– Ok, deixa-me ver se percebo – Caleb andava de trás para a frente na espaçosa sala, com os restantes, esperando pelo seu “discurso”. – Você deixou meu carro no parque?

– Caleb! Jura que foi isso que reteu de tudo o que acabei de contar? – Pergunto exasperada, atirando a cabeça para trás no encosto do sofá. – E a parte em que fui caçada, Peter me tentou matar e umas bruxas me salvaram?

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– Ora, eu não nos chamaria de bruxas – As três irrompem pela sala, assustando-nos a todos. Está certo que elas me salvaram. Mas isso não significa que eu me sinto confortável perto delas. Ah e ainda não me esqueci do episódio da cantina é claro.

– Me desculpe, não estou familiarizada com o termo usado nos dias de hoje.

– Beatrice! – Caleb censura e desvia a sua atenção para a garota de cabelos verdes. – Me desculpem, ela ainda está na fase de aceitação.

– Nós sabemos. – Lyra tranquiliza. – Mas eu teria cuidado. Como é obvio, ela ainda não tem cotrolo dos seus poderes e se é que posso referir, eles irão colocar a cabeça dela a prémio agora.

– O quê? – Caleb parecia bastante confuso. – O que você está querendo dizer?

– Você não sabe? – Agora Lyra era aquela que parecia confusa. Entretanto, meus companheiros de casa permaneciam quietos e silenciosos, incluindo Susan.

– A garota tem o poder de manipular os quatro elementos. – Miriam esclarece.

– Não, vocês estão erradas. Seu poder é telecinesia . Nós a vimos a movimentar objetos sem os tocar. – Tobias afirma se levantando.

– Ohhh – As três garotas se entreolham enrugando a testa.

– O que foi? – Eu questiono.

– Retiro o que disse. Você não precisa ter cuidado, você precisa ter bastante cuidado. – Todos nos encaramos sem perceber. – Caleb, sua irmã têm ambos os poderes. Você a viu usar um, nós a vimos usar outro. Você não vê? Se eles descobrem isso, ela terá que desaparecer. Ela é demasiado valiosa para eles simplesmente deixarem ela escapar.

– Suponho que vocês vão manter isso entre nós – Caleb fala.

– Sim, mas não a deixem usar seus poderes. É demasiado arriscado.

– Mas quem são vocês afinal? Vocês disseram que não eram como nós. – Eu exigi.

– E não somos. Você já ouviu falar em sextos sentidos? É meio como isso. Nós nascemos com sentidos e habilidades extra. Vocês, por outro lado, o criaram.

– Então, nós estamos do mesmo lado. – Eu percebo.

– Sim com a condição de que não nos perturbamos uns aos outros, nós ficamos na nossa e vocês na sua. – Lyra falou.

– Bem, ainda assim, agradeço o que fizeram hoje. – Meu mano falou de novo.

– Sim, sim – Lyra desvalorizou. – Até mais. E Beatrice, fique longe de problemas, falo a sério.

* * *

Tristemente, eram cinco da manhã e eu estava a caminho de mais um treino.

– Eu não devia estar treinando lembra? É perigoso! – Afirmo mas Tobias apenas revira os olhos.

– Boa tentativa, mas você não pode é treinar as suas habilidades. Mas autodefesa você vai precisar mais do que nunca.

– Oh vá lá! – Suplico – Eu estou exausta! Acho que meu encontro ontem com quase 50 caçadores, vale pelo treino de hoje.

– 50? – Ele me olha desconfiado – Eu podia jurar que ouvi Megan falar que não chegavam a ser 20 homens.

– Alô! Ela é loira! Não consegue contar além dos 20. – Bufo.

– E você é preconceituosa - ele acusa e me atira contra a parede do corredor, me pegando de surpresa.

– O-o que está fazendo? – Balbucio.

Ele pega uma mecha do meu cabelo e brinca com ele entre seus dedos.

