O fruto de um amor

Voltará tudo ao normal?


Angie Pov’s on:

Assim que a reunião acabou e todos começaram a arrumar as coisas para almoçarem, levantei-me da cadeira onde estava sentada e fui em direção ao Pablo, que estava de costas para mim, a preparar um café.

– Obrigada por deixares a Maria assistir às aulas – disse eu. – É muito importante para ela.

– Não tens de agradecer, a Maria é um anjinho.

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– Um anjinho? Não estamos a falar da mesma pessoa, de certeza! – Gracejei, recusando o café que ele me oferecia.

– Do que é que os dois tanto falam aí que nós não possamos saber? – Intrometeu-se o Gregório, sempre com o seu “bom humor” característico.

– Não é algo que te interesse, Gregório – respondeu o Pablo por mim. – Porque é que não tratas dos teus assuntos e deixas os outros em paz?

– O Pablo tem razão – acrescentou o Beto, fazendo com que o sobrolho do Gregório se carregasse ainda mais.

– Além disso, ainda temos de arranjar alguém que dê aulas de canto, a Angie não pode ensaiar as duas turmas sozinha. – Opinou a Jackie.

– É verdade – foi a vez de o António intervir. – Alguém sabe quem é que pode fazer isso?

– E que tal eu?

Arregalei os olhos e a minha boca abriu-se num perfeito “O” quando vi quem tinha acabado de entrar.

– Beca! – Gritei, saltando-lhe para o pescoço, sem me importar se a magoava ou não. A Beca era a minha melhor amiga, e a melhor parceira de canto que conhecia. Era pouco mais alta do que eu, tinha o cabelo liso e comprido castanho pintado de rosa nas pontas. Era excêntrica até ao limite, mas eu adorava-a.

– Ai, Angie, tive tantas saudades tuas!

– Não posso acreditar que estás aqui… quando é que voltaste?

– O Leonardo trouxe-me hoje de manhã. Fui eu que pedi à Kim para não te dizer nada, não queria estragar a surpresa.

– Sê bem-vinda, Beca. – Cumprimentou o António, aproximando-se para a abraçar. – Pelo que eu vi há uns anos, tens jeito para ensinar. O que achas de ficares uns dias à experiência, para ver como te sais?

– Para mim, está ótimo! Ficava-lhe muito agradecida.

– Onde está o Leonardo, Beca? – Perguntei.

– Está lá fora com a Kim a falar com o Rafa. A propósito, sabias que a tua filha não para quieta um minuto? Passei por ela há pouco, estava a correr atrás da Kim porque achou que ela lhe tinha roubado um rebuçado de caramelo… que por acaso fui eu que roubei!

– Lido com aquela miúda todos os dias – disse, enquanto saía da sala de professores – e nunca sei o que esperar dela.

Assim que saí para o exterior do Studio, deparei-me com o Rafa Palmer de pé e de costas para mim, com a Maria a debater-se energeticamente debaixo do seu braço direito, a Kim sentada na bancada de frente para ele e com um homem ao lado, loiro de olhos azuis, que eu identifiquei logo como sendo o Leonardo. Definitivamente, a Kim não tinha nada a ver com o pai.

– Bom dia – cumprimentei, fazendo com que os quatro pares de olhos se voltassem para mim.

– Olha, chegou o luar da minha noite – começou o Rafa, largando a Maria no chão e tentando beijar-me -, o Sol da minha manhã, o sangue das minhas veias, o ketchup das minhas batatas…

– A mão que te dará um estalo se não te afastares imediatamente! – Completei, afastando-o amigavelmente com o braço e pegando na Maria, que me estendia os braços, pedindo colo.

– Seja bem aparecida – cumprimentou o Leonardo, com um abraço. – Eu sei que só estive fora um dia, mas mesmo assim, tive saudades tuas.

– Que querido… - ironizei, dando-lhe um beijo na bochecha. – E já agora, Kim, obrigada por me teres avisado que a Beca ia voltar.

– Ei, foi ela que me pediu para não dizer nada – defendeu-se – não me culpes a mim!

