Seu pequeno Tenney chorava sem parar. Já passava das duas da manhã, e o pequeno não dormia de jeito nenhum. Desde o dia que Hardie morreu, seu filho não dormia direito – e ele também não –, e passava horas e horas chorando.

Ele já tinha tentado de tudo: canções de ninar que sua esposa cantava, o berço de balanço, leite quente na mamadeira, colo e beijos. Nada adiantava, nunca. Há mais de três meses, Tenney não dava trégua a Peeta.

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Só depois das quatro e meia o pequeno resolveu dar uma trégua, dormindo ao seu lado na cama. Mas o rapaz não dormiu naquela noite, lembrando-se de sua mulher no hospital, a quimioterapia correndo pelo sangue de Hardie, seus lábios azulados e a pele pálida, o modo como os olhos dela se fecharam de repente naquela noite de outono.

Sabia que Tenney não entendia direito a morte, e nem que sua mãe nunca mais voltaria, mas tinha certeza que ele sentia falta dela. Já tinha se passado um ano, um ano sem ver sua esposa, a mulher que ele amou, e Peeta não teve coragem de tirar a aliança.

(...)

Spikelet estava na casa de sua amiga da escola. Iria passar a noite inteira lá, e Katniss sabia disso. Por isso suas mãos tremiam incontrolavelmente enquanto preparava o jantar para Gale, seu marido. Ele estava na sala, assistindo a algum jogo de futebol americano na televisão enquanto bebia doses e mais doses de vodca. Sabia que se dissesse qualquer coisa errada ele perderia o controle mais uma vez, por isso decidiu ser cautelosa.

Depois de preparar os pratos e colocá-los na mesa, chamou-o para que Gale sentasse. Ficou observando-o por cima da garrafa de bebida enquanto mastigava seu macarrão ao molho branco.

– Gale... – Pigarreou antes de continuar. – Você está satisfeito com o nosso casamento?

Ele apenas levantou os olhos cinzentos e sorriu de modo debochado. Ele já estava bêbado.

– Que tipo de pergunta é essa?

– Só quero saber se você está feliz com tudo. – Comeu uma garfada.

– Por quê? Você não está feliz?

Respirou fundo e bebeu um gole da água antes de responder.

– Não, Gale. Eu realmente não estou nem um pouco feliz com nosso casamento. Estamos juntos há dezesseis anos, e, sinceramente, só estou seguindo com tudo isso por causa de Spikelet. Mas não consigo mais.

– Você quer... Se divorciar, Katniss? – O brilho nos olhos dele sumiu, dando lugar a uma expressão de ódio. – Porque nunca me contou que não estava satisfeita?

– Gale, você é alcoólatra. Algum dia terá que admitir isso. A questão é que nosso casamento não é mais o mesmo de dezesseis anos atrás. Eu quero o divórcio o mais rápido possível. – Ela limpou a boca com o guardanapo e retirou-se da mesa. – Vou trancar a porta do quarto. Boa noite.

Entrou rapidamente no quarto, trancando a porta atrás de si como tinha dito. Fechou os olhos, encostando suas costas na porta, e teve uma súbita vontade de chorar. Sabia que poderia ter lutado mais para achar alguma solução, mas sentia que não tinha mais condições para isso. Estava esgotada, e aquele casamento só a desgastava, dia após dia.

Katniss sabia que sua filha não iria aceitar, iria lutar contra o divórcio de seus pais. Mas, algum dia Spikelet teria que entender que o amor de Katniss e Gale acabara.

Não dormiu naquela noite, ensaiando mentalmente o que diria para sua filha quando fosse buscá-la na casa de sua amiga na manhã seguinte.