Worse Than Nicotine

How To Get Away With Lunch


P. O. V Autora:

— Tá acordado?

— Agora que você me acordou... O que você quer a essa hora?

— Se não for abusar muito...

Sim, era abusar muito. Até demais, mas entre dirigir de pijamas e deixar o primo morrer nas mãos da sogra, Nico demorou tempo suficiente apenas para calçar um par de tênis e deixar um recado sobre a mesinha onde as chaves — inclusive as suas — ficam.

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Quase dirigiu até o fim da rua, onde os tios e o primo mais novo ainda moram, mas lembrou-se a tempo que Percy estava morando com a namorada desde o natal. O caminho era um pouco mais longo e, quando o primo se sentou ao seu lado, ele poderia cometer um crime.

— Sério? Pijamas? Nico, pensei que já tivesse superado sua onda de depressão e estivesse se vestindo normalmente.

— E eu pensei, Perseu, que morar sozinho significava independência, mas quem foi que ligou para o primo mais novo e pediu carona? — o italiano esbraveja — Agora se contente com o fato de eu estar aqui e pare de resmungar.

Tirar Nico do sério era fácil, mas as chances dobravam quando ele era arrancado de sua cama, sem ser recompensado. No entanto, nada se comparava a fúria dele no momento.

— Desculpe, primo. É que eu prometi à Sabidinha que buscaria a mãe dela no aeroporto, mas hoje, quando acordei, havia um bilhete colada a minha testa, que dizia “fui ajudar Thalia; levei o carro; te amo” — o quase biólogo marinho/surfista amador/ cavalheiro premiado suspira — Primeiramente me assustei com a linguagem do bilhete: eu nem sabia que Annie era capaz de usar linguagem informal. Ela sempre agiu como se fosse alérgica a tal coisa... Depois caiu a ficha, e eu fiquei tipo “Atena vai fazer picadinho de mim”, e entrei em desespero. Eu fiquei correndo igual louco pelo apartamento, com as mãos na cabeça igual... Ah, isso mesmo, bem assim! — Percy comenta ao ver o primo bagunçar ainda mais o cabelo já naturalmente desalinhado — Mas não precisava demonstrar: eu já...

— Eu não estava demonstrando. Eu estou frustrado, morrendo de fome e dor de cabeça: você não sabe o quão ruim é trabalhar na madrugada! Ou como é ruim estudar e trabalhar com a mesma pessoa. Sabe por que eu não fico todo empolgado de manhã? Por que meu estágio não se resume a cuidar de um filhote de leão marinho chamado Bessie! — o mais novo esbraveja, parando o carro — Já que está tão interessado em bancar o genro exemplar, dirija você até o aeroporto, enquanto tento recuperar meu sono.

E ele realmente tenta, logo após terem trocado seus lugares na SUV, e até consegue, por mais desconfortável que fosse dormir com o rosto de encontro ao cinto... Infelizmente o caminho dessa vez era mais curto, e eles logo se encontravam no lado de fora do aeroporto. Muito contrariado, mas um pouco mais calmo, Nico acompanha o primo mais velho até o setor de desembarque, e espera, tomando um horrível café que comprara por ali.

— Por favor, para de arrumar a gola dessa camisa, antes que ela saia correndo do seu pescoço! — murmura, segurando a mão do primo por puro reflexo. — Essa mulher não pode ser tão medonha assim...

— Isso vai depender do que sente medo, rapaz! — uma mulher para ao lado deles — Ou do crime que cometeu! Ou ainda se é ou não meu cliente; embora eu nunca saiba qual deles sente mais medo.

Quando esta para em frente à eles, Nico entende o porque do nervosismo do primo e se arrepende por não ter posto, pelo menos, um pijama mais elegante: a mulher, dona de curtos cabelos castanho-claros, e um impressionante par de olhos acinzentados, estava elegantemente postada em um vestido liso, preto e branco, usando saltos médios e sorrindo com deboche para eles.

O italiano engoliu em seco, pensando que nem seu pai era tão assustador. Ao lado dela, seu pai parecia um ator de comédia. Ele estava com medo, e ela nem se apresentara formalmente.

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— Minha filha sabe que você anda segurando a mão de rapazes atraentes quando ela não está por perto? — a voz era ácida, corrosiva.

