Change-Over

Capítulo único


Eu conheci onze dele. Não onze, mas onze rostos diferentes do mesmo homem. Onze rostos que traziam muitas vezes, personalidades diferentes - acho que é por isso que ele escolhe companheiros de viagem em cada uma dela. Imaginem como é difícil para eles ter de aguentar mudanças constantes.

No entanto, ele ainda é o mesmo bom homem, e eu agradeço por isso. Eu já deveria estar muito bem acostumada com os processos de regeneração, mas eu acabei me apegando à esta encarnação. Não entenda de forma errônea (apesar de que às vezes, parece que ele o faz), entenda que ele se tornou meu melhor amigo de verdade. Era complicado não conseguir me aproximar dele amigavelmente, pois meu objetivo era apenas salvá-lo e morrer em seguida. Nossos encontros não foram feitos para durar mais de cinco minutos, mas eu dou graças que ainda estou viva. Ele também faz um bom papel me protegendo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

E agora, este Doutor, sua décima primeira encarnação, gentil e divertida, se converte em alguém completamente diferente. Em menos tempo do que eu imaginei.

Ele não fez mais do que dar uma espécie de espirro, e antes mesmo que eu pudesse piscar os olhos, ele era um outro alguém. Seus cabelos negros com formato engraçado deram lugar à cabelos grisalhos; Sua pele se tornou mais enrugada, e ele parecia mais velho. Realmente, regeneração é uma loteria. Pensei. Pelo menos agora ele tem sobrancelhas.

Mas minha reação foi pior do que eu estava realmente me preparando naqueles poucos minutos que pude. Meus olhos se arregalaram e eu recuei um pouco para trás, aterrorizada. Minha mente repetia incessantemente que aquilo estava errado, e que algo ia acontecer.

Depois de balbuciar e gritar alguma coisa sobre seus rins, ele me fez a última pergunta que eu poderia esperar: - Você sabe como pilotar essa coisa?

Não respondi prontamente. Eu sabia algo sobre que, depois da regeneração, ele poderia ter breves momentos de amnésia. Mas à este ponto? Que absurdo.

Balancei minha cabeça positivamente, e ele sorriu, dizendo:

- Ótimo! Me diga como se faz.

Pisquei os olhos e, como se eu tivesse passado por um choque terrível, andei lentamente e com dificuldade até o painel.

- Ahn... eu, hum... - Gaguejei. - É... você tem que... - De repente, minha mente deu um branco completo. Hora ideal, Clara, meus parabéns. Ele vai pensar que convidou um jumento para viajar com ele.

- Tenho que o quê? - Ele apoiou uma mão na barra do painel, com uma sobrancelha erguida. Notei que seu tom de voz era mais grave e rouco.

- Puxe as... - Apontei para as alavancas.

- Alavancas?

- Sim!

- Ah, isso eu me lembro como se faz. - Ele executou o trabalho, e em seguida me olhou com uma expressão de dúvida no rosto. - Desculpe, há algo que não me lembro direito. Quem é você mesmo? Carrie... Catherine...

- Clara. - Corrigi. - Clara Oswald.

Ele sorriu para mim simpaticamente, e em seguida arregalou os olhos de surpresa.

- Clara Oswald! A Garota Impossível! Ah, é claro que é você.

Eu retribuí o sorriso, um pouco sem graça, e consegui terminar de dar-lhe instruções. Até que ele é rápido, na verdade - em menos de dois minutos, fez uma série de sugestões sobre onde deveríamos ir. Eu concordei, é claro. Mas sempre com um olho no painel e outro nele, afinal, neste estágio pós-regeneração, ele ainda é imprevisível.

~

Aparentemente, as viagens ajudam o Doutor a construir uma personalidade. E digamos que ele não vai tão mal.

Depois de uma visita à Era Medieval - que aliás, foi extremamente divertida. Nós conhecemos Robin Hood, e eu não fazia ideia de que ele existia de verdade (muito menos de que era tão bonito) - ele correu para dentro da TARDIS e eu mal pude acompanhá-lo. Parecia animado em viajar à todo instante, e até mesmo hiperativo. Ele não estava assim antes, então comecei a ficar preocupada.

- Doutor - Falei ofegante, quando finalmente consegui acompanhá-lo. - Podemos parar um pouquinho? Quero dizer, a gente correu tanto...

- Parar, Clara? - Ele olhou para mim com os olhos enormes, sorrindo como um débil mental. - Eu nunca paro. Nunca! Não posso sequer pensar em parar.

Ele mexia furiosamente nos botões e alavancas da TARDIS, tanto que suas mãos se transformaram quase em borrões de tão rápido que ele era. Eu consegui agarrar seu braço antes que ele quebrasse alguma coisa.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Me solte!

- Doutor, me escute! - Segurei seus ombros e virei-o em minha direção. - O Universo não vai explodir porque você parou por cinco minutos! Me deixe descansar, pelo amor de Deus! Cinco minutos, é o que eu peço.

Ele me encarou com uma expressão incrédula.

- Eu não entendo.

- Pois entenda, Doutor. - Eu o puxei pelo braço e o direcionei na direção de uma das barras, temendo que ele ficasse perto do painel - Você já regenerou há um bom tempo e continua agindo de forma estranha. O que está acontecendo?

Ele olhou para baixo, seus lábios tremendo e os olhos piscando incessantemente. Me afastei um pouco, assustada.

Até que ele parou, parecendo mais tranquilo e esclarecido: - Alguma coisa deu errado. Os Senhores do Tempo de Gallifrey me deram um novo ciclo de regenerações. Posso agora reencarnar mais doze vezes.

- E isso é bom...?

