Tequila Branca

Desconcertantemente Ruivo


Dorah mandou uma mensagem no celular de Hermione avisando que “a presa” estava caminhando solitariamente pela área VIP. Tensa pelo papel que se propusera a representar, a editora pegou seu espelhinho de bolsa e conferiu rapidamente a maquiagem. Tudo em ordem, garota.

— Você tá linda, se quer minha opinião. — cochichou Harry Potter ao seu ouvido.

— Estou com olheiras. — ela lamentou pesando se alguma ausência de charme lhe escaparia o homem e o contrato.

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— E eu voltei a ser hétero. — Harry ajeitou os óculos, sorrindo. — Nunca foi tão exigente com sua aparência, Hermione, sua beleza é natural. Uma dádiva.

— Sou exigente para outras coisas. — resmungou para o amigo de infância. Harry semicerrou os olhos e a encarou tentando desnudar seus segredos.

— Não adianta, Harry. Ela tá estranhamente estranha desde ontem. — Padma intrometeu-se.

— Olha, eu vou ao banheiro. — Hermione anunciou, alarmada. Se ficasse perdendo tempo com os amigos no camarote, poderia não esbarrar “casualmente” no tal Ronald Weasley pelos corredores.

— Eu vou com você. — Padma começou a levantar.

— Não tire a bunda daí! — exclamou a morena irritada — Estou trabalhando, se querem saber. Agora fiquem bem quietinhos onde estão.

Ignorando o espanto pós-retaliação, estampado no rosto de Harry e Padma, ela saiu para executar seu plano. Durante o intervalo do show, a área comum entre os camarotes estava relativamente vazia, revelando apenas pequenos grupos de pessoas dirigindo-se ao banheiro, o bar ou a varanda dos fumantes.

Ela repousou curiosos olhos em cima de alguns homens jovens e atléticos, mas todos eles estavam acompanhados. O fato de nenhum ser ruivo contribuiu para sua investigação. Segundo Dorah, o seu “homem-alvo” tinha farta cabeleira avermelhada. Hermione desencantou alguns degraus na sua imaginação sobre ele com essa descrição. Os ruivos que conheceu pessoalmente eram homens narigudos e austeros, com fisionomias agressivamente germânicas. Se pudesse escolher, optaria por feições masculinas, mas suaves e proporcionais.

— Olá. — alguém chamou à suas costas. A seguir tocou-a com a leveza de uma bruma no seu ombro.

Hermione gelou. Seria muito azar encontrar um babaca paquerador quando ela estava em missão. Virou-se construindo um semblante ríspido para mostrar ao assanhadinho.

— O que é?

— Hã? Ah... eu tenho a impressão que te conheço. — o “abordador” estava profundamente desnorteado. Ela desfez a carranca padrão para espantar babacas porque ele era ruivo.

— Tem? — a pergunta foi para a morena ter tempo de processar como se comportaria a seguir. Deveria ser o ruivo “dela”.

E não é que ele é bonitão?!

— Tenho. Não é você que aparece toda vestida de roupa de corrida para tomar café no Young’s, na Décima Avenida?

— Moça errada. — admitiu. Se ele estava cantando ela, se estava correndo para a arapuca de tão boa vontade, porque chamar a cantada dele de A mais manjada da face da Terra?

— Desculpe. — o ruivo colocou uma mão no bolso da calça e com a outra ajeitou seus cabelos. Ronald usava um corte jovial de alguém que acordava e não se preocupava em pentear os fios. Não era um cabelo bagunçado, mas o oposto disso, assentando convenientemente em sua cabeça para qualquer lado que ele jogasse. — É que estou um pouco ávido por ver um rosto conhecido.

— Temos muitos rostos conhecidos nesse camarote.

— Exatamente. Tanta gente famosa, mas ninguém da “vida real”, entende?

— Não estou muito certa.

