A Herdeira de Hécate

Capítulo 52 - Rumors


A Herdeira de Hécate

You've been pulling all 6 strings
I can feel the whispers on your skin
Dripping down your body
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Capítulo 52 – Rumors (Jacob Whitesides)

Em choque. Eu estava completamente em choque com tal notícia. Era isso então que Nico tentava esconder de mim. Ele queria me proteger de enlouquecer antes que chegasse a hora, porque de qualquer maneira eu teria que escolher um sacrifício. Era inevitável e ele sabia disso o tempo todo. Ou eram eles, ou era o mundo. E imagino que Hebe sabia qual seria era a minha escolha. Eu era egoísta demais para deixar que meus amigos morressem.

– Tudo bem. – eu disse, respirando fundo para não chorar. – Você venceu.

Eu andei em direção à bacia de mármore tentando ignorar o protesto de Paige, Nico e Travis. Eu não poderia deixá-los morrer. Dane-se o mundo, eles eram importantes demais para mim.

– Vamos, querida, é só recitar o feitiço e jogar seu sangue junto da pollos. – disse-me Hebe, parando ao meu lado e abrindo o livro de magia.

Respirei fundo novamente, tentando me acalmar, e analisei o feitiço e a bacia de mármore. Meu reflexo na água parecia cansado, esgotado, ferido e desesperado – meu rosto refletia tudo o que eu sentia. Virei-me para os outros. Travis e Paige olhavam para mim, implorando-me com os olhos que eu não fizesse o feitiço de transferência. Nada diziam, pois tinham espadas contra seu pescoço, assim como Nico. Desviei meu olhar para Nico que, mesmo com a espada de Kyle contra seu pescoço, conseguia virar o rosto para o lado e evitar o contato visual comigo. Seu rosto estava nas sombras de sua franja e eu imaginei se era para que não visse o momento em que eu daria meu sangue de bom grado para salvá-lo.

Minha mente deu um clique com uma ideia.

Sombras.

Afastei-me da bacia, transformei a espada novamente em varinha e me agachei com a mochila à minha frente.

– O que pensa que está fazendo?! – perguntou Hebe, com inquietação na voz, mas um pingo de confusão no olhar.

– Preciso da Capa de Nix para finalizar o feitiço. – eu disse, torcendo para que ela não reconhecesse a mentira em minha voz. Hebe semicerrou os olhos para mim, desconfiada. – Para eu não perder minhas forças antes da hora.

Hebe ainda parecia desconfiada e com um pé atrás, mas acabou assentindo. Enfiei a mão na mochila e meus dedos acabaram esbarrando em uma das barras de chocolate que tinha ali. Olhei de soslaio para Nico, que agora tinham seus olhos em mim, e um nó se formou em minha garganta. Eu esperava que desse tudo certo. Meu plano era um risco, mas se esse risco salvasse a ele e Paige e Travis, valeria a pena. Balancei levemente a cabeça para espantar os pensamentos, com receio de que Hebe pudesse ler meus pensamentos, mesmo sabendo que não podia. Peguei a Capa das Sombras no canto da mochila e a pendurei sobre meus ombros quando me levantei.

– Não enrole tanto, não quero que isso demore mais do que já demorou. – resmungou Hebe. – E sem gracinhas.

Apertei a pollos em minha mão esquerda e a varinha da direita. Eu não poderia deixá-las sair de minhas mãos. Não agora. Segurei o capuz da Capa e olhei para Nico. Ele arregalou os olhos e pareceu ter percebido qual poderia ser meu plano. De longe eu consegui ver seus ombros se tencionando, como se ele esperasse um possível sinal meu. Respirei fundo e me preparei para ser rápida. Coloquei o capuz sobre minha cabeça e o mundo se transformou uma segunda vez. O mundo colorido de antes desaparecera, dando espaço ao opaco e sem forma mundo das sombras. Hebe se tornou uma sombra, assim como todos ao meu redor. Percebia o desespero exalando da sombra que a deusa havia se tornado.

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Aproveitando a única oportunidade que eu tinha, deslizei em direção aos meus amigos como a sombra que eu havia me tornado. Lançando um único feitiço silencioso, as amarras se soltaram e a reação fora imediata – os três se levantaram e começaram a enfrentar seus carcereiros e vários outros monstros que pareciam surgir de trás dos escombros do templo. Virei-me para Hebe, que parecia vir em minha direção com uma espada. Num primeiro momento, eu fiquei confusa por ela estar me vendo, até que me dei conta de que ela realmente não me via. Mas ela era uma deusa, podia reconhecer minha presença. Deslizei e rastejei para longe do alcance da espada, tentando pensar em qual seria meu próximo passo.

