Juntos pelo acaso.

O Primeiro Encontro.


Demoraram cerca de 20 minutos para chegarem. O lugar chamado Bar Boulud London era uma hamburguería que de noite se passava facilmente por um restaurante de luxo. Havia mesas espalhadas pelo local, todas devidamente postas com pratos, talheres, guardanapos de tecido e taças. Em contraste às mesas formalmente organizadas, havia um longo balcão com pequenos bancos giratórios típicos das lanchonetes que se viam na década de 60. A música ambiente era agradável. Era um som retrô com músicas de diversas décadas, muitas que faziam Hermione viajar de volta para sua infância e sorrir.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— É meu lugar favorito em Londres. É bem tranquilo e agradável aqui. Um bom lugar para vir quando não quer ficar em casa, mas também quer um pouco de paz. — disse Ron tirando-a do transe em que a música a colocara. — Boa noite, Alfie-.

Hermione, que até então admirava cada canto do lugar, olhou para ver quem Ron cumprimentava. Havia um rapaz vestido em roupa social preta com o logo escrito Bar Boulud, bordado delicadamente na margem superior do bolso da camisa, parado ao lado deles parecendo disposto a leva-los até a mesa, mas Ron já caminhava até ela por vontade própria como se já soubesse a mesa certa ou simplesmente não ligava em saber se havia reservas.

— Boa noite, Senhor Weasley. Senhora.

— Boa noite... Alfie? — perguntou Hermione. Ao invés de dizer seu verdadeiro nome, o rapaz apenas assentiu e sorriu como se autorizasse que ela o chamasse pelo apelido. Mas ela logo notou que, pouco acima do bolso da camisa do rapaz, havia um broche metálico onde podia-se ler o nome Alfred.

— Sempre tenho a sensação de que você está falando com meu pai quando me chama assim, Alfred.

— Desculpe senhor, é apenas um costume.

— Desfaça-se desse costume. Somos amigos, não?

— Eu espero que sim, Ron. Vai querer o mesmo de sempre, eu imagino — diz o rapaz como se Ron jantasse lá todos os dias. Hermione se perguntou se era assim antes de sua chegada a casa de Ron.

— Oh não, Alfie. Hoje tem que ser algo especial. É um encontro sabe. — Ron indicou Hermione com a cabeça e ela pode ver Alfred sorrir.

— Ah já estava na hora. Eu estou feliz pelo senhor. É uma bela moça, se me permite dizer. — Hermione não soube dizer se Alfred dizia isso para Ron ou diretamente para ela, mas sentiu o rosto esquentar.

— Sim, eu permito. — disse Ron.

Hermione sorriu tímida e agradeceu a gentileza do rapaz.

— Vou dizer à Sally que o pedido de hoje é especial. Ela ficará feliz. — Alfred deixou dois cardápios sobre a mesa e se afastou com um pedido de licença.

— Ha quanto tempo vem aqui? — perguntou Hermione curiosa. — Você parece familiarizado.

— Eu costumava vir bastante aqui quando me sentia sozinho, como se fosse um refúgio. Se não estava n'A Toca, estava aqui.

Hermione não sabia se entrar naquele assunto era bom. Apesar de Ron não demonstrar tristeza ao lembrar de seu passado, aquele assunto não parecia muito agradável.

— Deve ter sido difícil pra você. — disse Hermione. Ela encarava Ron, mas Ron encarava o cardápio. — Por que nunca fala sobre isso?

— Não é algo que eu goste de me lembrar.

— Mas as vezes conversar faz bem.

— Não é mais uma lembrança que me assombra. Posso olhar pra trás e me lembrar dela com carinho. — Ron respirou fundo, fechou o cardápio e olhou para ela. Ela estendeu o braço por cima da mesa para alcançar a mão de Ron e entrelaçou os dedos aos dele.

— Não se preocupe Mione.

— Mas se você quiser falar eu...

— Mione. — Ron apertou a mão de Hermione que segurava sobre a mesa. — Eu me senti sozinho, me senti perdido e me senti incapaz de criar meu filho sozinho, mas ainda assim eu fiz. Foi difícil, mas estou aqui não é? Ela era minha melhor amiga, pensar nela sempre dói, mas meu coração está em paz porque eu tenho uma família ótima e um filho maravilhoso. E eu tenho você. É isso que eu quero viver agora e é nisso que eu penso.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Tudo bem.

— Agora chega. Não te trouxe aqui para falarmos de coisas tristes. O que quer pedir?

— O que me sugere?