– Eu não culpo ninguém. – Disse eu, voltando-me para o Rafa. – Tu não tinhas de falar com o Pablo por causa do espetáculo?

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– Estás a ver se te livras de mim? – Perguntou ele com um sorriso galã no rosto.

– Não é óbvio?

– Não, mas tens razão, tenho de ir falar com ele… mas depois levo-te a beber um batido, fica por minha conta! – Disse ele enquanto se afastava.

– Eu não tinha tanta certeza – murmurei quando tive a certeza de que ele já não me ouvia, fazendo o Leonardo e a Kim soltar uma gargalhada.

– Olha, mamã – falou a Maria pela primeira vez desde que eu apareci -, conheci hoje um homem e uma menina que me disseram que eu canto muito bem!

– Maria, estiveste a falar com pessoas que não conheces? O que é que eu já te disse sobre isso?

– Mas eles disseram-me os nomes deles… - argumentou. – Acho que eram Julietta e Sertã…

– Julietta e Sertã, Maria? – Perguntei com a sobrancelha arqueada.

– Acho que sim, não me lembro muito bem…

– Ouve, Maria, mesmo que te digam os nomes, não deves falar com estranhos, achei que isso já estava bem claro. Agora temos de ir almoçar – disse eu, virando-me para o Leonardo e a Kim. – Vocês querem vir connosco?

– Obrigada, mas almoçamos em casa – rematou a Kim. – À noite vemo-nos lá.

Concordei com a cabeça e dirigi-me ao Resto Bar. Encontrávamo-nos os quatro sempre à noite, antes da hora do recolher. Afinal, o apartamento deles era mesmo em frente ao nosso.

Angie Pov’s off

Kim Pov’s on:

– Então, pai, tens alguma coisa para me contar? – Perguntei-lhe com um ar curioso. Quando tinha algo para dizer, eu nunca sabia ficar calada, era um dos meus defeitos, e eu já há algum tempo que percebi que o meu pai anda muito pensativo, talvez até demais.

– Eu? Porque é que haveria de ter alguma coisa para te dizer?

– Estás estranho. Passa-se alguma coisa?

– Não, não te preocupes, estava só a pensar que tenho de pedir ajuda à Angie para fazer uma coisa.

– E não me podes pedir a mim?

– Não, não posso. Quando chegar a altura vais saber do que eu estou a falar.

– Como queiras. – Suspirei, mudando de assunto. – Não achaste estranho a Maria ter conhecido um homem chamado Sertã? Quer dizer, Julietta é credível, agora Sertã?

– Tenho pena do pobre homem que se chama assim – gracejou ele, começando a andar em direção a casa. – Vamos andando, é hora de almoçar.

– Ok. – Disse enquanto caminhava ao lado dele, mas por alguma razão não conseguia deixar de pensar naquilo. Julietta e Sertã, Julietta e Sertã… então fez-se luz e eu estanquei, horrorizada: Violetta e German!

– O que é que se passa, Kim? Não tens fome?

– Vai andando… - murmurei ainda em choque -, tenho de confirmar uma coisa.

Saí do lado do meu pai e corri em direção à mansão Castilho, rezando para que o meu pressentimento estivesse errado. Se aqueles dois estavam de volta, ia haver problemas… e dos grandes! Sim, porque eu não tenciono trincar a língua à frente deles, o que tiver a dizer, digo! E se, por alguma razão, tentarem magoar a minha Angie outra vez ou encostar um dedo sequer na Maria, vão arrepender-se seriamente de terem voltado a por os pés em Buenos Aires!

Kim Pov’s off

Violetta Pov’s on:

– Estive a pensar, pai – comecei, enquanto comíamos gelado na praça -, o que achas de voltares a contratar o Ramalho e a Olga? A casa não é a mesma sem eles.

Arrisquei olhar para ele e vi que pensava seriamente no que eu tinha acabado de dizer.

– Não sei se será boa ideia – disse por fim. – Vamos ficar muito pouco tempo em Buenos Aires, não acho que valha a pena.

