Blood Curse
Carpem Noctem
– É esse o livro que eu te falei.
Ela o estendeu para o garoto em sua frente, que o pegou com rapidez curiosa. Ele folheou as primeiras páginas com cuidado e ergueu os olhos lilases para ela.
– Esse livro é muito mais antigo que qualquer um da biblioteca daqui. Sei disso porque os folhei diversas vezes quando procurava com meu irmão uma cura para Lysandre.
– Acho que já ouvi a respeito... – ela levou o dedo indicador direito aos lábios – Você sabe algo sobre esse livro?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Sei que nunca o vi. – ele fechou o livro – Vamos ao meu quarto. Armin está nos esperando.
Rain assentiu com a cabeça e o seguiu. Ao chegar no quarto dos feiticeiros gêmeos, a morena deparou-se com Rosalya conversando com Armin sobre feitiços antigos. Armin sorriu ao vê-la.
– A volta do filho pródigo. – afirmou.
Rain sorriu de volta.
– E então, como foi sua conversa com Nathaniel? – indagou Rosalya.
–... Normal... Eu acho. – respondeu receosa.
Rosalya franziu o cenho.
– Você tem certeza?
Rain forçou um sorriso, e foi salva por uma intervenção de Alexy.
– Olha o que Rain nos trouxe do outro mundo! – ele derrubou os outros livros abertos de cima da mesa redonda no meio do quarto e colocou o que estava segurando no centro da mesma.
– Não derrube meus livros! – Armin retrucou.
– Esse livro é bem mais interessante. – Alexy sorriu ao irmão. Armin revirou os olhos e andou em direção ao irmão, curvando-se em cima do alfarrábio. Rosalya fez sinal para Rain, e ambas se aproximaram dos garotos.
Quando elas alcançaram a mesa, Rain notou que Armin atritava uma das folhas com os dedos.
– São feitas de pele humana. – informou.
– Também notei. – Alexy estava com a cabeça apoiada na mão direita.
– Pele humana?! – Rain não pode conter sua surpresa enojada.
– Livros de feitiços antigos são todos feitos de pele humana – Rosalya cruzou os braços – Naquela época o papiro não era tão comum. – ela deu de ombros.
– De que época estamos falando? – indagou a morena.
– Chutaria alguns séculos antes de Cristo. Por estar em latim eu não arriscaria mais de cinco séculos. – respondeu Armin.
– Algo me chamou atenção logo na primeira página. – ele virou o livro para si – “Carpem noctem”. – ele apontou para algumas palavras douradas no centro da página e desviou o olhar para Armin.
Armin retribuiu o olhar e suspirou. Rosa mordeu o lábio inferior enquanto, confusa, Rain olhava de um para o outro.
– Por favor, me expliquem.
Os três olharam para ela. Rosalya se dispôs a explicar.
– Carpem diem significa aproveite o dia, isso você deve saber. – Rain assentiu – Carpem noctem, da mesma forma, significa aproveite a noite.
– Os rituais de bruxaria são todos realizados depois que o sol se põe porque as trevas deixam as bruxas mais poderosas. Carpem noctem acabou se tornando o lema delas. – interrompeu Armin.
– Isso quer dizer que... – Rain engoliu em seco – Esse é um livro de bruxaria.
– Exato. – afirmou Alexy – Não sei por onde começar a procurar.
– Acho que eu sei. – Rain aproximou-se ainda mais do livro e o abriu na página 643. Ela encarou os olhos negros do homem que segurava o cálice e logo em seguida os desviou.
– E isso seria...?
– Uma longa história. Mas tenho certeza que é essa a página em que devemos procurar. Se há algo para achar, estará aqui.
Os feiticeiros gêmeos trocaram olhares e logo concentraram-se na página aberta na frente de ambos.
– Castiel conhece esse texto. – Rain apontou.
– Algum de vocês dois sabe latim? – Rosalya soou incrédula.
– Bem... Não. – Rosa franziu o cenho – Eu disse que era uma longa história!
– Que seja! – a garota de olhos de gato jogou as mãos para o alto.
– Rain, poderia chamar o Castiel? – indagou Armin.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Rosa... Tchau. – complementou Alexy.
As garotas ficaram boquiabertas.
– Como?! – Rosa pareceu indignada.
– Não é nada pessoal, mas... Eu e Alexy trabalhamos melhor... A sós.
– Rosa não pode procurar pelo Castiel? Eu estava pensando em visitar o Ken assim que saísse daqui... – Rain ajeitava o cabelo desconfortavelmente.
