Separate Ways - Requiem

Caçada na interestadual, part II


Assim que saímos do sanatório, eu pude ver o Impala estacionado logo a frente do prédio, e atrás dele estava outro carro preto. Bobby gesticulava e revirava os olhos para um homem negro, de aparentes quarenta anos de idade.

– Eu acho que você comprou a carteira – dizia ele de forma sarcástica enquanto nos aproximávamos.

– Ora, vejam o que o gato trouxe para casa – falou Dean sorridente, cumprimentando-o sem tirar o braço da minha volta.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– É muito bom ver você, Rufus – se pronunciou Sam, apertando a mão do mesmo de uma maneira informal. Então aquele era o caçador amigo de Bobby, o famoso Rufus Turner.

– É muita coragem cuidar deste miserável infeliz vocês dois sozinhos – debochou gesticulando para o velho Singer e então voltou os olhos para mim – E você deve ser a Esther.

– Sou sim, é um prazer Rufus, Bobby fala bastante de você – disse apertando sua mão.

– Ah ele fala é? Ele é apaixonado por mim – o caçador revirou os olhos num tom irônico.

– É assim tão óbvio? – devolveu Sam com um sorriso divertido.

– Por que vocês não vão se ferrar? – comentou Bobby num tom ranzinza. – Eu encontrei esse idiota quando visitei a fábrica mais cedo por causa do atirador.

– Que atirador? – questionou o Winchester caçula.

– Um cara surtou e entrou numa fábrica empunhando um rifle de caça e matando todo mundo hoje mais cedo – esclareceu ele.

– Você não sabe, pois estava aqui, mas nós demos uma geral por aí – começou Dean, gesticulando com os dedos ao redor – Falamos com o caminhoneiro que amassou os miolos da esposa e ele disse não se lembrar de nada do que aconteceu. Na delegacia eu consegui ter acesso aos vídeos do posto de gasolina e adivinha só? Uma garota esteve com ele mais cedo, uma garota bem estranha, diga-se de passagem.

– Acha que isso tem a ver com essa tal mãe de não sei quem? – perguntou Rufus franzindo a testa.

– É um bom palpite – ponderou Sam, alisando o queixo – Podemos falar com o atirador?

– Claro, mas acho que ele não vai falar com você. Levou oito tiros da polícia – esclareceu o Winchester mais velho.

– E no necrotério nós descobrimos uma substância nojenta nos canais auditivos dele, como aquilo que fica no rastro de lesmas. Só que verde e mais denso – acrescentou Bobby, fazendo com que meu estômago se embrulhasse.

– E isso encaixa exatamente com o que você viu – falou Sam, me fitando de lado com a expressão séria.

– Viu? – indagou Rufus, arqueando uma sobrancelha com curiosidade. Os irmãos se entreolharam por um instante antes de responder,

– Esther é meio que... Paranormal – revelou o loiro. Mordi o lábio, receosa de que ele não acreditasse de primeira. A verdade é que eu estava longe de ser apenas paranormal, eu era uma abominação ambulante, e entendia perfeitamente o porquê deles não contarem os reais fatos: Rufus era um caçador, e o que um caçador faria ao dar de cara com a possível chave da cela do capeta? Acho que a resposta não era nada agradável.

– O que você viu? – questionou Bobby com uma nota de nervosismo na voz.

– Um verme de aproximadamente trinta centímetros, verde e nojento – contei, passando os olhos por todos, e até mesmo Sam e Dean que já sabiam ainda não conseguiam esconder a perplexidade em suas expressões.

– Temos uma possessão por monstro? E isso é possível? – perguntou Rufus alterando a voz de surpresa. Algumas pessoas que passavam na calçada olharam com uma cara confusa, fazendo com que Dean gesticulasse pedindo silêncio.

– Vamos conversar em outro lugar – indicou o loiro.

– O último lugar onde aconteceu foi na fábrica, acho que devíamos passar lá – sugeriu Bobby, recebendo alguns olhares de dúvida.

– Certo, nos encontramos lá então – assentiu o Winchester mais velho e puxou as chaves do Impala, apontando para que Sam e eu entrássemos. Abri a porta e engatinhei pelo banco de trás, esperando os irmãos entrarem e se ajeitarem. Rufus e Bobby passaram por nós buzinando e o loiro buzinou de volta, movimentando o carro para a estrada.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Se é a mamãe grande, ou seja lá quem for, nós teremos que acabar com ela. Vamos fazer o que se esbarrarmos na coisa feia, jogar sal ou rezar? – indagou Dean sarcástico.

– Nós vamos virar e correr, porque não sabemos nada – respondi com um grunhido de irritação.

– Eu acho que é melhor investigá-la antes de irmos para cima dela – sentenciou Sam enquanto o veículo parava numa sinaleira. – Dean, você acha seguro levar a Esther para lá? – refletiu o moreno.

– É mais seguro do que deixar ela sozinha – o irmão deu de ombros, ajeitando as mãos na direção. Eu me recostei no banco, encarando o teto e sentindo minha cabeça latejar.

– Mas não podemos arriscar a vida dela. E se algo sair errado?

– Então você sugere o quê? Deixar ela com o Cass? – o loiro bufou com escárnio – Eles vão se matar em menos de cinco minutos, você viu o que aconteceu antes e...