– Você parou para pensar que você também é loira? E nunca pensei em você como burra. Talvez teimosa, tempestuosa, louca… mas burra eu não achei que fosse.

– Adorei seu papo moralista, pode me largar agora? – Pergunto.

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– Porquê? Está ficando desconfortável Tris? – Ele sussurra com voz rouca. Se ele pensa que vai me fazer vacilar, está errado.

– Não, eu só odeio esse seu perfume mesmo.- Falo com ar superior.

– Sério? – Ele se afasta um pouco mas não o suficiente.

– Sério. – Tento permanecer forte perante seu olhar penetrante.

– Tudo bem então. – Ele se afasta e recomeça a andar em direção ao terraço. Eu suspiro aliviada e me afasto da parede.

Eu olho para baixo, sacudindo minha roupa quando sinto meu corpo embater de novo na parede e Tobias de novo em contato comigo. Ele se aproxima e me beija, um beijo quase inocente, eu disse quase. Meu coração bate descompassado. Como se ele adivinhasse meus pensamentos, (espera, não é Susan que lê pensamentos?), ele pousa sua mão sobre o tecido da camisa, onde bate meu coração. Ele gargalha.

– Você é uma péssima mentirosa. Nem preciso ter a habilidade de Susan para saber quando está mentindo.

– E como você sabe quando estou mentindo? – Ele gargalha novamente com se eu acabasse de dizer uma piada.

– Acha mesmo que eu vou contar para você? Essa é minha única vantagem sobre você e não a deitarei pela janela fora.

– Bem, não pode dizer que não tentei – Dou de ombros.

– Em andamento! Temos treinamento a fazer.

E quando ele falou em treinamento ele esqueceu de avisar que eu estava sendo treinada para as forças armadas. Sim, porque eu corri por quase uma hora, dezenas de abdominais, flexões… E imaginem só! Ele afirmou que era apenas o aquecimento. Como se eu conseguisse fazer mais alguma coisa após isso. Mas ele não me ouviu ou simplesmente ignorou. Ele me levou para baixo, até chegarmos ao porão. Mas não era um daqueles porões poeirentos, escuros. Pelo contrário, era um ambiente bem iluminado, de paredes brancas e chão revestido por uma carpete vermelha. O espaço tinha vários equipamentos desportivos, inclusive um saco de pancada, ups, um saco de boxe. Ele pegou minha mão e me fez encarar o saco de box.

– Você quer que eu bata nele ou em você? – Meu humor sempre irónico.

– Eu quero ver quais as suas táticas de ataque. – Ele ignora meu comentário, de novo.

– Eu não tenho táticas – Digo apenas.

– Toda a gente tem um, ainda que nunca o usasse antes. É basicamente, a forma como você reagiria em casos extremos.

Vendo que ele não está brincando, eu me posiciono em frente ao grande objeto e respiro fundo. Repito o mantra: “Eu consigo fazer isso”. Tobias se afasta um pouco para trás de mim e cruza os braços, me encarando. Eu finalmente cerro meu punho e o lanço no saco. Ele se mexeu razoavelmente. Logo me viro na direção de Tobias com um sorriso vitorioso. Porém, ele está tentando disfarçar uma risada. Antes que perceba o que está acontecendo, o saco de boxe embate com todo seu peso em mim e caio no chão. Tobias se aproxima e abaixa-se à minha frente.

– Primeira lição Tris – Ele diz cheio de si – Nunca, mas nunca subestime um inimigo, mesmo ele sendo um saco de boxe.

– Parece que entendi isso da pior forma. – Sublinhei –Vai ficar aí olhando ou vai ajudar-me?

Duas longas horas de esforço depois, eu estava dando golpes mais certeiros, mais frontais e precisos. E claro, a desviar-me das “investidas” do saco de boxe. Tenho que confessar que Tobias me ajudou bastante.

– Você até que não é mau nisso – Afirmei.

– Eu? Lutar sempre foi parte da minha vida, de uma maneira ou de outra. – Ele dá de ombros, desvalorizando o assunto.

