Let it be

Visito o dragão ocidental


A casa do Jake é simples, mas bonitinha. Sem primeiro andar nem nada assim. Porém é... Habitável. Fica meio que no fim do mundo, numa rua pouquíssimo movimentada. A Mel tocou a campainha. Ela estava me assustando mais a cada minuto que se passava.

– Vê se não apronta. – falei para ela.

– E o que eu faria? – ela perguntou, com um sorriso do tipo sou-só-uma-garotinha-adorável. Mas eu sabia uma lista infinita de coisas que ela poderia fazer para zoar com a minha cara.

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– Oi meninas. – o Jake disse, quando abriu a porta. Ele estava com o braço esquerdo engessado. – Entrem. Podem ficar a vontade.

Puxei a Melissa para dentro, temendo que ela desse uma desculpa qualquer para sair correndo na primeira chance. O tipo de desculpa “ai, eu vou ficar totalmente segurando vela aqui, então eu vou nessa, All. Beijos. Divirtam-se!”. Isso seria bem constrangedor. É claro que não importava, mas... Ah, whatever.

– Os seus pais não estão, Jake? – a Melissa perguntou, ainda com seu sorriso muito assustador estampado no rosto.

– Não, eles estão no trabalho. – o Jake respondeu.

– Ah. – a Melissa disse. – Meu Deus, eu estou tão tonta. Acho que preciso de um pouco de açúcar. Será que você não pode trazer algo para mim, querido? – ela terminou, aparentemente se dirigindo ao Jake. Ela chamou mesmo o dragão ocidental de querido?

– Mas nós acabamos de almoçar! – contestei.

– Por favor. – ela pediu.

– É claro que eu posso. Tem uns biscoitos de chocolate na despensa, você quer?

– Eu adoraria. Obrigada. Acho que você deveria ajuda-ló, Alice.

– Eu? Ah, vou sim. – falei, fazendo a maior cara de desgosto possível. Foi ironia, só para deixar claro.

– Você quer carona para voltar para casa? – ela perguntou, com mais um sorriso cínico. Me virei e fui atrás do Jake. O encontrei na despensa e o ajudei com os biscoitos. Mas aí, a porta se fechou. A Melissa simplesmente nos trancou lá dentro.

– Droga. – eu disse.

– O que? Ela nos trancou aqui? – ele perguntou, tentando abrir a porta com seu braço não engessado. Em vão.

– Eu sabia! Ela tem um parafuso a menos, definitivamente. Eu já havia conversado com a mãe dela, combinado de fazer uma vaquinha para contratarmos um psicólogo para a Mel, mas não, ela é supernormal, você que é esquisita, Alice.

– Tudo bem. Qualé, ela não vai nos deixar aqui para sempre.

– Eu não duvidaria disso. – falei.

– Pelo menos de fome não morreremos. – o Jake comentou, com um sorriso ligeiramente torto e ligeiramente fofo. Ai meus duendes, já estou ficando maluca.

– Arromba essa porta, ué. Você é um cara. Seja macho.

– Ah, claro. E você quer que eu faça isso com um braço só?

– Usa as pernas, sei lá. E eu não acredito que você faltou a aula só por causa de um bracinho engessado. Nem é o direito.

– É, mas minha mãe achou melhor assim. Para eu descansar e tal.

– Preguiçoso. – resmunguei, me sentando no chão. O jake se sentou ao meu lado.

– Você tem cheiro de morango.

– É hidratante. E se você preza a sua segurança, melhor manter-se a, no mínimo, cem metros de distância de mim.

– Nossa, a garota é vida loka. – ele respondeu, mas não se afastou. Então me levantei e me encostei-me à parede do outro lado do cômodo, de modo que ficamos de frente um pro outro. Pelo menos a despensa era grande. Tinha várias prateleiras, todas ocupadas com comida, uma janelinha pequena (mais ou menos do tamanho de uma caixa de chocolate) por onde circulava um ventinho e espaço para pessoas transitarem.

– O que houve com o braço? – perguntei, depois de um tempo.

– Foi a minha prima. Ela é um pouco violenta.

– Ah. Eu quero assinar depois.

– Eu tenho uma caneta aqui.

– Sério? Você tem mesmo uma caneta aí? Espera um segundo, você guarda uma caneta no seu bolso, mas não guarda um celular? Ai meu Deus, Jake!

