De Outro Ponto de Vista

Dorcas - Watch the World Collapse


Queda livre você verá o que você não pode ser

Pegue essas memórias quando eu acordo

Dos anos que se passaram

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Emoções que eu não posso negar

Ter vivido uma outra vida

Em um mundo inexistente

Como é que um viver de novo

Quando você sente que sua vida acabou

Mas você está realmente apenas adormecido"

– Watch The World Collapse – Borealis

Eu deveria dizer o meu nome. É isso que as pessoas fazem normalmente. Mas estamos em tempos perigosos e eu não tenho mais certeza de nada. Mas acho que há pouco que um nome mude, então eu vou dizer. Meu nome é Dorcas. Mas sem sobrenomes, ok?

Quer saber? Eu vou escrever o que eu quiser aqui e depois queimo esse pergaminho. Nunca fui muito o tipo de garota que precisa de diários e por isso nem tenho um. Mas tanta coisa aconteceu nos últimos tempos, que preciso registar isso, mesmo que por um segundo.

Tudo começou no meu sexto ano, quando eu me apaixonei por Remus Lupin. Ele é educado, gentil, carinhoso, bonito e inteligente. Tudo o que uma garota pode querer, certo? Errado. Ele é um melhor amigo perfeito. Mas quando você se apaixona por ele... Você se machuca várias vezes. Ele rejeita você, delicadamente. Mas rejeita. E você se sente burra por sequer ter pensando que teria uma chance com ele. Você percebe que nunca vai ser boa o suficiente para ele. E isso te destrói. Isso te quebra.

Você já quis estar com alguém tanto que não poder estar te faz ficar deprimida? Porque eu fiquei. Eu não podia pensar, eu não podia parar de questionar, outra coisa senão Remus. Eu estava ficando obcecada. E já é ruim o suficiente ser obcecada com uma coisa que você não tem acesso. Mas uma pessoa que você não pode ter? Sem nem saber por quê?

Primeiro, eu não acreditava que eu não poderia ficar com ele. Talvez ele não goste de mim ainda, mas um dia ele vai, pensava. Eu estava sempre ali para ele, mesmo que Remus não percebesse. Se ele me chamasse, ali eu estaria. Aos poucos, eu fui perdendo a esperança. Fui percebendo que ele me tratava do mesmo modo que todas as outras meninas. Eu não conseguia parar de chorar escondida das meninas.

Foi nessa época que pela primeira vez percebi porque ele não gostava de mim. Era porque eu era gorda. Inocentemente, tentei emagrecer para ver se poderia fazer com que ele gostasse de mim. Comecei a comer menos; até tentei fazer exercício físico. Mas não adiantava eu continuava com o mesmo peso. Não era suficiente; nada era. Então, a solução me ocorreu. Era algo simples, mas ao mesmo tempo insano. Eu sabia que algumas pessoas chamavam aquilo de doença, contudo, eu estava tão desesperada que aquilo não me afetou. Eu ignorei a sanidade e escolhi a insanidade.

A primeira vez que eu vomitei, quase não saiu nada. Não sabia por que as pessoas eram tão apavoradas por aquilo. Mas então eu comecei a ficar viciada, comecei a fazer com frequência, e começou a doer. Doía minha garganta; doía a minha alma. Cada vez que eu fazia aquilo, sentia um pedaço meu indo embora, mas eu não me importava. Estava tão cansada de ser eu. Tudo que eu queria era um descanso.

Pensei – de modo ilusório – que minha autoestima estava melhorando. Mesmo que fosse cada vez mais difícil respirar. Mas as meninas começaram a dizer que eu estava estranha e que estava muito irritada. Foi só então que eu percebi que não estava ajudando. Eu quis parar.Eu quis. Comecei a ter uma consciência, mas eu não conseguia mais parar, se tornou um hábito, era tão normal como respirar. Eu não pensava, só fazia.

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O engraçado é que eu nunca tive muito medo que as minhas amigas descobrissem. Eu me achava tão... Invencível. Acho que foi isso que causou minha ruína.

Eu já tinha desistido de tentar fazer Remus gostar de mim. Ele mal parecia saber que eu existia. Eu já não tinha tanto desejo de ser magra, mas essa ideia estava tão no fundo da minha mente que tudo era incontrolável.

