Garota Cafeína

Jogo da velha


As escadas rangiam e o vento batia no meu rosto, bati na porta três vezes e esperei um pouco. Nenhum barulho veio da casa.

Desci os degraus e olhei para casa, aparentava estar vazia. Fiz sombra no rosto com as duas mãos e espremi os olhos vendo um rápido vulto passar por uma das janelas de cima. Subi as escadas novamente e bati na porta.

– Olá?

Escutei os barulhos de bota batendo na escada e descendo rapidamente. Os passos se aproximavam e logo a porta se abriu. Uma menina com os cabelos bagunçados usando um casaco comprido branco e jeans, uma calça moletom bege e uma pantufa cinza sorriu para mim.

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– Oi. - Ela afrouxou um pouco o sorriso.

– Sou seu novo vizinho, Jonna.

– Sofie... - Ela fez uma pausa, parecia pensar em algo. Finalmente focou os olhos e abriu mais a porta. - Entre.

Entrei e ela fechou a porta. A casa era escura, afinal, tudo estava fechado.

– Está sozinha? - Perguntei.

– Sim.

– Então eu volto outra hora. - Não queria que ela ficasse constrangida.

– Não, fica, eu to sozinha aqui já faz um tempo. Meus pais saíram faz dois dias e ainda não voltaram. Vamos comer algo. - Ela me puxou pelo corredor e virou à esquerda onde era a cozinha. - Senta aí. - Ela apontou pro banco grudado ao chão perto a mesa que ficava no centro da cozinha em forma de bancada. - O que vocêr quer comer? - Ela começou abrir os armários.

– Não sei...o que tem aí?

– Gosta? - Ela tirou um saco com biscoitinhos em forma de jogo da velha do armário.

– Claro. - Ela trouxe o biscoito até a bancada e depois pegou um pote de vidro e emburrou para mim.

Abri o pacote de biscoito e derrubei-os no pote. Sofie se aproximou com uma garrafa de refrigerante e um copo. Levantei o olhar.

– Não iremos beber no mesmo copo, né? - Perguntei.

– Eu to fazendo café pra mim. - Ela abafou uma risada e fiquei vermelho.

– Café? Essa hora? - Estranhei.

– Muito cedo? Muito tarde?

– Muito quente! - Completei e ela sorriu.

– Não me incomodo, mas se você quiser eu posso tomar refri com você. - Ela sentou.

– Ah, não precisa. - Coloquei o refrigerante no copo e tomei um gole.

– Vamos brincar de jogo da velha com os biscoitos? Quem ganhar come os biscoitos da partida? - Ela sugeriu enquanto seus olhos brilhavam penetrando os meus.

– Se não se importar em passar fome...

– Isso me soou como um desafio. - Ela levantou e voltou com a xícara de café. Pôs ela ao lado do papel e desenhou o jogo da velha. - Pode começar.

Depois de ganhar 5 partidas, Sofie já estava resmungando.

– Eu deixo você comer um pouco do biscoito. - Ri.

– Não sou digna de pena, ok? - Ela falou enquanto sua franja caía em seus olhos.

– Vai, pode comer. - Empurrei a tigela pra ela.

– Não. - E começamos outro jogo. Deixei ela ganhar e logo começamos à comer.

– Vamos à algum lugar? - Perguntei.

– Que lugar?

– Sei lá, você que conhece isso aqui. - Falei.

Sofie pareceu pensar um pouco, tomou café e se levantou.

– Vou me trocar.

Desapareceu na cozinha e voltou 10 minutos depois usando um blusa preta e um short jeans surrado com um casaco de lã por cima. Nos pés, vans e nos pulsos, pulseiras. O fone estava pendurado envolta de seu pescoço.

– Vamos?

– Claro. - Fiquei de pé.

Ela pegou as chaves e botou um óculos de sol branco.

Sofie trancou a porta e descemos as escadas, olhei para os dois lados e parecia não ter nenhum lugar para onde ir. Sofie puxou meu braço e me guiou por um beco que ficava ao lado da minha casa.