When I Was Your Man

Sob as estrelas, counting stars.


Scorpius acordou com a brisa fria da madrugada. Acima dele, o céu estrelado estendia-se em um infinito anil e perolado, enquanto abaixo de si a manta que trouxera mais cedo havia se desprendido das pedrinhas que colocara para estendê-la na grama úmida do Hyde Park. Estavam nas primeiras semanas do outono e o frio ainda não era constante, embora naquela hora da madrugada as pequenas lufadas de vento fossem cortantes. Ele estendeu sua mão para o lado e encontrou uma superfície bem conhecida: os cabelos vermelhos flamejantes de Rose, que se destacavam no meio da penumbra daquele parque deserto.

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Assim que sentiu o afago carinhoso de Scorpius, os olhos azuis de Rose se abriram em um sorriso que ele sabia ser dirigido somente para si. Acima de tudo, era aquilo o que mais amava nela.

“Frio?” Perguntou, aproximando-se dela para abraçá-la fortemente em seus braços.

Rose assentiu, olhando para cima para que pudesse encontrar os orbes cinzentos dele. Scorpius também gostava de como, na relação deles, não precisavam mais do que gestos para se entender. Quando era mais novo, achava que isso era normal para qualquer amizade - para qualquer criança ou adolescente que passasse tempo demais junto de alguém - mas, conforme o tempo passava, foi percebendo que isso era uma característica exclusiva da amizade deles. Bastava apenas um olhar para Rose entender um recado, enquanto o melhor amigo deles, Albus Potter, precisava ser esclarecido palavra por palavra - o que, em determinados momentos, era maçante.

Scorpius suspirou pesadamente e sentiu Rose fincar seus dedos na camisa que ele usava, chamando sua atenção. Agora ela olhava para o firmamento acima de suas cabeças com um suave sorriso no rosto delicado e sardento.

“Veja,” suspirou, sonhadora. “Quando é que você imaginaria poder ver um céu desses em Londres?”

Ele soltou uma risadinha, enquanto contemplava pensativamente as estrelas cintilarem suavemente no vácuo distante.

“Quando chegamos aqui ainda era tarde, Rose. Seus pais devem estar preocupados.”

Ela entortou os lábios de forma irritadiça.

“E os seus pais?”

Scorpius suspirou. Rose sabia a resposta para essa pergunta, mas estava querendo fazê-lo se sentir miserável - o que, a propósito, estava dando terrivelmente certo. Desde que se formaram em Hogwarts, há cerca de um mês, Scorpius havia decidido se mudar da casa dos pais, o que magoara profundamente sua mãe e fizera com que seu pai o repreendesse. Mas não havia nada que pudessem fazer para mudar a mente do filho: ele era maior de idade, agora; podia muito bem tomar suas próprias decisões, obrigado.

Desde então, os pais haviam parado de enviar cartas.

Scorpius achava que eles estavam esperando ele fracassar e voltar para a Mansão Malfoy, passando fome e arrependido da decisão que tomara. Mas até agora estava vivendo muito bem - melhor do que esperara, de fato. Ele e Albus haviam alugado um pequeno apartamento e Scorpius começara a trabalhar na Olivaras, enquanto não decidia o que faria da vida.

E estava sentindo-se incrivelmente bem.

“Eles não vão saber que fiquei fora até tarde, Rose, ao contrário dos seus.” Ela deu de ombros, ao que Scorpius revirava os olhos impacientemente com a atitude rebelde da amiga. Rose sempre fora assim: sempre com essa atitude petulante, porém encantadora. No início, ele sempre imaginara de quem ela havia puxado isso, já que a mãe era um exemplo de bons modos, enquanto o pai... Bom, Ronald Weasley era Ronald Weasley e Rose não tinha muitas características semelhantes a ele, embora o gosto pelo Quadribol fosse o mesmo. Foi só depois de alguns anos de amizade que Scorpius entendeu: Rose tinha uma personalidade única; ninguém nunca poderia influenciá-la a agir de uma determinada forma, porque ela agia como desejasse. De vez em quando, esse seu jeito inconstante chegava a irritar quem não a conhecia bem, mas isso já havia se tornado rotineiro para ele.

“Já são quatro da manhã, Scorpius. Se eu chegar agora ou às seis, não fará muita diferença.”

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"Tem razão,” ele riu.

Ficaram quietos por alguns instantes, apenas ouvindo o som de alguns grilos cricrilando e o despertar de alguns pássaros. Ainda estava escuro, mas aos poucos o céu ia clareando. Scorpius bocejou e ouviu Rose soltar uma risada ao seu lado. Ele imediatamente soube porque: Rose se orgulhava de ser uma das únicas pessoas para quem Scorpius mostrava esse seu lado vulnerável – bocejando, espreguiçando, nervoso ou até mesmo chorando em raras ocasiões. Ela também era uma das únicas pessoas que já o viram dormindo. Certa vez, em tom de sátira, Rose dissera que ele dormia como uma fada. Até hoje, Scorpius não descobrira o que aquilo queria dizer.

Ele percebeu quando a respiração de Rose ficou mais pesada, mas a deixou dormir sem dizer nada. Algumas corujas voltavam para suas tocas quando ele se virou para observar Rose dormindo feito uma sereia ao seu lado. Sim, uma sereia, ele pensou com carinho. Seus longos cabelos ruivos caíam por seus ombros de uma maneira tão suave que pareciam flutuar na água que não havia ali. Estendia uma mão para tirar uma mexa de seu rosto quando percebeu que seus rostos estavam a milímetros de distância.

A mão de Scorpius parou no meio do caminho e ele suspirou, atormentado com a direção em que os próprios pensamentos estavam seguindo. Não, repreendeu-se. Não faça isso consigo mesmo. Não outra vez. Rapidamente, ele se sentou e passou as mãos pelos cabelos, a frustração crescendo em seu peito. Olhando para trás, viu Rose sorrir em seu sonho e Scorpius suspirou, exasperado com a confiança que ela depositava nele. Ela sabia, ele grunhiu em pensamentos, ela sabe. Sempre soube.

“É claro que ela sabe, seu idiota,” ele disse secamente. “Você não fez questão de esconder. Além disso, Rose já fez sua escolha.”

Scorpius se jogou novamente na manta ao lado da amiga. Rose era inteligente, sabia o que fazia com a própria vida. Mas ela também não deixava de ser confusa. Muito confusa. Ele já perdera a conta de quantas vezes os dois já haviam conversado sobre aquilo, mas Rose nunca deixava de ser uma incógnita em sua vida.

"Na minha vida cheia de reviravoltas, você é a única constante,” ela havia dito certa vez. Ah, as ironias da vida...

Só para ferrar ainda mais com a minha cabeça, ele se virou para observá-la mais uma vez. Por que faz isso comigo, Rose Weasley?

Confuso, Scorpius fechou os olhos. A última coisa que viu foi o céu começando a perder o brilho das estrelas.