The Cruel Beauty

Capítulo 42


~*~


— Eu não consigo acreditar nisso! Definitivamente eu não sei se estou mais irritada ou envergonhada com o que você acabou de fazer naquele palco na frente de toda a gente!
Em uma sala fechada localizada no que seria os fundos da danceteria, Igraine andava de um lado para o outro, falando nervosamente.

— Olha, de tudo que já vi você fazendo, isso sem dúvidas é o PIOR! Cruello, o pior! Como você pode chegar á esse ponto?!
— Não foi nada de mais. Isso não é o pior que o Cruello já fez.
— E quem pediu sua opinião?!
Hans encarou Igraine surpreso diante da resposta ríspida dela, que continuou.

— Eu posso ficar aqui listando todos os motivos críveis que explicam o motivo do que você estava fazendo naquele palco ser péssimo! Desde o fato de ser uma figura pública, passando por ser um empresário de renome, herdeiro de uma fortuna milionária e mais um monte de coisas. E você ainda é um homem compromissado! Ou se esqueceu disso?!
— ...ai como você fala alto e estridente... – resmungou Cruello escorado no sofá. – Eu só me diverti um pouco...
— Cruello, você estava trepado seminu em um pole dance! Que vergonha, que vergonha!
— Você está fazendo alarde desnecessário...não é a primeira vez que faço isso...tem água ai? Tenho sede.
Hans estendeu uma garrafa de água para o outro, que bebeu um grande gole.
— Eu devia te fazer engolir essa garrafa! Nossa Cruello, vai vestir uma roupa! Chega de andar seminu por aí!

Com um resmungo, Cruello colocou a calça e a camisa. Estava calçando os sapatos (com um pouco de dificuldade de amarrar o cadarço da bota ) quando Igraine tornou a falar.
— Aposto que vídeos de você dançando e fotos disso já devem estar bombando na internet! Pessoal fazendo meme, imprensa toda em polvorosa e claro, u monte de gente dizendo “olha só, ele lá dançando seminu na balada com o amiguinho dele!”. E suas fãs falando mal de mim, dizendo que fui largada porque Cruello Devil prefere cair na balada a ficar comigo! Ou que estou levando chifre porque não tenho os atributos necessários para merecer ficar ao lado de Cruello Devil!
— Ah, então você está realmente preocupada não com o nosso relacionamento em si, mas o que as pessoas na internet vão pensar?! – Cruello se levantou, colocando ambas mãos na cintura. – Pra alguém que não gostava de exposição, a senhorita está é bem preocupada com isso. Aposto que já pegou gosto pelos likes e coisas do tipo!
— Logo ela vira aquelas blogueirinhas. – comentou Hans. – Fica de olho, Cruello. Se bobear ela até começa a ter patrocinadores e ganhar mais ensaios do que você.
— Por quê você não cuida da sua vida?! – os olhos de Igraine faiscaram. – Duvido muito que aquela sua sugar mommy aprova esse seu tipo de conduta em balada!
Cruello começou a rir, Hans pareceu incomodado.

A porta da sala foi aberta e Georgie surgiu. O som alto vindo da pista de dança ecoou e foi só cessado quando a travesti fechou a porta.
— Olá amores. Eu sei que cedi a sala para vocês terem a DR de vocês mas essa sala é da organização do evento e não posso mantê-los muito tempo por aqui...
— Foi mal, Georgie. – resmungou Cruello. – Vamos embora e terminar esse falatório na minha casa, Igraine. A diversão já foi cortada mesmo...
— Eu não vou pra sua casa!
— Ora, por quê não? Quer continuar dando barraco aqui? Pra todo mundo filmar? Uma coisa é me filmarem arrasando em cima de um palco e isso faz bem para meu marketing pessoal e outra é filmarem nós dois discutindo o que é péssimo para o meu marketing pessoal!
— Que horror, Cruello! Você só pensa em você! Quer saber?! Eu vou embora! – ralhou Igraine. - Se vira ai então seu egoísta mimado e exibido! Depois não fica vindo atrás de mim choramingando e dando piti porque sua imagem trepado em um pole dance está na net e sendo motivo de matéria pro Patrick Star! Vamos embora, Javier!
— ...ei, aonde você vai com ele?!
— Vou pra minha casa! Ficar com os meus pais que você não suporta!
— Que eu saiba você suporta eles tanto quanto eu!

Igraine abriu a boca pra falar, mas sabia que não conseguiria bater aquela constatação.
— Eu acho que...se a Igraine não tem um bom relacionamento com os pais dela... – começou Javier. – O senhor deveria ficar ao lado dela. Eu acho que isso é importante, sabe... Entendo bem que relacionamentos entre pais e filhos pode ser conflituoso e nesse caso a pessoa mais próxima que Igraine tem é você, acredito. E também penso que...
— Alguém aqui pediu a tua opinião?
— Cruello, como pode ser tão rude assim com o Javier?! Ele só está dando a opinião dele!
— Da mesma forma que você é rude com o Hans que só estava fazendo uma brincadeira!
— Vai ficar defendendo esse cara que na certa é uma má influência?
— O quê? – Cruello se levantou. – Ninguém é má influência pra Cruello Devil meu amor...porque EU sou a má influência!
— Se é má influência, ótimo! Fique aí e caia em perdição já que gosta tanto!

