— AAAAAARGH — Ian verbaliza o que todos estão pensando — é impossível, não consigo me divertir só com vocês aqui.

— Todos combinamos que é um saco ficar aqui sem eles — Fernanda resmunga olhando o horizonte.

— A areia fica suja, o sol opaco — Lucas filosofa.

— Queria que Rafael não tivesse desistido tão facilmente — Fernanda resmunga apanhando um punhado de areia com as mãos.

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— Ele não desistiu facilmente — Larissa responde derrotada com a cabeça apoiada nos joelhos — só não tinha mais nada que pudesse ser feito. Os pais dela são responsáveis legais dela, poderiam leva-la pra Antártida e nós não poderíamos fazer nada, e como sequestra-la está fora de questão, já que não podemos nem passar pela segurança... Acabou.

— Por que você está sendo tão negativa? — Fernanda pergunta exasperada.

— Não estou sendo negativa — a garota enche a mão com areia e joga longe — só estou... — ela gagueja irritada — frustrada. Tudo isso é tão injusto.

— Eu te entendo — Fernanda cede.

— Isso é ridículo — Ian exclama após um tempo de silêncio — Quanto mais gente aparece, mais a praia parece vazia, ainda fico procurando por eles.

— Que babaquice — Fernanda reclama — nunca tinha percebido como o grupo é vazio sem os três.

— Só eu estou sentindo falta — Lucas começa com um meio sorriso — dos comentários ácidos da Rebecca?

— Ou daquela risada de babaca do Rafael — Larissa adiciona.

— E a superioridade inteligente da Nick — Ian acrescenta bagunçando o cabelo — O Q.I. dela é superior ao de todos aqui juntos — todos sorriem fracamente, mas o sorriso logo cessa.

— Queria que tivesse alguma coisa que pudéssemos fazer, eu queria tanto — Larissa pronuncia por fim, como se estivesse se segurando há dias.

— Eu queria no mínimo me despedir — Lucas comenta de alto — sabe? Poder dizer que quando ela voltar vamos estar aqui, mas ela deve estar partindo a qualquer momento.

— Nós podemos fazer isso! — Fernanda parece se iluminar com uma ideia — Nos despedir dela.

— Isso mesmo! — Larissa a acompanha, as duas se levantam e limpam a areia dos shorts correndo pela praia com as sandálias ainda em mãos, sem tempo para coloca-las.

— Para onde vocês estão indo? — Ian grita para as duas que se distanciam com velocidade.

— Acordar o Rafael e dar um banho nele — Larissa grita de volta já quase invisível na distância — seja útil, veja os horários dos voos partindo do Rio para Seattle. Encontramos vocês lá!

— Mas...? — Ian tenta, no entanto as duas já estão muito distantes.

...

— Não é que eu queira ser indelicada ou algo do gênero — Larissa começa entrando no quarto de Rafael — mas você está horrível — ela coloca a sacola de praia no criado mudo.

— É bem, me desculpe — ele responde azedo —, mas eu não estou exatamente no humor pra me arrumar e fazer toda essa conneries.

— Falar francês não vai te ajudar meu amor — Fernanda retruca sarcástica — o que vai te ajudar é um banho, afinal, você não quer que Nicolly lembre de você por dois anos com essa cara de monstro.

Ao som do nome de Nicolly, Rafael parece voltar à vida, ele se ergue em um pulo e encara Fernanda com a testa franzida e os olhos esbugalhados.

— Do que você está falando? — ele continua parecendo confuso.

— Vamos intercepta-la no aeroporto — Larissa explica — mas ela pode estar saindo a qualquer hora, então você precisa se apressar, não podemos chegar tarde demais.

— Então vamos — ele corre para a porta.

— Infelizmente — Larissa grita sem sair do lugar — você precisa de calças pra entrar no aeroporto — ela continua e Rafael finalmente percebe que ele só usa uma samba canção e uma regata azul, listrada.

— Além disso — Fernanda complementa — você não vai querer beija-la sem escovar os dentes antes — ela ergue uma sobrancelha como se discordar fosse inútil. Rafael pondera a ideia por meio segundo e corre para o banheiro gritando:

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— Cinco minutos — com a porta batendo atrás de si.