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– Como sabe que meu celular não está comigo, hein?

– Não está.

– Não. Você quer assinar ou não quer?

– Obrigada. – agradeci, pegando a caneta e escrevendo um recadinho fofo no gesso. Fora a minha, havia mais três assinaturas.

“Jake é um mané. Ass: Alice.” , foi o que eu escrevi.

“Foi mal.”, imaginei que essa frase aí foi da prima violenta dele.

“A mamãe te ama!”, supus que essa fosse da mãe do dragão ocidental.

“Beijos filhaço!”, e essa do pai.

– Está a fim de jogar verdade ou consequência? – ele perguntou, depois que eu fiz a minha assinatura maravilinda.

– Acho que não da para jogar esse jogo só com duas pessoas. Mas, de qualquer forma, não.

– Tem uma ideia melhor?

– Na verdade, tenho. Eu pensei que talvez eu pudesse venda-ló, ai tipo, eu daria algo para você comer e você teria que adivinhar o que é. O que acha?

– Parece legal. Mas tenho medo do que você possa me dar.

– Há-há. Ta, vamos começar. Preciso de uma venda.

– Pode ser minha camiseta. Eu estou morrendo de calor mesmo.

– Mantenha-se vestido. – ordenei. Achei um pano de prato e resolvi usa-ló como venda. Depois fui procurar algo difícil de adivinhar. – E aí?

– Cebola. Crua. Meu Deus, isso é horrível.

– Sinto muito. – falei, meio rindo – Bem, você acertou. Ok, segunda fase. E agora? – era uma colher de achocolatado em pó.

– Nescau.

– Você é bom. Certo, última vez. Adivinha.

–Macarrão. Um pedaço de macarrão não cozido.

– Ok. Minha vez. Você não pode me dar nada dessas três coisas, tudo bem? – perguntei, ajudando ele a tirar a venda dos olhos. Depois ele mesmo a colocou em mim. Era um pouco assustador. Não o escuro ou a possibilidade de comer alho, mas sim eu estar me divertido com o dragão ocidental.

– Ta legal, Alice. Abre a boquinha.

– Sério, Jake, nunca mais fale isso. E, humm, é biscoito integral.

– É. Mas que sabor?

– Não faço ideia, mas não é bom.

– Aveia. É biscoito de aveia. E agora?

– Sementes ruins!

– Granola.

– Qual a diferença?

– Tem muita diferença. – ele comentou, rindo. – Ai, caramba, você mordeu o meu dedo!

Tirei a venda. O polegar do Jake estava simplesmente sangrando. Exclamei um “sinto muito!” e joguei o pano de prato para ele, que enrolou em volta do dedo. Caramba, eu tenho dentes realmente saudáveis. Ele me chamou de vampira, e ok, eu não contestei. Meus duendes.

– Desculpe. – murmurei. – Mas, você sabe, eu ganhei.

– O que? Você não acertou nada! – ele contestou, fazendo cosquinhas em mim. Mas agora que descobri meu super poder, meu bem, nada mais vai me abalar.

– Sai se não eu te mordo!

Então, após isso, optei por deitar e dormir, na despensa mesmo. Eu sabia que a maluca da Melissa não iria abrir a porta tão cedo.

– Preciso de um travesseiro. – conclui, depois de um tempo.

– Usa um saco de açúcar.

– Posso mesmo? – perguntei, já me levantando para pegar o saco. Sempre quis testar se sacos de comida servem como um bom travesseiro. E a resposta é não. – Droga, Jake, eu quero sair daqui.

– Eu também quero sair daqui, ok? Mas vamos ter que esperar.

– Será que ela ainda está aqui? – perguntei, me referindo a Melissa.

– Eu não sei. Mas a minha mãe já deve estar chegando. Estaremos livres logo. Eu espero.

– Bem, eu vou dormir com esse açúcar na cabeça mesmo. Boa noite. Ou tarde. Que seja.

