Senti um impacto forte e quente no ombro. Uma pedra.

— Alexia!

— O que? Corre!

A queimação ia se tornando pior conforme nos aproximávamos do palácio, já estávamos no átrio quando um guarda nos encontrou esbaforido com a arma em punho.

— Senhorita! Senhor, acompanhem-me.

Sem nem pedir permissão Jay me pegou nos braços.

—Ei, me solta — protestei.

— Você está sangrando. E fazendo careta — explicou conforme seguia o guarda correndo.

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— Sangrando? — Franzi as sobrancelhas. Meu ombro queimava.

— Aqui — ordenou o guarda. — Esses são os últimos — disse para outro homem fardado.

— Alexia! — Várias vozes gritaram ao mesmo tempo.

— Ela levou um tiro — constatou uma voz que eu achei ter sido a da rainha America enquanto Jay me deitava no chão. — No ombro.

Foi só ela dizer isso que de repente doía como o inferno.

— Eu tomei um tiro? — perguntei horrorizada.

— Sim — disse uma voz baixa e suave. Lynn, reconheci imediatamente.— Me dêem espaço, preciso das coisas de primeiros socorros e seria bom um um pano molhado para limparmos o ferimento.

Jay ficou segurando minha mão o tempo todo enquanto eu fiquei de olhos fechados.

— Tudo está bem. Você já passou por coisas piores.

— Não com quase cinquenta pessoas olhando — gemi.

Jay riu.

— Vou tirar o seu vestido — Lynn avisou. — Eu preciso ver esse ferimento.

— Não.

— Alexia, pode ser alguma coisa séria. Pelo menos uma vez na vida, não seja teimosa.

Eu queria mandar Caleb calar a boca, mas só saiu um gemido baixo quando Lynn rasgou a parte de trás do meu vestido.

— A bala está alojada no ombro — disse-me ela. — Isso é bom, provavelmente não acertou nada importante, mas precisa de cirurgia.

— Eles estão com vocês? — perguntei tentando mudar de assunto. Pensar em uma coisa só aumenta a dor, eu sabia disso. Lynn sabia que eles significava quem quer que tenha atirado em mim.

— Não. Não fazemos ideia de como isso aconteceu — disse-me desamparada. — Lamento.

O tempo se arrastava, cada minuto me parecia uma eternidade apesar de todos os esforços de Lynn para cuidar de mim.

Assim que um guarda abriu a porta eu fui levada direto para a ala hospitalar, todo mundo fazendo um estardalhaço ao constatar que o palácio parecia em ruínas.

Lynn estava certa, precisava mesmo de uma cirurgia.

Fui sedada e só acordei no meu quarto. Havia alguém ali, segurando a minha mão.

— Jay? — perguntei sonolenta.

A voz tinha algo de irritada ao responder:

— Não. Sou eu, Caleb.

— Humpf.

Ele tocou minha testa delicadamente.

— Como se sente?

— Como se tivesse levado um tiro. Como você esperava que eu estivesse? — Fixei os olhos nele.

— Ainda está zangada comigo? Pensei que depois de ontem à noite talvez as coisas pudessem, sabe, se acalmar.

— Caleb, eu levei um tiro, não perdi a memória.

Ele abaixou a cabeça.

— Você estava feliz ontem comigo. Eu...

— Você disse que ia me dar tempo para pensar na nossa situação — falei cansada.

Bastava olhar para sua expressão desamparada que eu queria cair de joelhos no chão e garantir a ele que tudo ia ficar bem.

Mas eu não podia. Ainda não.

— O que você quer que eu faça enquanto isso? Me ajoelhe e implore seu perdão? Eu farei isso. Só... pare de agir assim comigo.

Mudei a estratégia, me odiando profundamente pelas palavras que saíram da minha boca em seguida.

— Por que você mentiu para mim, Caleb? Você é tão controlador que precisa se reafirmar sendo amado por todas as garotas?

Ele me olhou como se eu tivesse dado um tapa em sua cara , o que era uma imensa bobagem considerando que ele estava segurando uma mão e a outra estava ligada ao ombro em que eu levei o tiro e segura por uma tipóia azul.

— Eu estou apaixonado porvocê, será que não percebe isso? Não vê que está me destruindo toda vez que age assim?

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Desviei o olhar forma mais irritada possível, temendo me entregar. Eu nunca fui boa para guardar ressentimento. Minhas costas fatiadas eram a prova disso.

— Como exatamente você acha que eu estou me sentindo? Eu nunca confiei em ninguém além dos meus amigos que me conhecem desde sempre. E então eu te conheci. Cheio de sorrisos e gentileza fazendo-me confiar em você, me apaixonar por você... Eu sabia que iria me ferrar, eu sabia mas me convenci que você não iria me machucar. E é claro que eu me enganei. Agora saia daqui — silvei.

Caleb buscou meus olhos.

— Sei que te decepcionei e lamento muito por isso, você não faz ideia do quanto. Eu vou reconquistar a sua confiança, Alexia, nem que seja a última coisa que eu faça nessa vida — Seu maxilar estava trincado em determinação.

— Saia — pedi em voz baixa. — Preciso ficar sozinha.

Ele suspirou.

— Se precisar de alguma coisa, me chame. Não gosto de pensar que você está sofrendo e me dói a alma saber que a culpa é toda minha. — Caleb se inclinou e beijou minha mão antes de sair. Seus lábios demoraram alguns segundos a mais do que o apropriado.

Mal deu cinco minutos que Caleb havia saído Georgie apareceu com os olhos azuis brilhantes.

Ele sentou na cama a meu lado.

— Lexi — chamou. — Você está bem?

— Claro. Nem estou sentindo — pisquei para ele.

Georgie se mexeu desconfortável.

— Posso fazer uma pergunta?

Sorri.

— Sim, querido. Quantas você quiser

— Você está brava com o Caleb?

— Por quê você quer saber? — perguntei puxando-o para meu colo com o braço livre.

— Meu irmão está triste.

Suspirei. Eu sabia que ele estava infeliz e continuava sendo uma vaca do mal.

Infelizmente meu ego era maior do que o bom senso e a compaixão.

— Sim, nós brigamos. Não é nada de mais, Georgie.

— Por que vocês brigaram, então?

Analisei cuidadosamente as palavras antes de dizê-las.

— Seu irmão mentiu para mim e eu estou muito chateada com ele.

Os grandes olhos redondos de Georgie me encaravam.

— Mas você gosta dele, né?

Tive um pressentimento sobre o rumo daquela conversa.

— Por que você quer saber, pequeno? Foi seu irmão que mandou você perguntar isso?

Ele sorriu feliz por eu ter entendido.

— Foi!

Tive que rir.

— Diga a seu irmão que ele é um cabeça-dura mentiroso e que foi o maior erro da minha vida ter pensado que... gostava dele.

— Tá! E você gosta do Jay?

Se antes eu tinha rido agora gargalhava. Eu não acreditava na cara-de-pau de Caleb.

— Jay é o meu melhor amigo no mundo. Ele nunca mentiu para mim.

— Tá, vou falar pro Caleb — disse se levantando e arrumando a roupa antes de sair. Exatamente como o irmão fazia.

Fiquei rindo sozinha. Eu não podia acreditar naquilo.