Desejo e Reparação

II - Capítulo 10: Sucessão de dias


Parte Dois

{Os olhos azuis sobre os castanhos}

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Capítulo 10: Sucessão de dias

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Hermione passou as semanas seguintes aperfeiçoando a complexa arte de evitar Draco Malfoy. Toda vez que o via descendo as escadas ou atravessando o corredor em sua direção, ela conseguia encontrar brechas por onde escapar mesmo numa sólida parede; foi dessa forma que descobriu várias das passagens secretas de Hogwarts, merecendo o título, que antes pertencia aos gêmeos Weasleys, de Grande Explorador(a). Os gêmeos ficariam desapontados se descobrissem, por isso ela não comentava sobre suas descobertas.

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Nesse ano, estava mantendo muitos segredos dos seus amigos – o vira-tempo, o sonho, a visão, a música, o livro sobre criaturas mágicas e Draco Malfoy. Isso acabaria se transformando numa bomba, que, inevitavelmente, explodiria e machucaria as pessoas que amava.

Todavia, aqueles eram segredos que não poderia compartilhar, mesmo se quisesse. E ela não queria. Afinal, não havia ocasião oportuna para sentar-se à mesa da Grifinória, no Salão Principal, ao lado dos únicos amigos que tinha, e verbalizar que havia tido uma espécie bizarra de visão em que ela e o Malfoy estavam fazendo algo difícil de descrever com toda a escuridão em volta... E ela havia dito que o amava, logo depois de ele ter recitado um poema com os lábios na pele quente dela. Não que ela tivesse visto qualquer coisa, mas os sons eram o bastante para atiçar a sua fértil imaginação. Mesmo se tentasse explicar que a mulher não era ela, de fato, na visão, Harry e Rony não compreenderiam a delicadeza da situação. Eles voariam em cima do sonserino, fazendo todo o tipo de acusação no meio do Salão, na frente de todos. O Malfoy, certamente, os incitaria com meios sorrisos maliciosos e com toda a sua nata habilidade para ser odioso. O resultado seria desastroso.

Por isso, enterraria tal segredo nas profundezas do seu âmago, até que ele não fosse mais que uma lembrança vaga e imprecisa.

Hermione escondera o livro de poções no lugar mais óbvio de todos – dentro de uma caixa de sapatos debaixo da cama. Porém, como a garota não era ingênua, colocara um feitiço nela, impossibilitando que curiosos remexessem em seus pertences e descobrissem o horror dentro das páginas do livro. Mais tarde – especificadamente no mês seguinte ao mês que viria –, investigaria mais a fundo.

Os dias se passaram como vento sobre a campina, levando consigo, eventualmente, as hastes mais frágeis e as pétalas das flores.

Num dia em particular, algo inusitado ocorreu.

Hagrid levou os alunos do terceiro ano para uma grande clareira na floresta, onde os raios de sol faziam as folhas das árvores brilharem como se fossem feitas de ouro. No entanto, a atenção dos alunos não estava na beleza do lugar. No centro da clareia, um belo animal ergueu-se, glorioso. O seu corpo tinha a forma de um cavalo, mas ao invés de pelos, tinha penas alvas e prateadas, a boca transformada num bico grande e poderoso, que poderia decepar uma perna com a mesma facilidade que as presas de um tubarão; das suas costas, grandes asas cresciam.

Hagrid o chamava de Bicuço. Hermione não conseguiu evitar um sorriso ao escutá-lo, este que logo se converteu numa reta séria. O meio-gigante advertiu que hipogrifos eram criaturas orgulhosas e que tendiam a ficar furiosas quando se sentiam ameaçadas.

Harry teve sorte, o hipogrifo abaixou a sua cabeça em sinal de respeito e permitiu que o garoto se aproximasse. Ele até o montou, e ambos alevantaram voo. Hermione, que temia não sentir os seus pés sobre uma sólida base, ficou assustada e agarrou a mão de Rony, um ato precipitado e nervoso. Ela e o ruivo encararam-se confusos, e ela largou a mão dele, esfregando a sua na saia, limpando o suor que se formava.

No momento em que Harry pisou no chão novamente, Draco abriu caminho em meio à multidão de alunos ansiosos e proclamou que seria o próximo, que se o Potter conseguia, qualquer formiga poderia fazer o mesmo.

