Desejo e Reparação

IV - Capítulo 28: Todo fim tem um começo


Parte IV

{Sobre a loucura, o amor e a guerra}

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Capítulo 28: Todo fim tem um começo

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A perspectiva de um novo ano em Hogwarts não era tão animadora quanto deveria ser, e isto estava diretamente ligado ao fato de que o Lorde das Trevas estava, no momento em que conversavam, agregando mais bruxos ao seu exército de comensais.

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Era exatamente sobre isso que Harry pensava quando escutou a voz de Hermione acompanhada dos seus passos, na escada. Ele olhou para cima, para o rosto familiar de seus amigos, e pensou que aquele ano poderia ser o último que teriam. Nem mesmo quando ela o abraçou e Rony sorriu, sentiu-se menos temeroso.

Enquanto o Mal se espalhava pelo mundo, eles se sentavam numa mesa para jantar e conversar sobre coisas triviais. Isso o irritava. Ele precisava agir, fazer algo para deter o inimigo antes que a destruição e as mortes começassem. Contudo, estava sendo inocente neste pensamento, visto que corpos sem vida já tombavam e que gritos horripilantes poderiam ser audíveis se ele estivesse no local errado, na hora errada.

Harry mal sentiu o gosto da comida na boca, assim como Hermione. O que perturbava a mente dela nada tinha a ver com a expansão do Mal ou do prenúncio da guerra; o que fazia seu coração bater mais rápido e as suas mãos suarem era algo completamente mundano.

O dia chegou.

Ela conseguiu convencer Rony por todos aqueles meses para que não contasse a Harry o que acontecera na noite do último desafio do Torneiro Tribuxo, na noite em que aquele-que-não-deve-ser-nomeado renascera. Rony, cada vez mais relutante, aceitou os seus argumentos de que Harry estava instável psicologicamente e que ele não precisava se preocupar com as visões dela, mesmo que estivessem relacionadas a certo sonserino de moral questionável e a um futuro horripilante.

No entanto, ela não conseguiria adiar o assunto para sempre. Mais cedo, naquele dia, Rony disse que havia chegado a um ultimato: Se ela não dissesse, naquela noite, o que acontecera a Harry, ele o faria. Ponto de exclamação.

Hermione suspirou e ajudou a senhora Weasley a carregar a louça à cozinha. Esperou que Rony sussurrasse algo no ouvido de Harry e os seguiu para fora do cômodo, subiu as escadas e entrou no quarto que os garotos dividiriam enquanto estivessem na casa dos Black.

O quarto era grande o suficiente para os três e mais alguns móveis de madeira escura trabalhados com detalhes angulosos e belos. A parede era pintada de azul escuro, mas a tinta estava desbotava em certas partes.

Os três sentaram-se no chão, num círculo. Harry tinha uma expressão de preocupação, como se estivesse esperando escutar que algum dos seus amigos havia sido capturado e torturado por um Comensal da Morte apenas por diversão. Ele não esperava nada menos do que o pior que poderia imaginar.

E foi exatamente isso o que ele recebeu.

– Há algo de errado comigo – disse Hermione. Respirando fundo e ignorando o olhar de Rony, ela contou sobre tudo o que acontecera consigo própria e o que sabia ter acontecido com o Malfoy durante os últimos três anos. Ao terminar o seu relato, levantou os olhos das mãos e observou a boca de Harry abrir e fechar repetidas vezes.

– Por que vocês esconderam isso de mim por tanto tempo? – perguntou ele.

– Eu não queria fazê-lo ficar ainda mais preocupado. Com tudo o que está acontecendo, o retorno dele e a ordem que você recebeu para comparecer a um julgamento no Ministério... Você não está bem, Harry, eu sei. A sua cicatriz voltou a doer, e você tem medo do que isso significa.

– Você deveria ter confiado em mim!

– Eu confio em você, eu apenas não sabia como contar. Se eu não tivesse passado mal durante a competição, nenhum de vocês jamais teria escutado uma palavra sobre isso. De certa forma, acho que estava tentando me proteger, porque sinto vergonha e raiva das coisas que vejo e que sinto. Nos sonhos, eu quero que ele me toque; estar longe dele me dói. Isso é repulsivo e completamente destituído de sentido, eu jamais poderia amá-lo depois de tudo que ele me fez – disse mais para si mesma do que para os amigos, que concordavam veemente com a sua última frase. – Vocês me perdoam por ter sido orgulhosa e egoísta?

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– Sim – disse Harry.

– Não – disse Rony, emburrado.

Harry lançou um olhar reprovador ao amigo.

– Não me olhe dessa forma, é ela quem está sonhando com a cobra do Malfoy – deu de ombros.

– Não é culpa dela!

– Então, de quem é?

Essa era a grande questão.

