Ao acordar pela manhã, Fatinha percebeu o que tinha acontecido na madrugada mais longa da sua existência. Pela primeira vez, ela pensou apenas nela e esqueceu dos outros. Esqueceu de Ana, esqueceu de Rafael, que sempre foi tão fiel aos sentimentos que nutria pela moça e que já havia deixado claro que esperaria o tempo que fosse preciso por uma chance, esqueceu das expectativas da comadre Ju sobre um possível relacionamento da médica e do seu irmão, esqueceu que o dia seguinte chegaria e que com ele viria decisões que poderiam doer demais!

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Bruno continuava a dormir tranquilamente ao seu lado, como se o que eles tivessem feito, fosse algo da rotina deles, da rotina de um casal que se ama há muito tempo e que estão acostumados a viver nos braços um do outro!
Despertou a tempo de ver Fatinha se esgueirando até a porta. A ficha dele então caiu sobre o que tinha acontecido. Como fui capaz de me deixar levar? Como fui capaz de trair a Ana? As coisas não deveriam ter acontecido desse jeito. Nenhuma das duas merece isso.

— Onde você vai, Maria de Fátima? - Bruno perguntou com a voz rouca, evidenciando que tinha acabado de acordar.

— Vou para o meu apartamento, Bruno! Já fizemos muitas besteiras essa noite. - A moça lutava contras as lágrimas que já se formavam. - Fomos irresponsáveis, bebemos demais e não deveríamos ter feito nada do que fizemos. Você tem a Ana e eu tenho o Rafael, ninguém precisa saber do erro que cometemos. - Ela sabia tudo o que ele ia dizer. Para Fatinha era mais fácil mentir, do que ouvir da boca de Bruno que a melhor noite da sua vida, havia sido um erro. Eles poderiam usar o fato de terem bebido para justificar a noite, porém ambos lembravam de cada detalhe.

— Nós precisamos conversar, Fatinha! - Bruno já estava com raiva. Ele tentava falar, mas a médica sempre o interrompia.

— E não se preocupe, pois não pretendo contar a ninguém sobre o que aconteceu. E espero que você também não conte. - O rapaz ao ouvir aquelas palavras ficou ainda mais raivoso. Ele queria machuca-lá, assim como ela estava o machucando. Ele queria que ela sentisse algo.

— Quer saber? Você tem razão! Foi exatamente o que disse: um erro! - Nessa altura, Fatinha já não conseguia controlar as lágrimas. - Qual é? Você sempre quis ficar comigo não é? Espero que eu tenha saído do seu sistema, porque do meu você já saiu. E não se preocupe! Não vou contar ao doutorzinho. E espero que não conte nada a Ana também. Pretendo me casar com ela e você estragaria tudo.

A última coisa que Fatinha se lembrava era da porta do quarto de Bruno batendo com força. Ela nunca o havia visto com tanta raiva. Será que dormir comigo é algo tão repugnante assim?, ela pensou. As palavras ditas por ele martelavam na sua cabeça. Será que eu me precipitei ao falar que foi um erro? Será que ele diria o contrário? Não, Maria de Fátima! Ele falaria exatamente isso! ERRO! Ele nunca olhou para você com outros olhos! Ele se deixou levar! Foi a bebida, que causou isso tudo. Ele ama a Ana, ele vai se casar com ela. E você é só a melhor amiga, ou bem, era!, a moça repetia mentalmente.

No apartamento ao lado, Bruno parecia querer destruir tudo que havia pela frente. Como ela pode achar que a noite havia sido um erro? E as indiretas da Ju? E as suas indiretas?
Ele já não sabia o que pensar, mas no fim, um pensamento errado surgiu em sua cabeça: Ela deve amar o doutorzinho, só queria uma noite comigo pra ter certeza de que eu não passo de um amor adolescente.

Por quanto tempo duas pessoas podem se enganar tanto?

(...)