The Reaper

No Apartamento


Não consigo me lembrar desde quando eu tenho esses contatos com a Morte. Vejamos, eu tinha 13 anos quando matei os meus pais num surto psicótico de abstinência. Sim, eu cheirava. Quando a Criatura levou Anne e a minha avó, eu tinha 23. Por lógica, Ela tem que me ver este ano, já que completei 33. Preciso vê-La, preciso enchê-La de perguntas, preciso...

- Em quê está pensando, Éric?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Ah, Helena – Sorri – Você me assustou.

- Desculpe-me se sou tão monstruosa.

- Não é nada disso, sua boba.

Envolvi a cintura da garota e a abracei, “atacando” seu pescoço logo em seguida. Não, foi com três anos. É isso! No enterro do meu bisavô, aquele vulto que ficou me fitando o tempo todo. Droga, Morte! Desde quando você quer algo de mim?

- Éric? – Helena se soltou dos meus braços – Você sequer está me ouvindo! Não percebe que estou com medo!?

- Ahn? Me desculpe. O que dizia?

- Acabou a luz, seu bastardo.

- É, acontece quando cai uma tempestade dessas.

- Não, sua besta! Não está ouvindo?

O rádio está ligado? Não, não é possível... Ou é? Claro, é Ela! Bastou uma olhada pela janela para conferir, e lá estava ela, estacionada. Nunca entendi porque uma picape e não um carro mais discreto, mas esta não é a melhor hora para pensar nisso.

“Convide-me para entrar, Éric. Mate a garota, chame por mim”, dizia a voz do rádio, calma, hipnótica. Helena apertou meu braço, com medo que eu seguisse a sugestão – que era, de fato, muito convidativa. “Vamos, garoto. Tu não vais me decepcionar como fizeram os outros”, que outros? “Eu sei que tu queres me convidar para entrar. Vamos, vá até a cozinha, apanhe uma faca e crave-a no peito branco da jovem Helena.”

- Éric! – Helena parecia afobada – Não dê ouvidos a ela!

A garota foi até o rádio e o jogou no chão. Não satisfeita com o ato, arrancou-o da tomada e o jogou pela sacada. Por quê? Bastou pisar naquele chão encharcado que Helena escorregou, caindo em cima da picape cor de asfalto.

- Que pena, eu gostaria de ter tido um verdadeiro motivo para pisar aqui, em tua residência.

- Não bate mais na porta?

- Ah, da última vez, tu não me recebeste bem. Que diferença faz?

- Tenho perguntas para te fazer e você não sai daqui sem me responder!

- Desde quando tu achas que manda em mim, senhor Landon? – A Morte soltou um riso de deboche – Tu vais entender quando for a hora, rapaz. Não seja afobado, ou vais acabar como tua amiga.

- Helena era minha melhor amiga! Por que ela!?

- Lá vem tu e teus por quês. Já te expliquei, rapaz, eu tenho planos para tu.

- Que tipo de planos? Matar todos os meu queridos!?

- Peço-te para que abaixe o volume de tua voz, para que possamos falar no mesmo tom.

Como eu queria poder revidar essa frase, mas realmente não havia motivos para eu gritar.

- Ótimo, agora que tu te acalmaste, peço-te que escutes uma nova canção.

- Qual?

- Não se preocupe em localizá-la, a música vira até você.

- Por que isso soa como uma despedida?

- Porque é. Já passei tempo demais com tu. Boa noite, Éric Landon.

Da mesma maneira que aquela Coisa entrou na sala, Ela sumiu. A luz voltou e a TV anunciava o suicídio de uma jovem estudante universitária, Helena Sober, que estava sozinha em casa. Desliguei a TV e comecei a me lembrar o que eu estava fazendo lá.

Helena era minha aluna, minha amiga, minha parceira de atividades na horizontal. Ela havia me ligado algumas horas antes, dizendo que estava com medo, que a televisão estava a assustando com notícias de seu suicídio. Sim, eu fui correndo para lá, pensando que a Besta iria vista-la, que Ela queria que eu estivesse junto, como se... Como se estivesse me vigiando a cada 10 anos.

Corri para o carro, a fim de ouvir o rádio, mas nada. Com a tempestade, só pude ouvir os chiados.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

De repente, a raiva tomou conta de mim. Sai do carro, chutei todas as lixeiras que encontrei e ainda soquei um mendigo. Voltei ao apartamento de Helena, peguei todo o dinheiro que achei, e começar a quebrar tudo que podia. No fim, eu estava sentado em meio a destroços, quando a polícia e a ambulância chegaram.

Corri pela escadaria e entrei no meu carro, rumo minha casa. Minha outra casa, em Los Angeles.