Unapologetic

My Love and Enemy


Tudo parecia um pesadelo.

Katerina tinha a esperança de acordar e perceber que tudo não passo de um sonho ruim, mas lá no fundo sabia que nada disso aconteceria. Esse momento é real.

– Eu odeio você - ela murmura enquanto começa a dar socos por qualquer parte do corpo dele que encontre desprotegida. - Eu odeio você. Eu odeio você! EU ODEIO VOCÊ!

A sua voz começou baixa, mas foi se alterando conforme a sua raiva aumentava. Ela sabia que era algo momentâneo, porque ela nunca seria capaz de odiá-lo, mas foi a primeira reação que lhe veio à cabeça. A verdade é que ela estava completamente sem reação. Como reagir diante de uma traição como aquela? Ele não a traiu fisicamente, mas sim emocionalmente. Para Katerina, a segunda doía mais do que a primeira.

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Ele se aproveitou do seu momento de carência após ter rejeitado Michael por um bem maior: a sua família e o seu país. Ela sabia que teria que se casar com Erik e não queria se envolver com ninguém, para não sofrer mais tarde, por isso ela decidiu desistir e Mike. Com Fabrizio foi diferente. Ele chegou de repente, a irritando e a conquistando aos poucos, conseguindo uma boa parte do seu coração, até tê-lo por completo. Ele usou daquele momento de fragilidade para se dar bem às custas dela.

– Kat - ele segura os punhos dela. - Nós temos que conversar como pessoas sensatas.

– Eu não sou uma pessoa sensata - ela balbucia. - Se eu fosse nunca teria me deixado ser envolvida pela sua conversa mole, papo de conquistador barato. Cafajeste.

– Eu amo você de todo o coração, Katerina. O que mais eu preciso fazer para te provar isso?

– Você já me provou o bastante sobre o seu caráter em um dia só - ela se afastou dele. - Saia do meu quarto, da minha casa e do meu país!

– Kat, você deveria entender. Você, mais do que ninguém, deveria entender.

Ela entendia, só não aceitava.

– Eu fiz o que eu fiz pelo meu país, assim como você se casou pelo seu povo. O meu pai decidiu que o melhor para Altulle era ter um infiltrado de confiança em Frömming e quando eu me ofereci ele aceitou, porque ele sabia que seria melhor, assim se eu te propusesse casamento você poderia considerar desistir da aliança com os Le Lëuken - ele explica. - Assim como Joffrey decidiu que o melhor para o seu país era uma união com Ahnmach, porque meu pai nunca esteve aberto para negociações com o seu país.

– E o que o fez mudar de ideia?

– Nós acreditamos que devemos passar por cima do nosso orgulho por um bem maior - ele vê que ela não entende e decide explicar melhor. - O seu tio fez muitas coisas erradas, Katerina. Ele machucou uma pessoa muito especial para o meu país e nós queremos fazê-lo pagar por isso.

– O quê? - ela cruza os braços, sarcástica. - Ele matou o seu pai? Não. Bom, acho que nada é pior do que isso.

Ela estava se referindo a ela mesma, é claro. Apesar da conversa ser centrada em Fabrizio e em como ele havia sido sujo ao enganá-la e depois tentar se justificar por isso, Katerina inverteu a história.

Mesmo assim, quando ele respondeu, o coração da ruiva ficou apertado. Apesar disso, ela não demonstrou emoção alguma quando ele respondeu:

– Não, ele não matou o meu pai. Ele matou a minha mãe.

+++

Alison contou tudo para Valerie e esperava uma reação, mas ela não viu nada.

– Então...

– Você e o seu irmão...

– Sim - ela respira fundo. - Olha, eu nunca contei a ninguém sobre isso e eu só estou te contando porque eu confio que você não espalhará por ai.

– É claro que não! Eu nunca faria isso com você.

Alison sorri e estende as mãos, tocando os dedos gelados e pálidos de Valerie Le Lëuken.

– Eu também estou te contando isso porque eu sei que em breve você se casará com ele e eu não quero que você descubra depois. Sabe, apesar de tudo, eu o amo e você é a minha amiga, então não quero perder nenhum dos dois.

– Será uma relação complicada - Valerie concorda. - Eu, você e Hector. Casal do ano.

Alison não consegue deixar de rir.

– Parece bom - ela sorri. - Nós três.

– Você pode contar comigo, A - a morena tatuada diz -, mas como é que isso foi acontecer?

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As memórias chegaram todas de uma vez sem permissão para entrar. De repente, Alison estava imersa nas suas lembranças novamente.

Dois anos atrás

Finalmente uma semana de descanso. Após acertarem que Hector se casaria com Valerie Le Lëuken, Jean-Pierre liberou os filhos para uma viagem para qualquer lugar do mundo. Alison, Hector e Francis escolheram uma cidade litorânea no extremo sul de Ahnmach. A cidade é pequena e afastada, porém as casas são bem sofisticadas.

Francis teve que sair para uma reunião de emergência na capital e só voltaria no dia seguinte. O céu estava nublado, então Alison e Hector decidiram ficar na piscina térmica da casa que alugaram.

Ela saiu da piscina para pular e quando o fez, a amarra da parte de cima do seu biquíni se desfez.

– Será que você...?

– Ahm, claro.

Ela se aproxima do irmão, perto da borda da piscina, e afasta os cabelos molhados para não atrapalhar. Hector ajeita o biquíni da irmã, mas não retira as suas mãos dali.

– Hec?

Ela tenta espiá-lo sem se mexer, mas falha.