Igraine começou a mexer nervosamente na bolsinha que havia trago tentando não chorar enquanto Javier se aproximou, colocando uma de suas mãos no ombro da garota. Para confortá-la. Georgie deu um tapinha com seu leque nos ombros de Cruello. Ele a encarou e a travesti fez um sinal com o queixo e uma piscadela. Ele pareceu não entender, virou-se para Hans que deu de ombros sem compreender. Georgie conteve uma bufada e resolveu tomar as rédeas.

— Igraine querida, espere! O Cruello disse que vai te acompanhar até em casa!
— ..eu vou?
— Sim! – o olhar de Georgie era incisivo e ele entendeu.
— Eu posso ir sozinha, Georgie. Cruello certamente quer continuar causando na balada. E Javier, você me acompanha?
— Claro.
— Eu te levo! – Cruello se aproximou
—. Você está bêbado, não sou nem um pouco demente de sequer cogitar a possibilidade de sentar em um veículo com você no volante!
— Bêbado é uma palavra muito forte! E o tanto que suei naquele ferro de pole dance já fez todo o álcool do meu corpo sair! Mas não vou dirigindo! Vim com Alfred, ele irá dirigir!
— ...e onde ele está?
— Não sei. Mas vou encontrá-lo! Em algum momento.
— Você fala daquele seu amigo com pinta de assassino particular? – Georgie se abanou com o leque. – Eu o vi se agarrando com uma garota lá perto do bar, onde tem os sofázinhos. Minha nossa, esse lugar está um forno!
— Alfred pegando alguém?! Essa eu tenho que ver!

Cruello saiu do local seguido por Hans. Igraine ficou ali, estática. Georgie se aproximou.
— Acho bom você ir atrás.
— ...e-eu não! Se o Cruello quer xeretar a intimidade alheia, que o faça! Ele pelo visto quer...
— Querida, por mais que eu adore ver o Cruello mostrando todo o tipo de talento que ele tem em cima de um palco e concorde que a visão dele é como ver um deus do Olimpo...
— ...ele sabe mesmo como atrair a atenção do público. – comentou Javier em voz baixa.
— Mas se você gosta dele, é bom que corra atrás! Eu conheço o Hans e quando ele e o Cruello se juntam, ficam fora de controle!

Igraine ponderou por um momento e por fim decidiu sair da sala, seguida por Javier. Com um suspiro, Georgie fez o mesmo, fechando a porta atrás de si enquanto pragueja “esses casais héteros só dão trabalho...”

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~*~

A danceteria estava bombando e agora a música era um eletrônico com batidas estrondosas que deixaria desnorteado qualquer pessoa sã. Mas ali, ninguém estava são e os menos sãos eram os que mais aproveitavam.
Segurando fortemente a mão de Javier, Igraine procurava seguir Cruello, sentindo a raiva aumentar á cada passo que dava e aquela música alta não ajudava. Notou que Hans apontava para alguma coisa e Cruello se adiantou para lá.

Perto do grande bar, havia um espaço com alguns sofás e puff dispostos para as pessoas (que davam sorte de encontrar um lugar) descansarem e claro, ter um momento de curtição mais intenso.
O tempo que Cruello e Hans pararam no local, olhando ao redor, foi o suficiente para Igraine e Javier se aproximarem deles, não sem Javier acabar tropeçando nos próprios pés e esbarrar no peito de Cruello. Por pouco ambos não foram no chão, mas Javier se agarrou nos braços do empresário e conseguiu manter o equilíbrio.

— Ô! Toma cuidado!
— Des-desculpa, senhor Cruello...
— Alá! Olha só! Quem diria hein!

Hans apontou na direção de um dos sofás e entre as luzes psicodélicas e fumacinha, Cruello e Igraine avistaram, primeiro, Scarlet dormindo em um puff de boca aberta e em seguida, para Alfred nos maiores beijos e amassos com uma garota.
— Mas vai parar com isso é agora...
— Cruello, o que pensa em fazer?
— Ora, lógico que tirar o Alfred do enrosco dessa mulher! Vamos embora porque ele é que vai dirigir. É pago pra isso!

Igraine foi atrás de Cruello na vã tentativa de impedi-lo de se intrometer no momento íntimo de Alfred com a tal garota (bem, não tão íntimo a se julgar pelo fato de que eles estavam se agarrando á vista de todos) mas quando Cruello pegou um copo de um garçom que passava segurando uma bandeja e derramou o conteúdo em cima dos dois dando risada, Igraine se chocou.
— YUMIEEEEEEE?!
Aquilo era inacreditável. Sua melhor amiga nos maiores amassos com Alfred.

