Tudo isso já era demais pra minha cabeça. O céu de Veneza era, realmente, muito estrelado à noite. O dobro de vezes mais estrelado, agora que o álcool está começando a fazer seu efeito. Tentei dar meu último gole trazendo a garrafa à boca e a virando, mas o vinho acabou. Que droga! Era um bom vinho!

Larguei a garrafa no chão ao meu lado e deixei meu corpo tombar sobre o carpete creme. Minha cabeça começou a girar e me senti mais leve, sem nenhuma preocupação. Mesmo assim não me sentia bem, pois nem tomando toda uma garrafa de vinho conseguia tirá-la da cabeça. Era horrível!

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A professora Prouts organizou uma viagem para Veneza a fim de fazer seus alunos sentirem a história de Romeu e Julieta como real. Bem, em contexto geral, as histórias de Shakespeare. Mas, infelizmente, ela ficou doente dois dias antes da viagem e me encarregou do substituí-la. Uma gripe forte me forçando a viver 24 horas com ela. Como queria ter recusado, porém foi o diretor que me pediu e não havia como escapar.

Ensinar, organizar e cuidar da turma não era nem um pouco difícil. Difícil é fazer tudo isso com aqueles olhos castanhos sobre mim o tempo todo, me fazendo perguntas, que sei, são para ter minha atenção.

Toc toc toc.

O som parecia distante e eu estava absorto nas estrelas através das portas de vidro da sacada do quarto do hotel.

- Senhor Grunt, tem um minuto, por favor?

Fechei meus olhos com força. Essa voz. Só podia ser minha imaginação.

- Senhor Grunt?

Rolei para observar o teto branco do quarto. Não posso abrir a porta, já é tarde. O que ela quer comigo a essa hora?

- Senhor Grunt... Sei que o senhor está aí. – Sabe? – Por favor...

Não. Não dessa vez. Não deixar esses olhos castanhos lerem minha alma mais uma vez. Não posso.

Ouvi o ruído de papel e olhei em direção a porta. A luz do corredor estava acesa, e a sombra dela indicava que ainda estava ali. Dedos finos passaram rapidamente por baixo da porta, deixando um papel dobrado ali antes de a sua sombra ir embora com estalos de salto alto. Menina tola, escrevendo bilhetes ao seu professor. Com se eu fosse ler...