— Senhora Chase, esse é meu primo, Ni...

— Não estou interessada em apresentações agora, senhor Jackson. Se puder apenas me levar para a casa de meu ex-tio, já fico feliz... Embora essa frase seja um tremendo paradoxo, já que é uma infelicidade ter que passar por lá de novo. E me arranjem um café — ela diz, caminhando sobre seus saltos. — Duplo Expresso! — grita sobre o ombro, estalando os dedos para apressá-los.

Os primos se encaram por um mísero momento, antes de Percy correr com as bagagens para o carro e de Nico correr de volta ao quiosque de café, e se certificar de levar dois duplo expresso.

Pouco tempo depois, sentado no banco traseiro de seu próprio carro, Nico se perguntava para onde estavam indo. Será que o ex-tio daquela mulher era alguém do governo? Ou ela era esnobe por si só? Segundo o Google, Atena Chase era a advogada mais influente de São Francisco. Nunca perdera um caso naquela jurisdição... O que o fez se perguntar o que ela estava fazendo em Nova York.

— Lar, amargo lar! — a mulher suspira assim que o carro para.

Nico ergue seu olhar da página do navegador e olha através da janela. Todas as peças se encaixaram assim que reconheceu o lugar em que estavam.

P. O. V Thalia:

Por ser a única garota entre os filhos, é de se imaginar que eu seria mimada por meus irmãos, certo? Errado: os dois sumiram depois do café da manhã e deixaram a louça para que eu lavasse, fora um bilhete de Apolo pedindo que eu fosse a seu apartamento e desse um jeito na bagunça do quarto de Allie e no escritório.

Tudo bem eu lavar a louça: a casa é minha, afinal. Agora, bancar a diarista de Apolo era sacanagem. Quem estava indo a casa dele? O Presidente? O Papa? O Batman?

No entanto, quando Annabeth chegou a minha casa, aparentando ter enfrentado uma manada de elefantes e carregando inúmeros itens de decoração femininos, a ficha rapidamente caiu: a prima de Apolo defenderia a mim e Silena — e, provavelmente Bianca — no caso contra Luke, Annabeth estava uma pilha de nervos...

— Oh, céus! Atena já chegou? — pergunto, parando de ensaboar uma colher.

Annabeth, ainda sem fôlego, apenas assente. Imediatamente largo minhas louças e desamarro o avental, já correndo atrás da loira que parecia disputar corrida contra o tempo. Antes que eu pudesse tocar nas chaves do carro, ela grita que não dá tempo e me manda correr. E é o que faço, rezando para ter trancado direito aquele lugar.

Se houvessem provas de Fórmula 1 para mulheres, Annabeth ganharia todas: eu mal entrei no carro e afivelei o cinto, e ela já estava me mandando correr de novo.

Amaldiçoei Apolo por ser dono de uma bagunça organizada: havia documentos sobre a mesa de centro da sala, louça na pia da cozinha e roupas na secadora. Seu quarto estava impecavelmente arrumado, assim como o escritório — o que devia ser um milagre tão inédito, que ele até se esquecera do fato —, mas o quarto de Allie... Parecia que um furação passara por ali. Para uma pessoa tão conceitual, minha sobrinha não era nada metódica.

Suspirando e sozinha na tarefa de arrumar aquele lugar, já que Annie tentava transformar o quarto de hóspedes no quarto de Atena, resolvi começar na área que parecia ser a minha especialidade do dia: a louça. E lá estava eu, no ritual de por detergente na esponja e esfregá-la como se esfregasse a cara de Luke no asfalto cheio de pedregulhos e pregos afiados, quando a porta da frente se abre.

— Por que ta lavando a louça de Apolo, Thalia? — Ártemis pergunta, entrando junto com Allie.

Tentei tirar da minha mente a imagem da ruiva e de meu irmão se pegando freneticamente num corredor qualquer. Pense nos bíceps de Nico, me auto-aconselhei.

— Por que Atena está na cidade e, ao que parece, vai se hospedar aqui. — respondo, voltando a louça, como se lavá-la fosse o motivo de eu estar viva.

— Atena está vindo pra cá? — Allegra grita, como se estivesse sendo asfixiada — Ah merda! Merda, merda, merda! — ela corre para seu quarto.

Amém! Menos um lugar para arrumar.

