Hope for Us

Capítulo 12: Semelhanças


Ainda estava sentado perto das flores com Daryl, eu havia terminado de contar minha historia – do modo menos dramático possível – mas ele não havia falado nada até então, só suspirado e estava olhando para o chão.

– É um destino bem cruel para um garoto. – ele disse sem me olhar ainda.

– Às vezes ele é bem cruel. – dei de ombros – Mas não foi só comigo.

Joguei uma pedra na cerca onde tinham alguns errantes e nós dois olhamos para lá, concluindo que era melhor estar vivo do que se transformar naquilo.

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– Que bom que sabe... – ele se levantou e espreguiçou-se – Você tem a sua cota de dor, mas não é um marica.

Ele concluiu e estendeu o punho pra que eu batesse o meu. Se alguém como Daryl Dixon reconhecer que você não é um marica, cara, meus parabéns, você não é um marica mesmo.

– Você devia contar a sua historia. – ele levantou uma sobrancelha – Questão de educação.

Ele era o tipo de cara que deveria ter uma historia apocalíptica incrível, coisa de filme ou videogame.

Ele me lançou um olhar sacana e bateu de leve na minha cabeça.

– Eu não tenho educação. – ri e me levantei também – Você me lembra um pouco a Hope, carinha.

Fiquei sério quando ele disse isso, pensando que sim, eu era muito parecido com a Hope porque ela me ensinou a ser assim. Tentar copia-la era um passatempo divertido quando ela passava as férias com a gente, mesmo que eu não pudesse jogar videogame ou ser batedor eu tentava entender o que ela lia, as coisas que ela via na TV e claro, comer todas as porcarias que ela gostava.

Eu tinha bastante liberdade quando ela estava em casa, podíamos correr atrás do gato com sabres de luz ou rolar na grama molhada sem se importar em ouvir gritos de mamãe, porque ela não ficava brava quando eu estava com Hope.

Mas é claro, só eu sabia disso tudo, então minha resposta foi automática:

– Sério? – melhorei minha expressão de não faço ideia do que você esta dizendo.

– Essas criancinhas duronas de hoje em dia. – ele balançou a cabeça como se fosse inacreditável.

– Criancinha o caramba. – o chutei de brincadeira.

– Você é cinquenta centímetros menor que eu moleque, não vem não. – saímos do nosso “esconderijo” e fomos andando até parar na frente do Bloco – Vai procurar o resto dos pirralhos, fazer umas amizades e conhecer o resto das pessoas.

– Eu não quero andar com as “criancinhas”, obrigado. – cruzei os braços e olhei em volta, ouvindo a risada baixa de Daryl – O que eu posso fazer?

– Você não precisa fazer nada. – olhei para trás e era Rick quem estava falando comigo, o fazendeiro legal que recebera a gente no dia anterior. Ele estava sorrindo, divertido.

– Eu quero ajudar como todo mundo, Rick. – sorri pra ele também, esperançoso de que me desse alguma tarefa.

– Já temos bastante gente para ajudar aqui, as crianças estão livres para brincar, ler, se você procurar Mika ou Lizzie elas podem te mostrar o Bloco.

Rick parecia ser tão gente boa quando Daryl, mas com um estilo diferente, sem duvida. Lembrava-me o Seth.

– Não tem nada que eu possa fazer mesmo, algo com errantes, perigo... – arregalei os olhos com entusiasmo, ele riu e balançou a cabeça.

– Parece o Carl falando. – Daryl deu outro tapa na minha cabeça e um soquinho no braço de Rick – Vou arrumar o que fazer, se cuida moleque.

– Pode deixar. – revirei os olhos por causa do comentário sobre Carl – E então?

– Não se preocupe, temos tudo sobre controle e você pode procurar se divertir com o resto dos jovens. – ele não disse “crianças”, muito sábio.

– Certo. – suspirei e resolvi não insistir mais, queria ajudar, mas também não queria atrapalhar ou tomar o tempo de ninguém muito menos Rick.