– Kentin saiu em uma missão há algumas semanas atrás com Dake. – respondeu Alexy.
– Se eu não posso ajudar aqui, vou procurar pelo Nathaniel. – disse Rosalya, visivelmente irritada – Você nos interrompeu Rain, e eu estava falando algo importantíssimo. Não vou continuar como representante. Ele já está bem, já pode voltar para o cargo. Onde eu estava com a cabeça quando me candidatei? – Rosa tocou na parede mais próxima, fazendo-a derreter como se fosse ácido, e passou por ele.
– Tch. Odeio quando ela faz isso. – Alexy estalou os dedos e o buraco fechou-se magicamente. – Acho que você terá que procurar por ele. Quanto mais soubermos, mais rápido terminaremos.
Rain suspirou e saiu do quarto. Respirou fundo ao sentir seu coração começar a acelerar quando pensou em reencontrar Castiel. Isso era mais importante do que qualquer motivo que ele tivesse para não querer vê-la. Ela também não queria ter que vê-lo tão cedo.
Ela desceu as escadas para o segundo andar, mas interrompeu-se no caminho ao ver, de relance, Castiel apoiado na parede, conversando com Ambre. Com Ambre? O que ela poderia querer com ele, ou vice-versa?
Rain deu meia-volta, e sentiu-se idiota por estar se escondendo. Eles eram vampiros, já sabiam que ela estava ali. Ela respirou fundo mais uma vez e desceu as escadas novamente. Ambre não estava mais lá, nem mesmo Castiel. A garota ficou levemente confusa... Teria passado de uma ilusão?
Sentiu as pernas bambearem quando começou a andar em direção ao quarto de Castiel. Era o primeiro lugar que procuraria por ele e, no fundo, ela torcia para que ele não respondesse. Bateu três vezes na porta e aguardou alguns segundos que pareceram anos.
– O que você quer?
Ela escutou a voz dele vindo por trás da porta quando estava quase indo embora.
– Eu... Eu preciso falar com você. – ela gaguejava. Rain se apoiou na porta e respirou fundo outra vez.
– Não tenho nada para falar com você. – respondeu ele, depois de dois segundos silenciosamente sombrios.
–...Castiel....
– Você é mesmo irritante! Quão explicito eu preciso ser para que você entenda que eu quero que você vá embora?
Ela arregalou levemente os olhos.
– Ir-ritante? – sorriu ironicamente ao sussurrar.
A porta foi aberta bruscamente, fazendo com que a garota perdesse o equilíbrio. Castiel pôs o braço na frente da garota, segurando-a pela cintura.
– Você é mesmo desajeitada.
Ela corou e se afastou, evitando ao máximo olha-lo nos olhos.
– Pode me dizer o que quer de uma vez?
– Armin pediu que eu o chamasse.
– Armin? – ele franziu o cenho. – O que ele quer comigo?
– Ele e Alexy estão tentando decifrar o livro que a garotinha nos deu. Eu acabei falando que você conhecia aquele texto e agora ele quer que você vá até lá. O que ele quer, especificamente, eu não sei.
– No entanto, acho que entendi tudo. – ele deu ombros – Acho que devo ir até lá. Deve servir como compensação por eu ter invadido o ritual altamente perigoso deles. – desdenhou. Ele saiu do quarto e fez sinal para que ela saísse também. Logo ele começou a andar pelo corredor.
– Vou com você.
Castiel parou e olhou-a de soslaio por cima do ombro.
– Você já falou com Lysandre?
– Lysandre? Ele está de volta?
– Se ele quer falar com você, supõe-se que sim.
– Acho que posso falar com ele depois.
– Parecia importante.
Rain apertou os olhos.
– Olha Castiel, se não quer que eu te acompanhe, fale de uma vez.
Ele virou-se para ela.
– Não seja tão egocêntrica! Realmente parecia importante. Lysandre estava aflito. Conversei com ele em seu quarto há pouco e ele parecia mais avoado que o normal. – ele suspirou – Olhe, eu sei o que fiz, mas não sou imaturo a ponto de agir como um idiota por aquilo. Foi uma besteira que não irá se repetir e que eu não quero mais falar sobre. Se puder fazer a gentileza de esquecer, eu seria mais que grato e ajudaria na sua busca, ou sei lá o que, com prazer.
Rain ficou sem palavras.
– Eu só quero entender o porquê.