— O que essa mulher fez para assustar todo mundo? — a ruiva pergunta, assustada com a reação de minha sobrinha.

— Te explico numa boa, se você tirar aquela roupa da secadora e guardá-la! — digo, preparando-me para enxaguar.

— Eu não vou por as mãos nas cuecas do seu irmão.

— Para de puritanismo, Ártemis! — esbravejo, perdendo a paciência — Todo mundo sabe que você quer por a mão no que está embaixo da cueca do meu irmão, isso se já não pôs, então pare de frescura e anda logo.

Ela me lança um último olhar desconfiado — como se achasse que eu estava bêbada ou drogada —, antes de seguir para a pequena área de serviço, resmungando que “todos estavam loucos” e que “Apolo era muito fresco por não usar as secadoras comunitárias”.

Terminei com a louça — já secando e guardando-as em seus respectivos lugares —, e dei uma geral na cozinha, arrumando algumas coisas antes de seguir para a sala. Os documentos ali eram, muito provavelmente, anotações sobre seus pacientes e eu sabia que ele se chatearia se eu as misturasse. Fora que não era justo descontar nas pobres almas a minha raiva. Então sentei no chão, e agradeci o fato de meu irmão ser possivelmente o único médico com letra bonita. Foi fácil organizar as pilhas, separando as do hospital das do consultório de neurologia. As do consultório de pediatria não estavam em lugar nenhum por ali.

Depois que guardei todas as fichas em suas respectivas pastas, sobrou-me apenas um envelope sem nenhuma anotação. Abri para ver o que continha, e me surpreendi ao notar que se tratava de um teste de DNA.

— Mas o que...

— Não mexa nisso!! — ouço, segundos antes de ser derrubada no chão.

— Apolo, você tá louco? — grito, exasperada.

— Thalia, você sabe onde por as cue... — a pobre da Ártemis se interrompe, ao perceber o loiro, de quase dois metros, parado em pé sobre mim.

— O que está fazendo com minhas roupas? — o dito cujo pergunta.

— Guar-guardando! Mas não tenho idéia de onde você guarda suas cuecas. — e embora eu não visse, podia jurar que Artie corava.

Só acho que ela deveria saber onde ele guarda as cuecas. Só acho...

— Ai, Deus! Foi mal, Artie! — levanto-me a tempo de ver meu irmão corar, e correr para arrumar as roupas.

— Onde eu ponho essas pastas? — grito.

— No escritório. — Artie e ele respondem ao mesmo tempo.

— Isso você sabe, as cuecas...

— Cala o bico, Thalia! — ela diz, com um olhar ameaçador — Por acaso eu fico te dizendo que deve saber onde Nico guarda as cuecas?

— Não precisa, gata: eu sei muito bem onde ele guarda! E gosto mais delas na gaveta do que no corpo dele! — pisco para ela, deixando as pastas sobre a mesa de mogno.

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Meia-hora depois, tudo estava arrumado, inclusive a mala de Allie.

— Pra onde tu pensa que vai, criatura? — Apolo pergunta, chocado.

— Qualquer lugar bem longe da prima Atena. — ela responde, ainda nervosa — Volto quando ela se for.

— Vai me deixar sozinho nessa?

— A vida é feita de sacrifício! Parabéns: você é o sacrifício dessa rodada! — ela sorri, e praticamente foge.

— Não se preocupe: da minha casa ela não sai! — Ártemis nos tranquiliza e estava prestes a seguir a filha, quando Apolo pede que o espere.

Ele a leva até a porta e lhe entrega o envelope que havia tomado de minhas mãos. Artie o olha por um segundo antes de voltar seus olhos para Apolo, que lhe diz algo e a abraça com força.

Desvio o rosto: aquilo era tão íntimo quanto um beijo. Ao fazer isso, acabo dando de cara com Annie, que ainda estava agitada.

— Vamos! Tenho que me trocar antes de me encontrar com minha mãe!

Estávamos saindo, passando pelo casal que deveria se casar, quando recebo minha primeira intimação no caso “Modelos e Detetive versus Idiota”: almoço. Hoje. Mansão Grace.

P. O. V Nico:

Eu já estivera ali antes, muitas vezes. Já estivera ali de pijamas também, mas nunca havia almoçado ali vestindo pijamas e tênis — isso porque eu pedi que uma de minhas irmãs me trouxesse uma roupa comum, coisa que elas não fizeram —, o que além de constrangedor, era incômodo.