— É que eu estou sozinho. Represento uma grande editora, e tive de estar aqui a trabalho. Agora o trabalho acabou e estou indeciso se digo adeus à segunda parte do show e vou embora, ou continuo vagando deprimentemente pelos corredores, procurando uma boa companhia para conversar.

— Deprimente? Você não parece alguém derrocado por esse sentimento. — Hermione argumentou. Os olhos azuis dele esquadrinhou-a divertidamente.

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— Não estava querendo paquerar ninguém. — ele ergueu os braços. — É sério, te confundi.

— Uma conhecida?

— Apenas uma inocente conhecida.

— Se eu não sou ela então você pode seguir seu caminho. Indo embora ou não...

— Eu disse que estava atrás de uma boa companhia. Tornar um rosto desconhecido, conhecido, vale do mesmo jeito. Está acompanhada?

O fato dele ser direto trouxe uma doce satisfação ao âmago de Hermione. Seria o dinheiro mais benquisto de sua carreira somente pela fluidez pela qual ela vinha conseguindo trazê-lo para sua armadilha.

— Amigas de trabalho e meu melhor amigo de infância.

— Esse seu amigo de infância é do tipo “apaixonado desde sempre”?

— Ele é gay.

— Ótimo! — o editor exclamou aliviado — Sou completamente a favor de amigos homossexuais para as moças com quem tenho interesse de conhecer. Quer tomar um drink?

Ela ponderou o convite por alguns segundos, não queria parecer muito desesperada. Então sorriu charmosamente e concordou:

— Claro.

***

Se Dorah Vyrlant tinha alguma pretensão de se divertir em vê-lo lutar por aquele contato, tudo estava calhando na alegria da sinistra escritora.

A moça era algo saído de um conto de fadas moderno. Rony observou os lábios dela bebericando comportadamente o drink. Seus modos eram sensuais e suaves, e a boca bem modelada, caprichosamente pintada de rosa claro, um convite para ser beijada. Enquanto pagava o drink para ela, descobriu que trabalhava como professora num jardim de infância e chamava-se Hermione Granger. Estava diante do estereótipo mais fácil e apaixonante de se conquistar.

— Eu não tenho convívio com crianças, mas imagino o quanto deve ser gratificante lidar com elas todos os dias. — comentou ele, sorrindo largamente para sua companhia.

— Existem dias e dias. — ela fez uma careta um pouco estranha, mas Rony imaginou que quisesse estar buscando descontração naquela noite, e não falar do trabalho.

— Claro, igual a mim. Tem dias que acordo inspirado, tão inspirado que posso descobrir o próximo autor best-seller de todos os tempos. Em outros, só consigo apostar em escritores de romances vagabundos de bancas de jornais.

— Humm... Meus dias não são tão terríveis assim.

— Ah, estou usando um sentido figurado também. Ninguém pode ser tão sem tato profissional.

— Alguns podem. Acredite em mim. Eles podem. — ela falou com grande propriedade.

Um pouco confuso com a afirmação dela, Rony molhou a garganta na sua bebida. Ela já iniciava outro assunto:

— É de Nova York?

— Nascido e crescido.

— E de onde vêm esses cabelos de fogo?

— Herança dos avós paternos. Ingleses.

— Tem qualquer coisa no seu sotaque muito inglês mesmo, você sabe disso, não é?

Ele sabia, mas quase ninguém percebia. Gostava de sua descendência inglesa e ficava feliz quando as pessoas notavam seus traços e trejeitos oriundos da “nação original”.

Então Hermione não era apenas meiga e linda, era também muito observadora. Daria uma ótima editora com tamanho tato, e certamente este atributo era necessário para sua profissão de cuidar de dezenas de crianças empesteadas.

— Eu costumo ficar encabulado quando percebem isso.

— Eu duvido! Você não parece nem um pouco intimidado...

— Estou sim. — Rony buscou sorrir timidamente.

— Se eu pedir pra tocar no seu cabelo e descobrir se isso é peruca mesmo ou não, você vai ficar encabulado?

