Magnésio 12

Kraken


Luna bateu na porta três vezes. Não se podiam entrar na sala dela sem sua permissão. Ela fazia as leis. E os outros obedeciam.

– Entre.

Ela abriu um pouco a porta e se virou para sua companheira, Melody:

– Fique aí. Se ela deixar você entrar, eu aviso.

Ela entrou e fechou a porta atrás de si. Ela estava sentada em sua mesa, centrada em alguns papéis, a postura ereta, firme, exalava certeza e superioridade. Seu fiel cão estava em pé, ao seu lado. Bicolor. Seus olhares se cruzaram. Todos odiavam Bicolor, todos sabiam que ela era somente um cãozinho fazendo o que a dona pedia, mas todos queriam isso. Todos, mesmo sem admitir, queriam a posição de cãozinho preferido da madame. Afinal, ela era lei. E todos obedeciam a lei.

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– Senhora? Permissão para falar?

Ela levantou os olhos verdes dos papéis e ergueu uma das suas belíssimas sobrancelhas. Luna sequer tinha consciência de que aquela estranha sensação que sentiu era medo. Uma pequena pontada de medo, que ela não ousava admitir. Mas ela tinha medo, mesmo sem saber. A mulher a sua frente, poderia, se bem quisesse, controlá-la como uma marionete e ela sequer teria consciência disso. Ela tinha medo, sim, de não saber se o que estava fazendo era por vontade própria ou se estava sendo controlada. Mas ela nunca diria isso. Ela nem sabia.

– É claro. O que devo o prazer de sua visita, Luna? – Disse a mulher, se endireitando. Ela tinha uma bonita pele morena, longo cabelos castanhos ondulados, olhos verdes penetrantes, sobrancelhas arqueadas e finos lábios vermelho-sangue. Era de uma beleza estonteante. Luna nunca parava de impressionar.

– Senhora, só vim dizer que as pessoas estão ficando impacientes, querem saber quando iremos atacar.

– Paciência, minha cara. Agiremos quando eu mandar.

– Mas a Resistência está se fortificando, ganhando mais aliados, não podemos ficar aqui sem fazer nada e...!

Cale-se! Mais respeito, menina tola!

Luna calou-se. Parte dela queria rebater mas a outra parte lhe avisava das consequências desse ato. Ela mordeu a língua com força.

– Temos um infiltrado na Resistência. Sabemos das suas ações e já tenho um plano. Atacaremos quando eles estiverem mais fracos, no momento mais inesperado.

– Sim, senhora.

– Até lá acalme os outros. Você sabe o que acontece quando me irritam.

Luna engoliu em seco.

– Sim, senhora.

– Agora, retire-se. Já cansei dessa conversa.

Luna fez uma reverência e se retirou. Bicolor esperou a porta se fechar:

– Gostaria de um chá, senhora? Parece tensa.

– Adoraria, Hadassa. Obrigada.

Bicolor preparou o chá e retornou.

– Algo te incomoda, senhora?

– Não, está tudo bem. Só esperemos que nosso infiltrado faça tudo correto.

– Sim. Esperemos.