Quinze minutos depois eles pegam o elevador, Becca arrumando o lápis de olho e passando mais algumas camadas de rímel, Rafael torcendo os dedos com a ansiedade palpável e Fernanda e Larissa arrumando as roupas que elas pegaram emprestadas de Becca, já que suas roupas estavam sujas com a areia da praia.

Rafael lidera o grupo com velocidade e enquanto as outras ainda saem da porta do elevador ele já atravessa o hall e sai pelas portas de vidro em direção ao primeiro táxi na fila em frente ao prédio. As garotas finalmente chegam e encontram ele já no banco da frente, batucando os dedos com impaciência.

— Pronto, podemos ir — ele pede assim que a porta do carro é fechada.

— Droga, droga, droga — Larissa reclama quando eles já estão se afastando velozmente do prédio — meu celular, está na bolsa no quarto da Becca, como eu vou falar com Uan agora?

— Não há tempo pra voltar — Rafael responde passando uma nota de vinte para o taxista que a coloca em um bolinho que já tem duas de cinquenta, o homem acelera um pouco mais.

— Como eu vou saber em que voo ela vai? — Larissa pergunta exasperada.

— Não saiba, temos que chegar lá — Rafael responde.

Larissa se senta emburrada, mas quieta. O trajeto até o aeroporto não demora e assim que ele estaciona Rafael joga uma última nota no banco e sai correndo aeroporto adentro. As meninas o seguem tentando acompanhar o ritmo, mas ele é rápido demais. Elas o acompanham a distancia e ele vaga sem rumo pelos portões.

— Larissa — eles se viram para a direção onde Ian acaba de gritar o nome da garota e correm em sua direção — Eu não sei como falar isso — ele começa desanimado — mas o último voo para Seattle... Partiu faz duas horas.

O semblante de Rafael murcha, ele senta em um dos bancos de espera e coloca as mãos no rosto, como se quisesse abafar as imagens e sons ao seu redor. Revecca senta ao seu lado e coloca uma mão em sua costa em forma de apoio, Larissa enterra o rosto no pescoço de Ian tentando esconder as lagrimas e Ian tenta consola-la acariciando suas costas. Fernanda apoia a cabeça no ombro de Lucas contendo as lágrimas com todo o custo, e Lucas abraça-a protetoramente. Todos sabem que nada vai ser igual a partir desse momento.

Os seis persistem na mesma posição como estátuas por horas, ou talvez minutos, a verdade é que ninguém está interessado em falar, em algum momento Rafael segura a mão da irmã e continua apoiando a cabeça com a outra. Ninguém parece nota-los embora uma catástrofe estivesse acontecendo em suas vidas. Nem mesmo a confusão barulhenta de pais e uma garota de cabelos escuros e olhos verdes tira-os de seu devaineio, só quando a garota olha na direção deles e corre desenfreda largando a mala no chão do aeroporto é que eles finalmente se sobressaltam.

— Nicolly — Rafael só tem tempo de se levantar quando a garota pula em seus braços.

— Rafa — ela suspira, todos ao redor param para olhar.

— Eu pensei que... O ultimo voo para Seattle já saiu — ele exclama desconexo, sem largar por um segundo a garota.

— Meus pais imaginaram que vocês viriam me ver — ela explica — por isso pegaram um voo que saia cinco horas depois, para Los Angeles.

— Pelo visto eles não calcularam direito — Larissa responde olhando para a amiga. As duas se abraçam e Rebecca e Fernanda se juntam a bagunça.

— Não imaginei que vocês fosse fazer isso — o pai de Nicolly aparece — Honestamente, levar nossa filha para festas até a madrugada, apresenta-la ao mundo das drogas...

— Ninguém aqui usa... — Lucas começa.

— Silêncio, eu sei o que vocês fazem, não sou idiota — o pai se intromete — Como vocês podem ser tão egoístas a ponto de deteriorarem a carreira dela, impedirem seus sonhos, e ainda terem a audácia de nos tachar de errados, eu vi o que vocês nos mandaram, vi tudo.

— Não seja hipócrita — Rebecca responde — vocês prenderam ela.

— Porque somos os pais dela, sabemos o que é melhor para ela — ele retruca no ato.

