Juntos pelo acaso.
A amizade vira algo mais.
— Você e o papai brigaram? – perguntou Hugo durante o café da manhã. Seria difícil mentir para ele já que Ron não falava com Hermione desde a noite passada e mal se sentara pra tomar seu café da manhã.
— Não, querido. – mentiu ela. – O papai só está um pouco irritado com o trabalho.
Hugo continuou a comer o seu cereal de chocolate mergulhado em uma vasilha de iogurte de morango.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Acho que papai não gosta do seu amigo – disse o menino pouco tempo depois.
— Ele disse isso? – perguntou Hermione. Hugo não a encarava, estava mais interessado no brinquedo surpresa que ganhara dentro da caixa de cereais.
— Não. – ele respondeu. – Mas eu ouvi quando ele disse que o nariz do seu amigo era tão grande e torto que virava a rua de casa antes dele.
Hugo era incrivelmente esperto e observador para uma criança de 5 anos. Hermione deixou soltar uma risada, mas se recompôs em seguida. Hugo não podia achar que esse tipo de comentário era engraçado.
— Não dê ouvidos ao seu pai, ele as vezes fala demais. Termine o seu cereal.
Durante toda manhã, Ron não falara com Hermione. Voltou a evita-la como na outra vez e não porque estava com raiva, e sim porque estava envergonhado. Ele precisava pensar. Sabia que estava sendo ridículo. Ele sabia que alguma coisa nele em relação a Hermione havia mudado. Agora até sentia falta dela, mesmo sabendo que ela a alguns cômodos de distância. Ele pensava em Vitor e se lembrava de quando Gina lhe disse que um dia, um cara com mais coragem do que ele, se aproximaria de Hermione. E se a irmã estivesse certa? Ela parecia estar. Ele respirou fundo e esfregou as mãos no rosto como se quisesse limpar sua mente de pensamentos ruins. Ele iria falar com Hermione e pediria desculpas. Se Gina estava certa sobre os sentimentos dele por Hermione, brigar com ela só a levaria em direção a Vitor. Ele fez uma careta em reprovação ao próprio pensamento.
Ron se distraiu dos seus pensamentos quando Hugo entrou descontente na sala.
— O que foi, filhão? – pergunta quando o filho se senta ao seu lado.
— Era muito mais legal quando vocês dois eram amigos. – disse o menino de braços cruzados. Ron sabia que o filho se referia a ele e Hermione.
— Nós ainda somos amigos. – disse Ron.
— Não são não. Agora vocês são dois chatos. Por que não fazem as pazes?
— Você é muito jovem pra meter nos problemas dos adulto.
— Mas eu estou com fome. – disse o menino fazendo uma cara triste. Ron deu risada. Todos sempre diziam que Hugo era parecido com ele, mas ele adorava quando ele mesmo enxergava a semelhança.
— Você tem razão, campeão. – Ron deu um beijo na testa do filho.
♥
Hermione ouviu duas batidas em sua porta enquanto tentava focar sua atenção em seu livro. Ela sabia quem era e, mesmo sem ela ter autorizado a entrada, pode ver a cabeça de Ron aparecer pela porta entreaberta.
— Posso? – perguntou ele. Ela apenas assentiu e ele entrou.
Ron caminhou pelo quarto dela por um tempo como se fosse um turista antes de falar alguma coisa. Ela já pensava em lhe perguntar quando ele falou.
— Sei que já tenho pedido isso muitas vezes esses últimos dias, mas... Sera que tem espaço pra mais um pedido de desculpas?
Ela aprendeu a detestar brigar com Ron, mas detestava mais ainda não conseguir sentir raiva dele por muito tempo. Ela queria dizer a ele que ele foi grosseiro e imaturo com ela e ela sentia raiva disso. Deveria dizer que ele não tinha o direito de se meter na vida dela e que ele precisava pagar por ter sido tão egoísta e injusto. Mas aquela situação toda a incomodava.
— Eu não consigo te entender Ron. Você é um cara legal e engraçado, mas as vezes age como um babaca. Não faça essa cara. – repreendeu ela ao ver que ele torcia o nariz.
— Ta eu sei. Me desculpe, acho que isso é por conta do trabalho e...
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Não, não é não Ron – cortou ela cruzando os braços na frente do corpo. – O que está acontecendo com você?
— Eu não sei. – disse ele se sentando na beira da cama de Hermione. Ele tomou o travesseiro dela nas mãos e começou a aperta-lo só para ter o que fazer e não precisar manter contato visual com ela.
— Você sabe sim. – ela insistiu.
Ele hesitou por um instante.
— Talvez eu saiba. – disse por fim. – Mas não é algo que eu queira conversar agora. Eu... preciso de um tempo pra isso.
— Esta bem.
— Desculpado? – perguntou agora encarando-a.
— Não adianta me pedir desculpas se for ficar estranho comigo daqui dois dias.
— Eu prometo que não vou ficar. – ele estendeu o dedo mindinho para ela como se quisesse selar a promessa e ela sorriu.