— Olha, é um pedido bem íntimo, mas estou disposto a tentar.

Que noite! Estava sendo cortejado sem nem precisar começar a armar seus truques!

Hermione mergulhou uma das mãos dentro dos cabelos dele. Tocou suavemente em sua cabeça, roçando as unha de leve no seu couro cabeludo. O editor ficou arrepiado pelo sutil toque. Ela deu uma puxadinha gentil em seus fios ruivos.

— Meu Deus! É verdade mesmo! — pareceu espantada.

***

Estavam embriagados, risonhos e solícitos. Eles deixaram o bar depois de muitas horas de papo furado e tomaram um táxi juntos, achando graça de qualquer coisa que se movia na rua. Ele pagou a corrida e se prontificou a acompanhá-la até a porta e deixá-la sã e salva dos perigos nova-iorquinos.

— Você paga esse prédio luxuoso com seu salário de professora? — Ronald a inquiriu ao saírem do elevador panorâmico e chegarem ao andar dela. Mesmo sob o efeito do álcool ele era perspicaz.

As desculpas não vinham com facilidade quando a cabeça estava rodando, mas Hermione conseguiu inventar uma:

— O imóvel é uma herança.

— Linda herança! — ele exclamou impressionado.

Ela parou diante da porta e mergulhou a chave no trinco. Se abrisse sua casa para o editor as coisas poderiam fugir do controle e o plano minguaria antes de ganhar corpo. Decidiu despedir-se dele ali mesmo, no corredor.

— Acho que estou entregue. Bom trabalho.

— Vou levar um tapa na cara se tentar te beijar? — Ronald escorou o braço no batente da porta e inclinou o corpo sobre o dela.

Hermione sentia seus sentidos multiplicados e entorpecidos de vontade de encontrar a boca carnuda dele. Dorah fora bem caridosa em lançar um desafio tão irresistível quanto aquele homem.

— Não foi essa a intenção desde o principio? — molhou os lábios.

Ele deu um sorrisinho conspiratório e abocanhou os lábios dela. Beijaram-se ardentemente: bocas quentes, experientes e ávidas. As mãos do ruivo envolveram a cintura dela e Hermione inclinou-se sobre seu tórax, ficando na ponta dos pés. Desgrudaram-se muitos minutos depois, ainda extasiados, porém não pelos drinks.

— Quer que eu entre? — ele perguntou gentil, acariciando a nuca dela.

— Hoje não. — ela controlou-se — Hoje não.

Ronald pareceu muito desapontado pela despedida antecipada. Ficou encarando-a atonitamente até concordar com a refreada e anunciar:

— Está certo. Você está certa. Estou na minha hora também. — beijou-a deliciosamente na bochecha. Os pelos da nuca de Hermione arrepiaram-se. — Mas é o seguinte: preciso do seu celular.

— Não sei... — ela fingiu descontentamento, suspirando.

— Essa foi minha única chance então? — ele olhou-a desoladamente. Estava implorando com o olhar.

Isso! Implore! Implore!

— Estou pensando. — a morena ergueu uma sobrancelha.

— Foi meu beijo? Foi tão ruim assim? Quer experimentar outra vez para ter certeza?

Ele foi aproximando-se para prová-la de novo. Desta vez, Hermione barrou seus avanços com uma mão espalmada contra seu peito.

— Dê você o número. Quem sabe eu ligo.

— E se não ligar?

— Aí vai saber que foi um “não”.

— Cruel. Você é cruel. — ele fez beicinho, entretanto concordou. Pegou seu cartão de visitas e passou para ela. Hermione jogou na bolsa de qualquer jeito.

— Boa noite, Ronald. — ela virou-se e começou mexer a chave na porta.

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Relutante, o editor caminhou para elevador.

— Boa noite. Ah, e pode me chamar de Rony!

— Rony então. — Hermione assentiu e entrou no apartamento. Quando fechou a porta ele ainda a fitava enquanto esperava o elevador chegar.