A Bella e o Monstro

Capítulo 17


Edward levou-me até a floresta. Queria me levar a um lugar especial, onde não havia muitas arvores. Ele mesmo conduzia a carruagem. Desse modo, eram apenas nós dois, sentados lado a lado no banco do condutor. Senti o vento e o sol do inverno em meu rosto. Com a bela capa que ganhei de Edward sobre os ombros e um cobertor sobre as pernas, eu estava aquecida. E feliz.

— Olhe. — Ele apontou, parando a carruagem.

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Segui o olhar dele e o braço estendido. Havia pôneis selvagens, quase uma dúzia, pastando a distância. Aquela visão me encheu de alegria ri, leve e solta. Virando a cabeça, notei que Edward me observava, com os brilhando, calorosos.

— Sua risada me alimenta — ele disse.

— Alimenta? Como mingau de aveia? — brinquei.

— Sim, exatamente. — Edward ergueu as sobrancelhas, e eu não pude deixar de sorrir. — Quando eu estava no porão do navio, não havia comida. Se eu tivesse sorte, pegava um rato.

Suspirei, mas ele continuou calmo e no mesmo tom de voz.

— Eu costumava sonhar com mingau de aveia. Quente, polvilhado com açúcar e uma boa porção de creme de manteiga derretida. Eu teria dado tudo por uma tigela de mingau de aveia, qualquer coisa para saborear e para aquecer meu estômago.

Um nó formou-se na minha garganta e eu tive que me esforçar para não chorar.

— Nunca pensei que um mingau de aveia pudesse ser tão apetitoso.

— Para você ver.

— Ainda sonha com mingau de aveia? — perguntei. Edward me olhou atentamente, percorrendo-me os lábios e os seios, antes de voltar ao meu rosto.

— Ah, tentação. — Suspirou longamente. — Quero lhe mostrar uma coisa. Mas, se você olhar para mim desse jeito, a única coisa que farei será levá-la para dentro da carruagem.

Nada respondi, apenas sorri.

— Para sentir o seu gosto — ele acrescentou.

— Oh... — senti o sangue ferver.

— Sim, oh... — Deu um sorriso malicioso, afastando qualquer melancolia que sua história houvesse invocado. — Venha — disse, levantando-se.

Fui até a beirada do banco. Subir na carruagem tinha sido uma experiência interessante. Como seria descer?

— Eu te pego.

Por um instante, senti tontura e a distância até o chão parecia enorme. Olhei para cima. O sol brilhava, um círculo de fogo contra o azul do céu, aquecendo meu rosto.

— Devo confiar em você? — olhei para baixo mais uma vez, prendendo a respiração. Em silêncio, Edward apenas olhou para cima e estendeu os braços. — Então, me agarre — eu disse antes de me jogar nos braços dele.

Edward me pegou contra o peito e me deixou escorregar, encostada no seu corpo, tão juntinhos que eu podia sentir as batidas do seu coração. Parte de mim estava curiosa para saber como confiei nele a ponto de me jogar nos seus braços, sem receio de que ele me deixasse cair.

Com as mãos entrelaçadas, Edward me conduziu até a carruagem e de lá pegou alguma coisa. Era um artefato que parecia uma pequena rédea de cavalo com dois aros de couro, um maior e outro menor, unidos por uma grossa faixa e fivelas, tudo forrado por um tecido macio.

— Era isso que eu queria mostrar a você. O vista.

Olhei para ele, completamente confusa.

— Como assim? Não estou entendendo.

Olhei para os cavalos e em seguida de novo para ele, intimidada. Edward jogou a cabeça para trás e deu uma boa risada. Eu adorava o som da risada dele.

— É uma tala, Bella. Você me disse que a sua perna dobra. Isso funcionará, creio eu. — Ele segurou a tala na posição vertical com ambas as mãos, de modo que o círculo maior ficasse em cima e o menor embaixo. — Escrevi para o dr. Carlisle em Seattle assim que a vi. Estranhamente, ele não se lembrava do seu caso, mas me deu essa sugestão quando expliquei o problema. Aceitei a sugestão e acrescentei algumas modificações por minha conta.

Alguma coisa que ele disse deixou-me desconfiada, algo que eu não soube identificar.

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— Está vendo? — Ele mexeu o aparelho. — Eu alinhei o couro para tocar a sua pele sem a esfolar aqui. — Mostrou as tiras ligando os dois círculos. — Reforcei as tiras nas laterais. Seis camadas de couro. Fortes e flexíveis. E posso acrescentar mais, se necessário. — Erguendo a cabeça, viu-me atônita, e seu sorriso se desvaneceu. — Acho que funcionará, Isabella.