O hipogrifo era mais inteligente do que parecia, pressentiu a aura maligna do sonserino e o atacou, quando este o tratou com desdém e se aproximou, pronto para domá-lo como se o animal fosse um potro e não uma criatura mágica e poderosa.

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Hermione sentiu-se particularmente contente com o acontecido, porém ela ainda era Hermione Granger, a garota estudiosa que lembrava a seus amigos todas as regras que estavam quebrando ao tentarem intrometer-se em algo que deveria ser assunto de bruxos adultos, não de crianças inexperientes. Por ser quem era, dos pés ao último fio de cabelo cacheado e revoltado em sua cabeça, correu para onde Draco se retorcia, segurando o braço no chão, gritando para os quatro ventos que o seu pai saberia disso. Apesar da vontade de chutá-lo, falou que Hagrid deveria levá-lo à enfermaria.

E foi assim que a aula acabou.

Dias depois de Draco ter deixado a enfermaria, ele amostrava o seu braço engessado e encenava o papel da vítima, distorcendo o acontecido para favorecer a sua imagem, fazendo-o parecer um bravo cavaleiro que caíra devido à perversão de um monstro tão maligno, que ninguém poderia o combater. Ele dizia que o seu pai tinha contatos importantes e que faria de tudo para eliminar a aberração.

Aquele garoto era ridículo, pretensioso e covarde! Hermione tinha certeza que jamais se apaixonaria por ele, muito menos se entregaria a ele, não importava o que um pedaço de papel encadernado tinha a lhe dizer ou a lhe mostrar sobre isso. Certas coisas, simplesmente, eram imutáveis.

Semanas vieram e morreram na curva de um corredor, por onde Hermione virava-se, ocasionalmente, para evitar a figura do loiro. Ele, aos poucos, melhorava, até que, enfim, retirou o gesso do braço e voltou a treinar na seleção sonserina de quadribol, na qual nunca foi aceito por suas habilidades, mas por seu dinheiro. Sonserinos eram tão mais práticos!

O jogo de quabribol entre a Sonserina e Grifinória aconteceu no final daquele mês. Uma chuva torrencial despencou do céu e alagou a vista de todos os expectadores, que torciam animados por mais uma épica partida entre as casas rivais.

Apesar de a Grifinória ter ganhado, Harry, só para variar um pouco, quase morreu. Quase. Se continuasse dessa forma, o tal Black não precisaria se dar ao trabalho de tentar invadir Hogwarts e escapar dos aurores que o caçavam, pois Harry, sozinho, faria o trabalho por ele – acabaria morto em alguma alameda próxima ao castelo.

Durante os dias seguintes, o sempre estável diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts esteve possesso. Expulsou os dementadores das redondezas do castelo e, para garantir a segurança dos alunos, exigiu que todos dormissem juntos no Grande Salão, enquanto tomava providências para resolver a situação.

Dumbledore reforçou os feitiços de proteção ao redor do castelo e colocou os professores de guarda em pontos estratégicos.

Vez por outra, Eleanor Rigby a encontrava, e Hermione não precisava se esforçar para ser simpática com ela. Elas sentavam-se num lugar afastado e conversavam, nunca por muito tempo, nunca todos os dias nem todas as semanas. Conversavam sobre as aulas e outras coisas banais. Hermione descobriu que a garota cursava o quinto ano, apesar de parecer mais nova.

Os dias continuaram a passar rápidos e contínuos. Hermione quase se esqueceu do que aconteceu, mas, toda vez que via o sorriso prepotente do loiro, os sons e as palavras chocavam-se contra ela, como uma onda potente e feroz, querendo-a derrubar.

Mesmo que ela se esquecesse completamente da visão, Draco iria lembrá-la. Pois, ele próprio queria entender o que acontecera. Se ainda não havia conseguido imprensá-la contra a parede e ameaçá-la para que contasse a verdade, era porque Hermione estava fazendo um excelente trabalho escondendo-se dele.

Contudo, Draco não seria considerado o segundo maior inimigo do trio, se não tivesse suas próprias habilidades.

Eventualmente, ele conseguiria o que desejava.