Capítulo 8: Ele

Eu estou muito feliz hoje. Pela primeira vez ela falou. É complicado você tentar ajudar uma pessoa quando ela não te dá as informações necessárias. Eu ainda tenho medo de falar o nome dele. Se você tocar no nome daquele desgraçado, ela começa a chorar. Ela fica triste, muito triste. E eu me sinto imponente.

Foi tão difícil penetrar as barreiras que ela colocou em volta dela. Ela nem se deu conta do que estava fazendo, de que estava afastando as pessoas dela mesma. Lia... Foi uma coincidência enorme eu ter alugado um apartamento no mesmo prédio em que ela morava. Toda vez que ela saía (e não era com frequência) eu tentava falar com ela, mas ela não permitia. Até que eu resolvi dar um basta.

Eu iria ajudar ela. Ela precisava de alguém, e eu estava aqui. Ela teve muito sorte, porque são poucas as que tem a chance de conhecer um cara tão legal como eu. E não estou sendo convencido, ela sabe disso, eu sou demais.

Toda hora eu batia na porta do ap dela. Uma hora ela iria abrir. E abriu. Acho que ela só falou comigo porque já me conhecia. Eu senti pena dos vizinhos dela. Eles gostam dela, sei que gosta, mas ela não permite que ninguém chegue perto. Isso não é nenhum problema pra mim, ela sabe que eu gosto de ser exclusivo. Mas é ruim pra ela. Ela precisa sair mais, conhecer gente nova. E ela não pode ficar a vida toda as custas dos pais, ela precisa arrumar um emprego. Acho que agora ela vai prestar atenção, porque ela nunca me escuta.

Quantas vezes eu falava com ela e ela fingia escutar? Tudo bem, ela não fingia. Ela deixava estampado na cara que não estava ouvindo nada. É humilhante você contar uma piada e a pessoa não ouvir.

Ps: Lia, eu te vi sorrindo ontem. Foi por um curto momento, mas eu vi. Será que você está voltando?