O Diário Secreto de Anna Mei

O Quarteto Idiota


– Então, onde é o quarto da Hanna? – pergunto para Dennis, ele esta se divertindo muito jogando com o seu console portátil de última geração, não é de interesse meu se ele perder, então puxo o braço dele.

– No segundo andar, – ele nem percebe, então vamos à estratégia final, vou para detrás dele, ele está no sofá, então fica fácil fazer isso, então me jogo no pescoço dele, apertando-o como uma chave de braço.

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– Onde fica? – falo, mas quando ele murmura algo ininteligível percebo que não foi boa ideia obstruir a passagem de ar, (obstruir? É sério? Eu vi essa palavra em Bob Esponja, acho que significa interromper).

– Eu digo... – ele respira, quando finalmente o solto – Se pedir por favor....

– Ah, nem vem – falo.

– Diga...

– Onde está o quarto da Hanna, seu projeto de poste! – começo a balançar os ombros dele enquanto a cabeça dele balança.

– Ai, ai, ai... Já chega!

– Me leva logo ao quarto dela! – respiro fundo, já sem paciência, e ele ri.

*

– Mas o q... – digo quando chegamos ao quarto. Pra não exagerar, o quarto é enorme! Bem diferente da minha realidade... Bom, no meu quarto tem uma cama, um guarda-roupa, um computador, prateleiras com livros e alguns ursos de pelúcia diabólicos... Não, diabólicos não, são fofos. Mas o quarto de Hanna é enorme, a cama é enorme, ela não tem guarda-roupa, tem um closet do tamanho do meu quarto cheio de roupas, enfim... Tudo branco e rosa bebê, bem diferente do que eu imagino ser o quarto de Ellie, claro, o quarto dela deve ser um condomínio inteiro.

– Você vai dormir aqui! – olha pra ela e ela está pulando numa segunda cama, igualmente grande.

– Hãn? – bom, esse meu “Hãn” foi, primeiro, porque aquela cama não estava lá quando eu cheguei, segundo, eu poderia muito bem dormir nesse tapete de veludo... é tão macio... e, terceiro... Quem diabos colocou aquela cama ali tão depressa?!

– Eu pedi pra irem pegar a cama do quarto do lado, você não percebeu? – ela para de pular – Você está aqui há tempos.

– Bom... que seja... – continuo a admirar o quarto enquanto Hanna faz uma ligação pra não-sei-quem...

– Vá tomar um banho e tirar esse uniforme, as suas roupas já vão chegar.

E eu vou... Em qual porta é o banheiro... Deve ser... Essa, ah não... O banheiro parece mais um SPA! Com uma banheira de hidromassagem que cabem dez pessoas... que tipo de gente tem isso?

Meia Hora Depois

– Anna, morreu aí dentro? – Hanna bate à porta.

Não é culpa minha se eu aprendi a ligar a hidromassagem... e também não é minha culpa se é tão relaxante que dormi e quase me afoguei... Agora minha pele está parecendo uma passa.

Saio do banheiro enrolada numa toalha e com outra na cabeça (eu tive que molhar meu cabelo, já estava ficando duro – mas agora está com cheiro de xampu de Hanna).

– Finalmente, princesa – Ellie fala, sarcasticamente.

– Cadê as roupas...?

– Ellie trouxe! – Hanna diz, Ellie bufa... Ela está vermelhinha?

– Vista isso logo, é da sessão infantil, mas vai servir como uma luva... – ela ri na ultima parte. Sessão infantil?

Abro a sacola que ela me entregou, tem uma camisa cinza, um casaquinho marrom, uma saia de veludo preta e botas marrons, assim como a meia-calça cinza. Está tudo combinando?

– Vou servir de modelo, de novo? – sussurro para Ellie.

– Quando precisarmos de você de novo eu aviso – ela pisca, sarcasticamente.

Visto a roupa.

– Vamos ao shopping! – credo, a vida dessas meninas é irem ao shopping, todo dia?

