Blood Curse
Cohiba Robusto
Ele, com a boca entreaberta, recuou um passo. De todos os interesses que Rain poderia vir a querer para com ele, aliar-se à sua organização seria o último que passaria por sua mente. Ela mexeu no longo cabelo escuro com a mão que não estava estendida e deu um leve sorriso vitorioso. Os olhos cinzas dele brilharam àquela cena, ainda que ele estivesse mais surpreso do que desejava estar.
– Castiel?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Ele piscou. Ouvi-la novamente pronunciar o nome dele com sua voz doce parecia surreal depois de tantos meses de distância. O ruivo engoliu em seco.
– Não tenho certeza se aceitar seria a melhor escolha.
A morena franziu o cenho por meio segundo antes de retrair a mão estendida.
– E desde quando você pensa qual a melhor escolha antes de agir?
Castiel olhou para o chão e permitiu que seus lábios se curvassem em um sorriso. Rain sorriu sem sentir.
– Você tem razão, mas, ainda assim... – O ruivo ergueu seus olhos cinzentos aos azuis dela e os encarou – O que você quer com isso?
Rain sustentou o olhar por alguns segundos, mas logo o desviou.
– Preciso que venha a um lugar comigo, mas não posso revela-lo sem antes poder confiar em você. As marcas, no entanto, são símbolo de confiança para quem faz parte da organização.
– Certo. – Ele se aproximou – Deixe-me mudar minha pergunta: por que eu?
– Foi a primeira pessoa que pensei fora Noir e Nina. – Ela deu de ombros – Não fiz muita seleção.
– Por que não eles?
– Não quero colocar Nina em perigo e ordenei que Noir fosse embora. Sem mais explicações.
Castiel ergueu as sobrancelhas: por que ela havia mandado Noir partir? O ruivo chegou-se ainda mais para perto de Rain, o suficiente para que suas madeixas tocassem as bochechas da garota.
– Fui mesmo o primeiro em que você pensou? – Ele sussurrou e, levando a mão direita ao maxilar da morena, deslizou o seu polegar sobre a pele macia dela. Rain, por sua vez, recuou. – Kentin, não é? – O garoto ergueu o tom de voz – Você ama mesmo a ele? O que aconteceu com a gente?
– Com a gente? – Perplexa, a morena se afastou – Você está brincando, certo?
– Deveria?
– Com certeza. – Ela apertou os olhos antes de suspirar – Você está apenas me enrolando.
Rain incitou a sair, mas Castiel a segurou pelo pulso e a virou em um único movimento para a sua direção.
– Não seja impaciente! – Ele a apertou levemente – Não importa o que seja, eu vou, e você sabe disso. Faço qualquer coisa para te ter de volta.
– Você não vai me ter de volta apenas concordando com isso.
– Digamos que a esperança é a última que morre. – Ele sorriu malicioso – E eu não desisto fácil.
Foi a vez da morena sorrir maliciosamente.
– Então com certeza você vai adorar minha primeira ordem.
– Ordem? – Ele franziu o cenho.
– Sim. Desde a morte de Viktor, eu sou a líder da organização, então você me obedece. – Ela se aproximou – Você é o meu escravo agora, e nós não estamos mais fingindo.
O ruivo expirou.
– Eu não...
– E como primeira ordem – Ela o interrompeu – Tire suas roupas e vá para a cama. – Rain segurava o riso – Irei fazer as suas marcas.
***
Kentin sentou-se impaciente na cadeira de couro giratória e fitou o homem em sua frente: o diretor, que aparentava estar perto da casa dos trinta e usava um terno cinza que combinava com seu cabelo castanho partido ao meio, fumava um charuto Cohiba Robusto.
– Não vou me prolongar. – Uma tragada interrompeu a voz áspera do homem – Já estou a par do que está acontecendo.
– Está? – O moreno ficou levemente boquiaberto.
– Você sabe o que acontece com membros que deixam seus protegidos morrerem, garoto?
Kentin engoliu em seco.