– Se você esquecer não precisará de um porquê.
Rain molhou os lábios e cruzou os braços.
– Tudo bem, então. Não é como se eu ligasse.
Castiel arregalou imperceptivelmente os olhos.
– Ótimo. Vamos logo, tenho muito o que fazer.
Eles fizeram todo o percurso com um silêncio absoluto interrompido pelos passos. Rain bateu na porta e a abriu, e deu de cara com uma Rosalya furiosa, de braços cruzados, batendo o pé no chão, enquanto Alexy e Armin a fitavam como se a qualquer momento fossem botá-la para fora.
– O que aconteceu, Rosa? – a morena indagou.
– Nathaniel aconteceu! – a menina de olhos de gato bufou.
– Como assim?
– Ele deixou o cargo permanentemente e a diretora me colocou em seu lugar. Eu tentei argumentar, mas de nada adiantou. Ela me obrigou a ser a nova representante!
– Por que Nathaniel abandonou o cargo? Achei que ele gostasse de ser o representante...
– Ele gostava de dar ordens nos outros, na verdade. – interrompeu Castiel.
– Achei que soubesse, Rain. Pensei que tivesse ficado estranha daquela maneira quando te perguntei da sua conversa com o Nate por já saber. – Rosalya ignorou a intervenção do ruivo.
Rain sentiu os dedos tremerem.
– Rosa... Pelo amor... Saber de que?
– Que Nathaniel saiu da escola. A diretora disse que já fazia umas horas que ele partiu.
– Ele... Ele o que? – todos prestaram atenção em Rain – E Ambre? Ela já foi?
– Não, Ambre ainda está aqui, embora já deva estar arrumando suas coisas para partir. Por que?
Rain virou-se e ia saindo, quando Castiel a segurou pelo pulso.
– Onde você vai?
– Falar com a Ambre, é óbvio. Poderia me soltar, por favor?
Castiel desviou os olhos e a soltou. O ruivo a observava enquanto os cabelos negros da garota balançavam de um lado para o outro no ritmo em que ela corria pelos corredores.
*
– Você sabe que tomou a decisão certa, não sabe?
Nathaniel deslizou os olhos para eles.
– Suponho que sim.
– Estarás na festa, Nathaniel? – a mulher indagou – Não queremos ter que adiar a coroação mais uma vez. – ela revirou os olhos.
– Sim, mamãe. Não tenho mais motivos para não aceitar meu destino.
– Certo. – ela apertou os olhos. – Sabe também que cometeu diversos crimes para com nossa legislação, mesmo sendo o príncipe.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Sim, eu sei.
– E é por isso que deverás pagar por seus pecados.
– Suspeitei que fosse ordenar punições para mim.
– Que bom que conhece a mamãe, Nate. – ela sorriu. Um sorriso nojento e sádico.
– Não vejo motivos para que Nathaniel sofra punições. – interrompeu o Rei.
– Ele nos ofendeu! Ofendeu nossa família! Às coroas!
– Nunca ofendi vocês.
A mulher olhou para ele com olhos vermelhos como sangue.
– Brincar de namoradinho com aquela ratinha de esgoto foi um insulto a nós!
Nathaniel arregalou os olhos.
– Se eu soubesse que ela mudaria tanto você teria deixado que a matasse no dia que ela chegou ao castelo. Beber sangue animal? – ela revirou os olhos – Quem é você? Não é à toa que estás tão fraco.
– Chega! – o Rei elevou a voz. – Eles chegaram.
– Já não era sem tempo.
– Eles? – indagou Nathaniel.
Um homem e uma garota andavam pelo tapete vermelho em direção ao trono. O homem, com cabelos grisalhos, de terno, e alguns centímetros mais baixo que a garota que estava de braços entrelaçados. A menina, por sua vez, com um longo vestido rodado vermelho, cabelos negros como carvão arrumados em um coque e um colar de diamantes no pescoço.
O Rei desceu do trono para recebe-los e a Rainha apenas levantou-se. Nathaniel observava-os curiosamente, mas foi quando a garota olhou-o com seus olhos azuis claro como o céu de primavera, que o loiro percebeu como ela era estupendamente bonita.
Ela mexeu nos fios soltos com gestos sutis e controlados e se aproximou dele. O Rei a anunciou.
– Nathaniel, meu filho, apresento-te Sora, sua noiva.
Nathaniel desviou um olhar perplexo para a garota em sua frente que, em toda a sua perfeita compostura, sorriu.
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