— Por que me molhou, chefe? – Alfred passou a mão no cabelo, cheirando-o. – Ufa é só água.
— Pra apagar esse fogo! Olha, to surpreso...como conseguiu pegar ela?
— E-eu...
— Eu que peguei ele. – resmungou Yumie saindo do colo de Alfred. – Ele estava ali no bar, todo sozinho e jeitosinho e eu pensei: “por que não?”
— Mas Yumie..ele...ele é o Alfred! – Igraine se virou para o mesmo. – Sem ofensa! É que ele...ele...você conhece ele!
— Conheço?! Pode ser...não lembro. A luz estava escura, eu estava meio alegre por causa daquele drink com luzinha que pisca, ele tava ali bebendo o mesmo drink que pisca...ai quando a gente viu já estávamos naquele sofá. E que bom que a gente já se conhece, né?

Alfred apenas balançou a cabeça em afirmação mas ainda parecendo confuso.
— Mas já se pegaram bastante, agora vamos embora!
— Por quê? A balada ainda não acabou.
Cruello suspirou e indicou Igraine com um gesto da cabeça.


— Eita....ela te pegou fazendo algo comprometedor? - Alfred olhou de Cruello para Hans e de novo pra Cruello. - Tipo, porque eu já vi coisa de vocês dois que...
— O que você viu?!
— Ah pare com isso, Igraine! Vamos embora e Alfred, leve-nos!
— ...por quê?
— Ora “por quê”! Vamos logo com isso! Igraine quer ir pra casa dela, eu quero ir pra minha e olhe o estado de Scarlet! Se a deixarmos aí pode acontecer algo ruim!
— ...pra alguém que disse que ia passar a noite descendo até o chão, ela caiu rápido até.
— Como você sabia que ela queria descer até o chão? – Cruello encarou Hans.
— Ela me disse quando a gente deu uns beijos. O que foi? Ela tava loucona no meio da pista, foi quando você estava conversando com uns conhecidos seus antes da gente subir no palco. Ela me agarrou, me beijou mas depois me empurrou dizendo coisas como “malditos ruivos que me perseguem, karma da minha vida” e outras coisas...olha ela tá precisando de terapia! Daí eu achei melhor levar ela até aqui, vi que o Alfred estava perto e pedi pra ele ficar de olho nela.
— Eu estava?
— Você estava de conversa com a moça aqui, pensei que tinha visto quando coloquei a Scarlet no puff do seu lado!
— Vi nada não.
— Ele estava vendo coisa muito melhor...como o meu decote! – Yumie riu, abraçando Alfred que ficou imóvel.
— Daí a Scarlet começou a se lamentar, falando de ruivo sei lá o quê... disse que ia ficar ali. Eu então fui pegar uma bebida e pensei em te avisar Cruello. Mas aí quando cheguei perto de você, tu me disse que a gente tinha passe livre pra fazer um show no palco e tirar a roupa aí eu topei e esqueci!
— Minha nossa, vocês são dois perdidos...
— Não vem com papo de puritanismo aqui na balada! – Cruello cortou diante do comentário de Igraine. – Alfred, ajuda a carregar a Scarlet, do jeito que ela está, vai dormir até amanhã.

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Meio a contragosto, Alfred obedeceu. Cruello deu tapinhas suaves na bochecha de Scarlet, que abriu os olhos a resmungar.
— Me deixa em paz, carralho!
— Vamos embora, Scarlet.
— Não vou embora! – a voz dela saía embolada e seu hálito era pura vodca. – Eu tenho que pegar metade das pessoas daqui! Só peguei três e seu amigo, mas ele não conta porque já peguei uma vez...malditos ruivos...
— Você tem é que pegar o rumo da cama, isso sim. Vamos embora...e você vem junto, Igraine.
— Por quê eu deveria?
— Porque é a minha namorada.
— Ah, agora o senhor lembra que tem namorada! Mas quando estava lá em cima do palco seminu trepado em um ferro de pole dance era o solteiro liberal!
— ...vai querer continuar isso aqui ou no meu carro?
— Se acha que vai me persuadir e me levar pra seu apartamento, está enganado! Eu vou voltar com a Yumie.


Cruello bufou e então Javier se aproximou.
— Eu...eu creio que seria bom vocês dois conversarem...eu...eu volto com a Yumie. Ela não está totalmente sóbria para dirigir.
— Eu vou voltar pra curtir o resto da noite. – avisou Hans trocando um cumprimento com Cruello. – Pode deixar que eu peco por nós dois!


Igraine olhou de um para o outro indignada, concluindo que adquirira um nível á mais de raiva por Hans. Respirou profundamente, decidida a não retomar a discussão.
Saíram da danceteria e pararam na calçada. Após se despedir de Georgie (não esquecendo de lhe entregar a echarpe rosa-choque), Igraine se despediu demoradamente de Yumie e Javier.


— Então é certeza que amanhã, na hora marcada vamos sair da ONG para levarmos a raposinha na reserva, né? Está tudo certo?
— Claro que tá! – falou Yumie. – Nós mesmos deixamos tudo ajeitado!
— Vamos lá, Igraine.
— Já vou, Cruello! Bom, então nos vemos amanhã...
— Na verdade hoje...mais tarde. – sorriu Javier.
— É...sim, sim. E gente, desculpa. Eu acabei estragando a balada de vocês...
— Nah, nem esquenta. Eu volto aqui semana que vem! – Yumie parecia mais avoada do que o normal. – E agora que eu sei que o cara ali é amigo do Cruello, tá tranquilo!
— Javier, desculpa ter pedido pra você me acompanhar e ter visto o show que Cruello deu...fico com vergonha só de lembrar!
— Não se preocupe. Fiz bem em te acompanhar. Bom, agora vou indo. Nos vemos amanhã, Igraine. Boa noite.
— Boa noite!


