No computador do trabalho, Bella deixou de lado todas as configurações complexas que tinha de fazer para a nova apresentação da equipe de seu setor e digitou em seu site de pesquisas favorito: Vasco da Gama. Depois de navegar pelos mares e aprender um pouco mais sobre o trágico descobrimento do Brasil, ela enfim encontrou matérias sobre o tal clube de futebol. Depois de ler sobre campeonatos e taças, e outras modalidades de esporte, e tudo que envolvia o clube, já se considerava uma expert. Saiu no horário de costume para ir buscar Mike na “The Selection”.

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Mike vinha na direção do carro com as chuteiras penduradas no ombro numa conversa animada com três colegas e também o treinador. Isabella esticou o corpo e desencostou da porta do carro, ainda de braços cruzados. “Por que será que eu achava que ele não apareceria hoje?

– Olá.

– Olá. – Isabella respondeu, pegando a mochila da mão de Mike. – Mike, vai tomar aquele sorvete que vocês gostam enquanto eu tenho uma conversinha com seu treinador.

Mike fechou a cara.

– Não quero...

– Vai lá, artilheiro, e traz um pra mim, também. – Edward falou em português com o menino - Sua tia ficou me devendo uma sobremesa. – Essa última frase disse olhando para Isabella e ergueu o canto da boca num meio sorriso atrevido.

Mike riu com a boca fechada e puxou o cartão da mão de Isabella chamando os colegas para ir junto com ele.

– O que você disse a ele?

– Que você ficou me devendo uma sobremesa.

– Rá. Muito engraçado. – Isabella corou.

Edward sorriu de lado e enfiou as mãos nos bolsos de sua calça de tactel. Hoje era verde escura. Usava um casaco de moletom da Adidas, com o zíper até a metade, deixando à mostra sua camisa branca escrito treinador. Seu usual boné virado para trás, que o deixava com ar de garotão, e óculos escuros de aro arredondado. O rosto perfeitamente barbeado como na noite anterior.

Isabella se pegou analisando o corpo de Edward e quando seus olhos chegaram a altura dos dele, ela se virou lembrando em tempo do blazer que estava no banco do carona.

– Muito obrigada. – ela esticou o blazer para ele e ele o pegou ainda prendendo um sorriso. – Agora, quanto a essa história de levar o Mike para o Brasil, pode parando de encher a cabeça dele com essas coisas.

Edward ficou sério.

– Isabella, eu pretendia conversar sobre isso com você, ontem. Mas...

Mas nada! Você não pode alimentar sonhos que não podem ser realizados!

– Por que não? O garoto é bom! Tem apenas 14 anos e já joga como profissional. Ele sonha em jogar na seleção e ele pode realizar seu sonho, sim.

– Que ele jogue na seleção dos Estados Unidos, então!

– Ele tem dupla nacionalidade, Bella...

– Não me diga você o que meu fi... meu... – a palavra “filho” sempre vinha primeiro que “sobrinho”, ela não conseguia evitar. – o que o Mike pode ou não fazer. Eu o crio desde meus 12 anos! Você não vai me dizer o que é ou não melhor para ele. – Isabella terminou de falar e cruzou os braços de volta no peito.

– Só estava dizendo que...

– Além do mais, teríamos que ter dinheiro para hospedagem, pagar um intérprete...

– Não seria preciso nada disso. Eu seria o intérprete e ele ficaria no meu apartamento no Rio de Janeiro.

Isabella abriu a boca e depois fechou. Por essa ela não esperava. Não tinha calculado que Edward iria junto.

– Você iria com ele?

– Sim. – Edward enrolou o blazer desajeitadamente no braço. – Faz tempo que não vou ao Brasil. Falei com um amigo meu que agora é o olheiro do São Januário. São Januário é...

– A sede do tal Vasco da Gama. Tá, pode pular essa parte.

Edward ergueu as sobrancelhas surpreso. Olhou para o lado para soltar um sorriso e continuou.

