No café de quarta, as meninas estavam rindo da minha cara na noite anterior.
— Eu não acredito que você realmente apareceu daquele jeito. Achei que Emily ia ter um infarto de tentar segurar o riso maléfico da vitória — cochichou Beatrice bem a meu lado.
Cobri a boca mas não consegui refrear a gargalhada que se formou. Beatrice teve que me chutar por baixo da mesa.
— Ei! — reclamei dando um tapa no braço dela.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Ela deu uma risadinha e voltou-se para seu prato quase vazio.
— O príncipe Caleb deseja saber se a senhorita tem a tarde livre para ele — sussurrou um mordomo no meu ouvido.
Olhei para onde Caleb estava e fiz um aceno quase imperceptível com a cabeça.
Era nosso segundo encontro. Tremi só de pensar nisso.
Caleb estava me puxando apressada e nervosamente pelos corredores.
— Meus Deus, homem! Acalme-se.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Eu estou calmo. Calmo como um lago no verão.
— Um lago no verão no meio de um furacão.
Ele abriu uma porta lisa que eu supus ser a mesma torre da outra vez.
— Algo por aí.
Ele se sentou no chão, sentei de frente para ele, as pernas cruzadas. Era a coisa mais normal que eu já o tinha visto fazer.
— Dessa vez eu pedi a Peter para não nos interromper, não se preocupe.
— Peter… o rapaz do muay thai?
Pude notar a surpresa em seus olhos e não entendi o porquê.
— Sim — o príncipe olhou para baixo, como se olhar para mim fosse constrangedor.— Eu queria falar com você… sobre a pergunta que você me fez no outro encontro.
Repassei mentalmente nossa breve conversa naquele pôr do sol.
— Eu perguntei se você já tinha beijado alguém antes.
Ele assentiu, o rosto completamente vermelho.
— Eu nunca beijei uma garota — confessou como se fosse um crime imperdoável.
Não pude conter a surpresa. Caleb era bonito e tinha bom papo, mesmo que não pudesse se apaixonar por ninguém porque deveria casar com uma Selecionada, ele poderia se divertir.
— Nunca?
— Eu sei que é patético.
— Não é patético — discordei.— É fofo.
— “Fofo” é a palavra usada para dizer de forma delicada que eu sou um imbecil em termos de lidar com garotas?
Inclinei a cabeça para um lado. Não tinha consciência que era assim que ele se sentia. De toda forma aquilo tudo era esquisito e Caleb não estava fazendo muito para melhorar. Olhei no fundo de seus olhos castanhos.
— Ainda não entendo o que isso tem a ver com o momento atual.
— Você… já beijou outros rapazes.
— Sim. E...
Ele se apoiou nas mãos, inclinando-se para trás e se afastando de mim um pouco. Seu nervosismo era claro.
— Eu gostaria que você… me desse aulas de beijos. Sabe, para eu não me sentir um idiota com as outras meninas. — Ele ergueu as mãos com as palmas voltadas para mim. — Sei que é tudo muito apressado, mas não posso me dar ao luxo de evitar esse tipo de contato se realmente quero escolher minha esposa.
Fiz que sim com a cabeça. Fazia sentido.
Ficamos em silêncio por tanto tempo que o sol desapareceu, tornando-nos apenas sombras.
— Só por curiosidade, por quê eu?
— Por que você é a única delas em quem eu confio realmente. Mesmo naquele momento em que nos conhecemos eu pude sentir que você via além do príncipe. Via o homem perdido que eu sou.
— Você não é perdido. É um perfeito cavalheiro...
Ele me interrompeu.
— Essas coisas foram aprendidas. Quando se trata de lidar com garotas não existe nenhum livro ou tutor que possa me ensinar. Eu já te disse que estava aterrorizado com a Seleção. Pode parecer bobagem, mas é a mais pura verdade. Minha vida está em jogo.
— Está tudo bem. Eu vou ajudá-lo em tudo que você precisar. Serei sua amiga, sua professora, sua confidente... O que você quiser.
