Hope for Us

Capítulo 9: Beijo Roubado


Quando finalmente cheguei ao dia em que Jake e Caroline saíram juntos, Carl apareceu na porta com um cobertor nos ombros, uma lanterna e sua revista em quadrinhos.

– Qual o problema? – perguntei já me levantando preocupada.

– Pode oferecer abrigo a um sobrevivente? – ele apontou para cama de cima do beliche.

– Pode ficar aqui, mas por quê? – ele jogou as coisas na cama de cima e se preparou para subir.

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– Judy vomitou na minha cela mais cedo. – fizemos uma cara de nojo juntos.

– Agora sei de onde vem esse cheiro. – deitei de novo ouvindo a cama de cima ranger – Você é um verdadeiro sobrevivente meu jovem.

– Nem me fale. – vi a luz da lanterna dele refletindo no teto – Graças a Deus você não estava dormindo.

– Agradeça a Caroline, mas desde que não ronque você pode dormir na cama de cima quando quiser vizinho.

– Obrigado. – ele riu.

Ficamos lendo em silencio, o tão esperado beijo de Jakeline aconteceu e eu comecei a rir baixinho de felicidade.

– Esta tudo bem? – Carl perguntou.

– Sim, esta. – eu ia continuar a ler, mas surgiu uma duvida na minha cabeça que escapou da minha boca antes que eu pudesse me refrear – Carl, você já beijou?

Ele permaneceu em silencio, com certeza foi pego de surpresa, eu devia ter perguntado com mais cuidado.

– Hã... Por quê? – ele perguntou cautelosamente.

– Caroline escreveu sobre o primeiro beijo dela com Jake. – resolvi ler o pequeno trecho no qual ela descrevia como foi.

“Retiro tudo o que disse sobre beijos até hoje (porque para começar eu nunca havia beijado antes) não são nojentos, são a melhor sensação do mundo! Superam sorvete de chocomenta e lasanha, e eu tenho certeza que não seria tão bom se não fosse com Jake.

Foi tão calmo, lento e completamente delicado, não foi como nos filmes de ação. Um verdadeiro beijo Frances, eu nem acredito que aconteceu, duvido que vou dormir hoje.”

– Ela descreveu muito apaixonadamente, será que é assim pra todo mundo? – falei ao terminar o trecho.

– Beijo Frances?

– Também não entendi. – me perguntei o que era o tal beijo Frances – Será que existem beijos para todos os países?

– Não faço ideia. – ele ficou de cabeça para baixo me olhando com a lanterna na boca.

– Não respondeu minha pergunta. – tirei a lanterna da boca dele e esperei.

– Não, eu não beijei. E você? – não sei se o vermelho no rosto dele era de vergonha ou o sangue descendo para a cabeça.

– Também não, como eu disse não tive tempo para coisas normais. – fechei o diário e o coloquei de lado – Willian beijou uma garota uma vez depois do treino de beisebol, mas ele apanhou.

– Apanhou? – Carl juntou as sobrancelhas, confuso.

– Era uma aposta, o beijo foi roubado. – ri me lembrando da garota estapeando Will no meio do campo.

– Como é um beijo roubado? – ele perguntou com curiosidade.

O encarei por alguns segundos antes de responder essa pergunta, os olhos azuis faiscavam na luz da lanterna.

– Carl, acha que o beijo de Mary Jane e Peter funcionou? – perguntei séria.

– Pareceu que sim. – ele deu de ombros sem entender a mudança de assunto.

Pensei se aquilo realmente daria certo e o que eu faria depois, mas o que nós temos a perder?

– Um beijo roubado é assim. – me aproximei dele e colei nossos lábios rapidamente.

Não sei se isso é normal, mas uma corrente elétrica percorreu meu corpo nesse nem um segundo de beijo que me fez arrepiar.

Carl ficou estático, olhando pra mim e corando violentamente, não saberia dizer ao certo o que ele estava sentido ou querendo expressar.

– Só que quando Will a beijou ele não estava de cabeça para baixo. – falei tentando quebrar a tensão.

– Hã... Certo... Meu primeiro beijo foi roubado... – ele desviou os olhos completamente sem graça e mordeu os lábios tentando conter um riso – Me sinto o Peter Parker.

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– Me sinto meio Mary Jane. – não da para evitar os olhos de Carl Grimes mesmo que você tente, agora sei disso – Mas no filme foi diferente, acho que ela beijou até o nariz dele naquela cena.

Fizemos uma cara de nojo juntos e acabamos rindo, afastando aquele clima de “acabei de te roubar um beijo”.

