Unbroken

Frenzy


Tenho que confessar a mim mesma que quando sai da praia meu coração estava bombeando muito rápido, minha veia parecia saltar em certos pontos, e minha mente trabalhava a mil por hora. De acordo com minhas vastas experiências passadas, isso era adrenalina. Isso se discutir gloriosamente e dar o dedo do meio para meu possível vizinho for considerado adrenalina. Eu gostei, pelo menos. Aquela expectativa de poder acontecer qualquer coisa, de planejar falar ou fazer algo só para obter certa reação, e melhor ainda quando se tem que improvisar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Fiquei pensando na discursão enquanto voltava para casa para lavar meus pés. Formulei milhares de respostas que eu poderia ter dado, ou coisas que eu poderia fazer. Como sempre, típico.

Minha nova casa estava escura quando cheguei lá, o carro de minha mãe estava na frente, mas ela não estava em casa. Fui rápido lavar o pé no banheiro do térreo e conferi meu celular.

– Ah, puta que pariu! – eu disse fazendo uma careta exagerada. Eram 8:20. E tinha seis ligações perdidas de minha mãe.

Eu, sem dúvida, estava ferrada por quatro simples razões: 1) porque minha mãe odeia chegar atrasada em seus compromissos e 2) porque minha mãe odeia que eu chegue separado dela nesses jantares e 3) minha mãe odeia quando eu não atendo o celular e também tem 4) ela fica estressada se eu sumir por mais de 30 minutos sem dar noticia.

Relutante, eu liguei para o número dela, que atendeu no terceiro bip.

– Aonde você está, Annabeth Chase? – ela disse, sussurrando e tentando controlar a voz.

– Eu estava na praia, eu disse. Agora estou em casa, aonde você está?

– Eu disse para você que o jantar era as 8:00. Já estou aqui, porque honro meus compromissos. Poseidon está sendo gentil por estar oferecendo um jantar de boas-vindas para nós duas e você...

– Eu perdi a hora, tá legal? Foi mal. Como eu chego ai? – a cortei, antes que ela discursasse um longo sermão.

– Nosso vizinho, a casa azul mais escura – e desligou.

Revirei os olhos e sai de casa. Os dois vizinhos tinham casas de cor azul, porém uma era azul clara, quase branco, e a outra era um azul mais escuro, como o oceano. Percebi que era a casa que minha sacada tinha vista. Isso significa que irei conhecer o garoto do quarto ao lado, e que tem grandes chances de ser o garoto da praia, vulgo, Cabeça de Alga.

Toquei a companhia e esperei alguém abrir a porta. Não se tinha som lá dentro, apenas um som instrumental que minha mãe sempre amou. Sem dúvidas, essa noite seria bem chata.

– Annabeth, como você está linda! Faz tanto tempo que não te vejo – disse Poseidon, um homem alto e bronzeado, com lindos olhos verdes. Ele me deu um abraço desajeitado e eu não consegui retribuir da melhor maneira.

– Olá, Poseidon, tudo bem? Desculpe-me pelo atraso – digo, fazendo jus a uma imagem de boa moça.

– Tudo sim, entre – disse o homem, dando-me passagem para entrar na sala de estar, onde minha mãe estava sentado com um homem de cabelos quase brancos e duas mulheres bem elegante.

Fui ao encontro deles e eles se levantaram para me abraçar e apertar as mãos.

– Que bom que você chegou, filha – disse minha mãe, pseudo-gentil. Ter que aguentar a falsidade de minha própria mãe é algo que venho aturando a tempos, e eu já estou ficando farta – Esse é Zeus e sua esposa Hera, você já os conhece. Essa aqui é a nossa mais nova sócia, Afrodite, ela é a nova líder da decoração interior e cores.

Afrodite me deu um beijinho estalado em cada face e eu tentei ignorar o perfume enjoativamente doce dela. Com aquele vestido de perua e longos cabelos louros brilhosos, eu facilmente a confundiria com aquelas excêntricas atrizes de Hollywood.

– Prazer em conhecer-te, Afrodite – digo, formalmente com um sorriso ensaiado no rosto. Me senti estupidamente mal vestida ao lado daquela mulher.

– Ah, querida, o prazer é todo meu! – ela disse com uma voz melodiosa.

Me sentei numa poltrona longe de todos e fiquei mexendo no meu celular, jogando um jogo estupido para passar o tempo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Irei chamar os meninos para descerem, o jantar já vai ser servido, já que nossa última convidada de honra chegou – disse Poseidon, sorrindo para mim.

Olhei de esguelha e vi minha mãe olhar severamente para mim. Mas como eu iria ouvir quando chegasse em casa! Poseidon subiu as escadas e logo desceu, sua expressão já não era descontraída como antes, mas ninguém percebeu.

– Eles já estão descendo, vou pedir para a empregada arrumar a mesa – ele o comunicou e todos se levantaram, se dirigindo para a sala de jantar mais elegante que eu já vira.

Numa parede tinha um espelho enorme e as outras eram de quadros famosos, tinha pouca mobília e algumas plantas. O lustre que pendia no meio da enorme mesa para 10 lugares era lindo e parecia ser cristal de verdade.

– Linda sala de jantar, Sr. Poseidon – eu digo, sentando-me ao lado de minha mãe na mesa.