– Vá lá, pai, o Ramalho é teu amigo, e eu tenho saudades da Olga… - tentei convence-lo, mas depressa percebi que o problema dele era outro. – Estás a hesitar porque eles ficaram do lado da Angie… pai, isso foi há anos! Não foram eles que te roubaram, só fizeram o que acharam que era justo ao ficarem ao lado dela.

– Não voltes a repetir esse nome à minha frente, Violetta.

Ele disse aquela frase com uma voz tão fraca que me arrependi amargamente de ter voltado a desenterrar este assunto. Eu sabia que ele ainda pensava nela, e não o podia condenar, pois eu também não me tinha esquecido da minha tia. Baixei os olhos e concentrei-me no gelado, mas o meu pai não demorou a retomar a conversa.

– Nesse aspeto tens razão, a casa não é a mesma sem aqueles dois. Vamos falar com eles.

“Boa!”, Pensei enquanto me levantava do banco, atrás do meu pai. Parecia que finalmente estava tudo a voltar ao seu lugar.

Não demorámos muito a chegar à antiga casa do Ramalho, um apartamento pequeno e simples num prédio no meio da cidade. Não tínhamos a certeza se ele ainda morava lá, mas tentar não custa. Como vi que o meu pai não se decidia a bater à porta, tomei a liberdade de o fazer eu, ignorando os pedidos do meu pai para esperar mais um pouco. Quando a porta se abriu, não foi o Ramalho que apareceu, como nós esperávamos, mas sim a Olga.

Eu tenho dois amores, tanana… AAAAAHHHHHH, VIOLETTA!!! - Gritou ela assim que me viu, largando o espanador e dando-me um abraço de urso (típico da Olga), ao qual eu correspondi logo. – Olha para ti, linda, estás tão grande… SENHOR GERMAN, DÊ-ME CÁ UM ABRAÇO TAMBÉM!!! Ai, que saudades… RAMALHO! CHEGA AQUI DEPRESSA!

– O que é que se passa, Olga, para quê tanta gritaria? – Ramalho apareceu à porta e, assim que nos viu, abriu um largo sorriso e abraçou-me a mim e ao meu pai. – Não posso acreditar que finalmente voltaram, que alegria! Estão com tão bom aspeto… olha para ti, Violetta, estás uma mulher!

Não consegui evitar corar com o elogio e, quando eles nos convidaram a entrar, comecei a pensar no porquê de eles estarem a viver os dois juntos. O meu olhar voou até aos dedos da Olga, mas como não vi nenhuma aliança ou anel de noivado, decidi perguntar diretamente.

– Então, quando é que é o casamento?

– O casamento de quem? – Perguntou a Olga, confusa.

– O vosso.

Ela virou-se para o Ramalho e cruzou os braços, fingindo-se irritada.

– POIS, RAMALHO, QUANDO É O CASAMENTO?

– Espaço pessoal, Olga! Não vai haver casamento nenhum.

– Então posso perguntar porque é que estão a viver os dois juntos? – Intrometeu-se o meu pai, com ar divertido.

– Somente para poupar dinheiro. As casas são caras, hoje em dia.

– Pois, pois… você quer é uma empregada à qual não precise de pagar, não é, Ramalho? – Refutou a Olga, batendo-lhe com o espanador na cabeça.

– Que conversa é essa, Olga? Eu não a mando trabalhar!

– Ah não? Então a partir de agora vá você varrer o chão, fazer a comida, lavar a roupa…

– Está a brincar, não? Isso não é trabalho para homens!

– Está a ver? Está a ver como você é? Você parte-me o coração todos os dias, Ramalho, às vezes penso que nem sequer tem um!

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Eu e o meu pai limitávamo-nos a rir da discussão entre eles os dois e não pude evitar pensar que nada tinha mudado… felizmente.

– Bom, peço desculpa interromper, mas eu e a Violetta viemos perguntar se vocês não gostavam de vir trabalhar para a mansão, como dantes. – Arriscou o meu pai. O Ramalho tentou responder, mas a Olga adiantou-se.

– Só volto para aquela casa se vocês se decidirem a falar com a Angie e com o meu anjinho! Sem isso, nada feito! – Teimou, deixando-me desolada. Nem eu nem o meu pai estávamos dispostos a encarar a Angie ou… de quem é que ela falou?