– Gente, eu estou aqui. Eu estou ouvindo! – interrompi alto o suficiente para cessar a discussão. Dean me fitou pelo retrovisor com os olhos baixos.

– Desculpe, eu não queria lembrar... Você sabe. – murmurou e ficamos alguns segundos em silêncio. Fechei os olhos, não querendo levar nada a níveis de discussão. Aquilo ainda era muito recente e eu não estava conseguindo absorver totalmente. Como se percebesse isso, o Winchester mais velho então se virou para o irmão – Vamos olhar o local, está bem? Nós tomamos conta dela e se algo sair do controle um de nós dois tira Esther de lá imediatamente.

Em poucos minutos chegamos à frente da fábrica de conservas Starlight. O prédio era grande, com paredes vermelhas e janelas brancas, isolado com fitas de contenção e bem em frente a um porto de barcos de turismo. Segundo os rapazes, esse era o lugar onde o atirador havia enlouquecido, e também era onde o caminhoneiro trabalhava, mas nada ligava Margareth a essa fábrica, então não havia um ponto de conexão entre as vítimas.

Assim que o Impala desacelerou, eu pude ver o carro de Rufus estacionando logo atrás do mesmo. Descemos e os irmãos começaram a escavar o porta malas atrás de armas, sal, água benta e tudo mais que cabia dentro da bolsa. Sam pegou três lanternas, estendendo uma para mim e se voltando para Bobby.

– Todos prontos?

– Como o Herbie na pista de largada – respondeu Rufus fazendo referência ao fusca de corrida dos filmes, e então fitou minhas mãos por um momento – Não acha que devia dar uma arma para ela?

– Não é necessário, só estamos indo dar uma olhada – esclareceu Dean, olhando para Bobby e Sam instintivamente. – Além do mais, ela não sabe atirar.

– Você me ensinou a atirar – arqueei uma sobrancelha, o encarando de lado.

– Ainda não pegou o jeito – rebateu o loiro, fechando o porta malas e seguindo para a entrada da fábrica – Vamos.

Logo que entramos, pude perceber o quão escuro era lá dentro. Sem a ajuda da lanterna, eu mal enxergaria um palmo na frente do meu nariz. Havia mesas de metal pelo caminho, grandes colunas e fiações de eletricidade expostas no teto. Dean caminhava logo à frente, seguido de perto por mim e Sam, e logo atrás estavam Bobby e Rufus, se bicando a cada dois minutos. Subimos no elevador de carga até o segundo andar, onde haviam enormes caixas amontoadas, algumas em cima de empilhadeiras velhas.

Assim que dobramos o primeiro corredor, era possível ouvir um barulho de passos. Dean parou bruscamente, me fazendo esbarrar nas suas costas, rapidamente o loiro empunhou a arma por cima da lanterna em direção a uma porta de metal azul. De dentro dela saiu uma garota de cabelos ondulados na altura dos ombros, e logo que percebeu a nossa presença ela mirou a arma que carregava dependurada em frente ao corpo com um susto.

– Gwen? – indagou o Winchester mais velho, colocando a luz da lanterna no rosto da garota.

– Dean? – perguntou ela, apertando os olhos. Olhei pela porta azul e logo notei que dava para uma espécie de sala, e lá dentro eu reconheci Samuel. Eu não havia mais visto ele desde o incidente com Crowley, e como os irmãos não falavam nele, achei até que estivesse morto. Assim que percebeu a presença do homem, Dean se lançou na entrada, escancarando-a com violência e marchando em direção a ele.

– Bem vindo à próxima vez! – exclamou engatilhando a arma e mirando na cabeça do mesmo.

– Não, espera! – gritamos Sam e eu em uníssono, nos colocando em frente ao loiro para que não fizesse nenhuma besteira. O moreno o segurou fazendo com que o irmão abaixasse o revólver.

– Eu disse que o mataria! – protestou trincando os dentes

– Calma, só um segundo! – pediu o Winchester caçula. Todos na sala encaravam a cena, e Samuel permanecia calado. Um silêncio denso e mortal preencheu a atmosfera.

– Eu vejo que já se conhecem – constatou Rufus.

– Ele é nosso avô – revelou Dean inexpressivo.

– Ah, acho que alguém precisa de um abraço então...

– Por que está aqui? – perguntou Bobby seriamente.

– Trabalho, e vocês? – respondeu Samuel calmamente, ainda olhando de soslaio para o neto que estava furioso a sua frente.

– Não é da sua conta! – vociferou o Winchester mais velho.

– Sam, leve o Dean para dar uma volta – pediu Bobby.

– Só pode tá de brincadeira comigo... — rosnou o loiro.

– Olha, Dean, tá tudo bem – disse Sam pacientemente.

– Eu não acho isso – retrucou dando uma longa encarada em Samuel e então se virou para a porta, saindo pela mesma junto com o moreno.

– Então você é Samuel Campbell? – questionou Bobby.

– E você é o cara que finge ser pai deles – devolveu.

– Alguém precisa ser – retrucou o velho Singer, apertando os olhos.

– Sam, você está bem – continuou Samuel, assim que o Winchester caçula entrou novamente na sala.

– Sem papo furado comigo, ok? – interrompeu gesticulando com a mão em frente ao corpo.

– Você está diferente – continuou o velho calmamente, olhando com curiosidade para o neto.

