Survivor

Prólogo


O cheiro de carniça atraia as moscas barulhentas para o local, embora estivessem apenas algumas horas exposto ao ar, dezenas de corpos dilacerados já tinham um ordos insuportável. Algumas pessoas batiam na porta, pedindo por explicação do cheiro horrível e porque não havia o movimento de limpeza rotineiro após uma festa de sexta-feira á noite.

O lugar era fechado, as poucas janelas no alto do salão mantinha a iluminação precária, deveria ser o começo da manhã... Não, já era o fim do dia.

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– Senhor Joe! O senhor está aí? – gritava uma mulher esmurrando a porta. O trinco posto ali na noite anterior estava á um fio de se soltar. A velha senhora em breve entraria ali e se depararia com a coisa mais horripilante que qualquer um poderia ver.

Corpos mutilados, sangue se secava no chão, corpos desmembrados e rostos desconhecidos. 152 adolescentes que se embebedaram na noite anterior estavam ali, jovens para sempre, belos para sempre.

Morra jovem e permaneça belo.

Eles estavam tão cortados e ensanguentados que não havia condições de reconstruírem seus frágeis corpos.

– Eu vou arrombar essa droga, seu alcoólico de merda. Esse cheiro está deixando todos agoniado, desgraçado. – A senhora berrava irritada, esmurrando com mais força.

O barulho fez a vampira acordar, toda ensanguentada e deitada de mau jeito no centro do salão. As lembranças da noite anterior a fazia estremecer. Lembrava de rasgar gargantas e arrancar cabeças enquanto uma música alta tocava pelo salão, lembrava-se dos desesperados que tentavam pará-la e da dor que ela causou á todos, a dor que ela causou á famílias que esperavam seus filhos voltarem bêbados, os celulares foram destruídos com um simples toque da mente inconsciente de Isabella. Ela queria dormir, nada podia atrapalhá-la.

A vampira se sentou no chão e fungou. Ela chorava. Uma coisa tão rara á ser feita por um vampiro, chorar. A vampira chorava desesperada, como criança, olhava para a arte que tinha feito e se perguntava como cobriria os rastros. O que ela podia fazer para amenizar os danos que ela mesma causou? Não conseguia pensar, sua mente doía tanto que ela gostaria que alguém lhe afundasse uma estaca no coração e parasse com isso. Seus olhos e nariz sangravam com mais intensidade do que tantas outras vezes.

Isabella girou pelo salão e pedia desculpas silenciosas á todos os mortos. A culpa a invadia tão forte que ela queria tanto gritar, queria tanto que essa pressão fosse para longe dela...

– Senhor Joe! – berrou a mulher e abriu a porta. A luz do sol fez Isabella soltar um rosnado tão alto quanto o de um leão, a senhora de 50 anos gritou assustada ao ver todo aquele sangue, tripas e cabeças espalhados pelo chão. – Meu Deus.

Seu olhar foi para Isabella. Por um momento, a vampira parecia Carrie, a Estranha. Ensopada de sangue e com uma cara assustadora, acima de tudo, assassina. Isabella rosnou mais uma vez e gritou furiosa, sua cabeça parecia que explodiria diante de tudo aquilo.

Sua raiva e dor foi tamanha que o salão inteiro ficou em chamas. Chamas fortes e impossíveis de serem dominadas, tão fortes quanto a do inferno. A senhora tentou fugir, mas Isabella acabou a puxando com a mente e a jogou no fogo, rosnando. Ela estava tão assustada consigo mesma que não conseguia parar de chorar. O fogo a aquecia, mas não queimava sua pele. Ela era imune á qualquer coisa e odiava isso.

Após alguns minutos chorando, Isabella se calou e caminhou para fora do antigo restabelecimento, as paredes desmoronaram e espalharam poeira pelo bairro inteiro. Ninguém a viu sair, apenas viram o fogo e a boate destruída com dezenas de jovens dentro.

Caminhando pela floresta, a vampira fazia sua mente reviver todos os momentos antecedentes do assassinato na boate. Seu fracasso, sua perda, a dor, a raiva, a doença. Tudo que ela queria era tomar álcool forte e se esquecer, dançar com a música alta e ir até seu amado e tentar ter uma noite de prazer com ele. Mas a doença... ah, maldito azar, isso consumia Isabella e a fez matar tantos inocentes!

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Isabella olhou para a cachoeira antes de entrar. Queria lavar o sangue e ver se limpava sua alma, mas se sentia podre demais. Mas não podia entrar na água agora, não podia deixar tudo o que planejou para se afundar na água e esperar uma morte certa.

Decidiu ir caminhar. Precisava descansar, precisava achar a direção certa. Tinha que se salvar, tinha que voltar para sua família. Tinha que treinar. Tantas promessas e deveres passavam por sua mente, tantas memórias e amarguras e isso estava a destruindo. Sua cabeça só doía mais e Isabella sequer conseguia dar mais um passo.

Suas pernas cederam e ela caiu de joelhos no chão. As mãos sobre a cabeça tentando impedir a dor de aumentar, mas era impossível. Doía como nunca, aumentava a cada segundo. Estava ficando louca com o jorro de imagens e palavras. Ela estava morrendo lentamente por algo que fez com ela mesma.

Não, não podia morrer. Ela era uma sobrevivente.

Ou, desta vez, seria o fim da lendária Isabella Swan?