– Olga, de que anjinho é que estás a falar? – Perguntei.

– Ora essa, não se façam de desentendidos, que a Angie mandou-vos carradas de e-mails a falar d…

– Já chega, Olga – pediu o Ramalho, tapando-lhe a boca com a mão. – É claro que gostávamos, German, conta connosco.

– De quem é que a Olga estava a falar? – Perguntou o meu pai, também curioso. – Já agora, gostava de saber.

– De ninguém, vocês sabem como é a Olga, sempre a dizer coisas sem sentido.

Desta vez, a Olga deu com o espanador na cara do Ramalho e livrou-se da mão que lhe tapava a boca.

– SEM SENTIDO É O SENHOR, RAMALHO! E fique sabendo que eu só aceito por causa da Violetta!

O meu pai ainda tentou saber mais, mas eu impedi-o de abrir a boca. Ter a Olga e o Ramalho de volta já era um grande começo.

Violetta Pov’s off

Kim Pov’s on:

Não percebo, a sério que não percebo. Tinha a certeza de que só podiam ser eles, como é que me fui enganar? Entrei às escondidas na mansão, vasculhei-a de alto a baixo e só encontrei três malas de viagem que provavelmente pertenciam à mulher que vi lá dentro. Teriam eles vendido a casa? Não faz sentido, a Angie, a Olga e o Ramalho disseram que a mansão era muito valiosa para eles, porque é que a venderiam? Seria a mulher uma amiga da família a quem eles emprestaram a casa temporariamente? Bom, não importa. Pelo menos, agora sei que a Violetta e o German não estão em Bueno Aires, e isso tirou-me um peso enorme de cima. Não ia suportar ver a Angie sofrer por causa daqueles dois outra vez.

Kim Pov’s off

Dia seguinte

German Pov’s on:

– Estás pronta, Violetta? – Perguntei assim que acabei de tomar o pequeno-almoço.

– Sim, pronta e ansiosa por voltar ao Studio. Mas pai, já te disse que não preciso que me acompanhes, tenho 23 anos, não sou nenhuma criança.

– Eu sei, mas mesmo assim, eu gosto de ir. Também estou curioso por entrar e ver se encontramos a pequenina outra vez. – Disse eu, embora sabendo que aquela não era a principal razão para eu a acompanhar ao Studio. Simplesmente não queria que, se a Angie lá estivesse, a Violetta tivesse de lidar com o assunto sozinha.

– Muito bem, vamos?

Concordei com a cabeça e fomos andando a pé em direção ao Studio. Eu estava nervoso, muito nervoso, e acho que a Violetta percebeu, mas não disse nada. Não demorámos a chegar e, assim que entrámos e a Violetta correu a abraçar os colegas que não via há anos, eu vasculhei o lugar com o olhar, mas felizmente, não havia sinal da Angie.

Como regra de boa educação, cumprimentei pessoalmente cada um dos amigos da Violetta e estava prestes a ir embora quando passei a frente da sala de professores e a porta se abriu repentinamente, o que me fez chocar com quem quer que fosse que estava a sair. Com a surpresa, acabei por cair ao chão com a pessoa com quem choquei por cima de mim. Quando abri os olhos, encarei o rosto que me atormentava em sonhos todas as noites e que eu desejava nunca mais voltar a ver: Angie.

Eu não sabia o que fazer. Estava paralisado, e ela também. O meu coração parecia querer saltar do peito, comecei a suar, as minhas mãos tremiam, e eu não sabia como ocultar isso tudo à frente dela. Subitamente, parecia que tudo tinha parado. Os amigos da Violetta calaram-se repentinamente, tal como ela, e não se ouvia uma única mosca. Maldito silêncio! O que é que eu faço agora?

– Mamã, o que é que estás a fazer em cima do senhor Sertã?

– A tua mãe está em cima de quem?

Reparei que apareceram mais cabeças curiosas vindas da sala de professores, mas não lhes prestei atenção. Reconheci a pequenina como sendo a rapariga que estava ontem a cantar à porta do Studio e… espera aí! Ela chamou-lhe “mamã”?

German Pov’s off