– Eu recuperei minha alma, mas não graças a você, eu soube.

– Soube? Você não lembra? – enfatizou.

– Lembro o bastante – murmurou o moreno friamente.

– Eu odeio interromper o círculo do amor, mas... – começou Rufus, se voltando para Samuel – Que tal falarmos do caso agora? Nos diga o que estamos caçando.

– Criatura do purgatório, ela se intitula Eve – respondeu depois de uma pausa, andando pela sala e sentando-se em cima da mesa com o pé apoiado numa cadeira próxima.

Eve? – repeti para ter certeza.

– Mas eles a chamam de mãe – explicou – Ela viveu aqui há dez mil anos, e cada monstrengo que anda no planeta Terra é descendente dela.

– E como você sabe tudo isso? – perguntou Bobby, surpreso.

– Você não sabe metade das coisas que eu sei – disse Samuel com arrogância – Até pouco tempo nem sabia de nós.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Eu sei que você mandou seus netos para ghouls famintos no covil do Crowley, eu sei o bastante.

– Como é? – questionei surpresa, deixando meu tom subir algumas oitavas.

– Enquanto você estava presa na sala do Crowley, Samuel mandou que trancassem o Dean num quarto com ghouls, criaturas que se alimentam de carne humana. – esclareceu Sam, me fazendo olhar com descrença para o velho Campbell.

– Você o quê? – indagou Gwen, incrédula logo ao meu lado.

– Dean mentiu para eles – se defendeu Samuel.

– Por que não pergunta para ele? – sugeriu Bobby.

– É, boa ideia – murmurou a garota e saiu pela porta. Dei uma última olhada para o homem e segui a mesma até o corredor, não conseguindo mais permanecer ali depois de saber o que o Campbell havia feito. Dean estava de costas perto das caixas amontoadas, mas logo se virou com a mão no revólver ao ouvir os passos apressados de Gwen.

– Dean, é verdade? – ela parou bruscamente, encarando-o.

– O quê? – o loiro apertou os olhos.

– Que Samuel tentou...

– Me matar? – interrompeu, caminhando até a garota com uma careta de irritação – É verdade, ele nem pestanejou.

– Ele não me disse nada sobre isso, eu não sabia – murmurou Gwen.

– Esse é o cara com quem você anda – rosnou o Winchester.

– Você não tem culpa, você não sabia – falei calmamente, me virando para ela. – Não é, Dean? – indaguei e o loiro deu de ombros. Então ele ficou inexpressivo e começou a me encarar fixamente.

– Dean? – chamei, dando uma rápida olhada para Gwen que percebeu que havia algo errado. Dei alguns passos em sua direção, me colocando entre ele e a garota.

– Esther, tem uma coisa que eu preciso dizer para você. – falou baixo, me fazendo franzir a testa.

– O quê? – mal tive tempo de terminar a pergunta e percebi ele puxar a arma e engatilhar na minha direção. Num reflexo rápido eu me agachei e ouvi o tiro atingir algo atrás de mim. Ainda com os ouvidos zunindo procurei o Winchester rapidamente, a tempo de vê-lo sair correndo e desaparecer pelo corredor. Olhei ao redor e notei que Gwen estava caída no chão, com uma mancha vermelha no centro do peito, a mesma agonizava, respirando rápido e com dificuldade. Rastejei até ela, colocando as mãos sob o ferimento, a fim de cessar a hemorragia.

– Ei Gwen, Gwen... – chamei-a tentando fazer com que ficasse lúcida. Minha cabeça estava um turbilhão, Dean havia tentado me matar e aquilo não parecia lógico.

– O que aconteceu? – perguntou Samuel aparecendo seguido por Sam, Bobby e Rufus.

– O Dean, ele tentou atirar em mim e acabou acertando ela – revelei sentindo minhas mãos ficarem molhadas pelo sangue quente da garota.

– Veja se consegue estancar o sangramento – ordenou Rufus ao velho Singer, enquanto me puxava para o lado e começava a fazer massagem cardíaca nela. Sam me deu uma breve olhada e então foi em direção ao corredor escuro por onde Dean havia desaparecido. Observei o caçador tentar reanimar Gwen durante quase dez minutos, enquanto chamava seu nome como se ela pudesse ouvir. Sentei-me apoiada contra a parede, fitando o sangue em minhas mãos e sabendo que aquele tiro era para mim, não para ela.

– Ela se foi – constatou Bobby se virando para o Samuel, com a expressão pesada – Eu lamento, se é que você liga.

– Dane-se você, eu me importo – devolveu o homem com desgosto. Sam apareceu no fundo do corredor, andando com passos largos. Em algumas passadas o moreno chegou até nós, ofegante, e fitou o cadáver inerte no chão.

– Onde está o Dean? – perguntou Rufus.

– Não achei. Aquela coisa que pegou aqueles caras deve ter pegado ele também – respondeu rapidamente, olhando dos caçadores para mim de uma modo trágico e preocupado – Você está bem?

– Estou, e Sam está certo – disse me voltando para Samuel – Não era o Dean, ele nunca tentaria me matar.

– Não esteja tão certa disso – murmurou o homem com os olhos vagos. O Winchester caçula tirou um pano do bolso da jaqueta e estendeu para mim, me ajudando a levantar do chão. Limpei as mãos da melhor forma que pude e mesmo assim minha pele ainda ficou num tom avermelhado.