- É maravilhoso! - Ele desvencilhou-se de mim e andou pela TARDIS, com o dedão na boca e extremamente pensativo. - Mas eu não consigo me acostumar mais à um novo corpo como antes.

Quando me ocorreu a ideia: - Será que eles... fizeram algo? Quero dizer, eles não são seus maiores fãs.

- Bem pensado. - Concordou. - Preciso ir à Gallifrey.

- O quê?! - Perguntei alarmada. Lá vamos nós outra vez.

- Preciso tirar satisfações!

O Doutor andou até o painel, e antes que eu pudesse impedi-lo, suas mãos se moviam bem mais calmamente do que antes, mas ainda sim com pressa.

- Doutor, tem certeza de que não precisa de ajuda? Você está instável...

- Perfeitamente consciente, Clara. Oscilações em personalidade, diferentemente do que você acha, não perturbam em nada o meu intelecto.

Ele ordenou que eu o ajudasse a ligar os motores, e eu obedeci. Mas ao puxar uma alavanca, a TARDIS soltou faíscas violentas do painel, e nós dois recuamos para trás, indo ao chão.

- O que foi isso? - Perguntei, sentindo meu coração quase sair pela boca.

O Doutor abriu a boca em "O", arrastando-se lentamente até o painel. Tentei impedi-lo puxando seu braço, mas ele desvencilhou-se.

- A TARDIS... não aguentará por muito tempo. De alguma forma, minha regeneração causou algum defeito nos circuitos.

A regeneração? Esqueceu-se de que quase arrancou todos os botões fora com tanta empolgação, seu cretino? Uma voz na minha mente dizia, e eu concordo plenamente.

- E agora? - Perguntei.

- Devemos sair, o mais rápido o possível. - Ele deu meia volta em minha direção. - Ela vai passar por uma espécie de... regeneração também. Não deve demorar tempo demais, espero.

Eu olhava para o painel, mal percebendo que ele me puxara pelo braço, pedindo para que eu saísse com ele.

~

Passaram-se horas. Estávamos num beco iluminado apenas por um poste perto da entrada, repleto de lixo e um mal-cheiro nada agradável. Eu quase sentia meu pulmão implorar por ar puro, encostada na parede úmida (já que não tinha onde me sentar), observando com os braços cruzados o Doutor andar de um lado para o outro com as mãos cruzadas na frente da boca.

- Quanto tempo mais vai demorar? - Perguntei, checando o relógio e bocejando. Já eram 21:35, e estávamos ali a tarde toda.

- Não muito mais, espero. - Ele respondeu, sem olhar para mim. Ah, que animador.

As luzes dentro da TARDIS apagaram-se, e o Doutor finalmente virou-se para esta, parecendo encantado. Correu em direção à porta, e eu o segui, dando graças por finalmente não ter de esperar e lamentando por não escolher sapatos melhores e não ter comido nada o dia inteiro.

Parei me debatendo com o Doutor, que ainda estava parado na entrada da TARDIS. Sendo eu baixinha, não consegui ver por cima de seu ombro, então me inclinei para o lado.

Era a visão mais estranha que eu já havia visto.

A TARDIS voltou a fazer os mesmo sons e soltar faíscas violentas, e seu interior azulado agora estava vermelho. Ela começou a chacoalhar, e eu olhei para o Doutor em pânico, tentando ver seu rosto.

- Doutor! - Gritei para ele, em meio ao barulho. - O que a gente faz?!

- Feche a porta, Clara. - Ele caminhou para frente, sem sequer apoiar-se em nada.

Fechei as portas atrás de mim. Não sabia se ele queria que eu saísse, e mesmo assim, eu não sairia. Segui ele pelo caminho, sendo jogada para o lado quando a TARDIS chacoalhou violentamente. Minha cabeça quase bateu na barra, mas por sorte eu consegui me segurar, assistindo o Doutor ir até o painel determinadamente, desviando-se das faíscas e do fogo que começara a surgir.

- Você ficou maluco?! - Berrei. Ele me ignorou.

O Doutor tirou a chave de fenda sônica do bolso e apontou-a para o painel. Eu não sabia o que ele queria com aquilo, já que a TARDIS estava fora de controle. Mas ele puxou uma alavanca e lançou um olhar em minha direção, acenando com a cabeça para que eu o acompanhasse.

- Venha Clara! Próxima parada, Gallifrey!

- Eu repito a minha pergunta - berrei outra vez, irritada - POR ALGUM ACASO VOCÊ FICOU MALUCO? ESSA COISA VAI EXPLODIR!

Ainda sim, eu não hesitei em correr até ele, desviando do fogo que se alastrava pelo caminho. Desci as breves escadas e tropecei, quase caindo, quando a TARDIS se moveu furiosamente outra vez. Parei ao seu lado, com uma mão apoiada em seu ombro para não cair e outra na barra do painel, que estranhamente estava quente pra valer.

- Eu nunca disse que era impossível, Clara. Só algum tempo até ela se ajustar.

- E se não o fizer? - Minha voz emanava pânico, enquanto meus olhos olhavam para todos os lados em que algo desabava. - Nós vamos morrer dessa forma? De verdade?

Ele sorriu para mim: - Seria uma honra morrer desse jeito. Mas não hoje. Confie em mim Clara, eu sou o Doutor.

Ele segurou a última alavanca com força e respirou fundo. Agarrei-o num abraço, escondendo-me em suas vestes, mas lançando um olhar para a mesma alavanca.

Ele puxou, e eu fechei os olhos com força, me preparando para o pior. Mas não era o pior. A TARDIS continuava a queimar e se mexer, mas seu som habitual surgiu entre os desabamentos.

Vivos. Isso é bom.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.