Igraine sentiu os braços de Javier em volta de si para um abraço e por alguns segundos ficou sem saber o que fazer, mas logo retribuiu.
— ...as despedidas acabaram?
Cruello estava parado ao lado deles, ambas mãos na cintura.
— Sim. Boa noite, senhor Cruello. Gostaria de dizer que você realmente sabe como ter presença de palco, foi incrível e...
— Obrigado, é bom saber que os outros enxergam coisas positivas.


Quando chegaram ao veículo de Cruello, Alfred tratou de colocar uma Scarlet semi adormecida no banco do carona, não esquecendo de prendê-la com o cinto de segurança.


— Alfred, toca pra casa da Igraine. Depois vamos pra minha.
— Você não vai levar a Scarlet pra casa dela?
— Ela tá capotada! Vai acordar amanhã com uma enxaqueca e ressaca e eu também, depois de hoje. Vou deixar ela no quarto de hóspedes.
— E eu?
— Você dorme no sofá, obviamente, dah! – resmungou Cruello para Alfred. – Sabe que pode dormir comigo na minha cama, não é raposinha? O que acha?
— ...não. Só me leva pra casa.
Cruello pareceu soltar um rosnado baixo. Aquilo estava começando a ficar difícil.

~*~

O silêncio pairava no interior do carro. Alfred dirigia ao volante e mesmo ligando o som, optou por plugar os fones de ouvido nele, á fim de não incomodar ninguém e também para não ouvir a discussão de Cruello e Igraine. A expressão carrancuda deles não era amigável mas surpreendentemente estavam calados como estátuas.


— Tem certeza de que não quer passar o domingo... – Igraine cruzou os braços, enfezada. – Ah vá! Não me diga que vai ficar emburrada pelo que aconteceu! Do jeito que age parece que te trai em uma orgia!
— Olha, depois do que vi naquele palco Cruello, do que quase pareceu prestes a acontecer entre você e seu amigo e a aprovação de todo mundo que assistia, tenho medo de pensar em como a balada iria acabar!


Alfred revirou os olhos enquanto Cruello e Igraine começavam a bater boca e do seu lado, Scarlet roncava alto.


— Eu acho que você está exagerando e...
— Olha Cruello, eu estou exausta. E hoje ainda tenho que me despedir da raposinha que a ONG resgatou.
— Ah, finalmente vão sacrificar aquele demônio laranja?
— Lógico que não! Vamos devolver ela para a reserva ambiental!
— Ahn... “ficaria melhor se virasse uma estola ou echarpe.” – Cruello teve a prudência de manter o pensamento para si.
Notou que Igraine voltara a atenção para o próprio celular.
— ...não começa a ficar vendo as possíveis notificações do meu show no palco ou...
— Minha vida não gira em torno de seus shows. – ela resmungou. – Estou conversando com Javier. Ele disse que já deixou Yumie em casa...ele é tão educado e exemplar! Olha só, ele mandou uma foto com a Yumie e um vídeo dela dizendo que está tudo bem e esperando ela entrar na casa dela antes de ir embora. Não se tem muitos homens confiáveis e que sabem das preocupações das mulheres, como ele tem.
— ...sei...
— Sério, Cruello. O Javier é muito prestativo, cuidadoso, engajado em causas sociais, humilde, defensor do que é certo... é tipo um Keannu Reeves.
— Não esqueça de dizer que ele também tem o ímpeto de não calar a boca para contar seus grandes feitos.


Igraine bocejou, sentindo o cansaço no corpo.
— Ai, eu quero tanto dormir!
— Poderia dormir comigo na minha cama. E eu uso seus peitos como travesseiro.
Igraine segurou um sorriso, mas lembrou-se que tinha motivos de sobra para continuar irritada.
— Não vai me convencer.
— ...ainda.
— Chegamos, chefe e senhorita Igraine.
— Bom, só quero chegar, tomar banho e dormir. Hoje á tarde ainda vamos soltar a raposa, como te disse. Javier disse que vai junto comigo e Yumie. Mas estou achando que Yumie vai dar pra trás porque ela só quer saber de dormir depois que vai pra balada e vai acabar que eu e Javier teremos que levar a raposinha. Isso não é problema porque sabemos o lugar e o Javier tem experiência na soltura e readaptação de animais selvagens... já te contei da vez que Javier auxiliou na soltura de um imenso urso pardo no parque de Yellowstone? Ele tem até o vídeo no próprio canal do Youtube...

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Cruello saiu do carro antes que Igraine pensasse em pegar o celular para lhe mostrar. Alfred optou por também sair, mas apenas para esticar um pouco as costas.
Assim que saiu do carro, Igraine os viu, virando a esquina.