– Rufus, ajude o Campbell a levá-la para outro lugar, nós vamos lacrar isto aqui. – Bobby gesticulou para o corpo de Gwen esfriando no chão – Precisamos achar o Dean antes que ele nos ache.

– E nós vamos achá-lo vivo, Samuel. Ou eu meto uma bala na sua cabeça – prometeu Sam com determinação.

Os caçadores pegaram diversas correntes e tábuas para lacrar as portas e janelas do lugar, mas não antes de me deixarem trancada, com três votos unânimes, na sala do segundo andar. Andei de um lado para o outro, nervosa quanto ao desaparecimento de Dean e ainda incrédula quanto ao fato dele ter atirado em mim.

– Eu não estou no clima! Um verme de trinta centímetros acabou de sair do meu ouvido! – pude ouvir a voz do Winchester mais velho enquanto avançava em direção a porta e a escancarava.

– O quê? - indagou Sam, entrando pela mesma em seguida e com a arma nas mãos.

– Você ouviu! Eu acordei no chão em tempo de ver aquele verme rastejar para fora da droga do meu ouvido e entrar no duto. – exclamou confuso e irritado – Então me diga o que está havendo!

– Você tentou matar a Esther e acabou acertando a Gwen, é o que está havendo – respondeu Samuel, se colocando em frente à mesa e apontando a arma para o loiro.

– Nós estávamos conversando no corredor... E é só o que eu me lembro. – Dean me fitou com os olhos baixos e a expressão repleta de dúvida logo ficou constrangida – Esther?

– Não era você – assegurei.

– E se a coisa ainda estiver dentro dele? – continuou o velho Campbell, botando lenha na fogueira.

– Não está! – latiu trincando os dentes.

– Cheque seu ouvido – pediu Bobby seriamente.

– Que mané checar? Checar para quê? – perguntou Dean, sem perceber que Rufus se aproximava devagar pelas suas costas, colocando os dedos dentro do seu ouvido rapidamente - Ei! Qual é?! Tem que me pagar um bebida antes...

– Positivo, é a mesma coisa nojenta que estava no cadáver do atirador – revelou o caçador analisando os dedos e limpando-os na camisa.

– E como vamos saber que não está aí ainda? – insistiu Samuel.

– Não está, droga! – rosnou o loiro, e então o velho Campbell engatilhou a arma.

– Como eu vou ter certeza? – questionou. Marchei entre o circulo que havia se formado em volta de Dean, parando a sua frente e encarando o homem com a arma quase no meu rosto.

– Vai ter que confiar na gente – proferi com determinação – Não é, Sam?

– É isso aí – concordou o moreno com o revólver apontado para Samuel – Tente alguma coisa e você morre antes de apertar esse gatilho.

– Tudo bem, todos entreguem as armas – disse Bobby, ficando entre nós e estendendo uma sacola velha de pano.

– Pense bem nisso antes, Bobby – falou Rufus, nada feliz em ter de entregar sua metralhadora semi- automática.

– Estou pensando. Não sabemos quem foi e quem tem um verme dentro da cabeça... – começou o velho Singer, mas foi interrompido.

– Não está em mim! – exclamou Dean nervoso.

– Eu não disse que estava. – falou calmamente e então continuou – A questão é que não sabemos quem foi. Pode ter sido qualquer um de nós, então o melhor que podemos fazer é dificultar para a coisa detonar nossas cabeças. – Bobby encarou cada um individualmente e então todos começaram a abaixar suas armas lentamente. Ele pegou o revólver que tinha nas mãos e o balançou no ar, colocando-o dentro da sacola e estendendo-a no meio dos caçadores. Os irmãos também largaram os objetos, seguidos por Rufus. O único que estava relutante era Samuel.

– Está esperando um convite impresso, Campbell? – ironizou o velho Singer, recebendo um olhar feio enquanto o homem se desfazia da arma. Imediatamente Bobby amarrou a sacola e a colocou dentro de um armário da sala, passando um cadeado na porta.

– Tudo bem, nós precisamos tomar fôlego, pensar num plano. – começou novamente – Eu vou fazer umas ligações, ver se alguém ouviu falar de alguma coisa assim.

– Eu também – disse Rufus, pegando o celular do bolso e teclando os números – Eu tenho alguns contatos.

Ficamos sentados por minutos, enquanto os caçadores andavam para lá e para cá com seus telefones nas mãos. Dean tinha os pés por cima da mesa e encarava Samuel fixamente, ele não estava nada conformado com o fato de lidar com a presença do avô que os traiu. E vê-lo daquela maneira tão ameaçadora me causava certo medo, digo, era um lado dele que eu não estava muito habituada a ver. Quando o velho Campbell se levantou em direção à porta, foi imediatamente barrado por Sam, que estava tão instigado quanto Dean.

– Relaxe, eu só vou ir ao banheiro. Então se não quiser segurar para mim... – ironizou o homem, e o moreno deu um passo para trás, abrindo espaço para ele passar. Assim que Samuel saiu pela porta, o Winchester mais velho levantou, olhando para o irmão e então os dois foram atrás. Eu sabia que aquilo não ia resultar em boa coisa, mas pelo lado bom, eles não estavam armados então seria mais difícil para se matarem.