Quando chegamos no térreo, alguém me puxa e me abraça, Gabriel... Quem mais poderia ser? Dennis? Ah, nem pensar.

– Meizinha, você está fofa! – ele diz.

E fomos ao shopping, Dennis me olha estranho... Ele não falou comigo desde cedo, acho que está me ignorando.

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Acho, não. Tenho certeza.

Quarta-Feira/19 De Março

Levanto bem cedo e visto meu uniforme (que foi lavado e seco por uma das empregadas) pego minhas coisas e saio do quarto, Hanna ainda ronca na cama, fecho a porta com cuidado e vou pé ante pé pelo corredor.

– Você acha que pode fugir?

– Dennis? – me viro de repente? – Ah, que susto...! O que está fazendo do lado de fora do quarto?

– Só estava esperando você, sabia que você sairia mais cedo... – ele começa a andar.

– E daí? – vou atrás.

– E, nada... – estranho, ele me ignora, depois fica falando pouco, tem alguma coisa de errado.

*

– Na reunião de representantes... – Lianna fala quando as aulas acabam – Disseram que, temos que coletar assinaturas de pessoas importantes, celebridades, pessoas ricas – ela olha para Dennis e Ellie como se os repreendessem. – Enfim, dividirei as salas em grupos para coletarem pelo menos vinte assinaturas cada grupo.

Bom, tudo correu maravilhosamente, e iria correr melhor ainda se minha vida fosse como contos de fadas e o grupo ia ficar: “Anna Mei, Dennis, Hanna, Amandha e Ellie”, mas como não é nada como os contos de fadas os grupos foram separados assim: Grupo 1: Dennis, Sabrine, Jasmine e Dafny. Grupo 2: Ellie, William, Bia, CJ – Carlos João, mas todos chamam ele de CJ pra não confundir com o outro Carlos, o que faz parte do trio de bocós. – Grupo 3: Amandha, Rodrigo, Coraline, Douglas e Roberto. Grupo 4: Hanna, Sara, Diego, Matheus e Stefan. Grupo 5: Lianna, Lucas, Ricardo e Kelly. Grupo 6: Solara, Juan, Daniel, Fabrício e Juliet. Grupo 7: Anna Mei, Jorge, Felipe e Carlos.

Fomos todos separados.

Isso é irônico, pois eu fiquei num grupo onde a única garota sou eu, e Dennis ficou em um grupo onde ele é o único garoto... Mas não importa... O pior de tudo... é que... Eu fiquei junto com o trio de bocós.

A aula acaba e eu faço algo inédito, espero do lado de fora da escola, não Dennis, nem Mandy, nem Hanna e muito menos Ellie... Espero o trio... os três patetas! Eles atravessam o portão fazendo brincadeiras ridículas como sempre, nem me notam... Preciso fazer algo.

– Ei, vocês! – grito e eles me olham.

– Olha, a baixinha está falando com a gente... – Felipe chega perto, eu giro a mão dele até soltar um estalo. – Tá, eu vou parar.

– Vamos logo pegar essas assinaturas, quando mais cedo acabarmos, melhor... – digo.

– Humm... – Carlos murmura – Quando a Anna faz essa cara fria, minhas tripas derretem!

– As minhas também! – os outros dois falam.

Aí eu imagino uma cara desses dando uma cantada numa garota... Não, não quero imaginar isso.

Quando vamos saindo vejo um grupinho meio bizarro, Dennis no meio e aquelas três enxeridas em volta, elogiando o cabelo dele, tudo por causa do aparecimento dele na revista “Charm”, duvido que, se ele continuasse sendo o bobão escondido de sempre, essas idiotas nunca notariam ele... Agora vejo duas loiras e uma morena atacando ele... Jasmine é a pior, com aqueles cabelos alisados e puxados descoloridos com descolorante barato. Sabrine, sempre foi uma vadia, ela se acha com aqueles cabelos encaracolados com luzes... E Dafny? Eu até tinha algum respeito por ela, mas agora...

