O Impala estava estacionado em frente ao Grand Canyon, o melhor lugar para olhar as estrelas, segundo muitas pessoas. As árvores balançavam suavemente com a brisa úmida e fria, Dean apertou os braços em volta de sí. Daqui a algumas horas ele teria que consentir que Sam pulasse num buraco com Lucifer, e o simples pensamento fazia seu estômago se contorcer. Embora soubesse que era a única forma, ele rezava interiormente para que algo surgisse como um passe de mágica e salvasse seu irmão. Mas quem Dean queria enganar? Sam estava condenado.
O rádio estava ligado numa estação qualquer, apenas para emitir algum som. Dean odiava se sentir sozinho. Ele encarou o céu escuro com inúmeros pontos brilhantes denominados estrelas. O loiro se perguntou quantas vezes ele realmente havia parado e olhado para o céu? A vida que ele levava requeria muito isso, cada momento devia ser aproveitado como se fosse o último, pois poderia ser. E nesta noite, Dean sabia que suas chances de sobreviver para ver o céu novamente estavam muito baixas. Quando o som enfim se levantasse ele partiria para o cemitério, onde encontraria Lucifer e Miguel em um combate apocalíptico. Talvez Sam conseguisse impedir, pular na jaula, mas e ele? Se Lucifer não o matasse, ele não conseguiria viver sem o irmão de qualquer maneira. Dean era aquele que mais estava condenado ao que o fatídico destino lhe reservava, a morte.
- Pensamentos obscuros? - perguntou Castiel. O Winchester se virou apenas para confirmar a presença do anjo, que não havia sido notada até então. Ele estava deitado no capô do Impala com os braços atrás da cabeça, imitando a posição do amigo.
- Cass - disse ele tristemente. A última coisa que queria agora era ver o anjo, pois uma estranha sensação de angústia se formava em seu peito quando pensava que poderia nunca mais vê-lo.
- Parece desanimado - constatou o moreno.
- Se eu estou desanimado para empurrar o meu irmão numa jaula com o capeta e possivelmente morrer? - Dean fez uma careta de desgosto - É, pode se dizer que sim.
- Você sabe que não precisa ir...
- Eu sei que preciso. Sou o único que pode ajudar o Sam.
- Eu vou estar lá, eu posso ajudá-lo.
O loiro se sentou de repente, apoiando as mãos no capô do carro. Como assim ele estaria lá? Não! Isso era algo apenas entre Sam e Dean, Cass não devia e nem podia chegar perto daquele cemitério. Era extremamente perigoso.
- Você não pode ir - ele deu uma risada nervosa.
- Eu sou um soldado, preciso lutar. Principalmente se for pelos meus amigos - falou Castiel, calmamente como sempre.
- Me diga uma coisa, Cass - começou o loiro - O que acontece quando um anjo morre? Suponho que não exista um céu para anjos.
- Nós... Desaparecemos. Eu acho - constatou o moreno, depois de alguns segundos.
- Você não vai! - ordenou Dean.
- Não posso deixar que você vá sozin...
- Eu não quero ver você morrer, Castiel! - falou o loiro alterado. Então eles se encararam por um momento que pareceu uma eternidade. Dean sabia o quanto estava sendo totalmente ridículo, Castiel era dono do próprio nariz e era um anjo. Um ser celestial e superior que não morreria facilmente como um simples humano como ele. Mas se pensar em perder Sam acabava com ele, pensar em perder Castiel, o destruía. Dean simplesmente não podia aceitar que ele se fosse, mesmo que por um segundo. E isso era bobo e infantil, era um sentimento forte, covarde e egoísta que crescia dentro dele sem que o mesmo se desse conta, até agora. E foi nesse momento, olhando dentro daqueles incríveis olhos azuis, ele soube que estava tudo acabado, todas as barreiras caíram ao chão virando pilhas de cacos. Ele amava aquele homem e estava prestes a perdê-lo, para morte, para Lucifer ou para o céu.
Dean escorregou de cima do carro e caminhou até a beirada do Canyon, esfregando os olhos.
- Acho que essa história de "última noite na terra" tá me deixando meio louco, desculpe - falou ao ouvir os passos do anjo atrás de si. O anjo se aproximou dele sem proferir uma palavra, então agarrou seu braço, fazendo-o se virar para encarar.
- Cass? - perguntou o Winchester, desconcertado com a atitude do moreno, que mantinha a expressão séria. Castiel se aproximou devagar, ele podia sentir sua respiração quente, sua presença inebriante, seus olhos eram como mapas lhe convidando a desvendar os segredos de sua alma. Dean tentou se esquivar, mas o anjo o segurava com força.