– Eu tenho um caminhão cheio de abobrinhas – disse Bobby, desligando o aparelho com um grunhido.

– Nada para mim também. – concordou Rufus – Ligou para o Willie?

– É claro, acha que eu sou idiota? – indagou o velho Singer sarcástico como sempre.

– E para o Rog?

– Não quis falar comigo – murmurou com pesar.

– É, nem comigo – o caçador bufou, guardando o celular dentro do bolso do casaco. Levantei da cadeira e sentei no canto da mesa, cruzando os braços, impaciente quanto à demora dos rapazes. Eu queria ajudar com alguma ideia mirabolante sobre como capturar o monstro, mas eu sabia que isso não aconteceria, eu estava mais para um peso morto aqui.

– Certo, plano B. – falou Bobby andando até ficar de frente para Rufus – Vamos pegar logo a coisa. – sugeriu nervoso.

– E depois fazer o quê? – questionou o caçador, arqueando uma sobrancelha.

– Ora, ou nós ficamos parados ou partimos para cima com tudo.

– Como em Omaha? – perguntou inexpressivo. Fazendo o velho Singer ficar em silêncio e o encarar com descrença.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Quer saber? Dane-se você por lembrar de Omaha – disse rabugento, balançando a cabeça para os lados – Que baixaria. – murmurou e foi de encontro ao outro lado da sala. Uma curiosidade me invadiu, mas eu acho que o que quer que tenha acontecido em Omaha, não foi nada bom e nenhum dos dois iria falar sobre o assunto. De repente um ruído me tirou das minhas constatações, ecoando contra as paredes. Fitei as expressões dos caçadores que passaram de ranzinzas para alarmadas em menos de um segundo. Eu fui a primeira a correr pela porta e logo encontrei Dean e Sam disparando atrás de uma silhueta que desaparecia pelo escuro.

– Eu ouvi um tiro! – gritei.

– Samuel! – respondeu Dean.

– Bobby, acho que vou querer minha arma de volta – falou Rufus com certo pânico.

– Você acha? – retrucou o velho Singer, enquanto os dois corriam novamente para a sala onde estávamos segundos antes. Rapidamente eles quebraram o cadeado e despejaram o conteúdo em cima da mesa.

– Não se sinta mal, era um bom plano. – dizia o caçador enquanto trocava a munição da metralhadora semi automática – A não ser pelo fato de que um monstro não entregaria suas armas.

– Cale a boca – chiou o velho Singer, e então pegou a arma de Samuel e estendeu para mim – Se ele vier para cima, não hesite, atire – advertiu. Peguei o objeto frio e guardei atrás da calça, tampando-o com a camiseta.

– Nós o perdemos – anunciou Dean entrando pela porta com uma carranca.

– Qual o plano? – perguntou Sam, enquanto os dois pegavam seus respectivos revólveres.

– Ficamos juntos e rastreamos a coisa. – falou o loiro – Quem topa?

Procuramos pelo segundo andar inteiro e então descemos pelo elevador de carga até o primeiro. Dean ia a frente com a lanterna, e logo ao meu lado estava Sam, atento a qualquer movimento. Estava escuro e havia vários fios grossos espalhados pelo caminho, o que me fazia constantemente enroscar os pés e tropeçar.

Ouvimos um barulho de metal colidindo com o chão e então ficamos imóveis, o Winchester mais velho contornou o grupo, indo em direção ao ruído e de repente a pouca luz do local se apagou por completo. Uma porta de aço correu entre nós, separando Sam e eu do resto do grupo.

– Dean! – gritamos eu e o moreno em uníssono.

– Sam! Esther! – o loiro batia contra a barreira, fazendo ruídos altos enquanto o Winchester caçula a forçava para o lado – Droga!

– Nós vamos dar a volta! – disse Sam, desistindo ao ver que não haveria como abrir a porta.

– Ok, mas toma cuidado.

– Acha que ele está com o verme? – perguntei enquanto seguia o moreno de perto pelo corredor escuro.

– Samuel tentou atirar na gente, com certeza deve estar – afirmou balançando a cabeça.

– E se a gente encontrar ele você vai... – engoli em seco, não conseguindo terminar a frase.

– Estou tentando não pensar nisso enquanto não chegar à hora – falou Sam, me olhando com uma careta desconfortável. Caminhamos por alguns corredores, seguindo a pouca luz que entrava pelas janelas e indicava a frente do prédio, ao mesmo tempo em que procurávamos Samuel, parte de mim desejava que nós não o encontrássemos. Se caso ele realmente estivesse possuído pelo verme, nós teríamos que matá-lo, e eu não queria que fosse Sam ou Dean a fazer isso. Sabe, apesar de tudo, eles eram da mesma família.

Dobramos uma parede, andando quase encostados nela, O Winchester mantinha passos ritmados, mas de repente ele parou, me fazendo dar de encontro as suas costas.

– O que houve?

– Acho que eu ouvi um barulho – disse o moreno, me fitando brevemente – Espere aqui – pediu enquanto ia por uma entrada. Observei ao redor e um arrepio me percorreu a espinha, nem a pau eu ia ficar aqui sozinha. Fui atrás dele, e entrei numa espécie de caldeira, com várias tubulações grandes de aço.