– Então. Eles estão selecionando para o juniores e eu sei que o Mike tem todo o perfil que ele procura. Ele só precisa ver o menino jogar. O teste vai ser no dia 19 de setembro, a gente teria que viajar uns dias antes para o Mike poder treinar com os outros meninos, eu consigo isso lá e viríamos embora no sábado pela manhã.

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– Você sabe que o Mike não poderia ficar nesse clube.

– Sim. Mas vai ser televisionado. Imagina a porcentagem de chance que vai aumentar pro garoto conseguir algo aqui, em Nova Iorque. Um time do Rio, reconhecido mundialmente. Ele poderia chamar atenção até dos consagrados times europeus. É uma grande chance. De âmbito internacional. Só achei que...

– Ele merece isso. – Isabella completou olhando para o sobrinho que vinha descendo a rua, voltando com os colegas. O cabelo loiro ao vento, os últimos reflexos do sol de fim de tarde realçando o brilho de seus olhos azuis e o sorriso fraco enquanto observa-a de volta.

– Se você não confia em mim, poderia mandar alguém de confiança junto. Um parente, um primo, um tio... – Edward argumentava.

– Espera um pouco. – Isabella com seu raciocínio lógico e rápido, parou para calcular os dias. – Você disse dia 19?

– Isso. – Edward observou seu rabo de cavalo balançar enquanto ela se sacudia.

– E eu preciso do seu carro para depois de amanhã.

Edward levantou as mãos.

– Não, não, não! Nem pense nisso. Eu já disse. Não vou emprestar meu carro.

– Ela está te assaltando, treinador? – Mike perguntou parando do lado oposto do carro de Isabella.

– Não. Eu estou fazendo uma proposta pra ele.

Mike chupou a colherzinha que tomava o resto do sorvete e olhou de um para o outro.

– Não é uma proposta muito justa, não acha? - Edward falou quase entre dentes.

– Por que, não?

– Que proposta é essa? – Mike se interessou.

– Eu estou propondo ao seu treinador que me empreste o carro dele em troca de eu arranjar alguém de confiança para ir com vocês ao Brasil. – Isabella se recostou no carro encarando Edward com ar de vitoriosa.

Mike fez uma expressão de felicidade quando se lembrou de que era pura ilusão. A discussão com sua avó era justamente porque não havia ninguém que pudesse ir com eles para o Brasil. Ele arqueou os ombros.

– Boa tentativa. – Mike falou com desânimo abrindo a porta do carona.

– E quem iria? – Edward não podia achar que ela estivesse blefando apenas para conseguir o carro emprestado. Isso seria desespero demais, até para uma nerd viciada em HQ.

– Eu.

Mike que já estava quase se sentando no banco, voltou num pulo para olhar incrédulo para Isabella.

– Duvido! Você odeia o Brasil! Odeia tudo que se relacione ao Brasil. Comida, nomes, música. Quase jogou fora minha bandeira da seleção só de implicância! Agora vem dizer isso? – Mike era uma mistura de raiva, incredulidade e esperança.

Tanto Isabella quanto Edward ficaram boquiabertos olhando para o menino. Edward passou a mão na cabeça raspada e fechou os olhos. “Droga, e eu achando que tinha dado um tiro certeiro levando-a a um restaurante brasileiro!”.

Isabella sentiu seus olhos marejarem por não poder contar a verdade completa da história que esconderam de Mike por esses últimos 13 anos.

– Mas eu... Eu faria isso, por você.

Mike quis perguntar, mas não verbalizou, a pergunta ficou no ar “Faria mesmo?”. E então os dois olharam para Edward. Ele jamais emprestaria o carro dele. A não ser...

– Treinador, se ela vai fazer um sacrifício, o senhor também pode fazer um.

– Mas, Mike...

– O senhor não disse que ia passar o fim de semana vendo filme e comendo pipoca, sozinho?

Isabella, sem saber por que, sentiu o rosto queimar. A ideia de imaginar que Edward não tivesse namorada, ou esposa, ainda não tinha lhe passado pela cabeça.

– Então. O senhor não precisa emprestar o carro, você pode levá-la!