— Claro que sa... — Rebecca começa, mas Fernanda a corta.

— Nós só queremos nos despedir — ela murmura para os pais de Nicolly com a voz suplicante e os olhos marejados — por favor — ela quebra a última palavra ao meio com um soluço, quem não conhecesse diria que é verdadeiro, mas ela só quer ganhar tempo para uma despedida de verdade.

— Quinze minutos — o pai de Nicolly suspira após olhar para sua esposa.

— Nick — Lucas suspira ao abraça-la — vou sentir saudade das carinhas felizes que você desenha no meu caderno em todas aquelas aulas insuportáveis de física — ele suspira e ela dá uma risada em meio as lágrimas.

— Nicolly — Larissa choraminga se agarrando a amiga — com quem eu vou me vestir para as festas de sábado à noite? Você sabe que a Becca e a Fer não tem o seu senso de moda — as duas se apertam por mais algum tempo antes de relutantemente se separarem.

— Nick — Ian abraça a garota — quem vai me ajudar a acabar com todo mundo no totó nas noites de terça? Você e eu somos a dupla infalível, extinguimos com o Cheetos de todo mundo — ele aperta ela e solta-a.

— Vou sentir muito a sua falta — Rebecca choraminga — até porque, não vai haver ninguém para ouvir a ladainha incessante e repetitiva da Larissa, o que eu vou fazer? — As duas se abraçam.

— Nicolly — Fernanda a abraça — promete que vai assistir Star Wars toda a quarta-feira? E comer pipoca rosa como nós fazemos? — Nicolly assente, incapaz de falar e as duas se apertam, e finalmente ela se joga novamente nos braços de Rafael.

— Esse não é o fim do mundo — ele sussurra em seu ouvido — E eu sei que isso pode parecer uma conclusão, mas as melhores histórias sempre tem um epílogo. Eu prometo pra você que vou te esperar, e que algum dia, vamos juntar nossas escovas de dente e falar sobre o nada até as três da tarde — ele a abraça mais forte e ela sorri, como se ele concluísse uma piada particular.

Ela limpa as lágrimas na camisa do garoto e se dirige aos pais, seu queixo erguido, e a voz forte.

— Não vou posso fazer isso, não posso e nem vou — ela exclama meio rouca.

— É claro que vai — sua mãe responde bondosamente — é o melhor pra você.

— Além do mais — o pai acrescenta — você não tem escolha — ele sorri para a filha pegando seu braço com uma mão e a mala dela com a outra.

— Eu tenho sim — ela retruca se soltando, os pais observam ela se afastar e puxar da bolsa um documento.

— Você não pode fazer isso — seu pai respondeu tenso.

— Vocês me deram esse direito, só pretendo usa-lo — ela retruca.

Ele olha para o papel por alguns minutos, parecendo avaliar a situação, uma veia pulsando em sua testa. Por fim, ele suspira, e com os ombros baixos e o semblante derrotado ele pega sua mala e se dirige a filha.

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— Você vai se arrepender — ele conclui saindo de perto dos adolescentes com sua mulher em seu encalço

...

— Afinal, o que era aquela carta? — Ian pergunta lambendo seu sorvete de chocolate.

— Minha carta de emancipação, assinada pelos meus pais — Nicolly responde casualmente.

— Por que eles te deram uma? — Rebecca pergunta com seu açaí.

— Pra cuidar do meu dinheiro, caso alguma coisa acontecesse com eles — ela responde lambendo sua casquinha de maçã.

— Hum — Fernanda acrescenta muito focada na sua casquinha de blueberry.

— Cara — Nicolly suspira — meus pais vão me odeiar pra sempre.

— Vão nada — Lucas lambe o sorvete de Fernanda que está derretendo — Amor de pais é incondicional — ele conclui mordendo sua casquinha de baunilha.

— Além do mais, você sempre terá o maior consolador de todos — Larissa acrescenta — o sorvete de morango.

— Morango é uma droga, não sei por que você só toma esse — Rafael resmunga e Larissa mostra a língua pra ele — e além do sorvete você tem a nós!

— Pode crer — Nicolly responde — Não quero nada além disso no momento — ela sorri.