– Você não irá escapar, herdeira da magia! – Hebe urrou, mas o som parecia distante, abafado demais para chegar com clareza ao mundo das sombras.

Sombras.

Eu precisava delas.

Não sabia se funcionaria, até porque a única vez que eu havia feito um controle delas eu havia colocado a vida de Nico em risco.

Vamos, querida, eu sei que você consegue, ouvi a voz de minha mãe sussurrando em minha mente e uma autoconfiança extraordinária se inflamou em meu peito.

Eu conseguia. Eu tinha que conseguir.

Ainda desviando dos vários ataques de Hebe, eu me concentrei ao máximo em cada sombra que nos rodeava. O fato de eu estar com a Capa de Nix ajudou bastante, aumentando ainda mais a dimensão das sombras. Com certas ordens mentais, cada sombra, cada agregação foi tomando vida e formas diversas. Homens guerreiros ou animais ferozes, cada sombra liberta do corpo físico entrou na batalha. Eu ouvia apenas rugidos e barulhos ao longe, como ecos na escuridão. Eu não estava no mesmo plano da batalha, mas eu sabia que qualquer ataque poderia ser fatal por eu não ser feita realmente de sombra.

Enquanto eu deixava que as sombras cuidassem da maioria dos monstros, fui até o pilar da fonte da juventude e guardei o livro de magia da minha mãe na mochila. Levantei-me e lancei outro feitiço silencioso em direção a fonte. A bacia de mármore explodiu num eco surdo e a água escorrei pelo pular e pelo chão também de mármore. Pedaços da bacia voaram pelo ar há vários metros. Ouvi um urro e me virei. Hebe pulava para me dar um ataque final, mas uma sombra mais próxima de nós interceptou seu golpe. Hebe não teve nenhuma saída – foi completamente engolida pela sombra e eu soube, por instinto, que a deusa havia tido uma viagem direto para o Olimpo. Zeus e os outros Olimpianos iriam cuidar dela.

Para minha surpresa, porém, algo atingiu meu abdômen e o capuz caiu em minhas costas com o solavanco do meu corpo. Eu arregalei os olhos de pavor quando vi as sombras se desfazendo diante da minha visão novamente colorida. Meus olhos tinham uma tempestade de cores e meu peito um turbilhão de sentimentos. Os monstros se desfaziam em poeira dourada. Paige tinha um corte enorme no braço e Travis estava o mais ofegante e claramente cansado. Kyle olhava para mim com satisfação. Olhei para meu abdômen que parecia em fogo.

Uma adaga.

Kyle havia jogado uma adaga.

– Cris! – ouvi um grito, mas me pareceu longínquo.

Tudo à minha volta parecia confuso e embaçado. Pontos pretos tomavam a minha visão e minha cabeça latejava. Eu não escutava quase nada além do sangue correndo em veias próximas ao meu ouvido. Minha boca humedeceu e eu senti o gosto de sangue em minha língua, entalado em minha garganta. Tossi, e sangue espirrou para fora da minha boca. Foi então que eu caí no chão. A varinha voou para longe da minha mão com o baque surdo das minhas costas sobre a água da fonte, que infiltrava pela Capa das Sombras ainda sobre meus ombros e pelas minhas roupas.

A gota de dor se transformou num oceano de sofrimento.

Eu mal conseguia me mexer mais do que apenas as orbitas oculares. A dor confundia meus pensamentos e dificultava minha respiração. Um desespero tomou meu coração – eu não me importava com o que aconteceria comigo, eu precisava saber como estavam os outros. Ruídos surdos e gritos abafados chegavam aos meus ouvidos, mas meu cérebro não era rápido o suficiente para decifrá-los. Eu não sabia o que acontecia ao meu redor, até que consegui virar minimamente o rosto.

Uma sombra.

Uma sombra imensa que não foi desfeita. Mas eu não a estava controlando.

Eu quis controlá-la no segundo em que vi que Nico sendo puxado para seu interior. Ele tentava se segurar, em qualquer coisa que fosse, mas era arrastado para dentro da sombra sem qualquer chance de escapar. Paige puxava sua mão, tentando ajudá-lo, mas era arrastada também. Eu queria ajudar. Eu queria me levantar e correr até ele, puxá-lo até que fosse liberto. Mas eu não conseguia. Eu não conseguia, porque estava ferida, e nunca me odiei tanto por isso.

Minha visão se escureceu mais e minha mente escorregou um pouco mais para a inconsciência. A última coisa que eu consegui ver foram Nico e Paige sumindo numa sombra, que se esvaneceu segundos depois, e Travis correndo em meu encontro.

Mas um pensamento ainda permaneceu até o último segundo de consciência.

Eu escolhi um sacrifício, como insinuava a profecia – e não eram meus amigos ou o mundo.

O sacrifício escolhido fora eu.