Olhos negros distantes e vazios. Seu rosto era impassível, mas aqueles olhos eram incapazes de esconder que algo estava errado. Sim, algo estava errado nele. E já fazia dias que percebia isso. Procurava descobrir o que realmente acontecera. O duro era transpor mais aquela nova barreira que acabava de surgir entre os dois. Quando conseguia superar uma barreira, sempre surgia outra.

Isso era bem frustrante.

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― Mamãe – Trunks, o jovem que viera do futuro, dava as caras no quarto de Bulma. – Posso falar com você?

― Ah, sim. Espera um pouco, vou colocar seu “outro eu” lá no berço.

Até alguns dias atrás essa frase jamais faria sentido. Bulma nem sonhava que o tal jovem vindo do futuro seria seu próprio filho – mesmo que três anos atrás ela tivesse a sensação de que ele era muito familiar. Quando Piccolo lhe dissera que o jovem do futuro era o pequeno Trunks com alguns anos a mais na bagagem, ficou surpresa. Quem diria que seu bebê de quase um ano se tornaria um jovem charmoso e forte...

A cientista foi ao quarto do pequeno Trunks e o depositou no berço sob o olhar de sua versão adulta.

― Eu não sabia que tinha tão pouco cabelo nessa idade. – o jovem comentou com certo humor.

― Assim como eu não imaginava como ele seria tão charmoso quando crescesse. – Bulma acrescentou enquanto Trunks corava. – Eu já estava começando a pensar que você ficaria tão ranzinza como seu pai.

A Trunks restou apenas rir meio sem jeito.

Mãe e filho saíram do quarto, dirigindo-se à sala onde deram de cara com alguém sentado no sofá. Não seria estranho se fosse qualquer outra pessoa pessoa “zapeando” a TV com a expressão de tédio. Mas não era qualquer pessoa que estava ali. Era Vegeta. E o simples fato de o saiyajin estar sentado no sofá e zapeando a TV, apenas se prestando a apertar os botões do controle remoto com ar de enfado... Por si só, tal cena se constituía na maior bizarrice já vista. Isso sem contar que, desde a luta contra Cell, Vegeta não treinara sequer por um dia. Para completar, também já fazia dias que não usava seu típico uniforme azul. Pelo contrário, vestia-se à paisana”.

A verdade é que ele estava estranho desde que voltara horas depois do fim da luta contra Cell. Desde então sugira uma nova barreira entre ele e Bulma. Ela deixou o filho ali e parou na frente de Vegeta, que “esticou” o pescoço para continuar vendo TV.

― Que eu saiba, o seu pai não é vidraceiro. – disse. – Sai da minha frente.

― Não saio enquanto “Vossa Alteza” não me responder algumas perguntas! – Bulma retrucou e desligou o aparelho.

― Quem mandou você desligar? – o saiyajin protestou.

― Fiz por conta própria.

Com o controle remoto, ele religou a TV. Bulma desligou. Ele tornou a ligar e ela voltou a desligar. Ficaram nesse “liga-desliga” por um bom tempo, sob o olhar atônito e a expressão visivelmente constrangida de Trunks. Por fim, Bulma puxou o fio da tomada para acabar com aquilo. Revoltado, Vegeta se levantou e protestou aos berros:

― QUEM VOCÊ PENSA QUE É, PRA FAZER PIRRAÇA COMIGO?!

Bulma assumiu um ar superior:

― É evidente, não? Sou a dona da casa e, se eu quero que desligue a TV, é pra desligar a TV, entendeu?

― Não, eu não entendi. – o saiyajin ironizou. – E você deveria parar de encher o meu saco!

― Ah, tá... Como se eu fosse desistir de descobrir por que você está agindo como um anormal!

― Você sempre disse que sou um anormal. – ele observou.

― Mas, desta vez, você chegou ao cúmulo do absurdo!

― E por que cheguei ao cúmulo? – Vegeta se fez de desentendido, o que deixou Bulma ainda mais irritada.

― ORA ESSA... PORQUE VOCÊ PAROU DE AGIR COMO UM SAIYAJIN!!

O sarcasmo logo desapareceu do rosto do príncipe saiyajin. Seu olhar voltou ao estado anterior, voltando àquela expressão vazia. Jogou o controle remoto no sofá e saiu bufando. Havia, sim, algo muito errado nele e Bulma descobriria, custasse o que custasse. Quanto mais tentava entender aquele homem, mais complicado ele se tornava. Ela suspirou. Além de anormal, Vegeta se tornara um fujão.

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A campainha tocou e Trunks foi atender. Era Yamcha:

― Olá, Trunks. – cumprimentou. – Que conta de novo?

― Ah, olá, Yamcha. Nenhuma novidade... Por enquanto.

― A Bulma está?

― Está, sim. Quer entrar?

― Valeu.

O ex-ladrão adentrou a mansão e logo encontrou a cientista. Notou nela alguma preocupação e logo de cara perguntou:

― Tá preocupada com o quê, Bulma?

― Ah, não é nada, Yamcha.

― Tem certeza?

― Absoluta! – ela sorriu, tentando disfarçar.

Yamcha, Bulma e Trunks logo começaram a conversar sobre outros assuntos. Foi o bastante para que Bulma esquecesse sua preocupação acerca de Vegeta. E, por falar no saiyajin, ele logo apareceu, fazendo com que o silêncio tomasse conta do ambiente.

Yamcha tentou quebrar o silêncio que pairava:

― Ah... Oi, Vegeta... E aí, como anda o treino?

― Não estou treinando.

― Descansando?

― Desisti de lutar.

― Ah, você desistiu de... – quando caiu a ficha, Yamcha quase caiu da cadeira. – PERAÊ! VOCÊ DESISTIU DE LUTAR? EU TÔ OUVINDO DEMAIS?!

Vegeta nada respondeu. Simplesmente achava patética a reação do terráqueo.

― O que tem de mais nisso? – perguntou.

O olho esquerdo de Yamcha começou a tremer.

― “O que tem de mais”...? Você ainda pergunta “o que tem de mais”? Você é um saiyajin... E saiyajins não desistem de lutar, isso tá no sangue, não é...? Não tá entendendo a gravidade da situação?

― Como vocês, terráqueos, dizem, “estamos no mesmo barco”, não? Uma hora perdemos o ânimo de lutar. – o saiyajin respondeu aborrecido. – E este é o meu caso. Não tenho razões pra continuar lutando.

Vegeta deixou o local, onde Yamcha permaneceu completamente pasmado e paralisado.

― Eu... Ouvi direito...? Vegeta desistiu de lutar? Logo ele...?!