Quem me dera o mal tivesse, definitivamente ido embora, quem dera estivéssemos eternamente seguros, quem me dera! Depois do jantar fui direto para casa, tranquila, sentindo-me segura, como em todas as noites depois da "derrota" de Drago, pena que a confiança, em tão grande quantidade, nunca é uma coisa boa. Aquela manhã de Outono foi apenas uma prova disso.
Acordei com o som de gritos desesperados e o som da corneta feita de chifre, avisando um ataque surpresa. Levantei da cama e me vesti correndo, apanhei meu machado, que se encontrava apoiado na parede, e pulei a janela, cai direto na cela de Tempestade, que me apanhou no ar em um razante, consegui ensiná-la a manobra para situações de emergências, depois de muito treinamento e quedas bem dolorosas.
Soluço se juntou a mim no ar, montado em Banguela.
– É um incêndio! Estão bombardeando o Grande Salão! - Avisou-me meu namorado.
– Quem? - exclamei em uma pergunta.
– Não sabemos ainda. - respondeu-me.
– Ah! Maravilha.
Quando alcançamos o Grande Salão metade dele já estava em chamas, daria um trabalhão para reconstruir tudo! Alguns vikings tentavam, inutilmente, apagar o fogo com baldes de água. Nem o evoluído sistema contra incêndios que tínhamos possuía a capacidade de apagá-lo, o fogo já havia avançado demais.
Olhei para o céu, não havia nenhum dragão, só a fumaça cinzenta das chamas, que cobria cada vez mais a paisagem, dali alguns minutos nada mais seria visível. Descemos de nossos dragões e Soluço começou a colocar ordem na bagunça, ele estava ficando bom naquilo.
– Vocês, vão buscar mais água! Vocês, reabastessam o sistema contra incêndios! - ordenou Soluço, todos obedeceram sem hesitar. - Algum ferido, Baldão?
– Até agora não, senhor! - respondeu o homem enorme com um balde na cabeça. Senhor, era tão estranho ver meu namorado, de apenas vinte anos, sendo chamado assim.
– Ótimo. - disse Soluço.
Quando eu estava me virando para ir buscar mais água, fortes jatos de água começaram a espirrar do céu, bem em cima do Grande Salão, extinguindo todas as chamas em questão de segundos. Olhei para cima, a fumaça não me permitia ver quase nada, apenas um enorme vulto negro que desceu em nossa direção.
Um dragão, ou melhor, uma dragoa, e um cavaleiro, ou melhor, uma amazona, ambas conhecidas, Verena e Vinola, que tinha o focinho pingando de água. Verena desceu, sorridente, e começou a acariciar a cabeça de seu dragão.
– Boa garota, muito boa! Estou muito orgulhosa de você, viu? - elogiava, a garota de cabelos incrivelmente longos.
– Senhor, o fogo foi apagado! - disse um Bocão muito encharcado, provavelmente atingido pelo jato de água.
– É, Bocão, eu percebi. Por favor, avise os outros. - disse Soluço, encarando Verena e Vinola, com os olhos arregalados.
– Sim, Senhor! - Bocão se retirou.
– O que foi? - perguntou Verena, percebendo o olhar de Soluço e meu queixo caído.
– Eu que lhe pergunto! O que foi isso? - exclamou Soluço.
– Bem, Vinola é da classe marinha não é? Faz isso desde que nasceu, como um Scalderível, só que a água dos Beate-Konrad é fria. - explicou Verena.
– Fria? Então, fora as garras e dentes, eles são quase inofensivos?
– Inofensivos Soluço?! Você viu a força daquele jato? É capaz de dividir uma pessoa ao meio. - exclamei.
– É verdade. Verena, você não viu quem nos atacou, viu? - perguntou, meu namorado.
– Não, não vi. Mas, Astrid, você não notou algo diferente no fogo?
– O quê? - perguntei.
– Eram, muito claras, quase brancas. Só dragões de um lugar específico cospem chamas assim, os dragões de Svart og Hvitt.

