― Agora sei como meu pai se sente... – lamentou-se enquanto metia a cara em meio a um monte de papéis espalhados pela mesa do escritório. – Isso é tão cansativo...!

A pobre Bulma estava com a mesa lotadíssima de papéis que seu pai deixara acumular nos últimos dias. E para complicar ainda mais as coisas, a Srta. Tida – a secretária – não pudera ir ao trabalho por conta de uma forte gripe recém-adquirida. Apesar de estar assumindo a presidência interina a pedido de seu pai, ela estava profundamente arrependida de ter aceitado tal tarefa.

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Definitivamente era mais fácil aturar Vegeta e as manutenções da nave do que estar em meio àquela montanha de documentos. Mas tinha que se virar para que o seu pai não encontrasse a Corporação de pernas para o ar quando voltasse.

Ouviu duas leves pancadas na porta.

― Pode entrar!

Entrou um jovem loiro. Ele era o secretário de um dos vice-presidentes da Corporação.

― Desculpa o incômodo, senhorita Bulma... Como o vice-presidente jurídico, meu chefe, não veio, e a Srta. Tida também não pôde vir, vim saber se a senhorita não precisa de alguma ajuda e...

Interrompeu-se ao ver a enorme papelada quase tapando o rosto de Bulma. E acrescentou rapidamente, com um sorriso constrangido:

― Por onde eu começo?

― Por qualquer lugar...! – ela respondeu com um sorriso igualmente forçado e constrangido.

*

― Panthy! – a Sra. Briefs chamava a sobrinha. – Pode me fazer um favor?

― Sim, tia. Qual?

― Pode chamar o bonitão do Vegeta para mim? Diz que o almoço já está pronto!

― Claro! – a jovem disse. – Com muito prazer.

Panthy saiu da cozinha com os olhos brilhando. “Eu não acredito... Vou mesmo falar com aquele pedaço de mau caminho? Ai, que maravilhoso!” Foi até o quintal cheio de neve, e ali encontrou o saiyajin treinando alguns golpes. Usou uma entonação de voz mais sexy para chamá-lo:

― Ve-ge-ta! – chamou-o quase cantando o seu nome.

Vegeta olhou para a direção de onde vinha a voz que o chamava. Viu que era a prima de Bulma e percebeu nela um estranho ar de interesse. Havia visto também que ela era até mais bonita que a Bulma, mas... Não conseguia ter qualquer atração por ela.

― O que quer pra me interromper assim? – ele perguntou.

Panthy logo se aproximou dele, pegando-o pelo braço. Passou sua mão pelo bíceps trabalhado do guerreiro, que sentiu um estranho arrepio.

― A minha tia está te chamando para almoçar. – ela disse a voz mais doce possível. – Já está tudo pronto!

O saiyajin olhou para ela, que ainda não lhe largara o braço.

― Você pode me soltar ou tá difícil? – disse com sua típica indiferença.

― Ah, me desculpa.

Panthy se retirou logo. Vegeta sentiu de novo aquele arrepio, mas que não era igual ao que tinha quando estava perto de Bulma. Esse arrepio na verdade lhe dava uma sensação de repulsa.

― Mulherzinha atrevida! – murmurou.

Panthy dirigiu-se à cozinha sorrindo e pensou:

“Ora, ora... Ele é do tipo difícil! Adoro desafios...”

*

“Mas que mulherzinha estranha”, ele pensou. “Nem me vê direito e já se joga pra cima de mim!”

Vegeta pensava isso enquanto treinava em meio ao quintal ainda cheio de neve, e com possibilidade de receber mais a qualquer momento. Estava ali porque não conseguia abrir a nave para ficar dentro. Não que ele não conseguisse abrir de fato, mas não conseguia abrir sem o risco de danificá-la. E Bulma era a única pessoa que poderia consertar aquilo quando tivesse tempo. E se ele danificasse a porta, ela poderia não ter condições de consertar o estrago, pois a barriga crescera a um ponto em que a limitava em certas tarefas.

Mas aquela outra terráquea... Durante o almoço sempre olhava para ele, e de um modo estranho. Tudo bem que Bulma no começo o olhava de um jeito parecido, mas o olhar de Panthy não fazia o mesmo efeito. Na verdade, aquilo o deixava muito incomodado. Isso sem contar que ele tivera seu treinamento interrompido por várias vezes. A razão? A mulher de cabelo azul-escuro, que ele preferia denominá-la de “a oferecida”. Pois bem, “a oferecida” sempre interrompia o treinamento do saiyajin para tentar seduzi-lo com seu charme e, claro, com roupas bastante justas revelando ao máximo possível suas curvas apesar do frio.

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Era inegável o fato de ela ser muito bela, mas as várias tentativas de sedução dela faziam com que ele a enxergasse como uma mulher tão... Vulgar... Nem Bulma, que sempre fora muito atirada, se comportava assim.

