Divagações

Capítulo 12 - Doce Mentira


Amor. Quanta verdade pode existir numa mentira?

Ela sabia que era mentira. Sempre soube e não se deu o direito de se iludir. Já havia ouvido muitas vezes a mesma frase, tão impactante dita com tanta banalidade. O que estaria acontecendo para que ela não tivesse mais o mesmo significado? Ela sentia falta, claro. Sentia falta dos abraços nas noites de frio. Sentia falta dos carinhos e dos sorrisos sempre dirigidos a ela. Dos beijos trocados quando nada precisava ser dito. Dos encontros em segredo para que ninguém mais soubesse o que estava acontecendo. Sentia falta de amar alguém intensamente como um dia havia feito. Mas também lembrava as mágoas que havia sentido. Lembrava-se dos encontros marcados quando esperava por horas alguém que não iria chegar. Das tentativas frustradas de tentar puxar conversa apenas pelo tédio. Das insistências para ouvir algo que a fizesse sentir importante. E, obviamente, dos “eu te amo”s tão mentirosos que sempre ouvia, fazendo-a se decepcionar mais uma vez.

Ela não cairia naquela novamente.

A última vez havia sido, definitivamente, a última. Ela não mais se deixaria enganar, não mais ouviria aquelas mentiras ditas apenas da boca para fora. Ela iria negar se apaixonar. Havia congelado seu coração, fechado o mesmo para o mundo. Nada mais poderia abalá-la – e ela sabia que isso também era mentira. Aquele garoto definitivamente virava seu mundo de cabeça para baixo.

Mas era só outra mentira.

E por esse motivo, não deixaria seu coração cair tão fácil. Coração que uma vez havia sido tão doce, tão frágil, agora era nada mais que um vazio, uma caixa guardada a quatro chaves dentro daquela garota uma vez tão adorável. E ela não mais ligava, pelo contrário: sorria maliciosamente ao pensar como tudo havia chegado naquilo.

E então, livrando-a de seus pensamentos e lembranças, ele disse novamente:

– Eu te amo.

E ela sorriu, permitindo-se acreditar por um instante naquela doce mentira.