– Você está falando da leucemia? Você deve ter sofrido muito… - Me sentei ao lado dele, apoiada na parede.

– Sim, mas isso não foi algo mau, me tornou na pessoa que sou hoje… - Ele se abre comigo.

– Então fez um bom trabalho. Você é uma excelente pessoa. – Digo, sem o olhar realmente.

– Obrigada. Não sabia que você me achava uma excelente pessoa. – Ele me olha com um sorriso – Apenas que eu era um arrogante irritante.

– Não me entendeu Tobias. Eu continuo achando que é um arrogante irritante. Mas você tem o coração no lugar certo. – Confesso.

– Oh – Ele parece surpreso. – Eu realmente não estava à espera disso.

– Qual é Tobias! Eu beijei você. – Eu revirei os olhos – Você acha que eu beijo qualquer cara?

– Tris, você está dizendo que…

– Eu não estou dizendo nada – Eu o interrompo.

– Tudo bem – Ele sorri abertamente, não um daqueles sorrisinhos irónicos e irritantes. – Nesse caso, eu também não estou dizendo nada.

Ele segurou meu rosto e acariciou minha bochecha.

– Se você está com ideias de me beijar, alerto que estou toda suada – Eu o afasto um pouco.

– Você realmente sabe como arruinar momentos – Ele balança a cabeça – Mas não arruinará esse.

Ele se debruça sobre mim, pouco se importando se estou suada ou não. Bem, se ele não se importa, eu tampouco. Lembranças do meu sonho pouco recomendado a menores, afloram e minha cabeça e eu o puxo pela nuca para mais perto. Ele não perde tempo e me beija com suavidade, um roçar de lábios, que me deixa a desejar por mais contato. Aprofundo o beijo. Tobias morde meu lábio inferior, mas não me doeu, pelo contrário, lançou arrepios pelo meu corpo.

Nosso momento terminou bruscamente quando uma daquelas bolas gigantescas de yoga ou pilates embateu connosco. Eu soltei um gritinho assustada, olhando em todas as direções, mas ninguém estava por perto.

– Tris? – Tobias chamou minha atenção. – Você pode por favor, pousar as bolas?

– Hein? – Pergunto confusa. Tobias simplesmente aponta para cima e eu sigo seu olhar. Mais umas três bolas de yoga estão pairando sobre a nossa cabeça. – Como eu fiz isso?

– Quando nosso corpo ou nossa mente está em ebulição como em brigas, momentos de tensão ou… paixão, excitação, nossos poderes podem tomar o controle. Você aprenderá a bloquear eles.

– Tá mas… o que eu faço agora? – Pergunto olhando entre os objetos flutuantes e Tobias.

– Vem cá – ele se coloca atras de mim, com suas pernas ao meu redor e segura meus pulsos. Sinto a respiração dele na minha nuca. – Você que controla ele, não ele que controla você.

Eu olho para cima e abro minha mão. Percebo o ar em volta das bolas tremer um pouco com o movimento.

– Isso mesmo Beatrice, controle seu poder – Ele solta minhas mãos e as repousa nas minhas pernas.
– Tobias, isso não me está ajudando a concentrar. – indico.

– Sim, eu sei. Mas você precisa aprender a controlar seu instinto sobrenatural em qualquer situação. – Para fazer entender seu ponto, ele espalha beijos pela minha clavícula, nuca, pescoço…

Eu tento pensar nos seus beijos nada gentis e concentrar-me na tarefa que tenho em frente. Movimento a mão para a minha frente, fazendo os objetos no ar se afastarem de nós. Com cuidado e maior calma que consigo reunir vou devolvendo a bolas ao seu lugar, o que faço com sucesso.

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– Você conseguiu. – Ele diz feliz, abraçando minha cintura.

– Não graças a você – Resmungo, me livrando dele e caminhando para a saída. Ele bufa atrás de mim e eu me viro de volta, piscando o olho para ele.