Sentiu o ki de Bulma – e do bebê – se aproximar. Já estava quase anoitecendo e os primeiros flocos de neve começavam a cair. Mas foi surpreendido por Panthy, que literalmente se jogou nos braços do saiyajin, que caiu no chão com ela por cima. Seus rostos estavam tão próximos que era possível um sentir o hálito quente do outro. Foi o suficiente para que a cena fosse vista por Bulma, que se dirigiu para dentro de casa pisando duro e com lágrimas nos olhos. Vegeta viu a reação dela e fitou Panthy furioso. Em seguida, empurrou-a de cima de si e se levantou fazendo cara de asco.

― Você é mesmo uma mulherzinha vulgar. – disse com a voz mais gelada possível. – Percebi desde o começo mas não imaginava que você fosse tão... Asquerosa! – praticamente cuspiu a última palavra dando-lhe as costas e indo para dentro.

Panthy, no entanto, não se intimidou com o que Vegeta lhe dissera. Pelo contrário, deu um sorriso malicioso e sussurrou para si mesma:

― É assim mesmo... Primeiro ele me rejeita, depois ele me deseja.

*

O travesseiro, aos poucos, ficava úmido com as lágrimas que caíam nele. Os soluços começavam a se fazer audíveis no quarto. Aquela cena que acabava de ver fora demais. Tentava a todo custo abafá-los, mas não conseguia. Doía muito relembrar aquela cena que fazia um loop infinito na sua mente. Principalmente porque não esperava que Vegeta protagonizasse tal cena. Depois de mais alguns minutos de choro, esforçou-se para se refazer de tudo aquilo.

― Eu devia saber que qualquer homem, humano ou saiyajin, não deixa de ser a mesma coisa... Os homens são todos iguais! Todos! E eu aqui chorando por causa disso... Não! Eu não sou assim! – levantou-se enxugando os olhos azuis. – Eu também tenho o meu orgulho! Eu, Bulma Briefs, não devo me deixar abater por isso! Se Vegeta quer me sacanear ele vai ter troco! Ah, se vai!

Ouviu três batidinhas na porta e uma voz familiar:

― Bulma! Vamos jantar, filha!

Bulma abriu a porta e sua mãe logo notou o inchaço dos olhos dela.

― Por que você estava chorando, minha filha? – a Sra. Briefs foi direto ao ponto.

Bulma sabia que não podia esconder praticamente nada da sua mãe. Aquela aparência distraída apenas enganava. Mas nem precisou responder.

― Foi por causa do Vegeta, não é mesmo?

Bulma não afirmou nem negou. Na certa o saiyajin seria defendido.

As duas foram à cozinha para jantar. No caminho elas se encontraram com Vegeta, o que fez com que a cientista virasse o rosto para o outro lado apenas para não vê-lo. Aquele gesto dela não surpreendia o príncipe saiyajin. Já esperava alguma reação semelhante vinda dela. Ele a vira quando ela o flagrara lá fora. Então, já era previsível, principalmente com as mudanças bruscas de humor que ela vinha tendo nos últimos meses. O jantar seguiu praticamente silencioso da parte de Vegeta, Bulma e Panthy. Um não olhava para o outro. Já a Sra. Briefs e Soutie conversavam normalmente.

Assim que terminaram de comer, todos se retiraram da mesa mas cada um foi para um lado. Ou melhor, quase isso... Panthy foi atrás de Vegeta, que logo detectou sua presença e se deteve, fazendo com que ela desse uma topada nele. Mesmo assim ela não perdeu a pose e o agarrou por trás, envolvendo sua cintura com os braços.

― Você é mesmo muito ousada, não? – o saiyajin perguntou com sarcasmo.

― Faço tudo pra conseguir o que quero. – a prima de Bulma admitiu. – No caso, eu quero é você.

― Então é capaz até mesmo de prejudicar alguém da sua família?

― E por que eu me importaria com isso? Ela sempre foi o gênio da família, paparicada por todos, tem a fama de ser muito bonita, e eu... Apenas uma largada, uma lesada... “Seja como a sua prima”, minha mãe vive me dizendo. “Ela, sim, tem futuro! Você só pensa em ter vários homens e não pensa no futuro! Ela tem conteúdo enquanto você só tem a forma!” Pois bem... Eu quero acabar com a concorrência e não vou medir esforços para isso!

― Quer dizer que você odeia a Bulma?

― A resposta é tão óbvia, não acha...? Mas não vamos continuar falando dela, não é mesmo? Não, quando se pode falar de você...

Panthy logo ficou à frente de Vegeta. Estava de fato cara a cara com ele. Fazia algum tempo que esperava por aquele momento em que iria finalmente tascar um beijo no saiyajin. Mas...

... Ela sentiu um par de lábios encharcados e gelados, não parecendo nada com lábios masculinos.

― O... O que significa isso...?! – Panthy perguntou estupefata enquanto limpava enojada sua boca.