— É tudo culpa sua! — sibilo para Percy, que está sentado ao lado Perséfone, do outro lado da longa mesa.

Quem diria que os Grace teriam uma mesa retrátil que, no momento, acomodava dezoito pessoas?

— Bom, todos aqui sabem o motivo dessa reunião! — Zeus começa, mal nos dando tempo de digerirmos o almoço.

Ele tinha que começar um discurso agora? Bem quando Héstia servia seu famoso Petit Gateau?! Ele não percebe que todo mundo, até mesmo a assustadora Atena, estão olhando para ele como se dissessem “Ei cara, tenho um doce maravilhoso me esperando. Cacareje depois da sobremesa!”?

— Sim. Três garotas maiores de idade tiveram suas cenas íntimas vazadas na internet, e estão aqui, como se fossem adolescentes de treze anos, enquanto muita gente morre mundo a fora! — Thalia diz, categórica, comendo sua sobremesa.

Ouço um talher cair sobre o prato, e a próxima coisa que vejo é Apolo levando Allegra para longe da mesa. Ártemis os acompanha, dirigindo um olhar de boa sorte para mim.

Eu realmente precisaria que a sorte estivesse ao meu favor.

— Thalia, nós entendemos que vocês três são crescidas e que poderiam ter essa reunião a sós com Atena, mas queremos dar apoio a vocês, entende? — meu pai explica, com calma, o porquê de estarmos ali. Noto-o apertar a mão de Bia e lhe oferecer um sorriso caloroso.

— Fora o fato de sermos pessoas públicas: temos que evitar que isso vaze para a mídia! — e Zeus estraga tudo, de novo.

Olho para Thalia, preocupado e rezando para que sua reação não seja demasiada exagerada. Jason, sentado ao lado dela e na minha frente, parece entender o que sinto e aperta o ombro da irmã.

— Sim, não queremos o mundo falando de nossas meninas... Acredito que tenha sido isso o que Zeus quis dizer! — Afrodite tenta melhorar a situação, aliviar o clima.

Mas é visível que o clima ali não vai melhorar tão cedo: Silena está inconsolável, assim como sua irmã, Piper, sentada ao meu lado — vejo Hazel abraçar Silena, e eu afago as costas de a garota ao meu lado, sabendo que Jason, que ainda confortava a irmã, gostaria de estar em meu lugar —; Bia estava tensa, como se estivesse se preparando para um combate de MMA ou para prender um suspeito — Perséfone estava debruçada sobre a mesa, sussurrando o que presumi serem palavras calmas —; e havia Thalia, que parecia prestes a fuzilar a todos ali. Nada do que Atena proferia, em sua voz precisa e calma, alcançava nenhuma das três, embora eu confiasse nela quando dizia que venceriam aquela batalha.

A tensão ainda estava presente quando Héstia aparece, anunciando que a casa estava cercada de repórteres. Tal notícia apenas fez com que o clima piorasse.

— Droga! — Thalia exclama, levantando e correndo para fora da sala de jantar.

Um insight coletivo ocorreu, fazendo todos se erguerem para segui-la. Ela estava furiosa com tudo que estava acontecendo, e quando Thalia estava naquele estado, sua língua acabava sendo maior que a boca.

— É verdade que a doutora Chase se encontra, nesse exato momento, almoçando com vocês? — ouço a repórter perguntar, quando chego ao mezanino sobre a varanda.

— Nesse instante não mais: ela deve estar descansando, antes de sairmos. — Thalia responde, com uma calma incompreensível.

— Sairmos pra onde? Eu tenho um caso para...

— Shh, mãe! Escute! — Annabeth a corta, encontrando coragem não sei como.

— A que se deve a visita da doutora?

— Somos da mesma família: talvez ela sentisse nossa falta! — ela responde, dando de ombros como se não fosse nada.

— E a que se deve a presença da família di Angelo? E da família Saunière?

— Afrodite e suas filhas são amigas da família — mais um dar de ombros — Quanto aos di Angelo... — ela olha para trás, dando uma piscadela.

— Oh, droga: é agora que ela faz merda! — me ouço resmungar.