— Ah, não. Lá vem um monte de perguntas.
— O quê? Patrick Star?!
— Não! Meus pais...
Braun e Amber vinham caminhando pela rua, de forma plácida, como se não tivessem nenhuma preocupação. Ao vê-los, se aproximaram.
— Bom dia, minha filha! Oh, olha senhor Devil!


Cruello retesou o corpo quando a mulher o abraçou.
— ..o que vocês fazem acordados tão cedo?
— Ah filha, tanto eu quanto sua mãe não conseguimos dormir até muito tarde! Fora que dentro de casa é uma atmosfera sufocante, não é como nossa casa de folhas, barro e esterco ou a caverna da mamãe Uta. Como todos da tribo, nos recolhemos quando o sol dorme e nos levantamos quando o sol desperta.
— Fomos até o parque saudar o sol! – Amber tinha um sorriso sonhador no rosto. – Agradecer por mais um dia que se inicia e pedir...
— Ah tá, entendi. Bom Cruello, você já está indo...
— Mas já? Entre e tome um chá! Eu trouxe alguns capins naturais que dão um chá excelente e ontem Braun fez um delicioso pão de sementes que não precisa ser assado!
— Hãn é que...estou sem fome...
— Igraine minha filha, você ficou fora a noite toda. Passou com Cruello em rituais de amor?
— Mãe! Que isso?! – o rosto de Igraine se avermelhou.
— Ora filha, não precisa se envergonhar. – Braun sorriu. – É perfeitamente normal que casais façam esse tipo de coisa. Uma vez antes de você nascer, eu e sua mãe participamos de um antigo ritual Beltane lá na Escócia que...


Igraine sentiu a cabeça latejar. Não estava nem um pouco á fim de ouvir falar de rituais sexuais praticados por seus pais.
— Olha, podem me contar isso lá em casa. Vão indo na frente, arrumem a mesa do café da manhã que eu já estou indo, por favor!
— Oh, Braun! Igraine irá comer conosco e ouvir nossas histórias!
— Então tenho de pegar meu livro para mostrar as anotações e você pega a caixinha com os presentes que ganhamos dos Massai, dos Surmi dos...
Os dois iam conversando animadamente enquanto entravam na casa.


— Enfim sós... – Cruello olhou para trás. – Vai ficar assistindo, Alfred?
— Não. To entrando no carro já, mal ae.
Assim que Alfred entrou no veículo e ergueu o vidro fumê, Cruello virou-se para Igraine.


— Vamos encerrar o assunto da discussão e fica tudo bem.
— ...você acha mesmo que é só dizer que está tudo bem? É assim que você lida com os problemas e próprios erros no seu trabalho e na sua empresa?
— Não acho que eu dançando naquele palco é um problema. A recepção foi positiva, meus fãs e o mundo da moda sempre aprovou o jeito Devil de ser. E eu mostrei que ainda sei dançar sensualmente muito bem e estou no auge da minha beleza física. E estava em uma boate organizada pelo bofe da Georgie e o Hans também é bem conhecido no meio.
— Ah é? E como eu fico? Bom, acho que você não se importa com isso contanto que estejam falando bem de você!
— Me pergunto se a Grimhilde aceita de boas que o rapaz que ela sustenta, fica causando nas baladas e pegando um monte de gente!
— Ela conheceu eu e Hans numa balada...se me lembro bem nessa vez nós tínhamos subido no palco para dançar e depois ela...
— Me poupe dos detalhes! Eu fiquei chocada!
— Chocada, é...mas admita que achou atraente...
— N-não! E eu lá vou achar legal ver o meu namorado em cima de um palco de boate, seminu, rebolando e trepando num ferro de pole dance?!
— Você poderia ter subido no palco também. Imagine o sucesso que nós dois iríamos fazer seminus rebolando lá em cima.


Ele envolveu Igraine com os braços, fazendo seus corpos colarem.
— Pare, me solte! Eu jamais me sujeitaria á esse tipo de coisa na frente dos outros!
— Ah então se sujeitaria se estivéssemos só nós dois nos quartos? Sei bem o quanto você pode ser uma ordinária entre quatro paredes...
Igraine se debateu e conseguiu se soltar do abraço dele. Estava nervosa, despenteada e vermelha e isso fez Cruello rir. Ela parecia uma raposa raivosa. Só faltava ganir.
— Bom, vou deixar você se acalmar. A noite eu te ligo e marcamos alguma coisa.
— ..eu não quero marcar nada.
— Eu sei que quer. Não vai aguentar ficar na mesma casa que seus pais.
— Eu vou ficar na companhia dos meus bichos...
— Ouvindo as histórias bizarras dos seus pais durante horas sem fim?
— Quando eles começam a falar, eu me abstenho, fico quieta pensando em outras coisas...enfim, certamente não é algo que você tenha interesse em saber.
— Ás vezes acho que você faz um péssimo juízo sobre mim, o que é um tremendo absurdo. – ele passou as mãos pelos cabelos. – Bom, estou indo.
— ...você me liga?
— Pensei que estava irritada comigo por conta da minha performance.
Igraine corou.
— E eu estou! É que...tá, não precisa ligar e...


Cruello puxou o rosto dela pra si e cobriu sua boca com um beijo.
— Vá descansar que á noite conversamos e sim, eu te ligo.


