Primeiro ano

Inquietação


Não consegui dormir, claro. Estava muito agitada para isso e Passei a noite pensando naquele dia. Naquele beijo. Nunca fui beijada, o que é incomum na minha idade, até porque, pessoas com 16 anos hoje em dia já tem filhos. Mas eu sempre fui na minha. Nunca me envolvi e nem quis me envolver com alguém.

Minha mãe havia falado que eu só voltaria para a escola na próxima semana e que o Diego continuaria a vir aqui em casa. Eu estava... não sei como colocar o que eu sentia em palavras. Não sei se eu sentia mesmo alguma coisa. Eu não havia pensado nele dessa forma e, agora, eu não sei o que pensar. Não sei como reagir ou o que dizer. Como seria amanhã? O que eu diria a ele? Só isso passava pela minha cabeça. Eu não conseguia parar de pensar, mas estava como que anestesiada. Estava deitada, olhando para o teto do meu quarto.

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– Ah o teto... Confidente para os corações agitados...

– Deixa de ser bobo, Príncipe – ele me tirou do meu devaneio – Tá fazendo o que aqui?

– Caramba! Se não quer minha presença eu vou embora, tá?

– Não é isso... Desculpa... É só que eu estou... um pouco... sei lá...

– Apaixonada? Amando?

– Quê? N-não é... isso...

– Tem certeza – ele levantou uma sobrancelha, cruzando os braços. Hesitei.

– Eu... não... – é difícil eu admitir não saber de algo. Mas em relação ao amor eu sou uma negação. Não sei nada além do que eu leio nos livros e ter Nicholas Sparks como objeto de comparação não ajuda a ninguém.

– Pense nisso, Kali – ele disse e desapareceu.

Apaixonada? Será? Não. Não estou apaixonada. Já me apaixonei antes. Sei que não é paixão o que estou sentindo, porque nunca me senti assim. Talvez eu só esteja impressionada com o fato de alguém ter se declarado para mim. Quando acontece algo de diferente na nossa vida ficamos assim, não é? Não. Não é paixão. Eu gosto dele, mas como amigo. Também eu mal o conheço. Além disso, eu tinha prometido não me apaixonar.

–--

Às 6h da manhã decidi que não valia mais à pena tentar dormir. Já conseguia ouvir minha mãe no andar de baixo, que devia dormir apenas umas três horas por noite desde que meu pai morreu. Fico pensando se ela dormiu alguma vez no tempo em que eu fiquei sem memória.

Peguei meu caderno de rascunho para tentar escrever alguma coisa. Impossível. Peguei um livro, mas não consegui prestar atenção. Simplesmente tinha que voltar à mesma frase pelo menos três vezes para entender. Desisti de fazer qualquer coisa em que minha atenção fosse necessária e voltei a olhar para o teto do quarto.

Algum tempo depois senti cheiro de café e me dei conta do quão faminta eu estava. Mas, nem faminta, eu consegui comer. Meu estômago embrulhava.

– Aconteceu alguma coisa? – minha mãe perguntou.

– Não mãe. Não aconteceu nada.

– Tem certeza? Você desceu falando que estava com fome, mas não comeu quase nada.

– Tenho certeza.

– Então tá bom. Ah! O Diego ligou. Ele disse que vai chegar mais cedo – engasguei com o pedaço de pão que tentava engolir.

– Por quê? – perguntei com a voz ainda embargada.

– Os professores dos dois últimos horários faltaram e a escola vai liberar os alunos.

– Entendi – “Tinha que ser hoje?”

– Tem certeza que você tá bem, filha?

– Sim. Só estou com um pouco de sono. Vou voltar pro meu quarto – disse já saindo.

– Filha.

– Sim?

– Já que o Diego vai chegar mais cedo, eu vou sair mais cedo também, ok? Tenho algumas pendências pra resolver antes do trabalho.

– Tudo bem, mãe – disse tentando sorrir e fui para meu quarto.

Os professores tinham que faltar logo hoje? E minha mãe tinha que nos deixar sozinhos logo hoje? Ninguém precisava adiantar nosso reencontro. Eu não queria isso. Por que iria quere? Mas parecia que tudo conspirava contra mim. Senti medo do que mais poderia acontecer nesse dia.

“Mau dia! Mau dia!”