Receita para uma tempestade

Capítulo V - Captura


Ainda com o tornozelo dolorido e completamente morta de sono, Marguerite recomeçou sua jornada, mas agora com destino certo. Quando chegasse a aldeia pensaria no que fazer em seguida, além disso, ela sabia que seus amigos não desistiriam dela tão facilmente assim, ela conhecia cada um muito bem e por isso podia dizer que mesmo que a odiassem de todo o coração, não teriam a capacidade de abandoná-la, nem mesmo Verônica.

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Ah! Aposto uma viagem de volta a Londres como ela está arrependida”, pensou enquanto caminhava, “Verônica não consegue viver com a consciência pesada, nem com o ódio, são um veneno para ela... Vai precisar se arrastar e implorar se quiser que eu volte, caso contrário é bom se acostumar a ter culpa como nova inquilina.” Marguerite não era boba o suficiente para negar que era tão culpada quanto Verônica, mas preferiu fingir para si mesma que era a vítima, afinal, já tinha fardos demais pra carregar na vida. E que fardos, segredos tão pesados quanto transatlânticos.

Próximo à aldeia, a morena avistou uma nuvem de fumaça por entre as árvores e ficou apreensiva, começou a caminhar mais lentamente e com mais cuidado. Seu instinto muito bem treinado indicava problemas, mas decidiu chegar um pouco mais perto, perto o suficiente para descobrir o quanto ele também era perspicaz. Escondida pela vegetação viu o que sobrara da aldeia Zangá: cabanas queimadas ou destroçadas, homens estranhos perambulando de um lado para o outro com facas e punhais nas mãos, alguns fiscalizavam os zangas, colocando-os em fila com as mãos amarradas às costas, fazendo-os em seguida entrar numa carroça que mais parecia uma jaula.

– Bom, acho que vou te ouvir dessa vez – disse para a voz em sua cabeça que lhe mandava dar o fora dali o mais rápido possível.

Marguerite deu meia volta, mas não tinha avançado cem metros quando um mercenário pulou na sua frente. O homem era jovem, alto e forte, andava pela mata a procura de fugitivos, nas mãos trazia uma corda e uma espada do tamanho de um punho feita de aço escuro e grosseiro, parecia afiada. Marguerite tentou carregar seu rifle, mas não deu tempo, o homem o tomou de suas mãos e atirou longe, era obvio que não sabia de que se tratava. Então, a morena levou a mão ao cinto onde guardava sua outra arma, e o homem aproveitou esse momento para passar a corda em volta de seu pescoço. Na tentativa de respirar, Marguerite se esqueceu do revolver e levou as mãos à garganta, o mercenário pegou então seus braços e os atou às costas, mas a mulher não era do tipo que se entregava facilmente, se debatia e chutava e pisava no pé do homem, o que fez seu tornozelo doer ainda mais. Lembrando que já estava exausta pela péssima noite que passara suas forças logo a abandonaram de vez, o bandido a levantou como uma pena e a jogou sobre os ombros, só lhe restava mesmo gritar.

– PONHA-ME NO CHÃO IMEDIATAMENTE SEU AMONTOADO DE ESCREMENTO DE TIRANOSSAURO... – E continuou a dar ordens como uma rainha deposta. Falava em todas as línguas possíveis até que em uma delas ele entendeu as ofensas que ela pronunciava. Ele a jogou no chão como se fosse um saco de café, Marguerite bateu as costas e perdeu o ar, não conseguindo emitir sequer um gemido de dor. Seu captor rasgou uma tira de sua blusa, deixando parte do liso abdômen exposto, e a amordaçou com ela.

O homem a levantou novamente sem a menor delicadeza e a levou até o centro da aldeia. Lá colocou a morena no chão sujo e molhado diante de um tipo com feições ainda mais intimidadoras. Os outros o chamavam de Górki, e o tratavam com bastante distinção, o que faz Marguerite pensar que estava diante do líder deles. Górki aparentava ter por volta de uns cinqüenta anos, tinha olhos escuros e sobrancelhas espessas, seus braços e tronco eram muito fortes e peludos, o rosto era anguloso e trazia uma carranca assustadora indicando que ele não costumava se divertir. Ele andou em volta de uma assustada Marguerite, olhando-a atentamente, depois se virou para o jovem que a havia trazido e deu-lhe um soco que por pouco não deixa o rapaz inconsciente. Marguerite achou bem feito.

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– IDIOTA. ESTA NÃO É A GAROTA CERTA. – gritou para o outro, empurrando-o para o chão com a sola de seu pé enquanto ele tentava se levantar.