* * *

Acordei ouvindo vozes. Já estava com medo, imaginando que espíritos estavam tentando se comunicar comigo, quando vi que o Jake estava conversando com uma mulher alta e bonita. Do lado de fora daquela despensa! A mulher tinha um sorriso fofinho, igual ao do Jake, então imaginei que fosse a mãe dele. Mas ela tinha a pele negra, enquanto o Jake é um branquelo meio bronzeado. E olhos verdes acesos, enquanto os do Jake são castanhos. E um cabelo muito cacheado castanho claro, enquanto o cabelo do Jake é liso e preto. Imaginei que o pai do Jake deveria ser bonito, pois deve ter sido dele que o Jake puxou a maioria das características. Hã, espera, eu acabei de chamar o dragão ocidental de bonito? Alice controle-se!

– Então você deve ser a Alice. – a mulher falou, quando me levantei. Tentei ao máximo ajeitar meus cabelos e minha roupa, que estava completamente amassada.

– Olá. – falei, com um sorriso tímido.

– Sou a Mia, mãe do Jake.

– É um prazer conhecer a senhora, mas, bem, eu tenho que ir. A Victoria deve estar tão preocupada!

– Mas você não me passou o material da escola ainda. – o Jake disse.

– É. É, eu sei. Será que vocês poderiam me emprestar um telefone?

– Claro! Pode usar o fixo. – a Mia respondeu, apontando para um telefone que ficava na mesa de centro da sala de estar. Agradeci e caminhei até a mesinha. Disquei o número de casa, e dessa vez alguém respondeu. Era a Vic. Aparentemente o papai e a mamãe ainda não estavam em casa. Que horas seriam? Foi o que perguntei, e, nossa, eram sete da noite! Sete da noite! Disse para a Victoria que provavelmente chegaria tarde, mas que estava bem, e pedi que ela comunicasse isso aos meus pais quando eles chegassem. Pensei em ligar para a Melissa, mas resolvi deixar para depois. Ainda estava pensando na melhor maneira de exterminar a maldita.

– Então, All? – o Jake perguntou, quando caminhei de volta para onde ele e a mãe estavam.

– Vou te passar as atividades logo. – respondi.

– Você não quer jantar, querida? Vou preparar alguma coisa. Que tal hambúrgueres?

– Não precisa se preocupar! – respondi, com um sorriso que esperava que a convencesse de que estava tudo bem comigo. Apesar de que eu estava louca por um hambúrguer.

– Você é tão fofinha! – ela comentou. Adorei essa mulher! – Vou fazer o jantar.

– Gostei da sua mãe. – falei, depois que ela foi para o cozinha e eu e o Jake nos sentamos no sofá da sala.

– Ela é boa em paparicar as pessoas.

– Ela é boa em falar a verdade.

– E você é convencida. – Ele disse, dando de ombros com mais um de seus sorrisos fofos.

– Você não pode sorrir desse jeito.

– É claro que eu posso.

– Não, é proibido.

– E por quê?

– Porque eu disse que sim. Agora pare.

– Ta legal, vamos as atividades.

– É, é melhor mesmo.

– Você é esquisita.

– Já cansei de dizer que não sou, então, que seja.

* * *

Os hambúrgueres estavam bons, mas a mamãe quase me matou quando cheguei em casa. Pedi desculpas e avisei que já tinha jantado. Aí subi para o meu quarto, e adivinha quem estava lá? Não, não era uma tartaruga ninja, era o meu pai.

– Gostei desse seriado. – ele comentou, apontando com a cabeça para a TV. Ele estava assistindo the vampire diares!

– Eu tenho um pouco de medo, mas o Ian vale a pena.

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– O que? – Ok, aquilo não foi muito apropriado para a ocasião. Nada de falar sobre caras gatos com o seu pai, vale lembrar.

– Nada. – sorriso falso.

– Então, a minha menininha cresceu. Soube que está namorando.

– Oi? Não, definitivamente não! Que doidera, pai!

– Bem, um passarinho verde me contou.

– Foi a Mel, não foi? Ela é maluca!

– Vocês são melhores amigas desde sempre. E ela me falou que... Ah, bem, querida, sei que você é responsável e sabe se cuidar sozinha, mas eu queria conversar com você sobre algumas... Coisas. Você sabe, garotos são...

– Pai, tchau!

– E eu sei que eles querem mais do que...

– Eu não quero falar sobre isso, obrigada.

– Mas, querida, eu só...

– Podemos adiar isso por mais um tempo, ok? Eu prometo que... Ah, deixa para lá. Some.
Ok, a Melissa já era.