– Ei, pequena! – Felipe fala, parece que ele percebeu que eu estava olhando Dennis. – Vamos coletar essas assinaturas. – e passa o braço pelo meu ombro.

Pode ser até que esses patetas sejam legais.

– Temos sorte, minha tia é cantora e vai viajar amanhã – Jorge fala – Nós podemos correr até o hotel em que ela está e conseguir a assinatura.

– Sua tia é famosa? – falo. – É tipo, cantora profissional? – falo pensando em quando custaria um autógrafo dela, mas Jorge me desanima.

– Não, ela só canta em bares.

Conseguimos a assinatura da tia dele, ela tem os mesmos cabelos marrons dele, além dos olhos cinzentos... Parece que é a mãe.

– Bom, e agora? – Felipe fala.

– Jura? Vocês não conhecem mais ninguém que valha à pena? – digo.

– Meu tio é pintor! – Carlos fala.

– Sério? Ele já tem algum quadro num museu?

– Não... Ele pinta paredes... O nome dele é Giu!

– Giu? – falo. – Ah, fala sério, esse grupo é cheio de zero á esquerda.

– Ei! – eles dizem juntos.

– Eu vou resolver isso... – sigo para o prédio de Beatrice.

Quando chegamos lá...

– Você mora aqui? – ele mechem e remexem em tudo.

– Não, minha irmã mora, parem de mexer!

– Mei, o que faz... – Beatrice aparece, com seu cabelo de duas cores (a tinta já desbotou tanto que o cabelo ficou meio ruivo – tipo, o cabelo era loiro, foi tingido de preto, agora desbotou pro ruivo... Eu, hein, loiros e suas esquisitices) – O que faz aqui... E quem são esses?

– Essa é sua irmã? – Carlos fala, babando e chegando perto de Beatrice como se ela fosse uma estátua.

– Sai fora garoto... – Beatrice sai de perto dele. – O que quer?

– Você poderia assinar aqui? Como uma guia de turismo formada? Aproveite e convide Alex para assinar também! – falo, apontando para o ruivo que está fazendo algo na cozinha.

Eles assinam, temos três assinaturas... Não sei a quem pedir...

– Depois de um dia cansativo como esse, que tal irmos à sorveteria? – Felipe fala.

– Que dia cansativo? Só temos três assinaturas! – digo, vendo que já está quase escurecendo.

– Vamos lá, – Carlos fala – Hoje é quarta-feira, quem paga é o Jorge.

– Cara! – Jorge esmurra Carlos. Esses três são uma comédia só.

– Você riu? – Felipe pergunta, e os outros dois param.

– Hãn? – paro de rir... qual o problema, eu sou uma palhaça, estou sempre rindo.

– É que você quase nunca ri, sabe... – Carlos coça a cabeça.

– Não desse jeito – Felipe diz.

– Não sem aquele olhar assustador... – Jorge completa. – Quando você está na escola sempre parece estar brava com alguma coisa... – Claro né! É a escola... Agora entendo, as porcarias que me vem à cabeça ficam nela... Ninguém pode saber o que eu ando pensando e do que eu ando rindo às escondidas.

– Que seja... Vamos tomar sorvete! – aponto para o Jorge – Ele paga.

Foi um dia divertido, agora sei como diferenciá-los, Jorge é o de olhos cinzentos, Carlos tem cabelos cacheados e olhos pretos, Felipe tem olhos verdes. Eu os confundia porque Jorge e Felipe têm cabelos da mesma cor, é difícil distinguir uma pessoa quando ela está junta de outras duas.

Mas eles são legais.

– Agora você faz parte do nosso grupo? – Felipe diz.

– Quarteto de bocós, os quatro patetas, os quatro idiotas... – penso alto e eles parecem animados, antes de murcharem ao me ouvirem dizer, sorrindo – Não, obrigada.