– Eu acho que alguém na Grifinória sabe sobre o que está acontecendo comigo – disse Hermione, lembrando-se de certo acontecimento tão antigo, que quase passou despercebido. – Se lembram do livro que eu falei, no qual eu escrevi e ele me respondeu e me mostrou uma suposta visão do futuro? Eu o escondia numa caixa, no quarto que compartilhava com as outras garotas do terceiro ano. A caixa e o livro desapareceram, como eu falei, o que não falei foi que, na época, pensei que alguém da Grifinória foi quem os roubou. Pensando sobre isso, agora, esta é a única explicação lógica para o seu desaparecimento, visto que ele não poderia ganhar pernas e fugir nem estudantes das outras Casas poderiam invadir à da Grifinória sem saber a senha e passarem despercebidos.

– Talvez, ele ou ela soubesse a senha para adentrar pelo quadro da Mulher Gorda. Ele ou ela poderia ter mudado a cor e o brasão da sua Casa com o uso de magia – disse Rony, surpreendendo seus amigos pela racionalidade de seu argumento.

– Alguém teria o visto e o reconhecido... – começou Harry.

– Essa pessoa poderia ter usado Poção Polissuco, não seria a primeira e aposto que não será a última a o fazer debaixo do teto daquele castelo.

– Por que alguém se daria o trabalho de fazer uma Poção Polissuco e de planejar, antecipadamente, sua invasão à Grifinória apenas para me fazer ver algo absurdo, tão absurdo que não foi capaz de me fazer olhar duas vezes para o Malfoy?

A resposta que recebeu foi o silêncio. Isso a assustava tanto quanto a sua mentira. Ela olhava duas vezes para o sonserino loiro, apenas por curiosidade, era o que dizia para si mesma.

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Sentado numa poltrona em frente à lareira do seu quarto, Draco revirava as folhas de um livro no seu colo. A sua capa era de veludo verde e tinhas traços dourados que formavam o título dele – The stories are true.

Desde o primeiro dia em que ele reapareceu no Salão Comunal da Sonserina, embrulhado em papel prateado, no ano passado, ele nunca mais respondeu as suas perguntas. Era como se a magia que o dera vida tivesse se extinguindo completamente.

Todas as suas folhas estavam riscadas com as tentativas infrutíferas de Draco de fazer um ser inanimado respondê-lo. Agora, ele apenas o lia na vã esperança de encontrar algum segredo entre palavras impressas nele. O livro era sobre criaturas mágicas e os mitos e as verdades sobre elas. Draco já havia lido-o inteiro três vezes, e ainda não encontrara nada que pudesse iluminar as suas questões.

No entanto, havia um mito que se tornou o seu favorito. Chamava-se The Siren e contava a história de um homem que se apaixonou por uma sereia. Ele a encontrou, certa vez, presa na rede de pesca que jogara no mar; puxou-a para a praia e ficou encantado com a sua descoberta. Ele se apaixonou por ela, por seus longos cabelos negros como a noite e por sua pele alva e por seus olhos prateados que pareciam refletir o espectro da Lua. Ele a amou, e ela o amou também. Ele costumava navegar com o seu barco, acompanhando-a para além-mar. Porém, o amor deles já nasceu sepultado. Ele não poderia amá-la do jeito que precisava, e ela não poderia levá-lo para o seu reino nas profundezas do oceano. Tudo o que poderiam fazer era observar um ao outro à distância, rezando para que suas condições mudassem e para que suas almas voltassem a se encontrar em outra vida, numa pele que os permitiriam se tocar e se descobrir.

Ele a amava tanto, que o sentimento não cabia dentro dele. Ele sofria tanto, que um dia se convenceu de que preferiria morrer do que continuar a viver mais um dia sem a sua amada. Então, ele caminhou para a praia e mergulhou no mar, nadou para longe, gritando por ela, pedindo-a para levá-lo ao seu reino. Ela estava longe dali, nas profundezas, triste, pensando na vida que eles poderiam ter, se as circunstâncias fossem outras.

Ele nadou, nadou, até cansar-se, até a correnteza tornar-se mais potente que suas braçadas. O corpo dele amoleceu e foi levado pelas águas, para baixo, para o Reino nas profundezas do oceano.

A história acabava nessa parte, mas Draco era suficientemente criativo para imaginar o que aconteceu quando ela, a sereia, encontrou o corpo morto do seu amado. Isso fazia o seu peito doer, porque o Draco das visões e dos sonhos sabia exatamente o que era amar alguém que não fora feito para lhe pertencer. E isso perturbava o verdadeiro Draco, porque ele não queria jamais sentir tal desolação – a ânsia de precisar tanto de uma pessoa, que nem a própria vida lhe importava mais.

Ele estava com medo de amar.

Ele tinha ainda mais medo de amar aquela cujos olhos lhe causavam tanto fascínio.