Então tudo mudou. Marlene e Lily descobriram o que eu fazia, por um acaso. Elas ficaram horrorizadas e agora, já melhor, eu não posso culpa-las. Aliás, só posso agradecer. Elas tiveram muito paciência comigo o tempo todo. Elas me fizeram acreditar em um mundo melhor. Tentaram me entender e me mostrar que eu estava errada.

Quando elas descobriram, Remus descobriu também. Ele nunca soube o motivo de tudo isso – apesar de que nunca foi um só. Ele ficou tão preocupado comigo que me beijou. E por uns dias eu realmente acreditei que ele me amava e eu estava tão iludida. Ele terminou comigo logo depois, não sendo muito delicado. E eu fiquei com o coração partido.

Isso não me ajudou a tentar superar a bulimia, mas eu não posso culpá-lo, quem iria querer ficar com uma doente?

Mesmo assim, nessa época eu achei força em mim mesma. Eu consegui superar, seguindo pequenos passos e sempre com Marlene e Lily me ajudando, sem elas eu provavelmente já estaria morta. Talvez eu só precisasse de um problema a mais para me incentivar a acabar com aquilo de vez.

Eu me fiz forte de novo. Eu achei o meu caminho de volta a luz. Eu mudei aos poucos e fiquei mais feliz, até namorei com Amos Diggory uma época, apesar de não ter dado certo.

Talvez eu seja dramática, mas não acho que passei por pouca coisa. Sei que muitas pessoas passaram por coisas piores e que a maioria dos meus problemas foram causados por mim. Mas eu só eu sei o quanto eu sofri. Só eu sei a força que foi necessária para tentar estabelecer alguma normalidade na minha vida.

E atualmente, a minha vida – como a de muitos da minha geração – é cheia de desgraça. Estamos em guerra. Não uso essa expressão filosoficamente. Quando eu digo que estamos em guerra, eu realmente quero dizer isso. Todo dia temos que lutar contra Voldemort ou algum comensal ou ajudar um ferido. É extremamente perigoso e cansativo, mas de algum jeito, isso me faz senti mais leve. Como se eu estivesse corrigindo todos os meus erros do passado.

Ao mesmo tempo, sei que sou a única a me sentir assim. Minhas amigas não tem nada para se arrepender. Marlene pode parecer impulsiva, mas ela também tem um bom instinto e nunca se arrependeu de nada na vida. Ela diz que arrependimento é só para quando ela morrer e ver a vida dela de novo. E Lily Evans, a garota mais certinha do planeta, nunca faria uma besteira. Nunca se meteria em problemas, feito eu fiz.

Mas ao mesmo tempo... Eu não me arrependo.

Agora sou uma auror. Faço parte da Ordem da Fênix. E todo dia eu me levanto sabendo disso. Sei que é um risco. Sou alvo dos comensais, mas sempre fui inclinada a agir. Não sou suficiente paciente ou fria o suficiente para ser neutra. Eu tive que escolher um lado. E claro que eu escolhi o contra Voldemort. Não concordo com a política dele; eu sei que nascidos trouxas não são problemas. Lily é um exemplo. Na realidade, a maioria dos que eu vi são poderosos.

E a maioria da minha família está do meu lado. Somos sangues-puros, mas não somos cegos. Sabemos a quantidade de trouxas no planeta e também sabemos que o que Você-Sabe-Quem quer é impossível. Se os trouxas descobrirem o que ele está fazendo, haverá outra guerra entre bruxos e trouxas. E dessa vez, os trouxas provavelmente ganhariam. Nós, bruxos não temos armas de destruição em massa, mas eles têm. E não importa se eles possuem mágica ou não, nós não queremos que uma grande parte do mundo seja assassinada.

Admito, ás vezes é difícil me levantar sabendo que minha sobrevivência depende somente da minha esperteza e da sorte. Mas quando eu paro pensar em todas as pessoas inocentes que poderão morrer se eu não estiver fazendo mais que o meu trabalho, eu esqueço quem a menina fraca que eu era, a pessoa que eu sou e a quem eu quero ser. Eu me torno ninguém e todos. Eu estou pronta para morrer por eles, estou pronta para sofrer com eles. Estou pronta para aceitar o meu dever, a minha missão no mundo. E não existe segunda alternativa, não existe volta. Mas, no fim do dia, quando eu falo com a minha família, com as pessoas que eu conheço, vale a pena. Porque eu estou fazendo isso por elas e estou conseguindo. Estou as mantendo a salvo por mais um dia.