- Mas o qu...
Sentiu seus lábios nos dele, seu sabor doce, sua mão o puxando para si. Seu coração queria pular do peito e dançar, uma felicidade repentina o preencheu e pela primeira vez em muito tempo Dean sentia que sua vida valia a pena. Ele segurou o rosto do moreno gentilmente e o puxou para mais perto, acabando com cada centímetro que os separava.
- Eu sou um idiota por perceber isso só agora, mas eu te amo - murmurou, sentindo a respiração ofegante de Castiel contra seus lábios.
- Não fale como se fosse um Adeus - pediu o anjo baixinho. Dean sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, e se fosse definitivamente um adeus?
- Se for...
- Dean - o moreno tentou interromper, mas o loiro colocou um dedo gentilmente em frente a seus lábios.
- Shh, eu preciso dizer. Ouça, se isso for um Adeus eu quero saber que eu disse tudo que eu precisava, e que nós recuperamos todo o tempo perdido. Certo?
Castiel assentiu com a cabeça.
- Então - Dean continuou - Eu quero que essa noite seja perfeita, a partir de agora não vamos pensar no que vai acontecer quando o sol nascer. Eu só quero pensar que eu estou aqui, você está aqui comigo, embaixo desse céu maravilhoso e no quanto eu amo você e não me canso de dizer.
- Não importa o que aconteça, Dean. Eu amo você com todo o meu ser, por toda extensão da minha existência, e vou te amar pela eternidade. Não importa se ela vai durar mais dois séculos ou duas horas. - ele segurou o rosto do caçador, puxando-o para beijar seus lábios com delicadeza. Eles se beijavam suavemente, como se estivessem saboreando um ao outro, mas aos poucos o beijo foi se tornando mais ávido e necessitado.
- Dean - falou o anjo, ofegante, se separando dele.
- Que houve? - perguntou, notando que Castiel estava vermelho.
- Eu estou sentindo algo diferente. - constatou o moreno, aflito.
- Tipo o que? - perguntou Dean, curioso.
- Eu não sei, é diferente...
- Tenta explicar - incentivou.
- Amor - falou o anjo, deixando o caçador mais confuso ainda.
- Amor? - repetiu - Você quer fazer carinho, ouvir músicas românticas, olhar as estrelas e imaginar a casa perfeita com cerca branca, é isso?
- Mais ou menos, tem mais coisa, eu acho.
- Espera um pouco - Dean levantou as mãos quando algo passou por sua cabeça - Você quer amor ou você quer fazer amor? - perguntou com um sorriso malicioso evidente.
- Eu não sei - respondeu Castiel, ingênuo.
- Ah Deus - o loiro começou a rir - Eu esqueci que você é virjão... Tá peraí.
- Cala a boca - o anjo rolou os olhos, sorrindo quando Dean veio em sua direção e o beijou novamente, mas desta vez de uma maneira mais sensual. Passando as mãos por baixo do sobretudo e o abraçando apertado contra seu corpo.
- É isso que você quer? - perguntou se separando alguns centímetros. Castiel assentiu com a cabeça e se inclinou para continuar o beijo.
Sem tirar os lábios um do outro, Dean conduziu o anjo até o Impala, abrindo a porta. Castiel entrou, sentando no banco do motorista e puxou o loiro ao seu encontro.
- Ai minha cabeça! - protestou ao bater a mesma no teto do carro.
- Desculpe - murmurou Castiel, com uma risada implícita.
- Que desculpe o quê, você vai ver o desculpe - brincou o caçador, se deitando por cima o anjo. O moreno estendeu a mão em direção ao rádio, sem tocá-lo, e o mesmo começou a tocar uma música romântica. [Play - All the Stars]
- Você fica sexy quando faz isso - comentou Dean com um sorriso. Castiel arqueou uma sobrancelha, sorrindo maliciosamente. - E ainda se faz de gostoso!
- Cala essa boca e me beija - falou o anjo.

Faltavam cerca de onze minutos para amanhecer. Dean estava deitado no capô do Impala, com Castiel abraçado a seu corpo, sua cabeça repousava em seu peito. Nunca em sua vida tivera uma noite tão perfeita. Não pelo sexo, e sim por que ele sentia que finalmente seu mundo havia se encaixado em algum lugar. Cada vez que ele estava com Castiel, o tocava, o beijava, era como se borboletas dançassem em seu estômago. Lembrou que logo depois de fazerem amor, Dean se pegou fitando o anjo, trêmulo e abestalhado, os sentimentos mais bonitos estavam em combustão espontânea dentro de si. Foi como ter uma espécie de "orgasmo da alma", se isso fosse possível.
