Take me Back

Prólogo


Estava escuro, eu só podia enxergar o movimento por causa das luzes brilhantes das viaturas de polícia e das ambulâncias. Estava chovendo, não se conseguia ver nenhuma estrela e muito menos a lua. O que era frustante, eu adorava a lua. Mas pensando bem, acho que nem ela iria conseguir fazer com que eu me sinta bem hoje, e nem nunca mais.
Sinceramente, preferia não enxergar nada. Havia muitas pessoas gritando por trás da faixa de segurança preta e amarela, que brilhava em neon refletindo a pouca luz da rua, como se quisesse mostrar o quão significativo era manter-se atrás dela.
O que as pessoas gritavam era muito diversificado. Eu só distinguia algumas palavras como: “Assassino!” ou “Cadeia!”. Havia também algumas que me lançavam olhares cheios de dor, que eu não conseguia devolver.
Um policial havia me coberto com um cobertor felpudo e me oferecido uma xícara de café. Eu recusei a segunda oferta educadamente, por que mesmo com uma vontade imensa de gritar com tudo e todos, eles não tinham culpa de nada. Pelo contrário, estavam lá para ajudar. Então aceitei o cobertor, mais para aliviar a expressão de pena e preocupação do policial do que por estar realmente com frio.
Olhei em volta, me esforçando para enxergar alguns rostos por trás daquela faixa. Algumas pessoas estavam bem calmas, outras nem tanto. Eu tinha certeza que estavam ali só para causar tumulto, mas não me importei. Eu preferia estar no lugar delas, do que aqui.
Odiava estar do lado contrário da ameaçadora faixa neon. Odiava não conseguir chorar. Odiava o fato de um homem bêbado ter atropelado e matado dois inocentes. Mas, acima de tudo isso, odiava que esses dois inocentes fossem meus pais.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!