– Hector.

As mãos dele estão nos ombros dela e descem para a sua cintura, apertando-a.

– Eu não aguento mais, Ali - ele murmura no seu ouvido, mordiscando a sua orelha. - Toda vez que eu te olho imagino como seria se não fossemos irmãos, se isso não fosse errado...

As mãos grandes e calorosas de Hector passam pela barriga dela e depois ele a empurra cuidadosamente contra a borda da piscina, impedindo-a de vê-lo. Mesmo assim, ela sente a excitação do irmão quando ele pressiona o seu corpo.

– Se você não tivesse Desirée...

Desirée. A namorada de Alison. Sim, namorada com a. Ela achava que tinha uma opção sexual definida, mas não conseguiu deixar de perceber os olhares que o irmão a lançava nos últimos meses. Isso a deixava muito excitada.

– Eu tenho quinze anos, Hec.

– E eu tenho dezessete - ele sussurra. - A idade é o menor dos nossos problemas.

– Desirée é o menor dos nossos problemas - ela arfa. - Ela trabalha no bordel do nosso pai, Hec. Nunca daria certo.

Ela respira fundo quando ele a puxa mais para si, descendo suas mãos para a parte interna das suas coxas. Quando as mãos de Hector afastam a parte debaixo do seu biquíni, Alison não as afasta. Quando seus dedos entram nela, a loira não consegue segurar um gemido.

– Eu gosto assim.

Então quando ele a vira e a beija, ela retribui e quando ele a penetra, Alison se entrega de corpo e alma.

+++

Katerina ainda não sabe o que dizer. Fabrizio parece triste, mas ela não pode demonstrar que se importa com ele.

Francis, ela se corrige mentalmente. O nome dele é Francis.

A verdade é que ela pode sentir raiva momentaneamente, mas o seu verdadeiro sentimento é de mágoa. Mágoa por ter sido enganada, ressentimento por ter se entregado a um homem que só estava com ela por interesse e uma tristeza profunda por saber que ainda o ama.

Existe uma parte ruim o bastante dentro de você que consegue fazer isso, ela diz a si mesma. Existe uma parte de Joffrey em você.

Joffrey. Todas as maldades que ele fez a tocam de uma forma que é como se todos os crimes dele tivessem sido cometidos por ela e depois a sua consciência ficasse tão pesada que ela sentia que poderia se matar a qualquer momento. Era algo complicado, mas ela sentia que se um dia chegasse a ser má, provavelmente seria igual ao tio.

– Nós podemos falar sobre os crimes do meu tio em um futuro distante - ela decide. - Aposto que teremos uma lista enorme. Agora vá embora.

Ele parece tão surpreso quanto o possível. Incrédulo, pode se dizer assim. Mesmo assim, ele se aproxima dela e a beija. Katerina não resiste a princípio, mas depois o afasta.

O beijo foi desesperado, urgente. Um beijo de despedida.

– Eu amo você, Katerina. Eu amo mais do que a mim mesmo e pode ter certeza que eu não vou desistir de você.

Quando ele saiu do quarto, ela se jogou na cama e chorou. A nostalgia entrou sem pedir licença e ela começou a se lembrar dos seus momentos com Fabrizio, o guarda-costas perfeito. Quando eles se conheceram, a forma como ele a provocou lendo o seu diário, agora esquecido; como as conversas deles eram produtivas; a forma como ele a abraçou quando ela teve um pesadelo; os vários momentos em que eles poderiam ter se beijado, mas não o fizeram; o dia em que ela o encontrou ferido no casamento de Mike e o beijou; quando ela se entregou para ele e quando ele disse que a amava. O momento na cachoeira e os vários outros em que ela resistiu a Fabrizio vieram todos juntos, como uma apresentação em slides da sua vida.

A sua vida havia mudado drasticamente desde que Fabrizio havia entrado nela. Katerina havia se apaixonado, descoberto que a sua mãe estava viva e que o seu tio é um psicopata monstruoso. Então ela se casou com outro homem e descobriu que o amor da sua vida havia a enganado.

Ela colocou tudo na balança e chorou, chorou e chorou. As lágrimas queimavam a sua pele e a dor se manisfestava de tal maneira que havia se tornado física, deixando o seu corpo tão dolorido quanto no dia em que havia tomado um tiro.

Katerina decidiu deixar Fabrizio apenas na lembrança. Ela escolheu guardá-lo na camada mais profunda da sua memória, mantendo os momentos bons ali e descartando os ruins. Fabrizio seria o exemplo de homem perfeito, um conceito nunca alcançado por pessoa alguma, o tipo de sonho impossível, o amor platônico de toda garota. Fabrizio ficaria lá como o primeiro e único verdadeiro amor da rainha Katerina. Ela preferiu acreditar que tudo o que eles haviam vivido tinha sido real.

Então ela sorriu em meio ao choro. Ela começou a dar risadas, como uma lunática, e depois voltou a chorar. A confusão de emoções poderia dar a entender que ela havia enlouquecido, mas era apenas uma forma de retratar que ela não sabia como se sentir.

Fabrizio é o meu amor, ela diz para si mesma. Francis é o meu inimigo.

Com os olhos inchados e caindo de sono depois de tanto soluçar, Katerina se lembrou das palavras de Fabrizio na noite em que ele a protegeu de si mesma, na noite em que teve seus pesadelos. Sendo assim, ela dormiu com a frase dele ecoando na sua cabeça.

Todo mundo tem que chorar em algum momento do dia.