Ainda Há Segredos Entre Nós

JULIE

Deixei Brad e Molly conversando e voltei para casa, afinal, eles precisavam colocar os assuntos em dia.

Eu estava me sentindo realmente bem, como há um bom tempo não me sentia. A ligação que eu tinha com Loki parecia ter desaparecido o que me deixava extremamente aliviada.

Entrei em casa e vi Pepper. Ela estava sentada avaliando alguns papéis, ou seja, trabalhando como sempre.

— Ainda trabalhando, Pepper? - perguntei, me atirando na poltrona ao lado.

— Bem, alguém tem que cuidar das empresas já que os Stark não foram feitos para ficarem presos no escritório - ela disse, me lançando aquele olhar de "você é igualzinha ao seu pai".

— Por isso que os Stark te amam e idolatram - falei.

Pepper voltou a encarar os papéis e tomar o seu café enquanto eu pensava em algo que não saía da minha cabeça.

— Talvez se você e o papai tivessem um herdeiro... - no instante em que falei, Pepper quase cuspiu o café que tomava - Você tá bem?

— Estou. É que você surge com esses assuntos do nada - ela disse, ainda se recuperando do susto.

— Mas isso pode acontecer, não pode? - perguntei.

— Pode, mas não será agora - ela disse, pondo um ponto final no assunto.

— Ok, mas onde ele está? - perguntei.

— No laboratório e ele pediu que você fosse até lá quando chegasse - Pepper avisou.

Deixei o assunto para outra hora, apenas por enquanto e desci até a oficina.

Entrei e o vi, arrumando sua armadura e alguns outros protótipos.

— Onde você estava até agora? - ele perguntou, limpando as mãos em um pano e me encarando.

— Com o Brad - falei e ele me olhou com aquele olhar cheio de julgamento - e com a irmã dele - adicionei rapidamente antes que ele pensasse o que não devia.

— Que tal mudarmos de assunto? Está começando a ficar constrangedor - ele disse.

— Concordo. O que queria falar comigo? - perguntei, me aproximando.

— Falar não. Mostrar - papai disse, apontando para um pano branco que cobria alguma coisa grande.

— É o que eu estou pensando? - perguntei, já sorrindo com a mera possibilidade.

— Depende. O quanto você ama o seu lindo e totalmente charmoso pai? - ele perguntou se fazendo de difícil, mas sorrindo de canto.

— Infinitamente - respondi ansiosa.

— Certa resposta - ele disse, se afastando - Pode ver o que é.

Me aproximei e puxei a cortina branca que cobria tudo. Minha armadura estava pendurada em cabos de sustentação. Ela parecia a mesma só que estava nova e parecia um pouco maior.

— Eu a modifiquei um pouco - papai disse, cruzando os braços - Mas ainda há algumas coisas para acrescentar.

— Obrigado pai - falei, o abraçando - Mas por que agora?

— Agora você é uma agente e eu não quero que você se machuque - ele disse - Eu quero me certificar de que você vai estar protegida.

— O senhor sabe que eu posso me cuidar sozinha - falei, olhando para a armadura vermelha e prateada em minha frente.

— Sei, mas pra mim você ainda é aquela garotinha de 11 anos - papai disse surpreendentemente sério - Além do mais, sua mãe me mataria se eu não fizesse nada.

— Com certeza - falei rindo.

Papai me jogou uma chave de circuitos. Parece que teríamos muito trabalho pela frente.

Eu e papai passamos o resto do dia melhorando a armadura. Já passava um pouco mais da meia noite quando nós notamos a hora.

Fui para o meu quarto, tomei banho e coloquei minha roupa de dormir que consistia em uma camiseta e um short branco estampado com estrelinhas negras.

Deitei na cama e tentei dormir, mas não consegui. Eu estava ansiosa demais. A minha vida tinha mudado tanto em tão pouco tempo que me assustava.

Desde que Loki havia cismado comigo tudo havia mudado.

Fechei os olhos e tentei dormir.

Eu não sabia onde estava apenas sabia que estava muito frio. Estava escuro e parecia não haver ninguém por perto.

Caminhei pela rocha negra e consegui ver um ponto de luz adiante. Segui e tudo o que consegui ver foi alguém sentado diante de um abismo.

Cheguei até ele e vi que era um garoto. Ele tinha olhos verdes e cabelos negros.

Ele estava com as pernas cruzadas. Suas mãos ágeis desenhavam algo enquanto lágrimas caiam do seu rosto, molhando o papel.