Estava quase me jogando do mezanino — uma distração é sempre bem-vinda nessas horas —, quando ouço Thalia falar novamente.

— Era para ser um segredinho entre o signore di Angelo e eu — viro-me para meu pai, que ergue as mãos como se dissesse que era inocente —, mas acho que posso lhes dizer isso: preparem-se para a mais nova aliança do mundo da moda.

— Como assim? — alguém lá embaixo ecoa os pensamentos de todos no mezanino.

— Estaremos trabalhando em uma coleção juntos: uma coleção de roupas e jóias... Chamemos de coleção Grace di Angelo, por enquanto... Nomes não são o meu forte! — ela explica e um suspiro coletivo de alívio se faz ouvir entre nós.

— Só mais uma pergunta Thalia, por favor? — uma jovem pede

— Pois não?

— Por que Nico di Angelo está de pijamas?

O sorriso que Thalia me dá ofusca as risadas que ouço e a vergonha que sinto. Meu interesse está focado em sua resposta.

— Como dizia Gossip Girl: este, meus queridos, é um segredo que nunca revelarei! Afinal: um mágico nunca revela seus truques!

P. O. V Autora:

Enquanto descia as escadas do mezanino, atrás de todos os convidados daquele torturante almoço, Nico não pode deixar de sorrir: sua garota nunca o decepcionava. Fosse para matá-lo de susto, fosse para diverti-lo com tanta sagacidade.

Olhando para trás, para os longos anos de amizade, não pode deixar de se lembrar de cada momento em que estiveram juntos em alguma enrascada do destino, ou em como ele sempre esteve ali para ela, e sempre estaria. Assim como, ele sabia, ela estaria.

Lembrou-se de como ficou ao lado dela depois que Beryl morreu, e durante todo o longo processo de luto. Se assustou com cada fase, ficando desolado quando ela chorava, e pronto para gritar com ela e por um pouco de juízo em sua mente.

De fato ele fizera tal coisa, há anos, quando ela tentou se matar.

“— Me desculpe, Nico! — ela pedira assim que o vira naquela tarde, naquela mesma sala em que ambos entravam no momento.

— Te desculpar? Eu quero é te matar, sua idiota! — ele segurara a cabeça dela entre as mãos. Na época, estranhamente, tinham a mesma altura — Primeiro porque você mentiu para mim, disse que me encontraria para estudarmos história e foi para a ponte. Segundo, você nem pensou em me deixar, sei lá, uma notinha? Um bilhetinho suicida? E POR QUE MERDA VOCÊ QUERIA FAZER ISSO? EU NÃO SOU O BASTANTE PARA QUE VOCÊ CHORE? VOCÊ PRECISAVA MESMO IR? E SE FOSSE, DE QUEM EU CUIDARIA? QUEM EU AMARIA E QUEM ME AMARIA?

— Ah, Nico! Se você soubesse a quantidade de pessoas que te amam... — ela murmurara, engasgada com suas lágrimas e palavras.

— E você? Sabe a quantidade de pessoas que te amam? — ele perguntara, contendo as lágrimas que queriam sair — Sabe o quão louco eu ficaria se te perdesse? Você é minha melhor amiga, Thalia, eu te amo tanto que nem sei mais se sobrou para me amar. Perdê-la seria minha ruína!

— Me desculpe, Nico! — ela se joga em seus braços, fazendo-o cair sentado sobre os degraus da imensa escadaria.

A cena era tão intensa que nem mesma Allegra, uma criancinha na época, quis permanecer no local: a menina, sem dizer uma única palavra, pede ao pai que a pegue no colo e os dois saem da sala, junto com todos os outros presentes.

— Eu vou sempre estar ao seu lado, Lia: quer queira, quer não! Eu sempre vou secar suas lágrimas e lutar suas batalhas ao seu lado. Eu amo você, ragazza! — ele sussurrara, calmamente, naqueles cabelos negros que ele tanto amava.”

Naquele tempo ele já entendia que há coisas na vida que são efêmeras: duram tempo ilimitado e você não pode fazer nada para evitar que elas acabem. Amizades, principalmente na adolescência, são coisas efêmeras. O que ele também entendia era o valor de um sempre: ele prometera que sempre estaria ao lado de Thalia.

E ele sempre cumpriria aquela promessa.