Ele pegou minha mão, entrelaçando nosso dedos, embora eu não pudesse ver seu rosto podia imaginar uma expressão de culpa acompanhando a hesitação em seus movimentos. Era engraçado demais.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— O que eu quiser… essa é uma coisa arriscada de dizer levianamente, senhorita Alexia.
— Eu me garanto, Alteza.
Branco faiscou na escuridão, seus dentes brilhando em um sorriso largo.
— Devo te beijar, professora?
—Seria um bom momento. — Ei, eu não tenho culpa de estar um pouco sem ar.
Muito suavemente ele se colocou de joelhos e inclinou em minha direção.
Meus olhos se fechararam, nossa respiração estava rápida e superficial. Passei a mão que não estava na dele por seu cabelo curto, puxando-o para mim e então veio o gosto doce dele.
Soltei minha mão da dele e passei por suas costas. Era meio estranho estar conduzindo isso, mas não era ruim. De modo algum.
Caleb se arriscou e passou os braços a meu redor com a delicadeza de uma seda, uma mão estava no meu ombro e a outra na cintura. Eu já tinha beijado alguns caras antes, mas ele fazia aquilo tudo parecer novo e incrível.
Um som alto e irritante pareceu ecoar pela propriedade, quebrando o encanto.
Caleb se levantou com um salto, me puxando com ele.
— Droga! Tinha que ser agora?
Meu coração parecia estar batendo mil vezes por segundo.
— O que foi?
— Rebeldes na propriedade. Venha.
Ele me puxou com uma velocidade impressionante. Aquela máxima era verdadeira: Para baixo todo santo ajuda. Em menos de dois minutos estávamos em frente a uma parte lisa da parede, Caleb meio que a empurrou de lado deixando uma porta à mostra. Lá dentro estavam todas as meninas da Seleção, além da família real.
Pude ver a surpresa das garotas ao me ver com o príncipe e nossas mãos entrelaçadas. Desviei o olhar, envergonhada.
— Caleb, graças a Deus! — rainha America murmurou abraçando o filho. Se eu não estivesse bem a seu lado não teria ouvido.
Sentei entre Pietra e Beatrice que ergueu as sobrancelhas em uma pergunta muda. Movi os lábios “Depois”. Ela concordou com a cabeça e inclinou-se contra a parede, procurando uma posição confortável.
O príncipe George estava nos braços do irmão, ressonando suavemente em seu ombro. Não pude evitar pensar em Patrick e em nosso relacionamento. Pela primeira vez, agradeci silenciosamente o fato de ele não estar comigo naquele momento.
Não sei quanto tempo ficamos ali, uma a uma as pessoas iam dormindo a meu redor.
Por fim só sobramos eu e Caleb acordados, ou ao menos com os olhos abertos. Apesar da pouca luz no abrigo, eu pude ver ele sorrindo para mim e erguendo as sobrancelhas em uma pergunta silenciosa.
Sacudi a cabeça e dei de ombros “Está tudo bem”, era o que o meu gesto significava e acho que ele compreendeu porque seu sorriso cresceu um pouco.
Eu não ia desistir, a minha cabeça ia estar a prêmio dentro ou fora do palácio.
Ele afagou um ombrinho de George com carinho. Se ele fosse assim com o país, Illea estava em boas mãos.
Caleb e eu permanecemos em comunicação muda por um tempo, era estranho como os momentos ruins pareciam unir as pessoas.
Depois do do que me pareceram várias horas insones, a porta foi aberta por um guarda. Ele se encaminhou até onde a família real dormia e chamou o rei com um tom completamente comum, como se estivessem em uma conversa.
— Majestade, os rebeldes foram subjugados.
O rei abriu os olhos, totalmente alerta. Ele tinha o sono leve de um gato!
— Acorde as senhoritas da Seleção — ele se virou para a esposa e a acordou com suavidade.
Caleb se levantou também, tomando cuidado para não acordar o irmão em seus braços. Tal como eu, ele estava com os olhos exaustos de não ter dormido um segundo.
Pensei em tudo o que eu Patrick tínhamos vivido em nossa casa e comparei com a vida de Caleb e George. Eles viviam do mesmo modo que nós, sempre com medo de novos ataques a qualquer momento.
Eu saí de um nicho de tortura para um campo de guerra.
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