– São expulsos da Caninus.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Exatamente. O que me incomoda é saber que você estava me procurando mesmo quando sua carta de expulsão já estava pronta para ser enviada.
– Há uma razão para tudo isso ter acontecido. – O moreno ajeitou-se desconfortavelmente na cadeira.
O homem tragou mais uma vez.
– Eu sei, embora eu não esteja aqui para ouvir explicações. Quando eu estava pronto para enviar a sua carta, recebi uma outra. Deveras interessante, se me permite dizer.
– Uma carta? – Kentin franziu o cenho.
– Sim, do mais novo rei dos vampiros. Claro que estranhei, uma vez que o diálogo nunca foi comum entre nossas raças, porém, nessa carta, o rei me explica todo o ocorrido.
O moreno deixou-se cair na cadeira. Aquilo havia sido realmente inesperado.
– É verdade que ele entregou o quadro pertencente aos vampiros para vocês? – O homem prosseguiu.
Kentin apenas assentiu. O diretor suspirou.
– Creio que devo entregar o nosso também. Acredito que a segurança do mundo valha muito mais que uma pintura que não nos vale mais de nada se os vampiros não possuem mais a sua.
O garoto soltou o ar que não sabia que prendia em um suspiro de alívio. O homem musculoso se levantou da sua poltrona de couro marrom escuro e andou na direção de um pequeno quadro que estava atrás de si. Ele o entregou para Kentin e voltou a sentar novamente em sua poltrona.
– Espero que façam melhor uso disso do que pendurar em uma parede. – O diretor tragou o charuto novamente – E quanto à sua expulsão... – Ele suspirou – Não se preocupe com isso. É uma situação especial que requere medidas especiais. Daremos a chance de você passar novamente pela cerimônia da escolha da sua protegida: a marca de ligação é um dos requisitos mínimos para fazer parte da Caninus, afinal de contas. Apenas salve o mundo e demostre que é bom o suficiente para receber uma segunda chance da Caninus.
O moreno ergueu seus olhos esverdeados para o homem em sua frente e sorriu.
– Obrigado. – Respondeu simplesmente.
O diretor se permitiu sorrir, e deu uma tragada pela última vez.
***
O som das botas de ambos contra o chão pedregoso umedecido que ecoava pelos corredores extensos e mal iluminados era o único que Lysandre e Nina conseguiam ouvir. Depois de muito andar, o barulho da cachoeira havia se tornado praticamente nulo, o que significava que talvez Leigh estivesse, pela primeira vez desde a queda de Lúcifer, mais perto do que longe do garoto de olhos heterocromáticos.
Ou talvez não. Lysandre realmente não conhecia aquele percurso, e tudo o que lhe restava era seguir Nina que, poucos passos mais a frente, andava de forma decidida e aparentemente um pouco incomoda. As lâmpadas falharam por meio segundo, mas não havia sido a primeira vez que aquilo acontecera.
Desde que os dois começaram a andar pelos corredores, as luzes falhavam a cada três minutos. Algo muito longe de ser normal, segundo Nina. A perca de força da luz significava grande perda de magia do local.
Lysandre mantinha seu olhar fixo em Nina. Os corredores haviam se tornado todos praticamente iguais após tanto andar, e observa-la era a sua única opção. Ela era incrivelmente pequena em relação a ele, embora extremamente poderosa. Não havia o que discutir: ela era metade anjo, metade hibrida de vampiro com licantrope. Era, no mínimo, curioso. Mesmo presa em um corpo de catorze anos, Nina era mais velha que Castiel e tinha a mesma idade que a escola Sweet Amoris.
Ouviu-se um som extremamente baixo. Nina parou bruscamente, o que levou Lysandre a despertar de seus devaneios.
– Algum problema? – Indagou o garoto.
– Não acho que seja Iris quem está aqui. – Ela apertou os dentes – Apenas prepare-se para qualquer coisa.
Lysandre franziu o cenho.
– O que poderia acontecer conosco?