O lugar tinha uma infinidade de coisas, apesar de ser um lugar cujo foco era hambúrguer, havia mais uma vasta opções entre lanches, porções, jantares, sorvetes e sobremesas maravilhosas que deixavam Hermione tonta de olhar. Ron disse que, por ser um primeiro encontro, poderiam jantar se ela quisesse, mas ela preferiu sair um pouco da rotina. Ron e ela jantavam juntos todos os dias e hoje ela queria que fosse tudo diferente. Mas antes mesmo que pudessem pensar em chamar Alfred, o mesmo ja se aproximava arrastando consigo um carrinho metálico com dois andares cheios de comida.

— Sally ficou tão feliz com a noticia que, acredito eu, quis alimentar todos os Weasley. — disse Alfred como um velho amigo que sentia liberdade em fazer brincadeiras. — Não sei se ja tinham algo em mente para pedir, mas ela fez questão de fazer o seu melhor prato. Espero que aproveitem.

Havia no prato um arroz perfeitamente branco e simetricamente posicionado como se fosse parte do prato. Ao lado, um tornedor de filé-mignon com molho madeira e batatas recheadas com queijo e presunto de parma que fez a boca de Hermione salivar. A salada vinha em um recipiente separado e era tão vivamente colorida que poderia ser dada de presente como flores.

— Ah, e isso é um presente nosso. Meu e de Sally. — Alfred colocou entre os pratos uma bela garrafa de vinho e a abriu, servindo Ron e Hermione.

— Uau! — exclamou Hermione. — Muito obrigada, Alfred.

— Disponha, senhorita. — Alfred fez uma reverencia com a cabeça para Hermione. — Espero que aproveitem bem o jantar.

E se afastou.

— Ele é sempre cordial assim? — perguntou Hermione.

— Com todos. Mas somos amigos a muito tempo. Você precisa conhecer a Sally. Ela é quase uma mãe.

— Vejo que foi bem cuidado em Londres.

— Eu tive muita sorte. Conheci pessoas maravilhosas — sorriu Ron. — E continuo tendo.

— Desde que essa sorte não coloque outras mulheres na sua vida, eu fico feliz. — sorriu Hermione deboxada.

— Estou me sentindo empolgado. Nunca tive um encontro. — disse Ron de maneira divertida. Seu sorriso era de um garoto de 14 anos que conseguira um encontro a sós com a garota dos sonhos. — Quer dizer, não com uma garota que eu gostasse de verdade. O que as pessoas fazem em um primeiro encontro?

— Eu... Não sei. — respondeu Hermione. Nunca tivera um encontro. Não como os de filmes, não com alguém como Ron. — Meus encontros com Vitor costumavam ser na bibli...

Ron ergueu uma de suas mãos no ar como quem pedia para que Hermione parasse de falar.

— Estritamente proibido a pronuncia do nome do búlgaro nojento enquanto estivermos à mesa. É uma falta de respeito com a comida. Na verdade vamos ampliar essa proibição a qualquer momento da nossa vida.

Hermione soltou o riso pelo nariz enquanto sentia o tornedor de filé-mignon se desfazer em sua boca, tão macio quanto um algodão doce, mas não fez menção de questionar o pedido de Ron.

— Sei onde quero te levar. — disse Ron mudando o foco do assunto. Mas antes que Hermione pudesse lhe perguntar qualquer coisa, ele continuou. — Não vou te contar, saberá quando chegar lá.

— Mistério demais para quem, até alguns minutos atrás, mal sabia como se portar em um primeiro encontro.

Ron não respondeu, apenas lançou um sorriso para Hermione que fez com que ela se questionasse se Ron realmente tivera a ideia de ultima hora ou se já não tinha nada preparado desde o inicio. Ron não deixava brecha em suas feições, apenas terminava os últimos goles de seu vinho enquanto comia suas batatas rechadas rapidamente, sem pausa para mastigação.

— Não vai mesmo me contar? — Perguntou Hermione quando já estavam dentro do carro.

— Não seja ansiosa. — Respondeu Ron sem tirar os olhos da direção.

Hermione olhava pela janela do passageiro. A noite, apesar de fria, tinha um céu estrelado e quase sem nuvens. Muito raro de se ver em Londres. Ela voltou seu olhar novamente para Ron.

— Não é ansiedade. Eu só... Gosto de saber as coisas.

— Então não seja controladora. Não saberá dessa vez. Apenas confie em mim. — Ele virou-se rapidamente apenas para sorrir para ela e logo voltou seu olhar para a rua novamente.

Hermione ligou o radio para distrair seus pensamentos e nada mais disse durante o percurso. Vez ou outra, quando paravam em algum farol, Ron segurava sua mão ou apenas mexia em alguma mecha de seus cabelos para logo voltar as mãos novamente ao volante.

O percurso foi mais rápido do que Hermione imaginou, mas quando olhou para o lado de fora do carro, não teve certeza se realmente haviam chegado. Ela virou-se para perguntar a Ron, mas antes que pudesse ele já abrira a porta do carro e saiu, deixando em seu lugar apenas a corrente de ar que entrara enquanto ele saia.