Sinto falta somente de amar alguém. Pode parecer estranho, mas eu sinto. Estava acostumada a gostar de alguém e de repente, meu coração permanece no mesmo ritmo de sempre, não coro ou acho alguém fantástico com um simples comentário. Faz a vida ficar menos colorida, faz-me sentir vazia. Faz-me encarar a realidade.

Eu cresci e agora a vida não parece à mesma. Meu problema não é mais a dificuldade de entender uma matéria ou ficar procurando um pergaminho. Meus problemas são mais sérios como contas e... salvar vidas.

Toda vez que eu vejo uma criança, eu me lembro da minha infância. Eu tive uma das melhores infâncias do mundo. Mesmo não tendo irmãos, nunca me achei de fato sozinha. Eu sempre inventava alguma coisa para fazer e fui mimada pelos meus pais, que sempre demonstraram que me amavam muito. Quando eu estava com Marlene, nós duas fazíamos várias brincadeiras. Nem sempre era bom para os nossos pais. Já falamos mal dos chefes deles na frente deles, algumas vezes. Eu tinha muita energia. E Lene sempre foi muito esperta, sempre soube fazer com que os outros fizessem o que ela quisesse.

O estranho é, eu cresci mais nunca quis me afastar de Marlene, que o que as pessoas normalmente fazem com os seus amigos de infância. Sonhávamos em ir para Hogwarts, viver as aventuras no colégio onde nossos pais estudaram. Prometemos que ficaríamos unidas - não importa a casa de Hogwarts. E tudo só melhorou quando fomos selecionadas juntas para a Grifinória e conhecemos Lily Evans, a ruiva mais temperamental que eu já conheci. Lily completou o nosso grupinho. E elas fazem parte da minha família. Tenho mais medo que elas morram do que eu morrer. Não sei se conseguiria continuar a vida sem elas. Eu nem sei quem eu seria sem elas.

Agora, eu fico feliz por ser apegada a poucas pessoas. Porque senão com certeza eu já teria visto alguém que eu amo partir. E, apesar de eu ser mais forte agora, eu não sei se aguentaria. Só a ideia de perder alguém já me apavora.

Não tenho medo de arriscar a minha vida, salvando os outros. Tenho medo que os outros se arrisquem demais e eu perca eles.

Refletindo agora, me pergunto como cheguei aqui, meu sonho nunca foi ser auror. Eu nunca sonhei em tentar arriscar minha vida todo dia em troca da salvação de outra, mas acho que mesmo depois de recuperada da bulimia, algumas coisas nunca mudam e uma delas é o pouco valor pela própria vida. Pelo menos, sei dar valor a do próximo e isso é o meu máximo.

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Estou cansada agora, mas não quero dormir. Eu sinto que terei pesadelos essa noite. E não tem ninguém perto para me ouvir gritar. Prefiro escrever palavras sem sentido a isso.

Não me entendam mal, vocês provavelmente acham que eu tenho uma vida ruim. Mas isso não é verdade. Gosto da vida que eu levo. É vazia. Mas tem a sua beleza. E eu não me sinto só na maior parte do tempo, eu só... ainda não me acostumei com a vida fora de Hogwarts, sem Lily e Marlene sempre do meu lado. Só não tenho muito certeza do que fazer nessas horas. Mas no resto do meu dia eu estou feliz. Eu me considero feliz.

Sinto-me melhor agora que eu coloquei isso para fora de mim. Estava quase me fazendo explodir. Mas agora eu me sinto mais leve, como se um peso saísse de mim. Agora entendo porque as pessoas possuem diários. Mas não vou ter um. Não tenho tempo para as essas coisas assim, só escrevi aqui porque realmente precisava.

Eu não estou orgulhosa das coisas que eu fiz, mas elas me fizeram quem eu sou. E por isso não faria nada diferente,

Dorcas Meadowes