Após ele entrar no carro, Igraine suspirou de cansaço e sutil irritação e subiu o pequeno lance de degraus. Estava para abrir a porta quando ouviu.
— Bom dia senhorita Radcliffe.


Ela olhou para trás, encontrando Patrick Star metido em um moletom para caminhadas e segurando uma guia na qual mantinha seu dálmata, Romeu.
— ...olá. – ela respondeu, desconfiada.
— Presumo que já saiba do sucesso que Cruello Devil fez na balada desta última noite.
— Como está sabendo?
— Eu sou um jornalista de celebridades. Todas as informações relevantes chegam até mim, tenham eu interesse ou não. E o vídeo e as fotos da saliente performance está tendo uma repercussão positiva nas redes sociais mas um questionamento é levantado: onde a senhorita estava e o que acha disso tudo.
— Você veio ate a porta da minha casa para me questionar sobre isso?
— Não. Eu moro aqui perto e todas as manhãs levo meu Romeu para passear. Hoje ainda tive que desviar de dois hippies pedintes que estavam na praça cantarolando em palavras em outra língua e supostamente saudando o sol. Gente estranha demais, é bom tomar cuidado, pareciam chapados...

Igraine retesou o corpo, agradecendo por seus pais já estarem dentro de casa.
— Mas voltando ao assunto...sendo você uma garota visivelmente simplória e de costumes mais inclinados a moral e bons costumes, o que achou do seu namorado seminu rebolando em cima de um palco de boate?
— ...eu não acho nada. Cruello faz o que ele quiser com a vida e suposta popularidade dele!
Dizendo isso, ela entrou na casa, fechando a porta com força.
— Eu hein...que garota chiliquenta...deve estar pegando a mania do Cruello. – ele se voltou para o cachorro. – Não vai demorar pra ela mesma estar causando e fazendo barraco. Diga-me com quem andas que direi quem tu és...

~*~


Despedida era sempre algo difícil para Igraine.
Ela mesma não entendia porque considerava isso difícil sendo que toda sua vida sempre foi permeada pelas despedidas de seus pais. Já deveria ser algo corriqueiro.

Durante toda a viagem, sentia seu coração apertado e no momento que a raposa foi solta, Igraine, procurou ser profissional. Ela e Javier observaram o animal sair da gaiola, farejar o ar desconfiada. Ela avançou com passos lentos e então voltou-se para os dois e seus olhinhos se demoraram em Igraine.
— Você precisa ir... – ela falou. – Está livre, volte pra floresta que é o seu lugar. Ah, n-não...

A raposa se aproximou de Igraine que estava ajoelhada, tocando sua mão com o focinho e dando uma pequena lambida.
As lágrimas vieram aos olhos de Igraine e foi como se tudo que ela estivesse segurando se soltasse. Chorou pela despedida da raposa que ela tanto se afeiçoara, chorou pela forma desinteressada e exibida que Cruello agia, chorou por se sentir uma pessoa tão fraca e chorou por seus pais.

“Meus pais? Porque estou chorando por eles? Logo vão embora se embrenhar em alguma selva com outra tribo de hábitos esquisitos e me esquecer por mais um ano!”

A raposa então se afastou, indo em direção á mata. Mas ela parou e virou-se novamente.
— Vai, a floresta é seu lugar. – ela disse, encarando os olhos da raposa. – Eu ficarei bem. E você se cuida!

A raposa então se embrenhou na floresta e desapareceu. Igraine limpou as lágrimas e se levantou. Precisava aprender a lidar melhor com despedidas. Não poderia ter cogitado que a raposinha ficaria com ela pra sempre, sendo criada junto com seus outros bichos como se fosse um animal doméstico.
— Você está bem? – Javier segurou-lhe uma das mãos.
— ...sim. Vou ficar. Será que a raposinha ficará bem?
— ...tenho certeza de que sim. Ela é um animal selvagem. Nós cuidamos dela, ela se afeiçoou á nós...particularmente á você, mas ainda assim é um animal que pertence á floresta.

Igraine olhou uma última vez para a entrada da reserva, notando que o sol já estava quase sumindo no horizonte.
— Melhor irmos antes que fique muito tarde. Vou te deixar em casa e depois ainda voltar na ONG para arrumar algumas coisas e deixar o carro.
— Yumie bem que poderia ter vindo!
— Ela estava muito cansada.
— Sei...era preguiça, isso sim! Conheço ela dos tempos de faculdade. Ela ia na balada e depois inventava que estava de ressaca e não podia ir á aula. Até hoje não sei como ela nunca ficou de recuperação durante os anos do curso. – a garota suspirou.
— Entendo..mas bom, fizemos o que tínhamos que fazer então..aceita uma carona? Podemos ir conversando no caminho, é bom para você se distrair.
Com um sorriso triste, Igraine assentiu.


