Então, meu tímpano explodiu. Minhas mãos tremeram. Meus pés cederam. Respiro sangue. Minha alma se foi... E aquele sorriso continua sendo apenas uma ilusão. Uma superficialidade a mais. Uma loucura. E apesar de tudo que passou, eu erro de novo. Risadas. Estou surda. Mas, elas estão aqui. A graça na loucura... E a culpada disso tudo, continua sendo eu.

Eu soltei o balão e agora, ele está longe. A janela está aberta, eu estou presa. O vento bagunça meus cabelos, eu não consigo respirar. O sol ilumina meu quarto, eu continuo na mesma escuridão. As contradições só provam o que eu antes já sabia. Eu não pertenço a esse lugar. Tentar é inútil. Continuar é inútil. Desaparecer é a única solução. Porém, isso é impossível. E eles erraram de novo. Existem coisas que são impossíveis.

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Eu errei de novo. Cai no mesmo buraco de novo. Não existe outra forma de sair. Posso gritar. Minha voz é silenciosa. Todos olham. Meus olhos devem implorar ajuda. É tarde demais para me salvar? Meus segredos já não são só meus. Os olhos estão me pressionando. Eles sabem de tudo. Eu errei de novo.

A explosão continua. Olho para baixo. O chão está verde. Ofuscando saúde e bem estar. Olho para frente. As pessoas sorriem. Elas não sentiram o mesmo que eu? Olho para meu o corpo. Está normal. Nenhuma perda, nenhum grão de areia a mais ou a menos. Sinto-me enjoada. Sinto que me olham. Quero me esconder. Outra explosão. Os mesmos sintomas. Eu perdi parte de mim mesma e ninguém percebeu.

Um estrondo alto ressoa agora. Seria em minha mente? Seria uma ilusão? Começo a correr. Corro para longe. A terceira explosão ocorre. Cadê o sangue? Cadê as mortes? Nada desmoronou. Apenas eu. Corro mais rápido. A chuva começa a cair. A água não é salgada. E, mesmo assim, ela nunca saciaria minha sede. Sede de verdade.

Acorda. Acorda. Explosão de número quatro. Quatro olhos caem em mim. Sinto uma facada. Paro repentinamente. Minhas mãos correm. Cadê a faca? A chuva só está mais forte. Não vejo sangue, mas sinto a dor. Surto. Começo a gritar mais alto. Começo a acompanhar a chuva. Meus ossos já estão prontos para serem enterrados.

Ninguém. Sento e abraço-me. Não buscando conforto. Busco calor. Tudo está tão frio... Olho para o mar. Porque eu estou na praia mesmo? Quero ir para casa. Vejo um barco no horizonte. Onde está o sol? Ele está resoando uma música. Não consigo ouvi-la. Eu estou surda. Ao longe, vejo uma ilha. Tem sol lá.

Começo a correr e entro no mar. A água está gelada. Quem se importa! Lá tem sol. Bato meus pés com força, mas eu não os sinto. Tento fazer mais força. Balanço as mãos para me ajudar. Ando alguns metros. Não vejo peixes, tubarões, baleias e nem mesmo a sujeira do mar. O mar é denso de qualquer forma. É de um azul tão escuro mais tão escuro que o compararia a uma poça de petróleo.

Tem sol lá. Eu preciso continuar. Estou fraca, entretanto. Seria bom ter um barco... Olho ao redor. Ele não deveria estar aqui? Tomo fôlego e recomeço a gritar. Não consigo ouvir minha própria voz. Mas, minha garganta dói tanto... Imagino que eu esteja gritando muito. Eles passam na minha frente. Não consigo não sorrir. Não é tarde para me salvar. Eles estão vindo.

Eles olham para mim e riem. Deve ser engraçado uma garota gritar por ajuda, não é mesmo? Mas, rio junto. Eles irão me salvar. Ainda é cedo, afinal. Eles continuam a navegar por aí. Rindo. Poderia chorar. Gritar. Xingá-los. Mas, vejo a ilha na minha frente. O sol está iluminando-a de tal forma que eu continuo rindo.

Continuo a movimentar-me na água. E quanto mais perto da ilha, mais densa ela se torna. A água também está cada vez mais gelada. Mas, continuo a aproximar-me da ilha. Minha cabeça lateja. Parece que ela ia explodir e, nesse momento, a explosão de número 5 surge assustando-me. Passo a mão rapidamente na minha cabeça. Ela ainda está e eu ainda estou inteira.

Entretanto, sinto-me parar. Balanço cada vez mais meus pés e minhas mãos. Não consigo me mover. Eu estava literalmente parada. Depois me sinto mais pesada. Tão pesada quanto a água. A chuva, que até então tinha dado trégua, volta com uma força tremenda. Sentia- cubos de gelo caindo em cima de mim. Eles sabem o que eu sou. Eles me machucam.

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Novamente, sem nenhuma marca. Nenhuma vermelhidão. Mas, eu sei que eles me machucam. Eu sinto isso. Meu corpo se solta e eu começo a afundar. Grito desesperada. Choro desesperada. Tento me movimentar. Tento continuar. Tentar é inútil. Continuar é inútil. Sentia raiva, ódio, pena, felicidade... Uma confusão de sentimentos que foram afundando junto comigo.

Agora, eu estava submersa. Meus ossos estão prontos para serem enterrados. Sinto-me vazia. Fecho os olhos e ainda sim, antes de qualquer coisa, eu escuto a explosão número 6. Abro os olhos. Eu estou de volta ao nosso planeta. Mas, eu ainda me sinto vazia.