Não se mexa – falou uma voz atrás de mim, que eu logo reconheci como sendo a de Samuel, droga. Fiquei imóvel ao sentir o cano da arma nas minhas costas, e em menos de três segundos Sam apareceu na minha frente, com o revólver em punho.

– Jogue a arma no chão – ordenou o Winchester ao avô.

– Você não está em condições de fazer exigências aqui – o velho Campbell deu uma risada fraca.

– Esther não tem nada a ver com isso, solta ela ou eu juro que...

– O que vai fazer, filho? Não vai atirar em mim. – disparou o homem – Recuperou sua alma, vai matar alguém da sua família?

– Não vem com essa de família, tenta outra coisa! – vociferou.

– Mary ainda é minha filha... – falou calmamente, passando o braço pelo meu pescoço e contornando a arma até a minha garganta. Controlei a respiração que começava a ficar mais ofegante devido a adrenalina, eu tinha que pensar rápido. Deslizei a mão vagarosamente para as minhas costas, de modo que ele não percebesse o meu movimento.

– Solta ela – repetiu o Winchester, trincando os dentes.

– E você ainda tem o meu nome – continuou, afirmando mais o cano contra a minha pele. Segurei meu revólver, fechando os olhos e torcendo para que Samuel não percebesse.

– Eu mandei soltar!

– Você devia ouvir seu neto, não é legal ameaçar pessoas com armas – falei num tom sarcástico, o que fez o homem apertar mais o braço em volta de mim.

– Calada – ordenou e se voltou para o moreno novamente. – Parece que é o nosso momento, Sam. Ainda quer saber o que você fez quando estava sem alma? Você está doido para saber, não está?

– Que comecem os contos do vovô Campbell – ironizei, tentando distraí-lo mais.

– Você está começando a me irritar – rosnou o velho no meu ouvido, no exato momento em que eu engatilhei a arma contra o meu quadril.

– É, estou – respondeu Sam, calmamente, e eu percebi que ele havia entendido o que eu estava tentando fazer.

– Você matou tanta gente, filho, de um jeito tão frio que até um demônio ficaria surpreso. E não foram um ou dois, foram dezenas de pessoas inocentes – começou, com uma satisfação implícita na voz – Teve uma garota num bar que estava sendo mantida como refém, o monstro a fez de escudo e você simplesmente atirou contra ela para acertá-lo.

– Sam, é mentira – disse vendo a expressão de pavor dele. Samuel me sacudiu, prestes a gritar alguma coisa novamente e então eu me esquivei, acertando uma cotovelada contra seu rosto. Joguei-me para o lado e disparei a arma na direção dele, mirando baixo e acertando sua coxa. O homem grunhiu de dor e ajeitou o revólver para mim, fiquei estática no segundo que ele engatilhou, e no outro Samuel já estava no chão, morto e com os olhos abertos.

Pisquei para processar o que havia acontecido e percebi que o Winchester caçula havia atirado no velho Campbell, bem no meio da testa.

– Sam! – Dean chegou correndo na sala da caldeira, e então parou bruscamente ao ver o homem.

– Ah, graças a Deus! – Bobby chega logo atrás e então vê o corpo estendido no chão, então olha para mim e para Sam – Larguem as armas, os dois.

Franzi a testa, mas assenti, me abaixando lentamente e colocando o revólver aos meus pés. O moreno fez o mesmo e então levantou as mãos.

– Calma, sou eu.

– Tudo bem, que bom, Sam. – começou Rufus, tirando alguns lacres de plástico do bolso – Só vamos algemar vocês até termos certeza. Entendem isso, não é? – falou calmamente, prendendo os braços dele e vindo até mim.

– Está dentro dele – afirmou o Winchester caçula.

– Tem certeza? – perguntou Bobby, fitando o corpo com dúvida.

– Tenho, eu acho – sibilou com os olhos baixos.

– Você viu alguma coisa saindo dele? Depois que ele caiu? – perguntou Rufus, lacrando as minhas mãos. Sam não respondeu, e nem eu. De fato ficamos tão atônitos que não notamos nada de anormal rastejar para fora.

Voltamos à sala, Dean e Rufus colocaram Samuel sobre a mesa e Bobby começou a inspecionar seu ouvido minuciosamente com um pedaço de pano enrolado num graveto fino. O Winchester mais velho estava recostado contra a parede, de braços cruzados, observando a cena. E o irmão estava andando para os lados, tentando disfarçar a preocupação. O velho Singer analisou o graveto e olhou com seriedade para nós.

– Nada.

– Quer dizer que ele não era um monstro quando eu o matei? – indagou Sam com uma careta culpada.

– Só tem um jeito de saber. Bobby, você tem uma serra de crânio no carro? – perguntou Rufus num tom curioso. Arqueei as sobrancelhas.

– O que vocês vão fazer? – disparei.

– Não é óbvio? – o caçador revirou os olhos.

– Acho que tenho, eu vou lá buscar – disse indo em direção a porta.

– Eu vou com você e aí já tentamos religar essas luzes – avisou Rufus e então se voltou para nós – E se alguma coisa rastejar para fora dele, vocês pisem nela. – ordenou e então eles saíram. Sentei numa cadeira e encarei o teto por longos segundos, até Dean quebrar o silêncio momentâneo.

– Você fez a coisa certa – começou.