– Você se parece um pouco com meu filho. – ele riu mais para ele mesmo do que para mim – Aproveite isso Noah, esse lugar, as pessoas, essa chance. Você agora é uma das únicas crianças do mundo, estou feliz por Daryl ter o encontrado.

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– Obrigado Rick, não precisa se preocupar. – sorri tranquilizadoramente – Eu, Angie e Patrícia estamos agradecidos, e nunca vamos poder pagar por isso.

Ele pousou a mão na minha cabeça num gesto digno de um pai, que me fez sentir melhor do eu mesmo esperava.

– Eu sou agradecido de poder ajudar vocês, todos vocês. – eu assenti, pensando que não importava quanto o mundo estivesse ruim, o quanto tudo mudou, as pessoas realmente boas continuavam boas.

– Pai! – ouvimos uma voz chamar atrás de mim, e lá estava o tal Carl – Vamos.

Ele não olhou pra mim, apenas para Rick que sorriu uma ultima vez e começou a caminhar em direção a Carl, provavelmente indo trabalhar na horta.

Resolvi procurar Patrícia para não ficar sozinho no meio de tantas pessoas desconhecidas, bem, quase todas desconhecidas.

Mas no caminho acabei topando com Mika que se ofereceu para me mostrar o resto da prisão e me apresentar às pessoas. Mika era muito gentil e entusiasmada, até ficava um pouco assustado por ser tão quieto com gente desconhecida. Ela me fazia rir bastante de coisas bem bobas.

Andamos um bom tempo, provavelmente a manha inteira, conhecendo pessoas (realmente havia muitas pessoas na prisão, Rick e Daryl haviam trazido basicamente todas e eu os admirava cada vez mais), lugares (não havia tripas de zumbi em nenhum banheiro, pode ficar melhor?), ouvindo alguns comentários do tipo “você é tão fofo” e “belos olhos” (comentário que Mika já tinha feito no dia anterior, e que provavelmente me fez ficar muito vermelho) que me fizeram ficar sem graça. Eu não sou fofo.

– Você é fofo. – Lizzie disse quando eu já estava com o rosto em chamas. Já estávamos do lado de fora do Bloco, Lizzie havia se juntado a nós e estávamos andando para a horta.

– Não sou... – ela apertou minha bochecha o que me fez pular para trás – Bochechas não!

Hope fazia isso, ela chegava em casa e corria atrás de mim para deixar algumas marcas no meu rosto branco, jovem e nada fofo.

– Achamos seu ponto fraco. – elas riram como quem tinha um plano maligno em ação – O Noah não tem bochechas fofas, Hope?

Oh não.

Virei e lá estava ela com luvas amarelas carregando algumas plaquinhas, observando aquela cena com um sorriso fraco, mas brincalhão. Carl (vulgo jardineiro) também estava com ela, carregava um balde e pedaços de madeira embaixo do braço.

– Tem mesmo. – desviei o olhar dela antes que a situação piorasse, e dei graças a Deus quando ela mudou de assunto. – O que vocês estão fazendo?

– A gente ia até a horta, vocês precisam de ajuda? – os olhos de Mika brilharam com expectativa.

Hope olhou para Carl como se pensasse na pergunta, então sorriu para nós de novo.

– Pensei em fazer plaquinhas para as plantas, se vocês quiserem ajudar... – as meninas deram risadinhas em aprovação.

Um garoto magro, de óculos redondos estava logo atrás de Hope carregando mais pedaços de madeira nos braços, ele sorriu para Mika e os olhos dela brilharam automaticamente.

– Oi jovens. – ele disse amigavelmente, depois olhou com surpresa para mim – Você é o Noah certo, sou Patrick, é um prazer.

Ele fez uma saudação movendo a cabeça e eu o imitei.

– Prazer. – eu permaneci olhando para o chão com vergonha daquela situação, todos olhando para mim. Menos Mika, que estava olhando para Patrick ainda.

– Conheci sua irmã mais cedo, Patrícia é muito gentil. – ele comentou e depois acrescentou – Mas vocês não se parecem muito.

Olhei para Hope que fez uma expressão claramente incomodada, e desviou o olhar para o chão.