Ele olhou para mim e tudo o que eu consegui fazer foi chorar. A dor dele era a minha própria.

Sentei-me ao seu lado, olhando para o nada obscuro a minha frente.

O garoto descansou o lápis em sua mão. Olhei para ele que me entregou o papel.

O desenho relatava algo que eu não conseguia entender, mas sentia que tinha a ver comigo.

Havia água. Muita água e destroços de alguma coisa. Havia uma pessoa no meio. Seus cabelos ondulavam na água enquanto ela era puxada para o fundo por forças invisíveis.

— Você precisa fugir disso - o garoto disse - É o seu destino.

— Eu não estou entendendo - falei, acariciando o cabelo do garoto.

— Não quero perder você - uma lágrima silenciosa escorreu pelo rosto dele e senti, ao mesmo tempo, uma lágrima escorrer pelo meu.

Sentíamos a mesma coisa.

Acordei em um susto, sentindo as lágrimas em meu rosto. Aquele sonho realmente tinha me assustado. O garoto se parecia muito com Loki.

Levantei-me da cama ainda sentindo aquela dor profunda. A mesma que senti quando Loki foi embora. Contei até dez internamente enquanto me acalmava quando escutei algo vindo da minha sacada.

Corri para ela e deslizei a porta. Brad estava ali. Ele vestia camiseta azul, calça jeans preta e botas de combate. Ele estava lindo.

De repente, senti vergonha por estar usando minha roupa de dormir cheia de estrelinhas.

— O que está fazendo aqui há essa hora? - perguntei, o puxando para dentro do quarto - E como conseguiu entrar?

— Escalando - Brad respondeu - E eu queria te ver.

— Já viu. E agora? - perguntei.

— Você está bem? - ele perguntou, estreitando os olhos - Parece um pouco perturbada.

Ele me conhecia mesmo.

— Tive um pesadelo - falei, ainda sentindo - Já teve algum sonho que teve a sensação de que fosse acontecer?

— Claro que sim. Lembra quando sua mãe nos levou no circo quando tínhamos nove anos? - ele perguntou, me olhando.

— Sim - afirmei - e lembro que você surtou quando viu aquele palhaço que parecia aquele do filme "It" - falei, lembrando da cara de terror do Brad. Na verdade, eu também fiquei com medo, apenas não demonstrei.

— Então, eu havia sonhado com um palhaço assassino, mas isso não quer dizer que ia acontecer. Foi só uma coincidência que eu nunca mais repetirei - ele disse, me fazendo rir - Não precisa se preocupar.

— É. Você tem razão - falei. Acho que não seria bom falar de que eu tinha uma certa ligação com o cara que é obcecado por mim - Que tal vermos um filme?

— Eu topo - ele disse, me puxando para um beijo demorado. Quando nos separamos, eu já estava sem fôlego.

Sentamos na cama, enquanto eu pensava sobre o que íamos assistir.

— Jarvis? - chamei.

— Sim, Srta. Stark?

— Coloque Star Wars Episódio V, por favor - pedi e Brad me olhou - Que foi?

— Você realmente ama Star Wars, não é? - ele perguntou, sorrindo.

— Claro. Eu sempre quis ser uma jedi - falei, me aconchegando em Brad.

BRAD

Continuamos assistindo ao filme até o final quando notei que Julie havia dormido.

A beijei de leve no rosto e me levantei da cama com cuidado. Ela se mexeu um pouco, mas não acordou. Desliguei tudo e coloquei o cobertor sobre ela.

Sair da casa de Julie era fácil para um agente da SHIELD. Acho que o Sr. Stark tem que melhorar a segurança.

Voltei para o quarto de hotel em que eu estava hospedado em Malibu.

Era um quarto grande e bem arrumado. Peguei meu cartão chave e entrei.

Estava muito escuro, mas percebi movimentos. Peguei minha pistola que ficava guardada em baixo da mesinha ao lado da porta.

Caminhei sorrateiramente até o centro do quarto. Havia mesmo alguém ali.

— Parado aí - falei, apontando a arma.

— É bom ver que está preparado para tudo - ele disse.

— Diretor Fury - falei surpreso, abaixando a arma - Por que está aqui?

— Tenho uma missão pra você - Fury disse, se aproximando. Ele parecia preocupado.

— Que tipo de missão? - perguntei.

— Do tipo segredo absoluto - Fury disse - O que eu lhe contar não poderá sair desse quarto.

— Ok - assenti.

Fury estava muito preocupado e isso não era nada bom.