As luzes falharam mais uma vez. Desta vez, definitivamente. Uma escuridão absoluta tomou conta dos corredores, cegando o garoto. Nina praguejou.
– Ok, não se assuste. – Avisou Nina.
– Me assustar com...
Antes mesmo que Lysandre pudesse terminar sua frase, ele interrompeu-se ao fato extraordinário que estava acontecendo com Nina: seus cabelos loiros, ao entrarem em contato com a escuridão total, despertaram a brilhar tão dourado quanto o ouro mais puro.
Sim, Nina era apenas extremamente interessante.
– Seu cabelo brilha no escuro?! – Lysandre soou abismado.
– Não. – Ela respondeu, simplesmente.
Lysandre se viu obrigado a franzir o cenho mais uma vez.
– Então...
Nina interrompeu o garoto ao avançar em cima dele em uma velocidade surpreendente e derrubá-lo ao chão. Ao momento que Lysandre caiu em si, um vento forte os soprou, fazendo-a apertar mais ainda o garoto de roupas vitorianas contra si. Não havia sido um barulho qualquer, ou muito menos era um vento qualquer: apenas o bater das asas de um anjo possuiria tamanha força. Porém, o som era minimamente diferente ao de um anjo.
– Não acho que chegamos em boa hora. – Afirmou Nina.
A garota se levantou em um único e rápido movimento e, segurando Lysandre pelo pulso, o levou consigo. O garoto estava congelado: poderia ser...?
– Precisamos sair daqui.
– Não... – O garoto piscou – ... meu irmão...
– Lysandre! – Ela o segurou nos antebraços e o apertou – Meu cabelo não brilha quando estou no escuro. – Nina respirou fundo – Ele brilha quando algo muito .... – Lysandre ouviu a voz dela falhar -, mas muito ruim está por perto.
Lysandre arfou. Nina o olhava com olhos suplicantes e soava como se implorasse para que saíssem dali. O garoto levou sua mão direita à esquerda dela e a apertou. Diferente dos outros vampiros, Nina não era fria, mas ela estava extremamente gelada e tremia sem medo de demostrar o seu pavor.
– Nina... você está com medo de alguma coisa?
– Vamos embora... – Ela respondeu – Por favor.
Lysandre a encarou com intensidade e apertou ainda mais os dedos da menina.
– Não se preocupe, Nina, eu irei protege-la, não importa o quê.
Nina permitiu que os seus olhos se arregalassem levemente. Por que ele a protegeria? Apenas Lilith havia sido tão gentil para com ela.
Os dois ouviram passos vindos do Norte em sua direção e viraram-se para inspecionar. O cabelo de Nina brilhou mais forte ao momento que uma risada bastante conhecida por ela lhe invadiu os tímpanos.
A loira ficou boquiaberta.
– Viktor? – Sua voz soou atônita. – Você não... estava... quero dizer, o senhor...
– Morto? – O homem sorriu malevolamente, o que fez os pelos de Nina se arrepiarem – Não, minha querida, eu nunca morri. Ah, e não precisa se referir a mim como se me respeitasse, Nina. Eu sei que você nunca foi fiel a nossa organização.
A garota queria desviar o olhar, mas seus olhos a obrigavam a encará-lo.
– Então por que nunca me matou?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Nunca soube realmente o que você queria. – Ele sorriu mais uma vez – E preciso confessar que era divertido ver você se esforçar tanto para me agradar, mesmo que odiasse o que fazia.
Os pelos de Nina se arrepiaram mais uma vez, e ela sentiu-se enjoar.
– Você está... diferente...
Lysandre a puxou pela mão que ainda segurava e a escondeu atrás de si: movimento que arrancou mais um sorriso malicioso de Viktor.
– Ah, Lysandre. Não havia o visto aí. Há quanto tempo, não é mesmo, meu amigo?
Nina enfim conseguiu desviar o olhar para Lysandre, que apertou os olhos para o homem em sua frente.
– Lúcifer.
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