– Ela não é minha irmã, só faço parte do grupo delas há muito tempo. – expliquei.

– Entendo, então você não esta com seus pais? – ele perguntou cuidadosamente, eu balancei a cabeça e meus olhos automaticamente procuraram os olhos castanhos muito parecidos com os de mamãe, e os encontraram me encarando.

– Não. – respondi por final.

Ele assentiu como se já esperasse, imagino que eu não era o único nessa situação, talvez ele também não tivesse os pais ali.

– Bem, vamos então, quer ajudar com as placas... – Hope começou a falar se dirigindo a mim e eu rapidamente cortei.

– Não, obrigado. Colorir não é pra mim. – Carl me olhou com uma sobrancelha levantada, eu também levantei uma só pra deixar claro.

– Certo. Vamos meninas, eu vejo vocês depois. – ela sorriu para Carl, ele rapidamente desfez a expressão de deboche e sorriu pra ela, mas só para ela.

– Até logo Patrick! – Mika disse entusiasmadamente quando passou por ele.

– Até pequenininha. – ele disse rindo.

Depois que elas se foram, Carl não hesitou e nem olhou para trás quando começou a andar para a horta levando o balde e as madeiras, eu e Patrick ficamos olhando, até ele se voltar pra mim e dizer:

– Quer ajudar jovem? – ele me estendeu alguns pedaços de madeira e sorriu amigavelmente.

Pensei um pouco sobre a oferta, afinal passaria algum tempo com Carl se ajudasse, mas talvez fosse uma oportunidade de saber mais sobre Hope e ainda fazer amizade com Patrick.

– Tudo bem. – peguei algumas madeiras e coloquei debaixo do braço também – Obrigado pelo “jovem”.

– Não é nada, é só que você não parece muito um garotinho. – ele sorriu de lado para mim – “Colorir não é pra mim.”

– Ah, obrigado, colorir realmente não é pra mim. – ele riu sobre meu comentário e balançou a cabeça, definitivamente já gostei desse cara – A única coisa boa do apocalipse é que ao tenho mais aulas de artes.

– Tenho saudades das de matemática. – ele disse com um ar nostálgico.

– Essa é outra matéria que eu preferia nunca ter ouvido falar, cara, não é coisa de Deus. – Patrick gargalhou alto dessa vez.

– Bobagem, você não tem idéia do que é matemática ainda jovem. – já estávamos nos aproximando da horta, eu podia ver Carl cravando algumas madeiras na terra.

– Que bom que eu não tenho. – ele balançou a cabeça de novo como se não acreditasse.

– Você provavelmente vai fazer amizade com o Carl, são parecidos. - levantei uma sobrancelha automaticamente – Principalmente quando faz isso.

– Eu nem conheço ele e já ouvi isso três vezes hoje, mas não acho que sejamos parecidos, ele parece meio... – tentei encontrar a palavra certa.

– Chato? Arrogante? Emburrado? – ele disse num tom brincalhão.

– Tipo isso.

– Ele é assim com quem não conhece, ou quando só quer ser durão mesmo. – ele deu de ombros.

Você quer dizer babaca? – ele riu alto de verdade, fazendo Carl olhar para nós com uma cara desentendida.

– Mudei e idéia, você se parece com a Hope. – dessa vez não pude evitar sorrir.

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– Bem melhor. - desta vez ele levantou uma sobrancelha pra mim sem tirar o sorriso dos lábios.

– Eu vi você olhando pra Hope, talvez seja por isso que o Carl esteja sendo um babaca. – primeiro fiquei surpreso por ele ter achado que eu olhei para Hope por algum outro motivo não sendo ”ela é secretamente minha irmã”.

– Eu não estava olhando pra ela, e o que isso tem haver com a babaquice? – encarei-o e ele ainda mantinha aquele sorriso de lado.

– Você vai entender depois, hora de trabalhar. – ele disse e saiu na minha frente indo até Carl.

Mas eu consegui sacar o que ele quis dizer (não é atoa que Hope dizia que eu era esperto pra minha idade), o jardineiro tem ciúmes dela.