– Não é de se estranhar, tudo que sua mãe planeja fica lindo – ele disse, e eu forcei-me a sorrir diante daquele flerte nojento.

Um bando de adolescentes apareceram na sala de jantar, com caras nada amigáveis. Quando eu digo um bando, eu só estou querendo dizer quatro adolescentes que parecia fazer bagunça por dez. Eles se colocaram em seus lugares, parecendo nem se importar com minha presença, sendo eu uma adolescente nova e estranha. Eu reconheci um deles. O garoto da praia. Ele estreitou os olhos e eu pensei que ele ia ficar quieto, na dele, fingir que não me conhecia, mas não, ele decidiu abrir a bocona dele.

– Oque ela está fazendo aqui? - ele disse, com hostilidade, acenado com o queixo em minha direção.

Nenhum adulto percebeu a tensão entre nós dois, e se percebeu decidiram deixar para lá. Mas os outros jovens desconhecidos, esses sim olhávamos atônitos. Até que uma garota de cabelos pretos repicados perguntou:

– Já a conhece?!

– Ah, que indelicadeza a minha! Péssimo anfitrião eu sou – disse Poseidon, se levantando da cadeira e indo ficar as costas da minha. Me deu um tapinha no ombro e eu fiquei sem saber oque fazer. Só fiquei encarando o garoto da praia a minha frente, sentado justamente bem de frente a mim. Seus cabelos negros estavam molhados e seus olhos ainda sem nenhum brilho. – Essa é a Annabeth Chase, filha da minha sócia Atena, que todos já conhecem – dei um sorriso um pouco forçado demais – Annabeth, esses são Jason e Thalia, filhos de Zeus – Poseidon apontou para um garoto loiro com lindos olhos elétricos, cheios de vida, e para um garota punk com os mesmos olhos.

– Acho que sei usar minha voz ainda, tio – disse a garota punk, Thalia, revirando os olhos e cruzando os braços, como se tivesse entediada.

Jason nada disse, apenas acenou com a cabeça brevemente.

– Essa aqui é a adorável filha de Afrodite, Piper – Poseidon continuou, ignorando Thalia. Apontou para uma garota com pele morena e cabelo castanho. Não tinha nada a ver com a mãe, tanto na aparência quanto no estilo; ela usava apenas uma regata e jeans. Mas ainda assim continuava muito bonita. Ele saiu do meu lado e foi para o do garoto da praia, dando uns tapinhas em seu ombro – Esse é o meu garoto, Percy.

Percy, esse era o nome daquele idiota.

– Tá, pai, chega – disse ele, antipático, tentando livrar seus ombros das mãos do pai.

– Seria interessante que eles mostrassem a cidade para a Annabeth – sugeriu Afrodite, meiga – Eles poderia ser amigos e assim ajudar ela nos problema, porque deve ser muito difícil...

– Acho uma ideia perfeita! – digo, tentando parecer natural e não desesperada para cortar Afrodite de sua fala. A última coisa que eu queria era que ela espalhasse para todos meus problemas psicológicos e emocionais. – Ahn, achei uma boa ideia Afrodite, é. Mas eu e minha mãe decidimos deixar os problemas em New York, não é mãe?

– Exatamente – apenas disse, serena.

– Nossa, uau! Você é de New York?! – perguntou a garota morena. Qual era mesmo seu nome? Pipa, papel... paiper. Piper!

– Sim, nasci e cresci lá – respondi.

A empregada começou a preencher o prato com deliciosos pedaços de lasanha. Fico aliviada por ser isso e não aqueles pratos metidos, tipo lagosta à la sei-lá-oque. Piper parecia ser bem legal, e disposta a ser minha amiga. Eu tinha que tentar se legal também, eu precisava de uma amiga. Amiga com apenas A no final.

– Deve ser tão incrível o Central Park, as lojas, os eventos! – ela disse, olhando de esguelha para o loiro ao seu lado. Eles pareciam ter pensado a mesma coisa, e oque quer que seja, não falaram.

– Sim, ótimo lugar para montar uma empresa, tantas opções que nos deixam perdidos – disse o loiro de olhos azuis, Jason.

Alguns comentários ocorreram, perguntando como era minha vida em NY, oque eu fazia, onde eu estudava, como era as pessoas. Eu dei respostas diretas e curtas, não estava nem um pouco a fim de me lembrar de minha vida em NY. Eu queria enterrar NY num tumulo e nunca mais tira-la de lá. Mas eles decidiram me bombardear de perguntas. Os adultos vez ou outra comentava algo de nossa conversa, mas na maioria das vezes eles conversavam sobre a empresa. Tinha terminado de jantar e bebericava uma taça de vinho. Vinho minha mãe liberava, mas apenas uma taça, e eu não fazia questão já que não gostava muito. Como tantos olhares estranhos sendo lançados para mim (principalmente de Thalia e Percy) eu acabei derramando umas gotas do vinho em meu vestido.

– Ah, que droga – digo, botando a taça na mesa e arrastando a cadeira para me levantar. Poseidon informou onde era o banheiro e eu segui até lá. Deixei a porta aberta mesmo, uma vez que apenas estava limpando o vestido e acho que ninguém iria sair da sala agora. Nada pude fazer pela mancha.

– Então você é a tão bem falada filha de Atena Chase? Acho que esse rostinho bonito esconde mais coisas do que podemos imaginar – disse Thalia, a porta do banheiro, impedindo minha saída.