~*~

Definitivamente, a balada de sábado cobrou suas consequências. Não apenas as consequências físicas como o cansaço e a terrível ressaca, mas também as consequências relacionadas a sua imagem social. Mas para alívio de Cruello, os comentários sobre sua performance ousada eram positivos e havia quem dissesse que “Cruello estava de volta á ativa causando na noite londrina” e aparentemente ninguém tinha conhecimento do fato de que Igraine não aprovara aquilo. Certamente que iriam abordá-la, mas como haviam conversado, ela iria ignorar ou esperar que Scarlet a ajudasse a saber como lidar com possíveis abordagens e comentários.

O restante do domingo seguira letárgico para os três no apartamento. Alfred vagava entre o sofá e a cama do quarto de hóspedes para tirar cochilos alternados; Scarlet dormira por toda a manhã e acordara com uma ressaca profunda e disposição zero para executar até mesmo tarefas simples. Cruello por sua vez, parecia o menos pior talvez por conta da adrenalina e stress passados na noite anterior e no começo da manhã. E isso tornara seu humor, já ruim, praticamente insuportável. E foi assim até o fim da tarde.
Agora, Cruello e Scarlet estavam esparramados no sofá conversando aleatoriedades após verem as notificações e a repercussão (positiva) da performance de Cruello na balada e a reação negativa de Igraine ao pegá-lo rebolando seminu no palco.

— Eu não acredito que perdi isso...mas você disse que Igraine ia hoje soltar uma raposa junto de quem?
— Um tal de Javier Jandras. – falou Cruello com nojo e voz embargada. – Um migué insuportável defensor da natureza com pinta de surfista galã e que parece uma metralhadora de merda de tanta besteira ativista que fala! Sério, os poucos minutos que tive que ficar ao lado daquele cara, ele não parou de falar de tudo o que defendia e o que já tinha feito pra defender bichos e coisa parecida!
Scarlet digitou algo no celular enquanto Cruello falava.

— Continue...
— Só que, aparentemente, Igraine está adorando a companhia dele! Lógico, o cara é um ativista protetor de bicho...acredita que ela teve a blasfêmia de ficar falando sobre esse cara e os tais “grandes feitos” dele dias atrás quando eu liguei para ela a fim de saber como estava a mão que aquele demônio laranja mordeu? Como se eu quisesse saber que Javier invadiu um baleeiro japonês e enfrentou os pescadores para que não fugissem até que a guarda costeira ou sei lá o quê, chegasse. Francamente!
— Bem...ele não é feio... ele é bem bronzeado e não um palmito igual você. - Scarlett encarou o rapaz e voltou para tela. - Os músculos dele são reais, dá para ver nos treinos de Kung Fu que ele faz...- Scarlett continuou subindo a página. - Esse Javier é bem famoso no meio politicamente correto, ele faz escalada sem equipamento de segurança, mergulho com golfinhos, criou Leões na África, tem uma ONG para animais abandonados no Brasil... – ela ajeitou os óculos. - Não me admira que a caipira esteja toda empolgada com ele. Javier é totalmente o oposto de você. – ela assoviou baixinho. - Olha esses peitoral é tudo natural, nada criado em academia!
— Está ousando dizer que esse ativista peito de pombo é melhor que eu?! Pois saiba que eu tenho músculos e peitoral também! Não há nada errado em adquirir isso na academia! Sou um homem muito ocupado, coisa que esse aí não é, para ficar viajando pelo mundo ajudando bicho no mato! E grande coisa ele saber artes marciais...eu aprendi a luta de rua nos tempos de rolê e posso garantir como mandar uma bicuda fatal!
— ...é impressão minha ou você está com ciúmes desse tal Javier?
Ao ouvir aquilo, o rosto de Cruello ficou lívido.

— CIÚMES?! Acho que o líquido do silicone dos seus peitos deve ter vazado e subido para o seu cérebro para falar tamanho disparate! Olhe para mim, eu sou Cruello Devil! Eu tenho beleza, tenho sensualidade, tenho estilo e tenho fama!
— Pelo que estou vendo aqui na internet, Javier é bonito, sensual, estiloso e olha só...famoso também. É bem conhecido entre o pessoal ativista por defender diversas causas ambientais e ele tem um canal no Youtube onde fala sobre e tem bastante inscritos e comentários elogiosos, o que é surpreendente. Ele também se mostra bem simpático e gentil ao responder todos os comentários.
— Só falta agora você, justo você, ficar encantada por esse enrustido?!
— ...está falando isso por ciúmes. O cara é um potencial rival para seu brilho brilhoso com o diferencial que ele não é uma bixa afetada e arrogante como você. Igraine pode acabar colocando na balança...
— Ah para mim já chega! – Cruello largou o lápis e a prancheta e se levantou. - Não vou ficar aqui para ouvir impropérios seus!

Irritado, Cruello foi na direção do próprio quarto. Scarlet pensou em seguí-lo mas qualquer movimento já fazia sua cabeça rodar e ela preferiu ficar onde estava. Tomou alguns longos goles de água, reclamando consigo mesma para se lembrar de não voltar a encher a cara porque aquele desgraçado não valia á pena.
Não demorou para Cruello aparecer na sala, inteiramente vestido e ainda usando uma jaqueta de couro legítimo e o echarpe de pele de Chinchila que pertencera á Cruella Devil.