— Ta né. – disse selando a promessa.
Ele já se levantara para se retirar do quarto de Hermione, mas antes de sair voltou-se para ela novamente.
— Hugo e eu iremos assistir a maratona de O rei leão no Disney Channel e temos uma vaga sobrando no sofá. – brincou ele. – Quer assistir com a gente?
Hermione riu.
— Eu não perderia o retorno de Simba por nada. Desço em um minuto.
Ron sorriu para ela e saiu.
♥
— Pronto, Filhão. Nossa tarde de O rei leão está a salvo. – disse Ron para Hugo quando viu Hermione entrar na sala algum tempo depois. – Convenci Hermione a assistir com a gente e agora já temos alguém para fazer a pipoca.
Hermione jogou uma almofada que acertou a cabeça de Ron.
— Você é um interesseiro, Ronald. Farei só para nós dois, Hugo.
— Bom, mas quem é que comprou o milho para estourar? –perguntou com ar de triunfo.
— Ótimo, coma o milho se quiser. Mas farei pipoca para mim e Hugo apenas. Que tal pipoca doce, querido? – perguntou Hermione para Hugo.
— Você se tornou um ser humano horrível, Hermione.
Ela riu e Hugo ficou feliz por eles terem feito as pazes. Ron ajudou Hermione fazendo lanches enquanto ela fazia pipoca e foram para a sala quando o filme começou.
♥
Nala nem teve tempo de encontrar Simba quando Ron sentiu um peso sair em seu ombro. Estava na segunda metade do filme e a cabeça de Hermione caíra acidentalmente sobre os ombros de Ron, adormecida. Ele virou-se lentamente para olha-la e viu que Hugo também pegara no sono no colo dela. Deu um sorriso abafado. Belas companhias, pensou ele.
Apoiou a cabeça de Hermione em uma de duas mãos e tentou se levantar lentamente sem acorda-la. Colocou uma almofada no lugar onde ele estava sentado antes, deitou a cabeça de Hermione com cuidado no travesseiro e cobriu Hugo e ela com a manta que deixava no sofá. Ele achou que ela iria acordar quando a viu fazer uma careta, mas percebeu que era por causa de uma mecha de cabelo que caíra desleixada sobre o rosto dela, fazendo o nariz dela coçar. Ele então afastou delicadamente a mecha do rosto de Hermione e a prendeu por trás da orelha dela deixando seu rosto a mostra. Ele ficou olhando o rosto dela por um longo tempo, ou talvez nem tao longo assim, ele não estava perdendo tempo contado. Tampouco controlou o seus pensamentos que o levou para um mundo onde Hermione não morava com eles por conta de um trabalho. Onde ela não estava ali só pra cuidar de Hugo e onde a estadia dela não tinha de prazo de validade. Ele nunca gostou de pensar em vê-la ir embora e isso não mudou, mas agora ele queria que ela ficasse alí não por Hugo, mas por ele também. Ele se pegou sorrindo para ela e brincou com a mecha do cabelo dela mais de uma vez.
— Eu to ferrado. – disse ele para si mesmo.
— Papai? - ele não viu quando Hugo acordara. Olhou surpreso para o filho se perguntando se ele acordara a muito tempo. Esperava que tivesse sido exatamente naquele momento. Antes que pudesse perguntar, ouviu o som da campainha.
— Aish! – exclamou Ron ao abrir a porta.
— Hermioni-ni estarr?
— Não tem nenhuma Hermioni-ni aqui nao. – disse imitando a voz de Vitor.
Vitor fez uma cara de poucos amigos para Ron, mas não precisou esperar muito, pois logo pode ver a cabeça de uma Hermione sonolenta, e que acordara com o barulho, atrás de Ron.
— Vitor. – Ron ouviu a voz de Hermione atras de si e revirou os olhos quando viu um sorriso de triunfo no rosto de Vitor. – meu Deus, que horas são? Eu me esqueci. Volto em um segundo.
Ron a viu correr para o andar de cima e continuou parado e debruçado no batente da porta como se quisesse impedir vitor de entrar. Ele não ia permitir que Vitor o fizesse se irritar com ela. Não gostava da ideia, mas ia fingir que aquilo não o afetava.
Hermione de fato não demorou e logo estava parada ao lado de Ron. Ela não era do tipo que exagerava com maquiagens ou perdia horas alisando o cabelo. Ela era rápida e não precisava fazer nada para estar linda. Ron percebeu que estava sorrindo para ela de novo quando Vitor soltou um pigarro.
— Eu não demoro. – disse ela para Ron. Ele desejou que não demorasse.
— Eu vou estar acordado. E você – disse voltando-se para Vitor. – Vê se não sai por ai andando feito um louco naquela coisa. – Ron apontou para a moto.
Antes que eles partissem, Ron deu um beijo na testa de Hermione para se despedir, deixando-a surpresa, e devolveu o sorriso de triunfo para Vitor. Se aquilo era uma espécie de disputa, ele queria que Vitor soubesse que ele acabara de entrar no jogo.
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