– Claro. Se a coisa estiver nele e eu for eu. – falou o moreno com uma expressão angustiada – Ela está brincando de pique esconde com a gente.

– Eu vou presumir que você é você – o loiro arqueou as sobrancelhas – Além do mais, foi necessário.

– Quer tirar isso aqui da gente então? – questionou Sam, se virando de costas e mostrando os lacres nas mãos.

– Ah... – Dean coçou a cabeça e então apontou para o cadáver – Não até tirarmos aquela coisa do crânio dele.

– Eu sei lá, eu quase não me lembro dele. E quando lembro... Não é bom. – falou o Winchester caçula, observando o corpo – Eu odeio o que ele fez com a gente, mas...

– Tem um "mas"? – indagou Dean, contornando a mesa e vindo se sentar ao meu lado, com as mãos juntas próximas aos joelhos.

– Eu não posso deixar de pensar "O que a mãe diria?"

– Sabe o que a mãe diria? – o loiro apertou os olhos – Que ter o mesmo sangue não faz ninguém ser da família, você tem que merecer.

– É uma ótima frase – comentei, fazendo-o virar a cabeça para me encarar.

– E eu te devo desculpas, sabe... Por tentar matar você – murmurou.

– Não era você, então não comece, Winchester – dei de ombros, num tom repreensivo. Dean deu uma risada fraca e então as luzes se acenderam, me fazendo fechar os olhos por um momento. Logo Rufus e Bobby entraram pela porta e colocaram uma bolsa velha no chão.

– Certo, vamos brincar de operação – começou o caçador, enquanto tirava uma serra caindo aos pedaços e desenrolava o fio.

– Vocês não querem dar uma volta? – sugeriu Bobby.

– Não, estamos bem – recusou o Winchester mais velho, balançando a cabeça levemente.

– Nós estamos prestes a abrir a cachola do seu avô. – protestou o velho Singer – E eu também não quero que a Esther vomite aqui, vão dar uma volta vocês três.

Dean me deu uma olhada breve e então levantou da cadeira, indo em direção a porta, Sam o seguiu e eu fui logo atrás. Paramos no corredor, em silêncio, e depois de um tempo um barulho alto veio da sala. Corremos de volta a tempo de ver Samuel derrubar a mesa e arrancar uma perna da mesma, usando a madeira para trancar a entrada com um sorriso sádico no rosto. Deixei meu queixo cair, o que era isso? Um apocalipse zumbi?

Imediatamente Dean puxou uma faca e passou a lâmina pelo lacre que prendia Sam, em seguida fez o mesmo comigo. O moreno me afastou para o lado enquanto eles tentavam derrubar a porta. Lá dentro Rufus e o velho Campbell lutavam com socos, mas, o agora zumbi, parecia terrivelmente mais forte e acabou jogando o caçador contra o armário. Ele foi em direção a Bobby, que o pegou pela camiseta e o desequilibrou, jogando Samuel contra a coluna onde estava ligada a serra de crânio. O corpo cai e é eletrocutado, no mesmo instante que um verme verde sai do seu ouvido. Dean e Sam conseguiram arrombar a porta com um chute em dupla e correram até os caçadores que estavam caídos.

– Bobby! Bobby! – o moreno amparou o velho Singer, sacudindo-o.

– Rufus! – chamou o loiro, fazendo o homem se sobressaltar e levantar rapidamente do chão – Ei, você está bem?

– Isso aqui não pode ser o meu pós-vida, pois vocês quatro ainda estão aqui – constatou Rufus, olhando ao redor – O que aconteceu?

– Quando saímos, ele estava bem morto na mesa – comentei atônita, apontando para o corpo sentado contra a coluna.

– Só que não estava – disse Bobby, levantando também.

– Então como ele morreu duas vezes? – questionou Sam.

– Bobby o jogou contra aquilo, fio desencapado – Dean apontou a serra de crânio que ainda soltava algumas faíscas – Deu curto e ele torrou. E a coisa rastejou para fora do ouvido dele.

– Pelo menos nós sabemos o que a atinge: Eletricidade – afirmei.

– Agora a questão é: Para onde ela foi? – indagou o Winchester caçula.

– Ou a coisa fugiu, ou está num de vocês – averiguou o loiro, apontando para os caçadores.

– Ou num de vocês – rebateu Rufus, gesticulando para nós.

– Não, estávamos acordados – negou o Winchester mais velho, balançando a cabeça negativamente.

– E ficaram de olho um no outro?

– Claro.

– Cem por centro do tempo? – duvidou o caçador, fazendo nós nos entreolharmos brevemente.

– Defina cem por cento – mordi o lábio.

– Como eu disse.

– Que tal procurarmos a gosma? – sugeriu Sam, formamos um círculo e todos nós colocamos os dedos nos ouvidos. Retirei os indicadores, dando um suspiro de alívio ao ver que não havia nenhuma meleca ali.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Nada – constatei.

– Deve ter ido embora – falou Bobby, olhando ao redor.

– Ou foi esperta e apagou a trilha – disse Dean, fitando o chão a procura de algum rastro.

– Certo, vamos resolver isso. Cem por cento – disparou Sam, nos encarando com uma expressão séria.

– Como? – indagou Rufus. O moreno marchou até a coluna e retirou a serra da tomada, rapidamente desencapando melhor a ponta do fio e religando-a.