– Porque diziam que beijar é nojento? – ele perguntou, ainda envergonhado.

– Provavelmente estavam se referindo ao tipo de beijo que aconteceu no filme, que até eu achei meio bizarro. O que Mary Jane sentiu beijando um cara vestindo roupa coladinha, na chuva de cabeça para baixo, logo depois de quase ser abusada e então salva?

– A questão é quem beijaria o cara de roupa coladinha. – dei um tapinha na testa dele, mas não pude evitar rir.

– É o Homem-Aranha, mesmo que a roupa fique melhor nas revistas em quadrinhos. – eu peguei o diário de Caroline e joguei na cômoda, voltando a me deitar.

– Pode me dar a lanterna? Acho que vou cair aqui. – coloquei a lanterna na boca dele e o observei voltando para o beliche de cima – Deus, será que Peter também se sentiu assim depois de ficar de cabeça para baixo tanto tempo?

– Provavelmente. – vi a luz da lanterna no teto de novo – Carl?

– Hum?

– Estou feliz por saber roubar beijos. – ele ficou em silencio, parecia segurar a respiração, então suspirou e disse:

– Estou feliz em saber o que é um beijo roubado. – eu sorri automaticamente.

– Boa noite, de novo. – falei antes que a luz da lanterna dele se apagasse.

– Boa noite.

Eu consegui dormir aquela noite, mas me sentindo muito estranha sem conseguir conter um sorriso bobo mesmo de olhos fechados.

“Roubar o primeiro beijo de Carl Grimes” acabou de ir para a minha lista de “Melhores coisas que eu fiz no Apocalipse”.

No dia seguinte a primeira coisa que vi ao acordar foi a mão de Carl caindo para fora da cama de cima, o que me fez lembrar o “roubo” da noite passada.

– Ai Deus! – exclamei baixinho e escondi meu rosto com as mãos.

– Hora de levantar! – Beth bateu na grade da cela – Oh...

Ela viu Carl na cama de cima e fez uma cara confusa.

– Judy vomitou na cela dele, ele pediu abrigo. – falei puxando a coberta e me levantando – Acorda Cowboy!

Puxei o braço que estava caindo na cama e ele despertou com um susto, se sentando na cama de uma vez.

– O que? – ele olhou para os lados sem entender.

– Hora de levantar. – sentei na cama e coloquei os tênis.

– Vamos conhecer os novos membros do grupo. – Beth disse antes de sair andando.

Saí do bloco arrastando Carl pelo caminho, ele se parecia um errante de manha cedo quando estava com sono (depois de ler quadrinhos até muito tarde ou dar uma de Homem-Aranha). Ele não havia tocado no assunto beijo, estava andando normalmente ao meu lado como todas as manhas, esfregando os olhos e bocejando.

O café era sempre do lado de fora, numa “casa ao ar livre” sem paredes, com as mesas e cadeiras espalhadas para todos conseguirem se acomodar.

– Bom dia Daryl. – ele lambeu os dedos e tentou pegar no meu cabelo – Nem pensar!

– Patricinha. – ele balançou a cabeça rindo e voltou a comer.

O clima na prisão era sempre muito bom de manha, as pessoas estavam felizes cumprimentando todo mundo, agradecendo varias vezes e se oferecendo para ajudar.

Carl disse que iria descer até a horta para falar com Rick primeiro, então continuei dando bom dia para todos até chegar onde Carol estava servindo a comida.

– Bom dia querida – ela disse sorrindo – Pode fazer uma coisa pra mim?

– Tudo bem. – ela serviu um pequeno prato e me entregou.

– Leve esse prato para aquele garotinho sentado ali, ele chegou ontem e esta acanhado em vir tomar café. – ela apontou para um menininho sentado nos degraus da casa, estava de costas.

– Claro.

– Obrigada. – ela deu um tapinha carinhoso no meu ombro e continuou a servir as pessoas.

Comecei a andar até o menino, ele parecia estar muito envergonhado no meio de tantas pessoas.

– Ei, mocinho. – toquei o ombro dele e ele se virou.

Os olhos dele eram de um verde vivo, o cabelo era castanho escuro e estava sem corte tocando o pescoço como o de Carl, o nariz cheio de sardas, parecia ter seus seis ou sete anos. Não sei como, mas senti que aquele rosto era familiar.

Ele se virou totalmente para mim e me encarou com uma expressão curiosa.

– Obrigado. – ele pegou o prato que eu estendi e colocou no colo, mas continuou olhando pra mim.

– Então, qual é o seu nome? – perguntei.

– Noah. – eu prendi a respiração e recuei para trás, quase caindo por estar agachada– Noah Miller.