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***


– O que Verena quis dizer com aquilo? - me perguntou Soluço. Já estava escurecendo, estávamos na colina, para onde sempre íamos quando queríamos paz. Estava com a cabeça apoiada em seu ombro e ele mexia em meus cabelos, os dedos inquietos.
– Aquilo o quê? - me fiz de boba.
– Sobre Svorg sei lá o quê. - eu ri.
– Svart og Hvitt?
– Isso aí. Que porcaria é essa?
– Bem, Soluço, acho melhor que a própria Verena te explique. Eu só posso te falar que é uma ilha.
– Poxa! Tem certeza que não pode me contar?
– Tenho. É um segredo da Verena, Soluço!
– Nem se eu te convencer?
– Nã... Convercer como? - um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.
– Assim. - Ele beijou minha orelha, depois minha bochecha, devagar, e finalmente seus lábios chagaram aos meus, doces e ao mesmo tempo famintos, uma onda de calor percorreu todo o meu corpo. Seus braços apertaram minha cintura e minhas unhas se fincaram em seus ombros. Nossos beijos ficaram desesperados, e eu só queria ele, nada mais ao meu redor existia além de nossos corpos, colados um no outro. Seus lábios seguiram até meu pescoço, leves, causano-me arrepios. Quando sua boca voltou para minha ele se afastou só um pouco para recuperarmos o fôlego e encostou a testa na minha.
– Eu te amo. - sussurrou e eu pude sentir o ar quente de sua boca em meus lábios.
– Eu também te amo. - sussurrei de volta. Quando estávamos quase nos beijando novamente o som de alguém limpando a garganta me fez dar um pulo e me afastar de Soluço.
– Érr... Ahn... Desculpe... Ahn... interromper. É que Estrume está acusando Baldão de ter roubado sua ovelha, e a briga está bem feia, Estrume está ameaçando com um machado e... - foi dizendo Bocão.
– ...E eu tenho que ir lá resolver, não é? - interrompeu Soluço.
– Aham. - confirmou o homem enorme com bigodes loiros. Meu namorado suspirou, infeliz, e seus olhos encontraram os meus, tristes.
– Me desculpe, Astrid, eu...
– Tudo bem, vai lá. - falei. Ele se levantou e depois se agachou para me dar um beijo de despedida.
– Boa noite, Milady.
– Boa noite.
– Tchau Astrid, eu juro que te devolvo seu namorado depois, tá?
– Tudo bem Bocão. - lhe dei um sorriso amarelo, ele sorriu de volta.

***


Quando estava indo para casa, ouvi duas vozes conhecidas sussurrando, e não pude evitar ver o que era. Naldo e Verena conversavam, sozinhos, atrás da casa de Soluço, me escondi o melhor que pude, em um ponto atrás de Verena, onde saberia que ela não me acharia. Só peguei o final da conversa.
– Bem, hã, então é isso, Verena. - disse Naldo, coçando a nuca. - Eu sei que você só me vê como um amigo, mas eu realmente gosto de você e eu não quero que...
– Quem foi que disse isso? - Verena o interrompeu. - Quem foi que te disse que eu só te vejo como um amigo?
– Mas, você não vê?
– Fala sério, Naldo! Eu sempre soube que você gostava de mim. Você não sabe disfarçar muito bem, mas eu sei. Para sua informação, eu também gosto de você, gosto muito.
– Sim Vere! Gosta, mas como amigo.
– Não, imbecil! - exclamou ela revirando os olhos, me esforcei ao máximo para segurar a risada. - Eu gosto de você de verdade, como mais que um amigo.
– Claro que sou seu melhor amigo, sou o único que você tem! Mas é que...
– Ai! Cala a Boca!. - exclamou Verena, em seguida ficando na ponta dos pés, ela era realmente muito baixa, e abraçando o pescoço do garoto, quando seus lábios se tocaram o pensamento " Own, mas que coisa mais fofa, meus deuses!" Foi derretendo meu cérebro de uma só vez. Senti um dedo cutucando meu ombro, era Brenna.
– Ei, Astrid! O que você está fazendo aí? Por acaso você viu o Naldo... - coloquei o meu dedo sobre os lábios para fazê-la ficar quieta e indiquei os dois beijoqueiros com o outro dedo. Ela deu uma olhada e voltou a me olhar, estupefata.
– Santo Odin! - murmurou. - O que é aquilo?
– Seu irmão arranjando uma namorada. - respondi.
– Ai, deuses. Isso é fofo, mas é nojento, estou orgulhosa, mas me sinto traída. Estou confusa!
–Você não sabia que seu irmão gostava da Verena?
– Claro que sabia! Todo mundo sabia! Só não tinha ideia de que era recíproco, Verena sempre o tratou de modo tão rude...
– Bem, eu também tratava o Soluço assim, até mesmo quando eu já gostava dele. Às vezes, o fato de gostarmos da pessoa apenas nos irrita ainda mais, devido ao fato de ela estar nos fazendo gostar dela, entende? - dei uma espiada nos dois, Verena e Naldo já haviam se afastado, havia sido um beijo longo, e se encaravam, ambos com um enorme sorriso no rosto.
– Sim, entendo, se bem que eu também tratava Erick mais ou menos assim. - um sorriso triste brincou em seus lábios. - Ele era muito irritante.
– Quem é Erick?
– Era meu namorado, uma pessoa maravilhosa.
– Então por que terminaram? - questionei.
– Não terminamos. Ela, hã, ele faleceu, uma flechada. Eu, eu não gosto de falar sobre isso. - ela respondeu, encarando ochão, os olhos marejados.
– Deuses, Brenna, eu sinto muito mesmo.
– Não, não tudo bem. - ela olhou para Verena e Naldo e sorriu. É engraçado como a felicidade pode ser tão contagiante, como as risadas das pessoas de quem gostamos nos fazem rir, é engraçado o quão boa é a sensação. É uma pena que toda alegria tenha de vir com um sofrimento de brinde.

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