– Exatamente, pegaram a garota errada, tudo não passa de um grande mal entendido – falou quando Górki tirou-lhe a mordaça e voltou a encará-la – Me soltem e vamos todos ser amigos – Marguerite deu um sorriso desesperado.

O homem, agachou a seu lado, colocou sua mão imunda na pele clara de Marguerite, segurando seu rosto pelo queixo, então olhou dentro de seus olhos e viu uma superfície azul acinzentada, fria como gelo, mas por trás disso, enxergou um fogo que só o inferno conhecia. Marguerite mordeu-lhe o dedo quando o chefe tentou acariciar sua face e o homem recuou imediatamente, deixando-a com um gosto horrível de suor e terra na boca. Górki se levantou e voltou a falar com o moço no chão.

– Você é um infeliz de muita sorte, esta não é a filha do velho, mas me parece ser muito melhor. É diferente das outras mulheres da tribo, posso conseguir muito mais por ela. – Agora aproveite que vou deixá-lo viver e corra, sele um cavalo, vou partir com o primeiro lote, e a branquela vai comigo.

– Ir com você? Espere, espere um instante, e quanto àquela história de eu ser a garota errada?

– Garotas erradas também têm sua função no mundo, e eu já tenho uma utilidade em mente pra você.

– O que? – Marguerite começou a se desesperar, agora sim ela estaria perdida, iria ser levada pra longe, e talvez nunca mais voltasse a ver seus amigos.

Muito bom trabalho Verônica, você acaba de provar que quando não é a senhorita boa moça, pode provocar tantos problemas quanto eu” – quis dizer para a loira, mas talvez nuca mais tivesse a oportunidade se colocar frente a frente com ela novamente.
Górki continuou a ditar instruções para os homens que permaneceriam estabelecidos ali.

Na minha ausência, vão responder a Kriger. – foi a última informação que ditou. Um cavalo foi-lhe trazido e ele subiu, depois um de seus capangas levantou Marguerite e a colocou sentada, ainda amarrada, em sua frente.

Ela tentou espernear e se soltar, mas descobriu que ali, entre os braços grossos do homem, não era um bom lugar para ser malcriada.

– Mais uma, gracinha, e eu corto seu lindo pescoçinho – sussurrou ele em seu ouvido, depois deu um beijo molhado na orelha da moça que fez uma careta de nojo e uma expressão de choro, mas decidiu ficar quieta.

– Eia! – o cavalo começou a andar.

Droga Roxton! Cadê você?” – ele sempre havia chegado na hora certa, mas não dessa vez.

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George e Roxton caminhavam na frente, seguidos de perto por Verônica e Malone que acompanhavam Assai. Tinham se armado com toda a munição que puderam reunir. Challenger traçara um plano um tanto arriscado, mas foi unanimemente aceito por falta de melhor opção. O grupo seguiu silenciosa e cautelosamente o longo caminho de volta à aldeia Zangá, pouco falaram entre si, cada um repetia mentalmente seu papel no plano do cientista. Assai e Verônica serviriam de isca e distração, Roxton entraria escondido na aldeia para libertar Marguerite se ela realmente estivesse lá, também tentaria soltar o pai de Assai e o resto dos zangás que estivessem cativos. George e Ned procurariam pelas “bolas de fogo”, o carregamento de pólvora, e dariam cobertura ao caçador até que os guerreiros da aldeia estivessem soltos, e em seguida, se uniriam a eles para combater os invasores. Assim ficou decidido e dividido, mas a teoria é sempre mais simples que a prática.

Chegaram aos limites do território Zangá no começo da noite, observaram a movimentação e constataram que os raidor haviam se reunido para comer, com exceção de dois que faziam a guarda.

– Certo, vimos oito homens ontem, mais os dois que guiavam a carroça e Assai nos disse que de dentro das mesmas saíram mais uns quatro atiradores de fogo cada uma, isso vai dar o total de uns dezoito homens contra apenas nós cinco – contabilizou George - As estatísticas não estão ao nosso favor.

– Quero mais é que se danem as estatísticas. – sibilou John mal-humorado. – E eles são dezessete, eu matei um quando salvei a Assai por engano... Quer dizer, não foi por engano, teria te salvado mesmo sabendo que era você... É só que eu esperava... Desculpe. – Tentou se justificar para que a moça não pensasse que estava arrependido de tê-la ajudado.

Os cinco ficaram novamente em silencio, enquanto Challenger ponderava sobre questões que ainda não tinha levado em consideração. Marguerite, porém, estava cada vez mais longe.