- Você é lindo sabia? - murmurou, fitando o moreno.
- Eu amo você - sussurrou, seus olhos transbordando em doçura.
- Eu também amo você, e amo mais ainda fazer amor com você. - o anjo ficou levemente envergonhado - Ainda mais quando você fez aquela coisa, sabe? Eu cheguei a revirar os olhos, as duas vezes. Foi incrível...
- Para Dean! - o moreno desviou o olhar, tímido.
- Ai que bonitinho, ficou constrangido - o caçador continuou.
- Para com isso, ou eu vou te mandar pelado pra uma praia de nudismo gay - ameaçou o anjo, divertido.
- Vai arriscar perder seu homem?
Castiel deu um pequeno tapa no ombro de Dean, que começou a rir, e em seguida o encarou por vários segundos. Como aqueles olhos azuis o encantavam, eram tão lindos que pareciam surreais. Era como ter seu próprio céu ao alcance de um toque, ou um beijo.
- Olha - o moreno apontou para cima - uma estrela cadente. Dizem que se você fizer um pedido, ele se realizará.
- Você acredita nisso?
- São suas crenças, não minhas. Sinta-se a vontade - falou o anjo.
- Se eu pudesse pedir qualquer coisa, eu pediria que o tempo parasse agora. Assim eu poderia ficar com você pra sempre, sabendo que nada nunca iria nos separar. Nem o tempo, nem a morte, nem demônios, anjos, ou a velhice. Eu poderia ficar aqui, parado, apenas olhando pra você, e isso seria perfeito, eu poderia ficar uma eternidade assim e nunca me cansaria.
Castiel deslizou a ponta dos dedos suavemente pelo rosto do caçador.
- Dizem que na vida, duas coisas são certas: O amor e a morte - murmurou o loiro.
- E nós temos os dois agora - concordou o moreno com um suspiro - Embora eu ache que seu pessimismo seja algo trágico.
- Não importa - Dean deu de ombros - por que eu estou feliz agora, e nem um último suspiro vai tirar essa felicidade de mim.
O sol nascia timidamente por trás do Canyon, deixando seus raios fracos afastarem a noite. E junto com ele vinha o fatídico destino que os aguardava e a responsabilidade de salvar um planeta. Castiel puxou Dean pela mão até a beirada do Canyon.
- Quero fazer algo que eu vi num filme - disse animado.
- Filme pornô?
- Não!
O anjo se virou de frente para o caçador, segurando suas mãos junto as dele.
- Eu, Castiel, um anjo do senhor, sob essa terra que me prende ao chão e abaixo desse céu, quero dizer o quanto eu amo você, Deano Campbell Winchester...
- Deano não! - interrompeu o loiro, mas o moreno colocou o dedo em frente aos lábios dele pedindo silêncio.
- Eu prometo te amar, respeitar e protegê-lo, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até o fim da nossa eternidade... - o anjo fez uma careta - Espera.
Então ele desapareceu e em meio segundo reapareceu no mesmo lugar segurando duas pequenas correntinhas prateadas. Uma com um pingente de asas e outra com um pingente de coração. Castiel colocou a primeira no pescoço do caçador e sorriu. Dean pegou a outra corrente, e segurou a mão do anjo, acariciando-a com o polegar.
- Eu, Dean...
- Deano - corrigiu Castiel.
- Deano - continuou o loiro, contragosto ao seu verdadeiro nome que ele acha horrível - Campbell Winchester, quero dizer o quanto eu amo você, Castiel, meu anjo. Quero dizer o quanto você mudou a minha vida, o quanto você me mudou. Eu prometo amar você, respeitar, e proteger, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a última batida do meu coração nos separe fisicamente. Mas continuarei com você, pra onde quer que eu vá, se eu for pra algum lugar.
Dean colocou a correntinha no pescoço de Castiel, sentindo seus olhos úmidos. Ele o beijou demoradamente, desejando poder guardar aquele momento para sempre em sua memória, caso o pior acontecesse. O sol já iluminava o céu, estava na hora de partir.
- Eu amo você, meu anjo - murmurou o caçador de olhos fechados.
- Eu amo você, meu humano - sussurrou o anjo.

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