– Isso não é o que eu acho é, né? – perguntei alarmada.

– É o único jeito de sabermos – devolveu o Winchester caçula, encostando a ponta numa cadeira de metal, o fio faiscou com um barulho de choque.

– Tudo bem, primeiro ele – falou colocando o objeto na nuca de Samuel. O corpo enrijeceu-se, tremendo enquanto a voltagem elétrica passava por ele.

– Ok, eu não sou médico, mas vou declarar a morte desse infeliz aqui – comentou Rufus, inclinando-se sob os joelhos para fitar melhor o cadáver inerte.

– Quem vai primeiro? – questionou Sam.

– Vamos – Dean deu um passo à frente, retirando uma manga do casaco e mostrando o braço.

– Tem certeza?

– Rápido antes que eu mude de ide... – ele trincou os dentes quando o irmão o interrompeu, encostando o fio contra sua pele por alguns segundos – Filho da mãe! – vociferou o loiro, curvando-se de dor.

– Isso é mesmo necessário? – indaguei com receio.

– Sam, você quer que eu... – começou o loiro, voltando-se para o irmão. Mas o mesmo eletrocuta o próprio braço, retorcendo o rosto – Ok.

– Me dá – Dean pegou o fio da mão do moreno e olhou para mim.

– Ah, droga – chiei engolindo em seco, então dei um passo a frente e coloquei o braço perto dele – Vai. – ele encostou a ponta na minha pele, e era como se aquilo soltasse uma onda que ia queimando meu corpo e deixando-o estático. Segurei por dois segundos e me afastei, passando a mão por cima para tentar amenizar a dor.

– Boa garota – elogiou o Winchester mais velho com um sorriso divertido.

– Vai pro inferno – xinguei baixinho.

– Agora é sua vez, Rufus – avisou Dean, se aproximando do caçador.

– Não. Desculpe, desculpe, eu...

– Deixa de gracinha, vai.

– Eu uso marca-passo, seu idiota – disse irritado.

– Reze para ele ser muito bom – falou o loiro com sarcasmo.

– Desde quando você usa marca-passo? – perguntou Bobby.

– Desde o colégio, primeiro ano. Perdi três dedos também. – contou Rufus, e então olhou a expressão impaciente de Dean – Ah, vamos logo com isso. – disse estendendo o braço e desviando o olhar. O Winchester mais velho o eletrocuta e em seguida o caçador desvia.

– Ah droga! – exclamou dando alguns pulinhos e passando a mão várias vezes pelo local.

– Você está bem? – questionou o loiro arqueando uma sobrancelha.

– Vá para o inferno! Me dá isso! – chiou pegando o fio da mão do Winchester e olhando para Bobby.

– Tá legal, agora é a minha vez. – anunciou o velho Singer – A coisa não está em mim, então ande logo com isso.

– Está certo – concordou Rufus, se aproximando.

– Claro.

– Vamos ser rápidos – disse o caçador, e eu notei que Bobby dava pequenos passos para trás, enquanto mantinha as mãos nas costas.

– Tudo bem. – assentiu o velho Singer.

– Não se mexa – Rufus aproximou o fio do braço dele, e o mesmo esquivou rapidamente.

– Só um segundo – pediu.

– Só um segundo nada, seja lá o que você for – o caçador apertou os olhos.

– Eu sou o Bobby – falou calmamente.

– Bobby uma ova – exclamou Rufus. O velho Singer tirou as mãos das costas, e nelas ele segurava uma faca que cravou sem pestanejar no coração do caçador, que caiu para trás. Sam segurou o corpo e o colocou no chão, tão pasmo quanto Dean e eu. Rapidamente eles cercaram Bobby, que a primeira coisa que fez foi retirar o fio da tomada.

– Nós somos dois contra você – lembrou o Winchester caçula. Ele olhou para os lados e então avançou na minha direção, mirando a faca contra meu peito. Coloquei as mãos em frente ao corpo, sentindo a ponta do objeto perfurar e deslizar pelo meu pulso, sendo desviada para o lado de repente. Sam o segura por trás e Dean se joga em cima dele, nocauteando-o com um soco certeiro.

Joguei-me contra a parede, apertando o corte fundo com os dedos, enquanto os irmãos colocavam Bobby numa cadeira. O Winchester mais velho corre até o armário e joga dois rolos de fita adesiva para o Winchester caçula, que começa a passar em volta do corpo do caçador, prendendo-o no móvel.

– Droga – murmurou o loiro ao fitar meu pulso, que gotejava sangue sem parar.

– O que faremos? – perguntei alarmada, encarando o velho Singer desacordado.

– Vamos tirar isso dele, mas primeiro precisamos interrogar essa coisa – falou Dean, rasgando um pedaço da camiseta e vindo na minha direção. Ele amarrou várias vezes ao redor do meu pulso, dando um nó apertado – Isso deve parar a hemorragia por algum tempo.

– Obrigada – agradeci, observando com receio que o pano já começava a encharcar.

– Sam, se alguma coisa sair daí você pisa em cima. Ouviu bem?! – exclamou, se virando para o irmão que acabava de prender Bobby à cadeira – Eu vou lacrar essa sala, e esse herpes maldito me paga – rosnou Dean, pegando mais um rolo de fita no armário.