito bem, ficavam bem juntos. Estava tudo indo muito bem.
Depois da refeição, Kai e Liese se prepararam para partir.
– Adeus, Amy, boa sorte. – disse Liese, me abraçando.
– Igualmente. Boa viagem aos dois. – eu disse, retribuindo o abraço.
– Obrigado. – Kai disse. – cuide do meu irmão, e... eu quero ser padrinho de casamento – ele falou rindo para nós, senti um pouco de malícia em sua risada.
– Agradeço, irmãozinho. – eles se abraçaram, se despedindo. Não havia mais aquele clima tenso entre eles, o que me deixou feliz de verdade.
– E você – Kai se dirigiu a mim – obrigado mais uma vez, por trazer meu irmão de volta.
Ele estava com os olhos levemente marejados, assim como eu ao ouvir aquilo. Meu coração aqueceu.
– Imagina, ele sempre esteve lá, nunca foi embora. Se depender de mim nunca irá... – eu sorri.
Nos abraçamos e depois de todos terem se despedido eles se foram pela estrada. Francesca também estava pronta para ir, mas Alice queria ficar mais um pouco. Havia achado o jardim lindo e tinha descoberto uma biblioteca cheia de histórias e vários esconderijos. Mamãe disse que ela poderia passar mais algum tempo conosco, assim ela poderia arrumar tudo o que precisava para as duas. Kyouta tinha dado uma quantia em dinheiro para ela se resolver.
– Administre direito esse dinheiro. – disse Kyouta – e não repita com aquela menininha os erros que cometeu com Amelie. Ela não merece. Nenhuma delas merecia.
Demorou um pouco, mas ela respondeu.
– Está bem, você tem razão. E... bem... obrigada.
– Não há de quê.
Ela ia passar por mim depois de se despedir de Alice e Kyouta. Ela parou na minha frente.
– Amelie... me desculpe. Fui injusta e estraguei sua vida. Não acho que vá me perdoar. Então, vou indo...
– Mãe, espera. – eu segurei seu braço. – Eu perdoo você. Mesmo depois de tudo o que fez para mim e para Alice. E, bem, você não estragou totalmente a minha vida... se não tivesse feito o que fez, eu não o teria conhecido, certo? – me referi a Kyouta, que estava cuidando das flores com Alice.
– É, ele é um bom rapaz. Obrigada, Amelie.
Eu a abracei, eu a perdoei. Era a minha mãe, isso bastava, mesmo com tudo isso, eu a amava. Não da forma como amava Kyouta, Alice ou os outros, mas de certa forma era amor. Eu a observei ir. Me juntei aos dois perto das roseiras. Eu poderia ficar mais tempo com Alice – principalmente durante o verão, quando ela tinha férias - e Kyouta, seria feliz, me tornaria forte. Era meu objetivo. Minha vida se acertaria, por enquanto, enquanto o livro estivesse a salvo.
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