Dois meses depois do natal, e a coisa ficava só mais estranha.

E Snape passara tanto dever de casa que acho que provavelmente estaria na sexta série quando terminar tudo. Rony estava acabando de comentar que tinha que perguntar a Hermione quantos rabos de rato devia usar na Poção de Arrepiar Cabelos quando um vozerio no andar de cima chegou aos nossos ouvidos.

— É o Filch — murmuro enquanto subíamos depressa a escada e parávamos, escondidos, apurando os ouvidos.

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— Você acha que mais alguém foi atacado? — perguntou Rony tenso.

Ficamos quietos, as cabeças inclinadas na direção da voz de Filch, que parecia um tanto histérica - o que não é lá muito raro.

—... Sempre mais trabalho para mim! Enxugando o chão a noite inteira, como se já não tivesse o suficiente para fazer! Não, isto é a última gota, vou procurar o Dumbledore...

Os passos dele cessaram e uma porta bate à distância.

Esticamos nossas cabeças para espiar mais além do canto. Filch, pelo que víamos, estava em seu posto de vigia habitual: mais uma vez no local em que Madame Nor-r-ra fora atacada. E vimos imediatamente a razão dos gritos de Filch.

Uma grande inundação se espalhava por metade do corredor e aparentemente a água ainda não parara de correr por baixo da porta do banheiro da Murta Que Geme.

Quem é Murta Que Geme? Bom, é uma fantasma que Hermione apresentou à mim e a Rony quando fugíamos de um monitor da Cornival e paramos em seu banheiro - fugíamos porque era período de aula e tínhamos faltado. Era uma fantasma adolescente, que gostava de chorar, gritar e tomar banho em canos de vasos sanitários.

Quando Filch - finalmente - parou de gritar, pudemos ouvir os lamentos da Murta ecoando pelas paredes do banheiro.

— Agora, o que será que ela tem? — exclamou Rony.

— Vamos até lá ver — digo calmamente e, levantando as vestes bem acima dos tornozelos, atravessamos aquela água toda até a porta com o letreiro INTERDITADO. Não lhe demos atenção e entramos.

Murta Que Geme chorava, se é que isso era possível, cada vez mais alto e com mais vontade do que nunca. Parecia ter-se escondido no seu boxe habitual. Estava escuro no banheiro porque as velas haviam se apagado com a grande inundação que deixara as paredes e o piso encharcados.

— Que foi, Murta?— pergunto.

— Quem é? — engrolou Murta, infeliz. — Vêm jogar mais alguma coisa em mim?

— Por que eu iria jogar alguma coisa em você? - Pergunto indo em direção ao seu boxe.

— E é a mim que você pergunta! — gritou Murta, surgindo em meio a mais uma onda líquida, que se espalhou pelo chão já molhado.

— E a quem mais ele ia perguntar? — Rony pergunta sarcástico, mas Murta nem o escuta

— Estou aqui cuidando da minha vida e alguém achou que é engraçado jogar um livro em mim...

— Mas não deve machucar se alguém joga um livro em você — argumento. — Quero dizer, ele atravessa você, não é mesmo?

Epa. - Penso, dando um passo para trás.

— Acho que disse algo errado. — Rony diz enquanto Murta se estufa, para depois gritar com sua voz aguda:

— Então vamos todos jogar livros na Murta! Porque ela não é capaz de sentir! Dez pontos se você fizer o livro atravessar a barriga dela! Muito bem, ha, ha, ha! Que ótimo jogo... EU NÃO ACHO!

— Ok... Desculpe, não queria magoa-la. - Digo - Mas afinal quem jogou o livro em você? — pergunto tentando fugir de sua ira.

— Eu não sei... Eu estava sentada na curva do corredor, pensando na morte, e o livro atravessou a minha cabeça — diz Murta, olhando feio para mim. — Está lá, foi levado pela água...

Olhamos embaixo da pia para onde Murta apontava. Havia um livro pequeno e fino caído ali. Tinha uma capa preta e gasta e estava molhado, como tudo o mais naquele banheiro aliás. Adiantei-me para apanhá-lo, mas Rony de repente esticou o braço para me impedir.

— Que foi?

— Você está maluco? — diz Rony. — Pode ser perigoso.

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— Perigoso? — pergunto rindo. — Deixa disso, de que jeito poderia ser perigoso? Ele vai fazer o que? Me afogar em tinta?

— Você ficaria surpreso — diz Rony, olhando apreensivo para o livro. — Os livros que o Ministério da Magia tem confiscado, papai me contou, tinha um que queimava os olhos da pessoa. E todo mundo que leu Sonetos de um bruxo passou a falar em rima para o resto da vida. E uma velha bruxa em Bath tinha um livro que a pessoa não conseguia parar de ler. Passava a andar com a cara no livro, tentando fazer tudo com uma mão só. E...

— Está bem, já saquei. - Interrompo com os olhos ainda no livrinho que continuava no chão, empapado e indefinível.m— Bem, não vamos descobrir se não dermos uma olhada.

Abaixo para me desvencilhar de Rony e apanho o livro do chão.

Vejo num instante que era um diário, e o ano meio desbotado na capa informando que tinha cinquenta anos de idade.

Abro ele ansioso. Na primeira pagina, mal e mal, consigo ler o nome “T. S. Riddle”, em tinta borrada.

— Calma aí — diz Rony, que se aproximara cautelosamente e espiava por cima de meu ombro. Medroso, prufh. — Conheço esse nome... T. S. Riddle recebeu um prêmio por serviços especiais prestados à escola há cinquenta anos.

— Como é que você sabe? — pergunto admirado.

— Porque Filch me fez polir o escudo desse homem umas cinquenta vezes durante a minha detenção — diz Rony com raiva. — Daquela vez que ele me ouviu dizer que era bem feito a Madame Nor-r-ra ter sido petrificada, se tivesse que polir um nome durante uma hora, você também se lembraria.

Separo as páginas molhadas revirando os olhos. Estavam completamente em branco. Não havia o menor vestígio de escrita em nenhuma delas, nem mesmoAniversário de tia Magda ou dentista às três e meia.

— Não entendo por que alguém quis se livrar dele — comenta Rony, curioso.

Viro as costas do livro e vejo impresso o nome de uma papelaria na Rua Vauxhall, em Londres.

— O dono deve ter nascido trouxa — digo, pensativo. — Para ter comprado um diário na Rua Vauxhall...

— Bom, não vai servir para você — diz Rony. E baixando a voz: — Cinquenta pontos se você conseguir fazer ele atravessar o nariz da Murta.

Porém meto o diário no bolso.

Ha-ha, não consigo explicar nem para mim mesmo porque fiz isso.

O fato era que, embora tenha certeza de que nunca ouvi falar em T. S. Riddle antes, ainda assim o nome parecia significar alguma coisa, quase como se Riddle fosse um amigo que tivera quando era muito pequeno, e meio que esquecera.

E eu tinha certeza - absoluta!– que já vi esse diário.