— Já volto.
— Aonde pensa que vai?!
— ..vou dar uma volta.
— Não me diga que você vai se humilhar indo atrás da Igraine e o possível pretendente ativista dela?
— Ficou maluca?! – Cruello se voltou, encolerizado. – Tá achando o quê?
— Não estou achando nada...estou apenas analisando.
— Pois esta analisando errado! Cruello Devil nunca sente ameaça de possibilidade de ser trocado, porque isso nunca acontece com Cruello Devil!
— ...você está estressado.
— Não estou estressado!
— Normal você não está. Só usa coisas da sua tia quando está com piti.
— Eu nem vou perder meu tempo discutindo aqui!
Dizendo isso, saiu da sala batendo a porta com força atrás de si.

— ..o que deu nele?
Alfred se aproximou esfregando os olhos e sentou-se ao lado de Scarlet no sofá.
— Pitis de um Devil....hey, prepara algo pra gente comer.
— Por quê?
— Porque eu estou com fome!
Alfred se levantou e seguiu em direção á cozinha, resmungando que ninguém lhe dava valor e só o tratavam como empregado.

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~*~

A noite já havia caído quando Igraine chegou em casa. Pela janela do carro, pôde ver a luz da sala acesa. Queria que só Nanny e seus bichos estivessem ali. Queria descansar e ficar em paz, talvez com a cabeça no colo de Nanny e sendo paparicada por DoisTons, Furacão, Golias e Mimo. E o pequeno Fofucho.
Viu a sombra de seu pai passando na janela e suspirou. Pelo visto seus pais continuavam ali, na certa enchendo os ouvidos da pobre Nanny com suas longas e infinitas histórias sobre experiências com tribos e natureza. E sabia que se entrasse na casa, eles iriam querer contar tais histórias para ela. Olhou no espelho retrovisor e notou que seus olhos ainda estavam inchados por ter chorado á tarde.

— ...aine....Igraine!
— Ah, sim! O quê?
— ...nós chegamos. – falou Javier ao volante. – Você está bem?
— E-estou sim...só..é que bateu o cansaço, sabe...
— Sei. Olha se quiser depois posso te passar a receita de uma vitamina natural excelente para repor as energias. Costumo tomar e garanto que ajuda bastante.
Igraine agradeceu e saiu do carro. Javier fez o mesmo.

— Essa parece que vai ser uma noite de chuva. – ele falou olhando para o céu. – É típico de Londres, mas depois de tanto tempo que passei longe daqui, ainda não me acostumei.
— É... – Igraine parou antes de começar a subir o pequeno lance de escadas. – Eu te convidaria para entrar, mas meus pais estão aqui e olha, eles podem ser bem cansativos com toda a empolgação infinita que eles têm para contar sobre todas as experiências de auto conhecimento que tiveram e coisas do tipo.
— Sem problemas, eu preciso mesmo voltar para meu flat e descansar um pouco também. – ele coçou a nuca parecendo pensar um pouco antes de dizer. - Igraine eu...eu posso te fazer uma pergunta?
— ...claro.
— Você e o Cruello...estão juntos há muito tempo?
— Bom, faz alguns meses...por quê?
— É que...desculpe se estou sendo invasivo e inconveniente, não é por mal mas é...bom, nas vezes em que vi vocês dois, sempre me pareceu que ele agia de uma forma incompreensiva com você. Não sei é que...eu vejo que você gosta dele mas ele parece não se..digamos, se importar muito com o que você está sentindo e pensando. E por conta do que ocorreu nabalada bem..eu fiquei preocupada. Vocês estão bem?
— Hãn...bom... – se tinha uma coisa que Igraine não gostava, era de falar sobre sua vida pessoal. – Eu e Cruello sempre temos nossos conflitos mas...depois passa.
— Entendo. Vocês são de vivências sociais bem diferentes. Você é engajada em causas sociais, na natureza e tem um coração gentil e sonhador...isso é uma grande qualidade e rara também, ainda mais nos dias de hoje. O Cruello...se me permite dizer, é uma pessoa do capitalismo, rico, um pouco orgulhoso...
— Um pouco? – ela soltou uma risada quase resmungo. – Ele é um poço de orgulho.
— ...ele tem os motivos pra isso...digo, motivos que pensa ter. É natural vindo de toda a criação dele. Herdeiro de Cruella Devil...ele tem visões, opiniões e posicionamentos bem diferentes de você, estou certo?
— Sim...muitas vezes acabamos tendo uma discussão...bom, você viu. É impossível fazer Cruello Devil abaixar a crista.
— ...você já cogitou repensar seu relacionamento com ele?
— ...como assim?

Javier se aproximou de Igraine.
— Muitos dizem que os opostos se atraem e isso pode até ser verdade mas...será que eles conseguem permanecer unidos?
Ele tocou delicadamente a ponta do cabelo de Igraine e então seus olhos se encontraram.
Estava perto e isso fez o coração de Igraine acelerar. Seria possível que...

— Que bonito, muito bonito. Por acaso eu estou atrapalhando o casalzinho aí?
Igraine e Javier se afastaram, aturdidos. Como se houvesse se materializado ali, Cruello Devil os encarava com os braços cruzados.

~*~