Fiquei imóvel, sem saber o que dizer. Edward fizera aquilo com as próprias mãos. Para mim. A criação deveria ter exigido tempo, planejamento e habilidade.

— Você fez isso? — Peguei o aparelho das mãos dele. — Mas quando? Como?

— A habilidade, eu aprendi no decorrer da minha vida. Por necessidade, sou esperto com uma agulha. — Ele deu de ombros. — Entre outras coisas.

Caminhei até um tronco caído, sentei e comecei a erguer a saia. Podia sentir Edward observando-me enquanto eu colocava o estranho aparelho, ajeitando o aro maior ao redor da coxa e o aro menor ao redor da panturrilha.

— Assim? — perguntei, erguendo a cabeça.

Edward assentiu, e afivelei os dois aros de modo confortável. Era como se eu tivesse dois cintos ao redor da perna. Abaixando a saia, eu me levantei.

— Pode dobrar o joelho? — Edward abaixou-se e tocou a parte de trás da minha coxa. Mesmo sobre a roupa, senti o calor das mãos dele.

— Sim, acho que posso. — Dei um passo e mais outro, esticando e dobrando a perna doente, surpresa de que, apesar de estranha, a sensação não era desagradável e nem atrapalhava meus movimentos. Pelo contrário, me senti mais confiante e com mais estabilidade. Rindo, girei devagar, com os braços abertos, alegre.

Com o canto do olho, percebi uma sombra. Eram os pôneis selvagens trotando pela floresta, os corpos marrons brilhando sob a luz do sol.

Você sonha em correr livremente, srta. Swan? Como os pôneis selvagens?

Parecia que aquelas palavras de Edward tinham sido proferidas muito tempo atrás.

Ele fizera aquele aparelho para que eu pudesse correr. Correr.

— Pensei que fosse um sonho impossível.

Edward sorriu e ergueu a mão.

— Pegue minha mão — disse com voz grave, porém carinhosa. — Corra com os pôneis, como nos seus sonhos. Não deixarei que caia.

O som dos cascos dos pôneis no chão fazia coro com as batidas frenéticas do meu coração. Desejara aquilo tão desesperadamente, correr livre pela primeira vez em uma década de vida, sentir o vento nos cabelos e no rosto, os pulmões cheios de ar.

— Sim. — Estendi a mão para ele.

O sol fazia seus cabelos brilharem e o e o tom alaranjado das nuvens distantes se refletia em seus olhos. Deslumbrada, eu consegui apenas fitá-lo e sorrir. Edward parecia mais jovem e alegre.

Apertando minha mão, começou a andar, e, em seguida, a correr, devagar no começo e, aos poucos, com mais rapidez, sempre me segurando pela mão, ajudando-me a me equilibrar, até me soltar e apenas correr ao meu lado.

Meus pulmões queimavam, minhas pernas doíam de modo diferente, e eu adorei a sensação.

Tinha consciência de que meus movimentos não eram graciosos, meu defeito era notório, mas podia correr. Eu e Edward corríamos lado a lado como duas crianças. Agora eu podia voar como o corvo, como sonhei.

Os pôneis logo desapareceram e a minha força minguou. Diminui o passo até parar, o coração batendo forte como um tambor. Curvando-me para a frente, apoiei as mãos sobre as coxas e respirei profundamente. Deixando os braços penderem e endireitando o corpo, notei que Edward também estava sem fôlego e diminuíra o ritmo.

— Caminhe, Bella. Ou terá câimbras.

Eu obedeci e, ao chegarmos perto da carruagem, paramos nos fitando em silêncio.

— Oh... O que você fez para mim, Edward. — Eu tinha os olhos cheios de lágrimas. — Olhe o que você fez. Você não sabe o que...

— Eu sei, Bella— disse, em um tom de voz melancólico. — Eu sei o que é sonhar em correr livremente. — Ele fez uma pausa, olhou ao redor e depois voltou-se para mim. — Quero realizar seus sonhos, carinho.

Sem dizer nada, me aproximei dele e tomei seu rosto entre minhas mãos. Olhei bem dentro dos olhos dele, seus belos olhos, agora brilhando de satisfação, e o beijei carinhosamente. Depois, dei mais um giro e sorri para ele, como se ele me tivesse dado de presente a lua e as estrelas.

— Você é linda — murmurou. — Seu rosto, seus olhos brilhantes, sua tez rosada. — Ele se aproximou, predatoriamente. — Gosto do modo como me olha, como se eu fizesse o sol nascer e se pôr. Sempre olhará para mim dessa maneira, Bella?

Sim, sim, sim.